Não havia sido a coisa mais difícil do mundo de se fazer como pensava, apesar de que no momento suas pernas tremulavam e seu coração palpitava tão rápido que não parava de se questionar se era a escolha certa. Mas agora já estava feito, e sorriu satisfeito por finalmente ter reunido a coragem necessária para isso.

Norman havia convidado Emma para um encontro.

Claro que se não fossem pelos constantes incentivos e encorajamentos, que francamente as vezes os viam mais como ofensas, o albino levaria muito mais tempo para fazê-lo. E ele já havia perdido tempo demais guardando para si seus sentimentos.

Essa demora também acabaria estragando a chance de dar a Emma um dia perfeito como merecia. O verão estava próximo de acabar, e aquela era a estação preferida de ambos, ainda que a longa exposição ao sol lhe causasse insolação, então o albino optava pelo uso constante de um protetor solar. Era a época perfeita do ano para poder passar um tempo ao ar livre com ela, sem precisar se esconder da neve do inverno ou os ventos frios do outono. A primavera também poderia ser uma ótima escolha, mas isso levaria muito tempo. Seriam mais meses de uma espera angustiante por estar constantemente ao lado da amiga, mas não da maneira que queria.

Um dia ensolarado de verão era certamente a melhor escolha.

Estava tudo planejado na sua cabeça. Começaria o encontro com algo simples: tomariam café da manhã em uma cafeteria e então iriam a um pequeno parque de diversões próximo, um que não fosse tão lotado com muito movimento. Depois de passar por alguns brinquedos, iriam passear em um zoológico. Havia feito uma nota mental que um dos sonhos da garota, bem estranho na sua opinião, era o de ver uma girafa. Após isso terminariam um encontro passando em uma sorveteria, onde lá ele esperava a confirmação sobre os reais sentimentos da garota por ele.

Claro, um dia inteiro com uma agenda esquematizada poderia ter muitas repercussões. Emma podia já ter tomado café da manhã em casa e estar satisfeita, ou um dos dois poderiam passar mal em um dos brinquedos do parque, ela poderia não se interessar tanto pela ideia do zoológico e ir ver apenas a girafa o que acabaria adiantando muito a agenda, ou poderia não achar uma sorveteria aberta caso demorassem demais nas outras atividades do dia. E a lista continuava com infinitas possibilidades de coisas que poderiam estragar o dia dos dois juntos.

Ele balançou a cabeça algumas vezes, tentando afastar qualquer pensamento negativo que insistisse em lhe atormentar. Hoje se manteria otimista, assim como Emma. O mais difícil, em sua opinião, já havia sido feito. Seguir o resto do dia com naturalidade e sendo a melhor companhia possível para a garota já era algo com que estava mais acostumado, a única diferença era que hoje Emma tem total ciência dos seus sentimentos por ela...e que ela ainda não havia dito que sentia o mesmo... e que poderia estar apenas não querendo magoar o amigo com uma rejeição na hora.

É, esqueça o que disse, não conseguiria agir com naturalidade de forma alguma. Por um momento sentiu seu coração palpitar tão rápido quanto no momento em que a chamou para esse encontro, e suas pernas tremulavam igual. Estava tremendo de nervosismo outra vez, mas agora não sentia as borboletas em seu estômago.

Por sinal ela ainda não havia chegado, e se estivesse evitando o amigo? Poderia ter mudado de ideia e não querer mais seguir com o encontro. Se fosse isso então teria estragado a amizade de longa data para sempre. Não veria mais a garota com o sorriso mais lindo que já viu e o coração mais bondoso que existe. Teria arruinado a convivência um com o outro por ter–Norman! –Ouviu repentinamente a voz tão conhecida e inconfundível o chamando, afastando sua mente do turbilhão de pensamentos negativos que não cessavam.

Quando olhou assustado na direção de onde ela veio, viu Emma andando apressadamente em sua direção. Os cabelos alaranjados balançavam contra o vento, e ela segurava firmemente com uma das mãos o chapéu que usava para se proteger do sol intenso. O sorriso em seu rosto era tão genuíno que seu coração falhou uma batida, e Norman, ainda estático, havia esquecido completamente de suas preocupações anteriores. Quando ela o alcançou, cumprimentou alegremente o velho amigo. Esse pensamento, porém, ainda não havia saído de sua cabeça. Eles continuavam até o momento sendo apenas amigos.

Se esforçou o máximo que podia, mas não conseguiu ver nenhum traço na expressão da garota que indicasse que ela estava ali contra sua vontade. Ela havia aceitado verdadeiramente o convite e os sentimentos confessados a ela. Norman logo esboçou um grande sorriso com a realização disso, havia uma chance que ela também não quisesse continuar o relacionamento de ambos apenas como amigos.

-Desculpa, eu te fiz esperar muito? –Perguntou juntando as mãos em súplica. Arfava um pouco indicando que correu pelo trajeto até se cansar, ela se preocupava em chegar o quanto antes. –Eu acabei levando mais tempo do que imaginava me arrumando!

—Não, está tudo bem. Eu cheguei há pouco tempo. –Explicou indicando a porta da cafeteria e a dando passagem. –Vamos?

Ambos adentraram a cafeteria e de imediato um sino acima da porta tocou indicando a chegada de mais clientes. Sentaram em uma das mesas ao lado da janela, e Emma observou admirada o estabelecimento. Era sem dúvidas muito bonito e com uma atmosfera bem alegre, o que combinava perfeitamente com ela. Eles logo foram atendidos por uma garçonete que anotou os pedidos e os deixou esperando. Entre conversas que fluíam facilmente por assuntos diversos, Norman conseguiu seguir com uma conversa sem constante nervosismo como achou que faria. Mas vez ou outra Emma o fitava em silêncio, sorridente. Não fazia ideia do que se passava na cabeça dela, e não conseguia olha-la por muito tempo sem acabar se desviando o olhar e tentando evitar o silêncio puxando conversa sobre algum assunto completamente aleatório.

A garçonete que viam trazendo em uma bandeja os dois copos de suco e sanduíches pedidos se aproximava da mesa deles, mas acabou se desequilibrando com o salto alto que usava e tropeçou.

—Norman! –A garota chamou, vendo o mais velho agora molhado com a bebida. E depois que o pequeno momento de susto passou, Emma não sabia dizer se o mais engraçado era a cara frustrada de Norman ou a garçonete desesperadamente pedindo desculpas ao cliente. –Você tá legal? –Perguntou ao amigo já no final de sua gargalhada, esse que não riu junto dela e apenas esperava a garçonete trazer uma toalha para ajudá-lo a se secar.

—Estou. –Respondeu bufando frustrado. Não estava irritado com o acidente da garçonete, mas lá se foi o café da manhã perfeito.

[...]

Quando terminaram de tomar o café da manhã, depois de ter que pedir por ele novamente e ouvir milhares de pedidos de desculpas da garçonete, os dois foram em direção do pequeno parque de diversões, e lá Norman encarou outro problema.

—Esse lugar não costuma ter tanta gente. –Resmungou sozinho enquanto esperava com Emma em uma enorme fila para a montanha-russa. Poderiam optar por um brinquedo com uma fila menor, mas aquele era a prioridade para ele. Era o favorito de Emma e se eles tivessem que perder tempo em um fila então seria essa.

“Se demorarmos muito numa fila do parque, o zoológico vai fechar e a Emma não vai aproveitar o bastante nem nenhum dos dois. ”

—Acho que as pessoas estão aproveitando o final das férias, fora que hoje tá um clima perfeito pra atividades fora de casa. –Ela explicou tirando o albino de seus pensamentos.

—É, eu acho. –Concordou ainda aborrecido. Contra imprevistos como esse não havia nada do que ele pudesse fazer, apenas torcer para que não demorassem tanto quanto parecia que demorariam.

Aos poucos a fila diminuía, e a longa esperava já estava próxima de acabar. Emma ao seu lado estava vibrando de empolgação, mal acreditando que finalmente chegava sua vez. Quando conseguiram enfim andar no brinquedo sentiram a espera valer a pena. A velocidade e o balançar intensos do carrinho eram a maior diversão que o parque tinha para oferecer na opinião de Emma, e a adrenalina e empolgação corria pelo seu corpo durante todo o percurso. Ela ria alto e deixava seus braços levantados o tempo todo, enquanto Norman se segurava firmemente na barra de segurança.

Ambos saíram satisfeitos quando a vez deles acabou, apesar de que a garota ainda gostaria de que tivesse durado mais. Norman tinha um pouco de dificuldade para se manter em pé, sentindo o enjoo lhe atingindo com força. Emma por outro lado continuava eufórica, dizendo que estava pronta para encarar outra longa fila para ir no brinquedo outra vez. Norman discordou de imediato, sabendo que se fossem outra vez não teriam tempo de ir para o zoológico.

Puxou a garota pelo braço e a levou em direção a saída antes que ela protestasse contra.

[...]

Depois de saírem do parque e chegarem no zoológico, os dois se depararam com um portão fechado a frente. Algumas pessoas viam em direção contrária, uma ou outra criança falava animada sobre os animais com seus pais. Norman respirou profundamente outra vez, o trânsito que pegaram no ônibus realmente não havia colaborado com eles. Mesmo que tivessem saído mais cedo do parque do que gostaria para poder chegar a tempo de ver a bendita girafa, mas ainda não havia sido o suficiente.

Primeiro um café da manhã desastroso, depois um parque de diversões muito mais lotado do que de costume, e agora isso. O mundo parecia estar contra ele nesse dia.

—Por que logo hoje? –Esbravejou tentando conter a raiva. Esse realmente não era um encontro que Emma merecia. –Então vamos logo pra uma sorveteria, com certeza ainda vai ter alguma aberta próxima daqui. –Ele tinha planejado em irem a uma sorveteria específica próxima dali, mas com a sorte que estava tendo não duvidaria nada que essa estivesse fechado o obrigando a ir em outra.

Emma concordou em silêncio.

[...]

Para sua sorte, e surpresa também, a sorveteria ainda estava aberta. Suspirou aliviado com isso, nem tudo estava perdido no final das contas. Ele já ia entrar, quando sentia a barra de sua camisa ser puxada.

—A gente pode conversar um pouco? –Emma perguntava parecendo um pouco desanimada.

E somente com essa frase a mente do albino foi novamente devastada por um turbilhão de pensamentos negativas. Ela não estava sorrindo como normalmente, então o assunto não deveria ser algo bom. Havia sido a frustração de não poder ter ido ao zoológico? Não ter aproveitado tanto quanto queria o parque de diversões? Talvez fosse uma mistura dos dois. Norman queria realmente ter conseguido aproveitar melhor essas atividades com Emma, mas a única coisa que havia seguido como planejado até agora foi ter encontrado a sorveteria aberta, que poderia muito bem acabar em outro desastre assim que entrassem como foi na cafeteria.

Pelo visto nem isso ele conseguiria ver.

[...]

Os dois sentavam em um banco de madeira em uma praça relativamente vazia, além deles só se viam uma ou outra pessoa aproveitando o agradável final de tarde. O dia estava acabando e Norman realmente não tinha conseguido dar a Emma o encontro especial que ela merecia.

—Você tá bem estranho hoje. –Ela foi a primeira a falar, quebrando o silêncio desconfortável estabelecido desde que decidiu não ir entrar na sorveteria. Mas ela não tinha a intenção de ofendê-lo, então falou com o tom de voz mais ameno que conseguiu.

O albino abriu a boca para tentar se justificar, mas acabou por não o fazer. Ela estava certa no final das contas, ele foi bem distante desde que saíram da montanha-russa, apressado para poder seguir passo a passo sua agenda. Parando para pensar um pouco, foi até grosseiro em não deixar que a garota ir novamente no brinquedo ao arrasta-lo para fora do parque. Poderia ao menos ter perguntando se ela não preferiria ir ao zoológico no lugar disso.

—Mas eu também estou um pouco, então acho que estamos no mesmo barco. –O garoto a fitou confuso. Para ele, Emma não aparentava estar estranha, e até ser levado a essa praça ele diria que não havia nada diferente com ela. –Sabe, eu fiquei bem feliz quando você me convidou pra esse encontro, mas fiquei um pouco assustada também. –Os dedos dela se entrelaçavam repousados sobre o colo, e a garota evitava o contato visual. –E o dia inteiro você tem agido bem diferente do que de costume, então acho que você tá um pouco assustado também, né?

—S-sim. –Respondeu engolindo a saliva, sentindo-se nervoso outra vez. – Eu fiquei um pouco assustado também, não vou mentir. Eu tive medo de você só ter aceitado o convite pra não me magoar, ou de não conseguir fazer dar um bom encontro pra você, então talvez eu possa ter sido esquisito hoje. Só queria ter certeza que conseguiríamos ir em todos os lugares hoje, fazer o dia inteiro valer a pena.

A mais nova riu com a resposta, se sentindo aliviada a ver o garoto agindo um pouco mais como ele mesmo. Outra vez, Norman a fitou confuso.

—Você sempre pensa muito a frente, e eu admiro muito isso em você, mas vezes acaba nem pensando no agora. – Norman observou a postura corporal dela se tranquilizar agora, isso era bom. – Tem que aproveitar mais o momento, Norman. Fui isso que eu fiz o dia inteiro,

—Eu sei, eu sou um idiota. –Disse derrotado, tirando mais uma risada de Emma.

—Eu nunca disse isso.

—Mas eu estraguei nosso encontro. –Ele insistia. –Eu queria seguir
à risca uma lista de coisas que faríamos hoje pra ter um encontro perfeito e acabei não aproveitando nada como devia.

—Bom, eu concordo que você apressou um pouco as coisas, mas pra mim o dia de hoje ainda foi perfeito. Eu consegui aproveitar tudo porque eu estava com você, e só isso já fez valer a pena. Você pode não ter achado a melhor programação, mas eu achei que foi a melhor companhia.

—Sério? –Ele perguntou duvidoso, já que acreditava não ter feito nada direito.

—Sério, nós finalmente tivemos um encontro! Fora que fomos em alguns lugares bem legais.

—E aquilo na cafeteria?

—A cara que você fez quando a garçonete derrubou os sucos em você foi hilária, e aqueles sanduíches estavam ótimos!

—E o parque de diversões?

—Bom, eu gostaria de poder ter ido em mais brinquedos, mas a montanha-russa foi incrível!

—O zoológico?

— A gente deixa pra próxima vez. –Sorria para ele, ruborizando as bochechas do albino. Ele não conseguiria esconder a vermelhidão naquela pele clara.

“Então vai ter uma próxima vez”

Os dois ficaram em silêncio por um tempo outra vez, ele muito mais constrangido do que ela. Talvez fosse melhor não planejar coisas como de maneira tão à risca. Ao lado de Emma ele queria só poder aproveitar o agora. Se tivesse que deixar de um lado um hábito compulsivo como esse, ele o faria de bom grado. São amigos desde crianças, deveria a conhecer melhor do que isso para saber como deixa-la feliz.

Norman sentiu um par de lábios macios encostando no seu rosto, e ficando ali por um tempo. O beijo que recebeu em sua bochecha foi breve, e muito mais do que antes o albino sentia seu rosto esquentado. Ficou parado e sem reação, olhando para Emma que continuava sorrindo para ele. Podia jurar que seu coração estava para pular pela boca, e ela estava tão descontraída quanto sempre.

—Então essa sua “lista” terminava com sorvete, não é? –Perguntou ironizando a palavra, achava estranho algo assim para um encontro. Depois de receber um aceno de confirmação ela se levantou do banco. –Isso pode seguir como planejado se você quiser.

Depois de ter descongelado, ele a imitou e andaram juntos em direção a sorveteria que estavam antes.

Realmente não havia sido como planejado, e poderia ter não se preocupado tanto em ter um encontro perfeito com a garota perfeita, mas pode passar o dia toda na companhia de Emma depois de ter revelado seus sentimentos a ela, e Norman também achava um dia assim perfeito de sua própria forma.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.