Penumbra

Capítulo 6


Quatro anos atrás... ( flashback on)

Ajudei Lissa se sentar no sofá e a cobri em seguida com uma fina manta. Ela tremia pelo esforço que fizera,e sua pele estava mais pálida que o normal. Com dificuldade e com os dentes batendo levemente um no outro,ela abriu os olhos revelando suas íris verde esmeralda.

— Você não deveria ter feito aquilo. — a repreendi,enquanto lhe entregava uma xícara de chá quente.

Ela se sentou devagar e bebericou o líquido.

— Era necessário. — rebateu em um sussurro

— Mas não adiantou nada. Apenas te machucou mais.

Ela deu de ombros.

— Fico frustrada por não ter conseguido. A magia estava tão forte... — falou consigo mesma,em seguida como se percebesse minha presença,me encarou com olhos tristes e repousou a caneca na mesa ao seu lado. — Eu sinto muito Rose. Juro que tentei.

Abanei as mãos no ar.

— Isso não importa. O que importa é que você está bem.

Ela balançou a cabeça fervorosamente.

— É claro que importa. Você o amava Rose. Eu deveria...

— Você não devia nada Liss. Era um ataque de Strigois. Você não teve culpa,ninguém teve. Era algo que não podíamos prever.

Ela inclinou a cabeça me observando com atenção.

— Então porque tenho a sensação de que você está se culpando?

Dei-lhe um esboço de sorriso.

— Você me conhece como ninguém Liss. Eu não estou me culpando,estou apenas tentando entender essa coisa louca.

— Esta tentando entender o que? A minha magia,a morte de seu namorado ou o ataque de Strigois?

Suspirei frustrada.

— Tudo Liss. Tudo.

*********(flashback off)**********

POV Rose

A segunda torre das terras Dragomir ficava do outro lado do QG dos guardiões. Aquela torre era a parte administrativa,onde os bilhões geravam mais bilhões e por onde a famosa rainha se comunicava primeiramente.

Embora eu pouco visitasse aquela parte,eu conhecia a maioria dos funcionários. Mas hoje,eu procurava uma em especial: Sonya Karp.

Andei por entre as poucas mesas do lugar cinzento. O barulho das teclas dos computadores preenchiam o silêncio,e os cochichos,também.

Após dar um sorriso impertinente e um aceno animado para Hans — o cara que controlava aquele lugar, e por sinal não gostava muito de mim — e receber um olhar raivoso, encontrei facilmente Sonya.

Ela estava sentada na frente de um computador e teclava loucamente. Quando me aproximei e coloquei os dois braços na pequena mesa,ela arregalou os grandes olhos azuis para mim:

— Rose?

— Eu preciso de sua ajuda — falei sem rodeios.

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POV Lissa

la fervendo.Eu só não sabia se o calor que se alastrava por meu corpo se devia aos raios solares,ou porque seus olhos me observavam com tanta profundidade.

Tudo bem. Eu não devia estar aqui, muito menos acompanhada com Lorde Ozera, mas também não acho que havia cometido uma completa estupidez. Era apenas uma doce caminhada. Uma caminhada que não queria que terminasse. E,isso não era lá bem umas das coisas mais normais que eu já havia feito.

— Eu gosto do Sol,mas me entristeço por não poder vê-lo todos os dias. Ainda acredito que essa seja uma regra estupida — falei enquanto observava os raios amarelados se chocarem com minha pele pálida.

Christian abriu um sorriso torto e seus olhos frios brilharam por um instante.

— Todas as regras são estupidas. Algumas piores que outras. O Sol é realmente cativante,ele apenas parece as vezes...

— ... Magia. — completei

Ele sorriu mais abertamente, enquanto observava com os olhos semicerrados o céu.

— Sim,magia. É como se ele escondesse algo,como se fosse mais do que bonito,mas também poderoso. Já ouvi falar de pessoas assim.

Franzi a testa tentando compreender aonde ele queria chegar. Quando entendi,um arrepio passou por minha pele antes quente. Eu escondia um segredo,e também era muito mais que aparentava. Afinal,curar pessoas,compeli-las e ver suas auras não era realmente uma atividade comum.

Sorri nervosamente tentando parecer calma.

— O que você ouviu sobre " pessoas assim"?

Ele se aproximou,ficando sério de repente. Seu rosto estava perto,tão perto que eu podia ver as manchinhas cinzas de sua íris. Atordoada,dei um passo para trás.

— São pessoas magníficas. Pessoas que podem realizar feitos incríveis com...magia. Não sei se o que fazem pode ser chamado disso,mas...

— Magia? Você está louco. — Estava nervosa,minha voz acabou falhando.

Ele deu uma gargalhada baixa. Qualquer pessoa a teria achado sádica e aterrorizante,mas... Eu não sei. Ela me parecia...bonita.

— Talvez eu realmente esteja. As pessoas vivem falando isso! Mas a magia é real e as pessoas que a controlam também. Todas que a têm,geralmente são dotadas de um rosto maravilhoso. Não me surpreenderia se você fosse uma garota mágica.

Levantei o queixo e o olhei com olhos divertidos.

— Essa é sua maneira de flertar?

Ele olhou para o lado,mas eu ainda podia ver seus lábios repuxados em um sorriso.

— Eu não sou bom com isso.

Gargalhei.

— Estou vendo.

Ele enrubesceu.

— Mais a minha teoria é verdadeira. Você não parece real.

Revirei os olhos.

— Sou completamente normal. Acho que está vendo coisas.

Ele me deu um sorriso torto e me encarou,olhando em meus olhos de uma forma profunda.

— Não. Geralmente eu sempre tenho razão. Andei observando você — admitiu um pouco acanhado — Você é diferente da maioria das pessoas. É doce e não se acha melhor que os outros. Seja eles dhampirs ou funcionários. E isso é mágico. Você é mágica.

Em primeiro momento,eu tive que esconder o meu alivio ao constatar que ele não sabia de meus poderes esquisitos,e depois,tomei ciência de suas palavras. Senti meu rosto queimar e eu abri um sorriso terno.

— Eu retiro minhas palavras. Você é bom em flertar.

Ele riu

— Tecnicamente,você não disse que eu era ruim.

Dei de ombros,me aproximando mais de sua figura.

— Mas eu insinuei.

Seus olhos brilharam em malícia.

— Eu adoro insinuações.

Nos encaramos por um tempo,até eu finalmente tomar coragem: — Venha. Antes que um guardião apareça e nos chute daqui.

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POV Rose

— É tudo o que consegui Rose. — Sonya falou esticando uma pasta parda para mim.

Abri-a e folhei suas poucas páginas.

— Só isso? Não conseguiu mais nada?

Sonya olhou para os lados,conferindo outra vez que ninguém nos observava. Se alguém a olhasse por alguns minutos, poderia jurar que Sonya era paranóica.

— Não é tão simples conseguir todos os registros e documentos de alguém, Rose. Principalmente,o guardião Belikov! Ele não é igual a maioria, ele é alguém reservado,quase não possui registros ! — sussurrou.

— Ei! Está dizendo que eu não sou alguém reservada? — brinquei

Ela abriu um fraco sorriso

— Sem piadas,Rose. Se Hans me pegar posso ser demitida.

Apoiei minha mão na sua.

— Obrigado por conseguir isso Sonya. Estou te devendo uma. E fique tranquila,aquele velhote metido a ditador não ficará sabendo de nada.

Sonya sorriu e me abraçou levemente.

— Não faça nada estupido.

Sorri, divertida. — É a minha especialidade.

Ela revirou os olhos e voltou a se sentar em sua mesa,observando minha saída.

Fora da torre administrativa,e longe o bastante dos olhos de Hans,li com atenção todos os documentos. Dimitri Belikov era uma pessoa estranha,e aquele nome confirmou isso. Esse era o terceiro lugar em que ele trabalhava,os dois anteriores acabaram terminando de uma maneira trágica, ou melhor dizendo,acabou em Strigoi.

Ou Dimitri era muito azarado,ou ele tinha algo a ver com esses ataques. E eu estava apostando nessa segunda teoria.

Observei com cuidado seu relatório sobre o ataque na família Ozera. O camarada parecia ter incorporado um cowboy e posto os Strigois para correr como um simples gado.

Quem escreveria sobre um ataque traumático de forma tão fria? Eu havia me esquecido,isso era bem cara de Dimitri.

Fechei a pasta e subi o QG dos guardiões outra vez totalmente consciente de que meu turno estava prestes a acabar. Eu não estava prestando atenção por onde andava,já que estava submersa em meus devaneios esquizofrênicos,e acabei me surpreendendo quando vi Adrian Ivashkov encostado casualmente na porta do escritório principal.

Franzi a testa. O que diabos ele fazia ali?

— Pequena dhampir. —cumprimentou — Antes que você me pergunte por que estou aqui,vou logo dizendo que a princesa Dragomir me mandou. — falou,lendo meus pensamentos.

Fiquei preocupada instantaneamente

— Lissa? O que foi? Ela se machucou?

Ele riu

— Oh,não. Duvido que tenha se machucado. Mas,ela foi encontrada em uma situação constrangedora com Christian.

Abafei um riso.

— Lorde Ozera?

Adrian revirou os olhos — E a outro humano chamado Christian por aqui? — zombou

— Uoww! — grunhi — Ok. E ela me chamou porquê...?

Ao contrário de mim,ele não tentou esconder o divertimento.

— Bem,eu não vou contar nada do que vi. Mas o pai dela está curioso para saber por que diabos sua filha não estava no quarto dela no meio da madrugada.

— E ela esta precisando de um álibi. — adivinhei

Ele sorriu,seus dentes faiscando de uma maneira impossível.

— Exatamente.

Gargalhei

—Meu turno está acabando e eu estou indo encontra-lá.

Ele se desencostou da parede e se aproximou.Apoiei minha mão em seu ombro

— Bem pombo correio,eu vou precisar que a avise e que fale para ela inventar uma boa história.

Ele sorriu e aproximou seu rosto do meu.

— E o que eu ganho com isso?

O fuzilei com os olhos. — Talvez eu ter a piedade de te manter vivo.

Ele riu outra vez,uma risada que misturava a arrogância e malícia.

— Isso não é o bastante.

Seu rosto estava mais próximo e sua respiração batia em minhas bochechas. A porta do QG abriu abruptamente e um Ambrose passou apresado ao nos ver.

Que se dane o que ele pensaria!

Dei meu melhor sorriso e me afastei lentamente de Adrian.

— Acho que sua imaginação é boa o suficiente para achar algo que pague.

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Tatiana havia colocado Dimitri no primeiro,segundo e terceiro emprego. O que aumentava minhas suspeitas sobre seu envolvimento com os ataques de Strigois. Ou Tatiana realmente adorava completamente o trabalho de Belikov,ou o cowboy havia esquentado a cama da rainha. Isso me dava arrepios só de cogitar.

Ainda assim,havia uma vozinha que ainda me alertava de eu estar tomando uma decisão equivocada. Ainda assim aquela voz era um sussurro,um sussurro em meio de gritos. E todos os gritos diziam que eu estava correta.

E eu sabia o porquê.

Em seu primeiro emprego,Dimitri Belikov guardava um jovem humano da realeza que tinha um incrível status social. Ou praticamente zero. Ele havia sofrido um ataque de Strigois e havia sido morto. Mas é claro que o antissocial de sobretudo não estava lá,porque eu estava.

Porque eu havia perdido o meu namorado. O cara que eu amava com todas as forças. Ivan Zeklos foi morto por Strigois,e eu não pude fazer nada. Eu me culpava a cada maldito dia,e sonhava com seu rosto todas as noites odiosas. Acho que a morte nunca ira deixar de me assombrar. E agora,havia uma pequena partícula de chance de que o cara que roubou meu emprego tenha algo a ver com esses massacres,e eu não deixaria essa chance passar.

Suspirei e cravei os dedos no couro cabeludo. Isso não podia ser verdade. Talvez eu estivesse muito paranóica.

Não sei ao certo por quanto tempo fiquei remoendo aquilo,até que finalmente uma batida na porta soou e ela se abriu,revelando Dimitri.

Ele franziu a testa e fechou a porta atrás de si.

— Você está bem Rose?

Fiquei encarando ele por um momento. Ele seria capaz daquilo? Eu não sei,mas poderia dizer que conseguiria. Belikov tinha uma boa fama e com sua força e inteligência poderia facilmente convencer e mandar em um grupo de Strigois, principalmente se Tatiana estivesse envolvida no caso.

— Rose? — ele disse. Pela sua voz poderia perceber que não era a primeira vez que me chamava.

Piquei. — O que?

Ele abriu um fraco sorriso.

— Disse que você já pode ir. Seu turno acabou.

Assenti ainda em meu torpor. Juntei minha papelada e me levantei sem pressa alguma. Passei por sua alta figura e depois parei por um instante,reconsiderando. Me virei para Dimitri que ainda estava no mesmo lugar e o chamei.

— Belikov?

— Sim?

Me mantive séria.

— Eu não gosto de me intrometer,mas não pude deixar de me questionar quando vi sua ficha. Trabalhou para o nobre Ivan Zeklos não é?

Ele cerrou os olhos tentando entender aonde eu queria chegar.

— Sim.

— Você não tem muita sorte né? Eu fiquei sabendo do ataque dos Strigoi contra o Zeklos. E depois com os Ozera. Deve ter sido muito traumático.

Ele não disse nada.

— Eu me pergunto — continuei — Se há alguma razão para isso. Não parece uma coincidência comum.

Ele cruzou os braços e se aproximou de mim,seu rosto não mostrava nenhum sentimento,mesmo que eu o olhasse desafiadoramente.

— Está insinuando algo?

— Estou dizendo exatamente o que você entendeu.

O vinco em sua testa aumentou.

— Pode me dizer o que seria então?

Respirei fundo e tomei toda a coragem que eu precisava para dizer aquilo:

— Você esta por trás dos ataques de Strigois em um conluio com a rainha. Você está por trás das mortes dos Ozeras e de Ivan Zeklos.