Pelo escuro

Through The dark


Capítulo 25 — cantigas de aniversário

Eu sentia borboletas no estômago. Aquelas mesmas que sentimos quando estamos muito ansiosas. O que era o caso.

Ethan e eu estávamos sozinhos em casa. Mas não estávamos juntos. Ele estava muito cansado então foi dormir, enquanto eu me bufava no sofá pensando sem chegar a nenhuma conclusão. Não conseguia ligar para o francês assim como não conseguia conversar com Ethan. Estava dividida. E aquilo estava me matando. Levantei inquieta e peguei meu celular. Discaria para Pierre, eu não poderia deixar Ethan depois do que ele me fez. Mas só de pensar na voz decepcionada de Pierre minhas entranhas se retorciam. Gemi e caí sentada no sofá.

—Perdi alguma coisa? — a voz de Ethan me assustou. Pulei do sofá olhando para ele com o pior sorriso disfarce da história.

—Não. Eu só tava... Pensando. — suspirei na última palavra. Iria ter que resolver aquilo e seria melhor se fosse agora. Ele se aproximou e beijou meus lábios rapidamente antes de perguntar:

—Tudo bem, fala logo.

Peguei sua mão e o puxei para o sofá. Com o rosto em seu pescoço comecei a falar. Contei do meu sonho e que eu sentia que precisava ir, mas não sabia como.

—E é isso. Eu sinto que devo, mas não consigo ir. Não se você não puder vir comigo. Eu... Não posso te deixar. — falei. Um longo minuto de silêncio se arrastou até ele falar.

—Por mais que eu esteja me matando por falar isso, acho que você deveria ir. — ele falou. Saí do pescoço dele e encarei seus olhos. Estes estavam inseguros. — Evangeline eu amo você. Não tenho vergonha de falar isso, porque é a mais pura verdade, está estampado quando eu olho para você. Amo esse sorriso fofo e essas suas brincadeiras tolas. Amo quando me chama de nerd e quando se irrita porque te chamo pelo seu nome completo. Amo seu humor e esses olhos maravilhosos. Amo o modo como me beija e como é imprudente. Eu amo você Eva, simplesmente porque eu amo.

Comecei a chorar.

—Tá vendo? É por isso que eu não consigo te deixar. — falei desesperada. Ele me abraçou.

—Mas estou com medo. — ele sussurrou. Levantei a cabeça novamente.

—De...?

—Tenho medo de você se esquecer de mim. Medo do seu amor se desfazer com a distância. Qual é loira, você é linda, uma excelente modelo e muito namoradeira. Sei que não devo te julgar pelo seu passado, mas ele me aterroriza. E se um dia eu ligar o Skype e você disser... — ele gesticulava e eu percebi que suas mãos tremiam. Ele estava realmente com medo. E eu, que mantinha meus punhos cerrados para não demonstrar que os meus também tremiam, soltei o aperto imediatamente e segurei suas mãos.

—Pode parar. Isso não vai acontecer. Sei que meu passado te amedronta, mas eu posso te garantir Ethan que eu não vou te deixar. Porque eu também te amo. Amo seus cabelos jogados, seus olhos inteligentes e as baboseiras que você fala. Amo tanto isso que chego a ficar doente. Amo o jeito que me trata e se você precisasse eu daria a vida por você! A única coisa a temer aqui é que eu tenho medo de você acordar. — comecei segura e confiante e terminei tão vacilante quanto às mãos de Ethan. Eu não conseguia parar de pensar que ele me deixaria como Patrick fez, embora Ethan e Patrick tenham níveis de caráter completamente diferentes.

—Como acordar?

—ver que eu não sou tudo isso, que eu não valho a pena. Por favor, Ethan não acorde.

—Mas eu já estou acordado. Não se rebaixe Evangeline. Você é mais valiosa que todo diamante e fortuna do mundo. Toda riqueza. Eu iria ao inferno por você. — e dizendo isso ele me beijou. Um beijo desesperado como se a dança de nossas línguas pudesse cessar o medo que só crescia. Seu beijo se tornou meu único foco. Ele passou sua mão pelo meu cabelo, parecendo saborear a suavidade dos fios. Minhas mãos subiam por debaixo da camisa, sentindo sua pele quente. Eu não queria parar de beijá-lo. Ali era vontade e não desejo que eu sentia. Por mais que eu o beijasse eu queria mais. Então ele parou nosso beijo.

—Porque fez isso? — perguntei confusa. Ele se levantou e ofereceu sua mão.

—Já que esse é o nosso provável último momento juntos quero que seja especial.

—Tem certeza que quer fazer isso?— questionei entendendo o que ele estava dizendo. Tentei achar insegurança em seus olhos, mas nunca os vi tão certos.

—Vem logo! — ele pegou minha mão a “força”, mas pelo seu toque reconheci sua brincadeira. Entrelacei nossos dedos e nós subimos as escadas. Apesar de toda minha experiência eu me sentia nervosa e imatura. Ethan tremia. Quando chegamos à porta do quarto ele vacilou.

—Precisa saber que nunca fiz isso. Que eu ainda sou virgem. E que eu estou muito nervo...

—Ethan está tudo bem. Vai ser ótimo. — confirmei, dando-lhe um selinho. Ele sorriu como um bobo. Então tentando relaxar ele me pegou no colo, abriu a porta e me jogou na cama, juntando-se a mim logo em seguida.

Os preliminares foram lentos como se tivéssemos todo tempo do mundo. As mãos dele eram suaves e provocavam arrepios. Nossos beijos causavam eletricidade que poderia iluminar Paris. Eu não vou contar os detalhes. Sinto que não devo. Contar como foi transar com Ethan seria como tornar o ato banal, sem importância. E não foi assim. Foi mágico como realizar seu sonho. Foi eletrizante como pular de paraquedas. Ethan me fazia especial como ninguém nunca conseguiu.

Quando acabou nos mantemos abraçados, ofegantes. Não falamos nada porque não queríamos estragar o momento. O amor estava lá tão tangível quanto o oxigênio que respirávamos. Deitei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos concentrando-me no ritmo de seu coração. Queria congelar aquele momento para sempre.

***

Nove meses depois

Eu estava com tédio. Muito, muito tédio. Sempre amei fazer comprar, mas depois de seis meses longe do seu namorado e casada com a moda, tudo que você deseja é um tempo longe das vitrines e muito tempo perto do seu amor. Porém nos últimos três meses, Ethan estivera muito ocupado, organizando seu trabalho do TCC. Como hoje quando se livrou de mim para passar à tarde com um amigo formado na mesma área que ele. E com livrar eu quero dizer me mandar para o shopping com Samantha.

Não que eu não gostasse de Sam, entretanto ela estava muito estranha. O motivo que ela escolheu para me arrastar para o Shopping foi que precisava de uma roupa nova para ver seus avós. Em primeiro lugar, ela é estilista. Deveria usar um modelo próprio para fazer propaganda de si e tal. Em segundo ela via seus avós toda semana. E em terceiro vestido de festa não combina com uma manhã de bingo.

—Eva pode se concentrar? Preciso que decida entre o vermelho e o preto: qual é o mais sexy?

—Para um bingo? Aquele nude de três lojas atrás. — respondi. Estávamos na quinta loja e ela não escolhera nem uma blusa. Eu me encontrava sentada e Sam a minha frente, em uma mão o vestido preto e na outra o vermelho. Ela mordia o lábio, ansiosa. Parecia que estava numa decisão tão difícil quanto a quem escolher para sair: Brad Pitt ou Tom Cruise.

—Tudo bem, não vou sair com meus avós e sim com um garoto. Qual?

—O vermelho. — respondi na lata. — porque não me contou que era isso? Quem é ele?

—É que eu não queria que ficasse brava. É o Tobias. — bem, se não está entendendo porque eu ficaria brava, eu explico. Embora Tobias e eu ainda sejamos muito amigos, ele traiu Sam quando estavam juntos. Nunca mais apoiei o casal.

—Você realmente gosta dele, né?

—Sim. — ela se virou para guardar o vestido preto. Estava envergonhada.

—Quer saber? Todo mundo merece uma segunda chance. Então fico feliz se você estiver.

—Nossa Eva, estou impressionada. Confesso que esperava sermões e gritos, não amor e compreensão.

—Já gastei saliva demais com vocês, estou cansada disso! — nós rimos. Eu me levantei, abraçando-a. Seguimos para o caixa.

—Queria estar com Ethan. Não entendo porque ele não pode deixar o trabalho de lado um pouco. Fiquei seis meses fora poxa, esperava mais saudade. — reclamei

—Eva ele te esperou por seis meses. Você pode e deve esperar mais quatro por ele. — repreendeu-me a estilista.

—Tudo bem! Tudo bem! — cedi. — tem razão. Eu vou ser a namorada compreensiva. Mas o problema não é o trabalho em si.

—E é o que então?

—Meu aniversário é amanhã e ele nem parece estar se lembrando! — minha amiga pegou minha mão. Com a outra ela entregou o vestido à atendente.

—Quem sabe ele não está fazendo isso de propósito? Pra você pensar que ele não se importa e depois “BUM” — ela fez o gesto de explosão com as mãos. — ele te prepara à surpresa mais linda do mundo?

—Se eu conheço bem o rato de biblioteca não é isso que vai acontecer.

***

Kyra me arrastou para uma convenção muito chata. Mais uma vez fui dispensada por meu namorado. Mas eu estava tentando relevar. As palavras de Sam me tocaram profundamente. Eu devia isso ao meu namoro. É só que essa questão do aniversário está me matando. Queria tanto que eu e Ethan pudéssemos passar meu aniversário curtindo um ao outro, sem nada entre nós. Mas eu estava errada.

Kyra colocara seu CD do one direction. Tocava “Through The Dark” à música que eu considerava ser minha e do Ethan. Ela me lembrava de como tudo começou, do nosso passeio no shopping, de como ele parecia confiante quando andamos abraçados por lá. Sua voz melodiosa dando vida a música dos britânicos. Sinto saudade daquele momento, embora prefira nosso namoro bom e estável. Ser só amigos trás muita incerteza para mim.

Saco meu celular e vou às imagens. Eu tinha um álbum só meu e do Ethan. Havia muitas fotos nossas. Algumas eram zoeiras, como a que ele segura um bolinho Ana Maria com uma vela. Batizamos essa foto de um mês de namoro. Claro que a foto era uma que ele me mandou pelo computador, já que nós estávamos separados nessa época. Mas tinha também umas que tiramos nesses últimos meses. Algumas na cama, as minhas favoritas. E a melhor de todas: uma nossa no aeroporto. Kyra quem tirou. Ele mantinha suas mãos em volta da minha cintura, nossos lábios juntos. Eu estava tão feliz que não cabia em mim. Essa era minha foto de capa até hoje.

—Chegamos Evangeline.

—Pegou a mania do seu irmão é? — sorri. Olhei para frente. Era um salão, mas não parecia ter ninguém lá dentro. — não errou o endereço ou o horário não?

—Não — Kyra riu. — é aí. Pelo menos é isso que dizia o convite. Vamos, eu já sou íntima dessa gente. — Kyra chegou já abrindo o portão.

Quando cruzei a porta as luzes se acenderam. As pessoas gritaram “SURPRESA”. Ethan apareceu na minha frente com um bolo enorme de “PARABÉNS EVA!”. E eu estava literalmente sem reação.

A primeira coisa que fiz foi gritar. Gritei de empolgação abraçando a primeira pessoa que vi pela frente, nesse caso Kyra. Nós gritamos em expectativa. Ela sabia que eu nunca tive uma festa surpresa e estava muito espantada com tudo. Depois Ethan gritou para começar o coro e todos cantaram parabéns. Eu entreguei o meu celular para Kyra tirar umas fotos e esperei até o grande momento para apagar as velas.

As cantigas prosseguiram. No fim eu casaria com Ethan, depois separaria, então passaria um mês para nos casarmos outra vez. Eu ri da infantilidade das pessoas. Que droga de cantiga é essa?

—E aí, gostou? — perguntou Ethan, colocando o bolo em uma mesa que eu tinha certeza não estar lá antes.

—AMEI. Você é o melhor namorado do mundo. — falei beijando-o. Tiramos fotos juntos e após isso eu tirei foto com todos.

Ethan convidara todo mundo. E com todo mundo eu estou incluindo até a nossa vizinha que só tinha pedido uma xícara de açúcar uma vez para nós. Nunca nem sequer trocamos uma conversa. E o legal é que ela estava lá, tirando fotos e rindo como se fossemos amigas. Seria uma amizade difícil. Ela tem quase noventa anos.

A festa tinha a decoração toda em vermelho. Kyra fora bastante esperta ao me fazer me arrumar toda para a convenção, porque assim eu não me sentia um peixe fora d’água na minha festa de vinte e dois anos. Eu vestia um vestido preto em decote V não tão fundo. Não tinha mangas e marcava a cintura. Tinha fachas brilhantes e discretas e era longo. Minha maquiagem era leve. Exatamente do jeito que eu me sentia.

Havia muita bebida. Um bar no canto que, de acordo com Ethan, era presente do Jacob. Percebi pelo símbolo do restaurante bem grande no balcão. Resolvi não beber. Queria experimentar estar totalmente sóbria na minha festa. Cortinas vermelhas estavam em faixas espaçadas na parede, as mesas eram decoradas com rosas brancas e forros cor de sangue. Os lustres eram lindos. A música soava alta e eletrizante. Tudo ali estava tão bem planejado que me fez ficar muito arrependida por ter duvidado do meu namorado.

Dancei muito na minha festa. Ri muito. Brincamos e discursamos. Tudo ocorreu sem problemas. Ethan se soltou muito, gargalhando e brincando o tempo todo comigo. E toda saudade que tínhamos se esvaiu como ar que estava preso na garrafa e esta foi aberto. Beijamo-nos muito e dançamos para valer. Naquele momento, senti como se fossemos eternos.

***

Quando a festa acabou ainda eram quatro da manhã. Ethan e eu voltamos para nosso apartamento. Agora não morávamos mais com Kyra, que vivia sozinha naquela casa. Ela dizia que preferia assim, se sentia mais livre. Então nós escolhemos um apartamento pequeno e confortável, um lugar apenas para chamarmos de lar.

—Se divertiu? — Ethan perguntou no meu ouvido. Estávamos no banheiro, comigo tirando os brincos enquanto me olhava no espelho. Ele sorriu para nós, esbanjando orgulho.

—Claro. Foi o melhor aniversário que eu tive. Eu te amo.

—Também te amo. Achou que eu tivesse esquecido não foi? — ele perguntou.

—O que? — perguntei com a voz fina, indicando que ele acertou. — de jeito nenhum. — ele riu.

—Engraçadinha. Eu não poderia esquecer o dia mais especial da minha vida. — ele me girou habilmente em seus braços. Encarei seus castanhos. — o dia que você nasceu e assim completou minha vida. — sorri beijando-o.

—Cansado?

—Claro que não. Ainda tem sua festa particular. — ele falou.

—Festa particular? — deixando a pergunta no ar ele saiu do quarto e, quando voltou, tinha um violão preto com um laço vermelho em suas mãos.

—Feliz aniversário. — ele falou sorrindo. Abri minha boca em espanto.

—Ethan você é sensacional. — abracei-o com muita afeição.

Nós fomos para o quarto e nos acomodando na cama. Ethan me ensinava às posições dos acordes e ria de mim quando eu reclamava da dificuldade de tocar um violão. Depois de um tempo gargalhando e tocando, entreguei meu violão para ele e nós cantamos Through the dark. Fechei meus olhos. Ali, ouvindo sua voz melodiosa eu me sentia completa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.