XENA

Eu estava perdida em meus pensamentos, olhando o teto de meu aposento, deitada em minha cama, os primeiros raios solares, a leve e gélida brisa entrando pela janela, deveria confortar-me, não era o que acontecia, a amargura de meus pensamentos, me mantinham em uma completa angústia. Pena o arrependimento não trazer a anistia. Tantas guerras, mortes, tudo por minha culpa. Por minha causa. Pensei que fosse chorar mais me lembrei que havia perdido essa habilidade; há anos não chorava, desde a morte de meu amado irmão Lyceus. Melhor me levantar, não mudará nada fica aqui me martirizando, nada que eu fizer apagará essa dor, só posso tentar um caminho melhor agora, transformar a Grécia num lugar melhor e... Meu devaneio é interrompido, por suaves batidas na porta. Levanto-me, passo a mão nos meus longos cabelos negros, arrumo a túnica e ordeno com rispidez. Afinal o sol acabará de nascer e já estavam me incomodando.

—Entre!

Um soldado entrou, parecia desconfortável.

—Senhora conquistadora perdoe-me por vim tão ce...

O interrompi com um gesto impaciente com as mãos.

—Se está aqui deve ter algo a dizer, fale logo.

Ele não me olhou diretamente, respirou fundo.

—Saqueadores nômades atacaram a aldeia Potédia, roubaram e botaram fogo, alguns sobreviventes, se ofereceram para serem escravos, já que perderam tudo.

Que coisa! Uma notícia desta no começo do dia acaba com o bom humor de qualquer um, como se eu estivesse de bom humor.

—Mandem soldados atrás deles, e que não voltem aqui sem os saqueadores, ou o que sobrar deles.

O soldado assentiu com a cabeça.

—E as pessoas que querem servir ao império senhora?

Não posso colocar essas pessoas na rua sem nenhum amparo, os deuses sabem que não gosto de ter escravos, servos assalariados são muito mais confiáveis, tem algo mais a perder que a vida.

—Prepare uma conferência, em uma marca me apresentarei a eles, veremos se jurarão lealdade, e quererão me servir depois de me conhecer.

—Sim senhora.

O soldado saiu rapidamente.

Dirigi-me a minha grande tina, tomei um banho frio como de costume, vesti uma roupa intimidadora, parei em frente ao espelho. E disse a mim mesma. Quem diria Xena, tentando ajudar camponeses? Sorri, balancei a cabeça e sai, passei pela câmara externa, vi meu desjejum na mesa, passei direto até os grandes corredores em direção a sala onde estavam os camponeses ajoelhados em apenas uma fila.

Um guarda anuncia minha chegada.

—A vossa majestade A conquistadora de nações, se apresentando.

Senti vontade de rir pelo jeito que o guarda me apresentou, me mantive séria e entrei na sala sem olhar os rostos de ninguém, nenhum deles teve a petulância de levantar o olhar.

—Não costumo manter escravos em meu palácio. Estão cientes disso?

Não houve reação imediata. Repeti mais alto.

—Estão cientes?

Vi que alguns choravam.

—Sim senhora conquistadora.

Realmente tenho a minha frente pessoas que perderam tudo.

—Jurem lealdade a mim e ao império Grego e deixarei que sirvam aqui no palácio.

Disseram em uníssono.

—Juramos lealdade à senhora conquistadora e a império grego.

—Repitam!

Uma jovem me chamou atenção, por que alguém sempre busca problemas?

—Parem!

Caminhei até a jovem.

—Você, levante-se.

Falei com mais suavidade. A moça loira se levantou. Por ser bem mais baixa, inclinou a cabeça para trás e me olhou nos olhos. Seus lindos olhos verdes, marejados, demonstravam dor e suavidade ao mesmo tempo, percebi que mudei minha feição dura com o olhar da moça, voltei a por minha "máscara".

—Por que não jura sua lealdade?

Jura logo menina, odiaria te mandar embora.

—Juro-te lealdade, Minha senhora, a ti e ao império grego.

Notei uma lagrima escorrendo pelo rosto da menina, levantei a mão para secá-la, por reflexo a moça se encolheu achando que apanharia. Não me detive, limpei sua lagrima, acariciando seu rosto perguntei docemente.

—Como se chama?

A Menina voltou a olhar-me nos olhos.

—Gabrielle Minha senhora

Minha senhora, ninguém me chama assim... Você é diferente Gabrielle.

Percebi que havia esquecido a presença das outras pessoas que nos rodeavam, tudo rodava apenas em torno de mim e da bela jovem. Sai desse estado de transe. Afastei-me de Gabrielle que voltou a se ajoelhar.

—Temos algumas regras aqui, seus superiores passarão a vocês. A apenas uma regra que quero dizer. No meu reino mulheres, escravas ou nobres. Não são brinquedos sexuais, se algum soldado, escravo, ou até mesmo um membro dá corte, tocar em vocês, sem seu consentimento, digam a seus superiores, assegurarei que o culpado tenha uma morte dolorosa. Entendido?

—Sim senhora conquistadora.

Olhei se Gabrielle respondia, e vi que a jovem me observava, e se virou rapidamente quando a vi. Sorri. Tão linda, será com era sua vida naquela pacata aldeia, espero que goste do palácio. O que estou pensando! Querendo agradar uma camponesa, que agora seria minha escrava. Pelos deuses estou mesmo louca!

GABRIELLE

Quando a conquistadora me olhou, eu senti um medo muito grande, depois ela olhou de um jeito diferente, talvez com carinho ou pena, não sei; trouxe-me conforto. Perdi meus pais no incêndio, doí muito lembrar seus gritos e súplicas.

Não consigo conter o pranto.

— Gabrielle, tudo bem?

Minha irmã se aproxima, parecendo preocupada, nos abraçamos.

— Eu estou feliz, em não ter te perdido também Lila.

Olhamo-nos carinhosamente.

— Eu e Pérdigas, estamos aqui e te amamos. Talvez a vida não seja tão ruim aqui, pelo menos estamos juntas.

— Obrigada, Lila. Eu Te amo.

Permanecemos abraçadas na cozinha, para onde tinham destinado nossos serviços.

Um barulho na porta nos faz virar, ao vermos a conquistadora, caimos de joelhos, perante ela.

XENA

Gabrielle, abraçada com essa moça, o que significa isso? Será que são namoradas? E será que não consigo controlar esse extinto possessivo. Droga! Conheci a moça ontem e já estou me sentindo dona de seus sentimentos.

Sinto minha face queimar, mais não deixo transparecer nada. Digo com sarcasmo.

—Vejo que minha cozinha se tornou um bom ponto de encontro? Não?

Entrei na cozinha passei pelas duas mulheres ajoelhadas, peguei uma maça e mordi. Esforcei-me para me controlar.

— Levantem-se! Não precisam se ajoelhar, sempre que me verem, só quando mandar. Entenderam?

A jovem morena estava nervosa, Gabrielle segurou sua mão e se levantaram, dizendo ao mesmo tempo.

— Sim senhora.

Caminhei até a moça que estava ao lado de Gabrielle, parei a um braço de distancia, olhei em seu rosto e ordenei baixo e severamente.

— Saia!

A moça olhou para Gabrielle com os olhos marejados, a loira balançou a cabeça como se consentisse que a outra a deixasse. Ela saiu lentamente deixando Gabrielle sozinha comigo.

Assim que ela saiu mudei a expressão dura de meu rosto para uma tranquila e suave feição, como há anos não fazia.

— Então... Gabrielle né? Quem é a moça?

Já que estou, morrendo de curiosidade e ciúmes, posso apenas fingir indiferença.

— Minha Irmã, minha senhora.

Senti um grande alivio, graças aos deuses, tanta preocupação sem motivo.

A moça completou.

— Só me restaram ela e meu noivo.

Ela tinha um tom triste na voz.

— Noivo?

Eu estava incrédula, percebi que havia pensado alto. Droga! Achei melhor eu não perguntar mais nada sobre isso, me virei e peguei algumas uvas, apenas para disfarçar a surpresa.

— Aceita?

Disse oferecendo um cacho de uvas a Gabrielle que pegou timidamente, com um sorriso que fez seu nariz franzir, eu a olhava com ternura, enquanto ela comia. Ela levantou o olhar, eu sorri.

— Obrigada, minha senhora. Posso deixar essas para a minha irmã?

Disse mostrando metade do cacho. Deve estar com muita fome e ainda assim lembra-se de sua irmã.

— Coma este, leve outro a sua irmã tem bastante ali.

Gabrielle abriu um sorriso maior. Senti algo como paz. Andei até mais perto da moça, acariciei sua face suavemente olhando em seus olhos, sentia desejo, paixão, me segurei para não me precipitar e assustar a menina. Disse tão suavemente quanto pude.

— Prometo-te Gabrielle, as pessoas que destruíram sua vida pagaram muito caro por isso!

Gabrielle me pareceu surpresa, disse suavemente.

— Não quero que isso aconteça minha senhora, mata-los não trará meus pais de volta, só quero seguir em frente.

Aproximei meu rosto do de Gabrielle, vi que ela fechará os olhos, se entregando, sabendo que seria beijada. O barulho de algo caindo, quebrou o encanto da cena, Gabrielle se assustou e eu olhei indignada ao escravo, que estava ajoelhado no chão, percebi que era novo no palácio, e pelo olhar que Gabrielle lançou a ele, percebi que era o tal noivo.

Seria tão fácil expulsa-lo ou mata-lo. Pena que ai nunca teria nada com Gabrielle.

Aproximei-me do rapaz que estava ajoelhado, segurei à ponta do punhal que mantenho sempre em minha cintura, o jovem tremia e percebi que Gabrielle também.

— Seu nome?

Disse puxando mais o punhal.

— Pé...Pérdigas senhora conquistadora.

Ele estava completamente amedrontado, gaguejava e soluçava meio as lagrimas. A raiva me consumia, não tinha vontade de parar, quanto mais medo ele sentia mais eu gostava.

—Minha senhora.

A suave voz de Gabrielle me acalmou, ela estava chorando, por minha culpa, consegui me controlar.

— Você é um homem sortudo Pérdigas, hoje estou com bom humor.

Olhei para Gabrielle maliciosamente, provocando-a a jovem corou.

— Não costumo tolerar erros, fique esperto!

Não tinha nada haver com o que caiu, e sim com o ciúme que eu sentia. Tentei ser racional não tinha direito de ter ciúme, ela não é minha. Ainda. Sorri.

Peguei as uvas dei a Gabrielle, coloquei uma na boca sensualmente, sob seu olhar, sorri para ela e sai.

GABRIELLE

— O que estava acontecendo aqui Gabrielle? Eu achei que ela fosse te machucar e derrubei abandeja de proposito.

O que estava acontecendo aqui mesmo? Nem eu sei. Essa não é a conquistadora que os bardos contavam, ela foi sensível e benevolente, com o erro de Pérdigas. Acho que deveria ter medo dela mais simplesmente não consigo.

— A gente só estava conversando, ela não ia me machucar.

Pérdigas ainda estava alterado.

— Ela estava tão perto que eu achei que... Não sei.

Será que ele percebeu que a conquistadora ia me beijar? Melhor acabar logo essa conversa.

— Não se preocupe, é melhor voltarmos ao trabalho.

XENA

Uma monótona reunião, com os membros da corte, Ninguém merece.

Eu estava dispersa, meus pensamentos iam e voltavam mais sempre paravam naquela manhã, nos olhos de Gabrielle, seu sorriso lindo, a voz do doce...

— Essa reunião já deu! As coisas produtivas listem e me deem em um relatório. Ainda hoje.

Sai sem dizer mais nada. Parei na cozinha Gabrielle não estava, vi Tessália, uma senhora de meia idade, encarregada de todo o andamento cozinha, ela me lançou um olhar maternal.

— Venha conquistadora. Aceita um chá?

Sorri com sarcasmo.

— Prefiro um vinho.

A mulher sorriu e balançou a cabeça. Serviu-me uma taça de vinho.

— Então o que traz você a cozinha?

Essa informalidade me agradava bastante.

— Quero pedir uma coisa? Sabe a moça Gabrielle, quero que ela sirva minhas refeições em meus aposentos, de hoje em diante. Sempre em porções dobradas.

Tessália me olhou desconfiada, depois sorriu, fiquei um pouco desconcertada.

— Não é nada disso que você está pensando.

Mesmo sabendo que não tinha que explicar, Eu tentei.

— Eu só quero conhece-la melhor me parece uma boa moça.

A senhora sorriu ainda mais, segurou minha mão que estava sobre a mesa.

— É uma boa moça e tem de sobra o que você precisa Xena.

Sorri levantando a sobrancelha.

— E o que eu preciso?

Tessália se afastou e olhando em meus olhos falou suavemente.

— Amor, conquistadora. Você precisa e merece este amor.

Emocionei-me com as palavras, daquela mulher que eu considerava como uma segunda mãe.

— Obrigada Tessália. Só mais uma coisa, não ensine a ela como se portar nos meus aposentos, mostre-a apenas o caminho.