Pesadelo do Real

Capítulo 44 - Novo Mundo


"Exalando paz e serenidade por todos os lados"

Capítulo 44 - Novo Mundo

A consciência de Monalisa foi retornando...retornando...até que, enfim, ela abre os olhos e se vê em um local diferente. Diferente de qualquer outro lugar onde ela estivesse antes. Não havia mais sinal de seu pai Mestre das Chaves, nem de sua guia Ariadne e muito menos daquela mulher detestável chamada Cinthia. Mas não parecia um local assustador ou que oferecesse qualquer ameaça. Pelo contrário, ao acordar, ela se percebe em uma cama macia e aconchegante. Mas ela não estranha nada disso. Exatamente. Você poderia pensar que Monalisa quisesse entender onde estava, no entanto, ela sabia onde estava. Ela tinha consciência do lugar em que estava e, mais do que isso, sabia que seu nome não era Monalisa. Bem, vocês entenderão logo.

A garota se levanta, segue para a janela mais próxima trajando sua camisola branca e com os pés descalços naquele chão de madeira (ou algo assim). Ao abrir a janela, ela se depara com um clima ensolarado, quente e agradável, o Sol brilhando, vários pássaros cantando e uma natureza exuberante bem ali, do lado de fora da casa. Era um ambiente totalmente oposto a qualquer cenário urbano. Era um local bucólico e campestre. Era possível ver as montanhas no horizonte, além de um enorme lago logo à frente, onde vários barcos saiam para suas atividades de pesca ou mesmo passeio. A menina sorri, se espreguiça e respira fundo o ar puro pela janela.

Nisso ela observa o relógio. Oito e meia da manhã no velho relógio de ponteiros na sua cabeceira. No calendário logo acima de sua mesinha havia um círculo no sábado. Ela sabia que dia é hoje. Sábado. E seu aniversário. Com um sorriso radiante, ela troca de roupa rapidamente. Um armário cheio de vestidos simples e leves. Ela escolhe um vestido amarelo claro, penteia seus longos cabelos loiros quase castanhos, coloca uma tiara também azul, calça seus tamanquinhos e desce para o andar de baixo. Lá, sua mãe terminava de preparar seu café da manhã.

- Bom dia, mamãe - cumprimenta a loirinha radiante.

- Bom dia, Aurora. Dormiu bem?

- Muito bem.

Aurora. Monalisa não estranha ao ouvir esse nome simplesmente porque era o seu nome ali. Naquele mundo, ela se chamava Aurora. Sua mãe era uma mulher com os mesmos cabelos da filha, mas seus rosto não lembrava em nada Eleonora, a mãe de Monalisa na camada superior. Que tipo de dimensão seria essa e porque as memórias dela foram apagadas? Como ela poderia decidir alguma coisa sem ter consciência do que estava se passando? São perguntas que qualquer um poderia estar se fazendo ao saber o que havia acontecido antes, porém, vamos tentar freiar nossa curiosidade e tentar entender que tipo de mundo está diante de Monalisa, ou melhor, Aurora. Até melhores explicações, vamos tratá-la como Aurora.

- Err...a senhora sabe que dia é hoje, não sabe, mamãe? - pergunta Aurora, com um sorriso travesso, disfarçando e olhando para o chão.

- Como se eu pudesse esquecer - respondeu a mãe - Claro que é seu aniversário, querida! Parabéns!

Na mesma hora, ela agarra a filha, dando-lhe um abraço apertado, ao que Aurora corresponde integralmente.

- Obrigada.

- Treze anos, quem diria. Você já está virando uma mocinha.

- Não é para tanto. Ainda caibo nesses vestidinhos - observou a garota, sorrindo.

- Ah, é porque você é pequenininha. Pequena e delicada - diz a mãe, abraçando e beijando a filha novamente - Espero que você seja sempre minha menininha!

- Hihi - ri Aurora - Ah, mãe. Você sabe que um dia eu vou ter que deixar de ser sua menininha. Algum dia eu vou me casar e...

- Casar? Você está pensando em se casar? Já tem alguém querendo casar com você? Ai, se o seu pai descobre, ele...

- Calma, mãe, calma! - diz a garota, sem esconder o riso - Eu só falei que um dia vou me casar, mas nem penso nisso ainda.

- Ufa, que susto! - suspira a mãe, enquanto limpa as mãos no guardanapo - É...é bom que continue assim por um bom tempo. Queremos aproveitar muito você antes que comece a se interessar pelos meninos.

- Não tenho nada contra os meninos, mas...para pensar em me casar ainda é cedo, né, mãe? - fala a menina, sentando-se e cortando um pedaço de pão.

- Bom ouvir isso. Bom, tem tudo que você gosta aí. Pão fresquinho, geleia e suco de laranja. Fique à vontade.

- Pode deixar. Se é para continuar comendo seus quitutes, vou demorar muuuito para me casar.

As duas riem. Aurora parecia ter uma relação muito boa com a mãe. Aliás, muito melhor que muitas famílias por aí.

- Seus amigos virão aqui hoje, não é, filha? - pergunta a mãe.

- Sim, sim. Vou me encontrar com a Martinha à tarde porque ela quer me mostrar uma coisa, mas depois vamos vir para cá e o resto do pessoal deve chegar à noitinha.

- Tudo bem. Vou preparar o bolo agora mesmo. E do seu sabor preferido, morango.

- Hmm...morango. Só de pensar já fico com água na boca! - exclama Aurora, imaginando o sabor do bolo que comeria logo à noite.

- Mas até lá, melhor esperar, viu? Enquanto isso, por que não dá uma voltinha no píer? Acho que o seu pai ainda deve estar por lá.

- Opa. Pode deixar. Vou agora mesmo.

- Ei, não esqueça de escovar os dentes antes, filha - a mãe chama a atenção - Quero ver esse seu sorriso lindo sempre

- Hihi. Claro - sorri Aurora. Depois disso, a garota corre para o cais, próximo ao lago na frente da casa. Tomando como referência o nosso mundo, o ambiente parecia uma cidadezinha europeia, dessas de filme mesmo, exalando paz e serenidade por todos os lados. Assim que Aurora sai de casa, vários vizinhos a cumprimentam por seu aniversário, ao que ela agradece cordialmente. O caminho até o cais não era longo, mas era uma vizinhança simples e pequena, onde todos se conheciam e se respeitavam. Não demora muito para Aurora chegar ao galpão do cais, local de trabalho de seu pai, que administrava os barcos de pesca do lago. Era um homem não muito alto, usava óculos e tinha uma aparência gentil. Mas não era nada parecido com Fábio.

- Bom dia, pai! - grita Aurora, chegando de surpresa.

- Oh, filha. Que bom que passou aqui! - diz ele, mas antes que falasse qualquer coisa, logo recebe um abraço enorme da garota - Opa, feliz aniversário.

- Não ia aguentar até à noite para te ver. Hihi - diz ela, toda sorridente. Os outros funcionários do local também cumprimentam a menina.

- Sua filha está cada dia mais bonita, Afonso - comenta um dos funcionários do lugar, um homem ruivo e barbudo, fazendo um cafuné nela.

- Tanto quanto a sua Brenda - comenta Afonso, aparentemente o nome do pai de Aurora.

- Falando na Brenda...ela está em casa? - pergunta Aurora ao pai dela.

- Está sim. Vai ficar contente em te ver.

- Eu já vou dar uma passada lá.

- Mas antes - diz Afonso, mexendo em algumas gavetas ali - Quero te dar o seu presente.

- Presente? O que é? - pergunta Aurora, curiosa.

- Tcharam!

- Isso é...

- Sim. Um livro - diz o pai, antes que Aurora terminasse a frase - Bem, não um livro normal, mas um livro de ajuda a escritores.

- Sério?

- Você sempre disse que queria escrever livros quando crescesse, não é?

- É verdade. Sua filha adora ler, não é? Toda semana ela sempre pega alguma coisa da biblioteca da vila - comenta outro funcionário.

- Sim. Meu sonho é me tornar escritora quando crescer.

- Então acertei no presente - diz o pai - Gostou, filha?

- Muito. Obrigada, papai - agradece ela, dando um beijo na bochecha do pai e, após mais alguns instantes, saindo do galpão para deixar ele trabalhar em paz. Assim que faz isso, sente alguma coisa estranha.

"Nossa, senti um arrepio, o que será?", pensa ela, "Um livro que ajuda a escrever livros, heim? Como será que é? Vou mostrar para a Brenda"

E ela segue na direção da casa da amiga.