Pesadelo do Real

Capítulo 17 - Inesperado


"Não há lugar como o nosso lar"

~ O Mágico de Oz (livro de L. Frank Baum)

Capítulo 17 - Inesperado

Ou ela havia escutado errado, ou sua mãe havia mesmo dito algo muito estranho. Ela disse mesmo ser a única pessoa capaz de ajudá-la? Do que estava falando?

- O...o que disse, mãe?

- Que sou a única pessoa que pode te ajudar.

- C-Como assim?

A mulher se aproxima da filha, coloca as duas mãos nos ombros da garota e olha profundamente nos olhos verdes que a filha havia herdado dela. Algo de inédito parece ter ocorrido.

- Sem mim, filha...você sempre vai escolher os caminhos errados.

- Do...do que está falando, mãe? - a mocinha gagueja, não desviando o olhar, mas assustada com a situação.

- Estou falando do problema onde você se meteu, Monalisa. Está tentando sair do Labirinto sozinha.

- C-Como...então você...

- Isso mesmo. Eu sou a guia que você precisa! - diz a mãe, com algumas lágrimas nos olhos e abraçando a filha repentinamente.

"Ela...está me abraçando?", pensa Monalisa correspondendo ao abraço ainda com um certo estranhamento, "Quando foi a última vez que isso aconteceu? E...espere...ela é mesmo a guia do Labirinto?"

- Desculpe. Desculpe por ter sido uma mãe tão distante...mas...mas...era o que eu precisava ser.

- Precisava? Oh, claro...Você também é parte do Labirinto, não é?

- Sim. Sempre quis agir de um jeito diferente, mas sem os eventos corretos eu não podia...é tão bom poder te abraçar! - diz a mãe, ainda lacrimejando e soluçando.

- Espere...espere um instante - fala a menina, soltando-se do abraço da mulher - Você...você não é a minha mãe...

- Claro que sou sua mãe. Vivi com você todos esses anos. Mãe é quem cria

- Se sou só um rato de laboratório andando pelo Labirinto, você não deve ser minha mãe de verdade! Nem meu pai deve ser o verdadeiro! Eu...não sei nem se sou mesmo uma garota...como pode me garantir? Como pode falar que é a minha mãe?

- É..é verdade - diz a mulher, voltando o olhar para o chão de forma tristonha - Eu não sou sua mãe de verdade. Sou apenas parte do Labirinto. Mas...sempre estive do seu lado, então é como se fosse sua verdadeira mãe...mesmo tendo que agir como uma mãe distante, mas eu...eu sempre te amei como se você fosse minha filha de verdade.

- Bem...desculpe, não quis parecer rude - fala a menina, agora esboçando um pouco de piedade ao ver a face triste dela - Mas...a verdade é essa, não é?

- Sim. É verdade, eu, Eleonora Fontes, não sou sua mãe de verdade, mas é verdade que sou sua guia.

- Minha guia..então, você pode me dizer como sair do Labirinto?

- Não diretamente.

- Hmm...imaginei que fosse dizer algo assim.

- Tudo que posso fazer é dar as orientações corretas para que você siga o melhor caminho - continua Eleonora - Mas a saída do Labirinto exige uma série de eventos...mesmo que quisesse sair agora, não teria como.

- Bem...então quais são meus próximos passos? Estou cansada de nunca ouvir nada que preste!

- Quer tanto assim sair?

- É claro! - diz a garota, de forma ríspida - Tem ideia de como é viver num mundo onde você sabe que tudo é mentira, mas não pode fazer nada para mudar? A minha única alternativa é ativar os eventos para encontrar a saída....seja lá o que for!

- Bem - a mulher começa a andar pela sala e a olhar pela janela - É fato que você vive em um mundo projetado, mas...apesar de ninguém poder te contar a verdade, é perfeitamente possível passar por uma vida normal e tranquila. Tudo que precisa fazer é ignorar tudo e fingir que nunca soube de nada.

- Um outro tutor já me disse a mesma coisa e vou dar a mesma resposta: é impossível viver num lugar onde você sabe que é enganada o tempo todo sem saber o porquê! Não vem nem perguntar se você pode me dizer a verdade, porque aposto que a resposta vai ser a mesma de sempre!

- Sim...de fato, não posso te falar a verdade. O único jeito é ativando os eventos certos.

- É por isso que preciso terminar esse jogo...eu...eu realmente preciso sair. Preciso saber quem são meus pais de verdade, quem sou eu de verdade. Talvez a minha realidade seja totalmente diferente, talvez eu nem seja Monalisa, talvez nem uma garota.

- O que vai fazer se sua vida fora do Labirinto for pior do que aqui?

- Ainda assim...será melhor do que viver enganada para sempre.

- A verdade...é mais importante que a felicidade.

- Se é uma felicidade falsa, então não é felicidade - retruca a menina.

- Você sabe que o Labirinto não pode interferir na sua vontade - fala a mãe, virando-se de costas e olhando pela janela. Lá fora, havia apenas a vista da rua, em uma noite escura e nublada - Sendo assim...só posso seguir com minha função aqui...que é guiá-la pelos caminhos corretos.

- Eu...não sou boa em conversar com as pessoas...desculpe se pareço rude, ainda mais que você sempre me deu tudo que eu precisava, mas....tente se colocar um pouco no meu lugar? Também não gostaria de sair de uma prisão?

- Sim...entendo seu ponto de vista - ela ainda parecia triste, mas conformada - Mesmo que você saia...gostei muito de ser sua mãe.

- Eu também gosto de você...mesmo sabendo que não é minha mãe de verdade. Se bem que...bom, nesse mundo você É a minha mãe. Se eu não sou Monalisa fora do Labirinto, dentro do Labirinto, a Monalisa É a filha de Eleonora. Isso é algo que não pode ser mudado.

- Então...você não me odeia?

- Eu odeio o Labirinto como um todo, mas não você como minha mãe....bem, é verdade que nem ela e nem meu pai foram muito amorosos, mas também nunca me deixaram desamparada em nada.

- Oh...é bom que você reconheça isso.

- Mas o que não entendo é...se o Labirinto queria tanto me alienar, por que não me colocou em uma família mais feliz? Acho que nunca pensaria nessas coisas se estivesse em uma casa cheia de irmãos, irmãs, se tivesse primos...essas coisas.

- Bem...o Labirinto também poderia ter sido criado de forma que você nunca ativasse evento algum. No entanto, ele permitiu que você entrasse nele - explicou a "mãe" - Bem, Monalisa, alguém já deve ter falado que o evento inicial do Labirinto poderia ter sido ativado de várias formas. Você criada em uma família alegre ou tediosa, de uma forma ou de outra, você teria as mesmas chances de ativar os eventos. No fundo, talvez a sua personalidade fosse diferente...ou não.

- Entendo...talvez eu nem seja uma garota quieta de verdade, não é? Como eu disse, não há nem garantias de que eu me chame mesmo Monalisa.

- Eu acho um lindo nome.

- Também gosto...ou talvez tenha sido forçada a gostar.

- Impossível. O Labirinto não pode interferir nas suas escolhas, no máximo, pode dar sugestões.

- Tudo bem. Não adianta ficar pensando no que realmente sou ou deixo de ser agora. Escute...se você é mesmo a guia, o que devo fazer agora?

- Oh, sim. É verdade. Precisamos entrar nesse tópico - diz Eleonora, batendo as palmas, com um sorriso simpático. De fato, não era nada parecida com sua "mãe" original.

- É por isso que esse evento foi ativado, não foi?

- Oh, sim, é claro. Você ativou esse evento - diz a mulher - Sente-se aqui, sim?

Ela se senta no sofá e pede que Monalisa a acompanhe. A garota senta-se ao lado de Eleonora que finalmente começa a falar sobre os próximos acontecimentos.

- Antes de tudo...preciso dizer que teve muita sorte de ter ativado esse evento primeiro.

- Hã? Por quê?

- É sobre isso que irei falar...sobre os perigos que você correu até agora.

Perigos? O que poderia ser?