XENA

Acordei novamente com Gabrielle sobre meu corpo, estava começando a me acostumar com isso. Sinto-me feliz e cansada ao mesmo tempo, não me lembro da ultima vez que alguém me deu tanto prazer, foi incrível como ela controlou tudo, a liberdade que dei a ela para fazer o que queria com meu corpo. Depois que me tornei a conquistadora o sexo se tornou apenas uma nova arma que eu utilizava para conseguir o que eu queria, com Gabrielle foi diferente, isso só confirma o que eu já sabia ela é diferente e está me tornando uma pessoa diferente.

Acariciei seu rosto e encostei meus lábios nos dela suavemente. Ela acordou, colocou a mão na minha nuca e aprofundou o beijo. Afastei-me acariciando seu rosto.

— Vamos tomar um banho. Depois precisamos conversar.

Banhamo-nos juntas. Sentei na cama e ela se sentou ao meu lado.

— Gabrielle, o império todo sabe que tenho sentimentos por você, e isso pode ser perigoso eu tenho muitos inimigos que podem tentar te fazer mal simplesmente para me atingir. Quero te pedir que fique aqui comigo nos meus aposentos, e abandone seus trabalhos na cozinha.

Ela estava um pouco confusa.

— Não sei se consigo ficar sem fazer nada.

Já imaginava que teria que convencê-la.

— Não é por muito tempo, encontraremos algo para manter-te ocupada aqui, acho que entrarei em uma batalha em breve e me preocupo com a sua segurança.

Ela sorriu, passou a mão no meu rosto, olhando-me nos olhos.

— Posso pedir-te que me deixe ver minha irmã?

Fiquei feliz em conseguir convencê-la, realmente me preocupava, poderiam ter traidores em meu palácio e Gabrielle seria uma presa fácil, só pensar nisso já me enfurecia.

— Sempre que quiser pode chama-la para ficar contigo.

Ela me beijou, quando ela se afastou a lembrança do noivo dela veio de repente na minha cabeça, fiquei seria.

— Não vai sentir falta do seu noivo?

Minha voz saiu mais maliciosa do que eu esperava. Ela também ficou séria, afastou-se um pouco.

— Xena, já te expliquei minha relação com Perdigas, e já expliquei a ele minha relação com você. Quando você fala assim me ofende.

Vi que ela ficou triste, magoada. Por que eu tenho que ser tão impulsiva, insensível, possesiva? Estávamos num clima tão bom e eu estraguei tudo, terei que remediar a situação fazendo algo que não fazia a muito tempo, dessa vez não me parecia uma humilhação.

— Desculpe-me.

Ela parecia não acreditar no que tinha acabado de ouvir. Ela me beijou de novo, abracei-a.

— Você gosta de ler ou escrever?

— Eu adoro.

— Já temos algo para te manter ocupada aqui.

Beijei-a e ficamos juntas mais algum tempo. Sai do quarto e convoquei uma reunião com a corte para informa-los da guerra que poderia ocorrer. Ninguém se pôs contra, até porque nenhum deles teria coragem para isso. Informei a Téssalia que Gabrielle não trabalharia mais na cozinha e que sempre que chamasse sua irmã ela fosse imediatamente. Peguei alguns pergaminhos e coisas para ela escrever, fui pros meus aposentos, entrei e encontrei Gabrielle e sua irmã sentadas no chão da antecâmara conversando, Gabrielle sorriu quando me viu, sua irmã parecia amedrontada. Aproximei-me de Gabrielle abaixei e dei um singelo beijo em sua boca, não resisti ela estava tão linda.

— Fiquem a vontade, vou tomar um banho.

Disse casualmente, como se fosse a coisa mais normal do mundo deixar escravos a vontade e dá-lhes satisfações.

Fui para a sala de banho, entrei na tina e fechei os olhos.

Algum tempo depois, senti a presença de Gabrielle.

— Sei que está aqui.

Disse sorrindo ainda com os olhos fechados.

— Quer uma massagem?

Uma proposta muito bem vinda. O problema com as amazonas estava me deixando estressada, estava precisando mesmo de uma massagem. Abri os olhos, ela estava encostada na parede olhando-me com admiração. Estendi a mão para ela.

— Vem.

Fizemos amor parte da noite, não sinto como se fosse só sexo com Gabrielle então não utilizo essa palavra. Dormimos abraçadas.

Acordei com batidas na porta da antecâmara, levantei aborrecida tentando não acordar Gabrielle que dormia serenamente. Sai do quarto tentando não fazer barulho. Abri a porta da antecâmara, o soldado não me olhou diretamente.

— Senhora conquistadora, queremos saber como prosseguir com a sentença dos saqueadores.

Havia me esquecido completamente disso.

— Prepare a guilhotina, monte uma guarda maior no salão e abra os portões ao povo. Em duas marcas estarei lá para autorizar as mortes.

— Sim senhora conquistadora.

Quando ia se retirar, o chamei de volta.

— Ei. Nada de crianças no salão, entendeu?

— Sim conquistadora.

Voltei pro quarto lembrando-me de uma época em que eu matava na frente de qualquer um, e matava qualquer um, incluindo crianças. Decidi afastar meus pensamentos do passado, hoje eu tenho outras pessoas para matar. Vesti-me, comi o desjejum que uma empregada trouxe, Gabrielle continuava dormindo, agradeci aos deuses por isso, não queria que ela me visse assim, eu estava insensível estava literalmente vestida para matar por dentro e por fora. Sai em direção ao salão.

Cheguei ao salão subi as escadas, sentei na minha cadeira de couro, pude ver do alto o grupo de saqueadores em fila, todos chorando e pedindo clemencia, atitude esperada de qualquer condenado a morte, o povo de Corinto olhava atento para mim e para os presos, ouvia-se algumas vozes mais nada estridente. Levantei-me, houve um silencio imediato.

— Vocês estão diante de um exemplo do que acontece com quem pensa que pode destruir as aldeias do meu império, e deixar meu povo desabrigado.

Fiz um sinal com a mão para o soldado que estava ao lado do carrasco, começaram as execuções, fiquei até o final, como sempre nessas ocasiões, não por obrigação, acho que ficava por que gostava, preenchia o lado negro que mantinha em mim, me dava prazer.

Depois que tudo acabou ainda fiquei lá sentada observando o sangue no chão, o cheiro de morte. Voltei para os meus aposentos, estava com um torpor emocional, passei pela antecâmara, rapidamente. Encontrei Gabrielle deitada na minha cama, lendo um pergaminho, olhei para ela e só vi uma presa fácil, no lugar do banquete. Pulei em cima dela beijando-a com veemência, ela correspondeu no começo, apertei seus seios com força e mordi seus lábios, suguei seu pescoço a fim de deixar marcas. Senti que ela estava assustada.

— Xena, você está me machucando.

Ouvi a voz dela ao longe, como se não estivesse lá comigo. Continuei, ela não se debateu, apenas segurou meu rosto e me fez olha-la nos olhos. Vi algo que nunca tinha visto em seus olhos antes, as lagrimas escorriam pelo seu rosto silenciosamente, senti uma culpa tão grande por deixa-la assim, minhas emoções voltaram todas de uma vez sai de cima dela num ímpeto, sai dos meus aposentos, deixando-a sozinha.

Fui para o jardim do palácio, sentei-me na grama, encostando minhas costas na parede. Soltei um grito gutural.

GABRIELLE

Eu sabia que Xena tinha ido fazer uma coisa difícil hoje, mais não imaginava que ela me atacaria desse jeito parecia possuída por algum mal, senti uma coisa que nunca havia sentido com ela, medo. Medo da conquistadora das historias, não da Xena que eu conheci, que sei que sente algo por mim. Senti uma necessidade de procura-la, abri a porta da antecâmara e perguntei ao primeiro soldado que vi se sabia onde estava à conquistadora, ele me informou que ela tinha ido para os jardins, fui atrás dela sem pensar duas vezes. O jardim era grande e lindo fechado por um portão, era a primeira vez que o via. Avistei Xena sentada na grama olhando pro nada, estava pensativa, seria perigoso me aproximar? Não pensei mais nisso, caminhei até ela devagar, me sentei ao seu lado, ela não olhou para mim em nenhum momento. Fiquei um tempo sentada ao seu lado olhando na mesma direção que ela em silencio.

— Eu te devolvo sua liberdade, de sua irmã e de seu noivo e lhes dou dinares suficientes para reconstruírem suas vidas longe de Corinto.

Sua voz era inexpressiva, mais via tristeza em seus olhos.

— Não quero deixa-la.

Ela me olhou nos olhos.

— Não tem nenhuma obrigação comigo. Eu sou um monstro veja o que fiz com você.

Xena passou a mão no corte em meus lábios que ela mesma tinha feito, levantou meu queixo para olhar as marcas no meu pescoço. Desviou o olhar para o chão.

— Xena não quero deixa-la por que sinto por você algo que nunca senti por ninguém em toda minha vida, estar com você não é uma obrigação para mim, é um prazer.

Beijei-a suavemente com paixão e sensibilidade, ela correspondeu da mesma forma. Ela me afastou, olhando em meus olhos.

— Ainda assim Gabrielle vou dar-te sua liberdade de volta e a sua irmã também, ela trabalhara como serva assalariada e poderá ir embora quando quiser.

Lila ficaria surpresa ao saber, abracei Xena em forma de agradecimento e tentando conforta-la pela culpa que sabia que estava sentindo.