GABRIELLE

Acordei cedo estava ansiosa para ir logo ao orfanato, esperei Xena acordar, não demorou muito, logo nos arrumamos e saímos cavalgando com alguns soldados a nossa volta, chegamos rápido a uma casa grande, vi algumas senhoras pareciam devotas de Héstia, desmontamos. Xena ordenou aos guardas que ficassem do lado de fora, caminhamos até a porta, paramos um momento para olharmo-nos, Xena deu um singelo sorriso, voltamos a olhar para a porta, parecia que estávamos dando o passo mais importante de nossas vidas, pelo menos era assim que eu me sentia. Entramos, uma senhora se aproximou de nós.

— Posso ajuda-la senhora conquistadora.

Falou respeitosamente, estava temerosa.

— Não tudo bem, só estamos olhando.

Xena entrou sem dizer mais nada, olhei para a senhora e sorri simpaticamente. Caminhamos um pouco, havia varias crianças correndo, brincando o alarido tomava conta do ambiente, uma menina loira me chamou atenção, aparentava ter uns quatro anos, possuía uma beleza angelical, estava quietinha sentada pintando alguma coisa, olhei para Xena e notei que ela olhava na mesma direção que eu, caminhei até a menina, sentei-me ao lado dela.

— Oi.

Falei o mais suavemente possível, a garotinha levantou a cabeça para olhar-me, seus olhos castanhos claros me fitaram, acho que ela aprovou minha fisionomia sorriu.

— Oi

Eu estava encantada parece que o destino agiu para que eu encontrasse essa menina. Tentei conhece-la melhor.

— Qual é o seu nome?

Sorri para ela, eu estava muito emocionada.

— Melina.

— Sabe qual é o significado do seu nome?

Olhou-me curiosa, balançou a cabeça negando.

— Significa uma pessoa doce como o mel. Você gosta de mel?

— Gosto muito.

XENA

Fiquei observando Gabrielle, conversando com uma menina, entre tantas crianças senti algo diferente ao olhar para essa menina, lembrou-me a sensação que senti ao encontrar Gabrielle pela primeira vez, chamei à senhora que nos recebeu quando entramos.

— Fale-me sobre aquela garota.

Apontei para a menina.

— Os pais dela foram brutalmente assassinados por um homem misterioso quando ela era apenas um bebe, jogaram-na num rio.

Essa historia me surpreendeu quem teria a crueldade de fazer isso com um bebê, eu posso ter matado muito por aí mais nunca feri crianças.

— Como ela chegou aqui, já que a jogaram num rio?

A senhora pareceu comovida, perdida em seus pensamentos.

— Presenciei toda a cena, assim que o homem se foi, entrei no rio e a trouxe para cá.

Agora alguma coisa havia sido explicada.

— Por que ninguém quis adota-la?

É uma criança muito bonita, chamaria a atenção das pessoas.

— Quando perguntavam sobre ela, eu dizia essa verdade, as pessoas ficavam com medo, achando que ela é uma criança amaldiçoada pelos deuses ou algo assim.

Não tenho medo dos deuses, nunca tive. Fui devota de Ares por muitos anos, no começo ele queria me conquistar, depois me amedrontar, nenhuma dessas coisas deu certo. Percebi que estava divagando. Voltei a olhar para Gabrielle, estava lá sorrido contente, entretida numa conversa animada com a menina. Se leva-la faria Gabrielle feliz, o farei. Menti para mim mesma que faria isso só por Gabrielle.

— Nos vamos leva-la.

A senhora me olhou surpresa.

— Irei pegar as coisas dela.

— Não precisa.

A senhora fez menção de se afastar.

— Espera.

Chamei-a, assim que cheguei notei que o orfanato precisava de uma reforma, oferecia uma renda mensal ao orfanato mais dá ultima vez que vim aqui eram poucas crianças, hoje são muitas e obviamente os dinares que lhes dou já não basta, peguei um saco de dinares que tinha comigo, ofereci à senhora.

— Faça uma reforma, creio que está precisando.

Ela pegou desconfiada, parecia não acreditar, era quase o triplo do que lhes oferto mensalmente.

— Obrigada senhora conquistadora.

Acenei com a cabeça para a senhora.

Aproximei-me de Gabrielle, tentei agir e falar o mais delicadamente possível.

— Oi.

A menina assustou e escondeu-se atrás de Gabrielle, parece que a delicadeza não foi o bastante, olhei para Gabrielle pedindo ajuda silenciosamente. Ela se virou para a menina.

— Melina não precisa ter medo, ela só quer conversar com a gente.

A menina esticou o pescoço para me olhar, estava desconfiada, pensei que um sorriso ajudaria, sorri, me agachei.

— Melina é um lindo nome.

Ela saiu de trás de Gabrielle, apontou seu dedinho para a minha espada.

— O que é isso?

Virei-me um pouco para que ela visse melhor.

— É a minha espada.

Melina se aproximou e tocou o cabo da minha espada, a lamina estava dentro da bainha então não tinha perigo dela se cortar. Olhei para a garotinha sorrindo.

— Então Melina quer ir com a gente morar num palácio?

Ela sorriu animadamente, olhando para Gabrielle e depois para mim. Vi os olhos de Gabrielle brilhando, ela me olhava encantada.

— Sério?

Melina perguntou olhando para mim. Assenti com a cabeça sorrindo, ela abraçou Gabrielle se pendurando no colo da minha noiva.

— Isso é um sim?

Gabrielle perguntou acariciando os cabelos loiros de Melina.

— Sim.

— Então vamos.

Saímos do orfanato, caminhamos um pouco Melina estava curiosa sobre tudo que via, parecia a que nunca havia saído do orfanato, antes de chegarmos à metade do caminho Melina reclamou que estava cansada, olhou-me fazendo uma expressão pidona, estendeu os braços na minha direção.

— Me leva, por favor.

Ficou difícil resistir, sua voz manhosa me convenceu, peguei-a no colo, era tão leve quase não senti seu peso. Pensei no que pareceria, a temível conquistadora com uma criança sorridente nos braços.

— Parece que eu estou voando.

Sorri para Melina, toquei seu nariz com a ponta do meu dedo. Já não me importava mais com os guardas que estavam em volta.

— Talvez esteja voando.

— Mas, gente não voa.

Olhei para Gabrielle, ela sorria maravilhada. Melina tocou novamente o cabo da minha espada.

— Para que serve uma espada?

A inocência é mesmo linda. Pensei em uma resposta apropriada para uma criança.

— Para ajudar um guerreiro se manter vivo.

Ela me olhou acanhada.

— Você é guerreira?

— Sou.

Melina sorriu maravilhada.

— Que legal, eu posso ser também?

Gabrielle me olhou seria, quase respondendo por mim.

— Quando você crescer, talvez.

Chegamos na hora do almoço no palácio, entramos em meus aposentos o almoço já estava na mesa da antecâmara, Melina olhava encantada, como tudo que ela olhava desde que saímos do orfanato.

— É tão grande.

Falou olhando para o teto.

— Depois do almoço mostraremos a você o seu quarto.

Falei para ela. Melina sorriu e correu até uma cadeira na mesa da antecâmara se esforçou para consegui sentar, aproximei-me de Gabrielle sorrindo. Melina olhou para nos.

— Posso comer?

— Claro!

Eu e Gabrielle respondemos ao mesmo tempo, Melina começou comer, ficamos observando, falei baixinho para Gabrielle.

— Contente?

Ela aproximou os lábios do meu ouvido e sussurrou sensualmente.

— Muito, estou ansiosa para agradecer-te por me fazer tão feliz.

Suas palavras me excitaram, controlei-me.

— Vem vamos almoçar.

— Em família.

Ela completou sorrindo.

Falei com Téssalia para providenciar coisas para Melina, minha cozinheira ficou animada, estava ansiosa para conhecê-la, passei a tarde cuidando das coisas do palácio, voltei para os meus aposentos à noite, Gabrielle deu banho em Melina e a vestiu com um pijama rosa.

— Oi Melina.

— Oi.

Sorri para ela. Olhei para Gabrielle ela estava com a roupa molhada.

— Você devia tomar um banho, tirar essa roupa, vai acabar gripada. Eu olho ela pode ir.

Gabrielle foi para a sala de banho. Sentei do lado de Melina na cama.

— Então Melina, gostou do seu quarto?

O quarto dela antes era meu escritório, tem a porta de entrada anexada à antecâmara, então se acontecer algum imprevisto não demorarei a aparecer.

— É muito legal, é enorme. Acho que aqui aquele homem não vira atrás de mim.

Preocupei-me, o que ela queria dizer com isso? Mil coisas passaram pela minha cabeça e todas elas envolviam, eu mantando esse tal homem.

— Quem é esse homem?

Tentei ser sutil para não assusta-la.

— Não sei. Ele aparece nos meus pesadelos.

Essa historia toda era muito estranha lembrei-me do que a mulher do orfanato me disse.

— Como ele é?

— Tem o cabelo preto, é forte, e tem uma barba diferente. Não dá para ver direito, é sempre tão escuro.

Melina começou chorar, passei a mão pelos cabelos dela acariciando sua cabeça, tentando conforta-la, eu não era muito boa nisso mais tentei fazer o meu melhor.

— Não tenha medo, prometo não deixar que ninguém te machuque.

Ela rodeou seus bracinhos no meu corpo, me abraçando e se debruçando no colo, me surpreendi com a atitude dela, fiquei imóvel por um momento, olhei-a, ela estava dormindo, senti a presença de Gabrielle, levantei o olhar.

— Eu te amo tanto.

Ela estava me olhando encantada, senti uma felicidade tão grande finalmente encontrei um sentido para minha vida, conquistei toda a Grécia mais nada valia tanto quanto ver minha noiva me olhando assim.

— Também te amo.

Olhei para Melina no meu colo.

— Vamos leva-la para o quarto.

Ela assentiu com a cabeça, deixamos as portas encostadas e uma lamparina acesa. Já deitadas na cama, contei a Gabrielle a historia de Melina e do tal homem que ela vê nos pesadelos, Gabrielle ficou preocupada.

— Você tem ideia de quem seja esse homem?

— Tenho, logo darei um jeito nisso, não se preocupe.

Ela me beijou.

— Confio em você.

Acariciei o rosto dela e a beijei de novo, coloquei minha mão por baixo da saia de Gabrielle. Ouvi um barulho na porta, me afastei de Gabrielle rapidamente, ela só foi perceber o porquê depois que Melina entrou no quarto.

— Eu tive um pesadelo. Estou com medo.

Gabrielle se levantou e foi até menina.

— Eu posso contar uma historia para você voltar a dormir.

Falou suavemente.

— Me deixa dormir com vocês, por favor.

Gabrielle me olhou, pedindo permissão, assenti com a cabeça cheguei um pouco para o lado, a cama é grande não ficaria desconfortável, fiquei um pouco frustrada mais ignorei.

— Vem, vamos dormir.

Elas se deitaram, Melina dormiu rapidamente, logo em seguida Gabrielle, fiquei observando-as por um tempo, tão perfeitas, nunca acreditei que merecesse ser tão feliz, depois de cometer tantas atrocidades. Fiquei pensando até dormir.