Pele

Você pode ajuda-lo?


Escalada

Dean escalou a encosta da montanha sem grande dificuldade. Seus amigos dependiam dele por ser o mais habituado a fazer rapel e por seu preparo físico. Haviam escolhido fazer escalada e camping no fim de semana, uma vez que a meteorologia previu tempo bom naqueles dias. Quem o via tão belo e bem vestido não imaginava que fosse um excelente desportista. Entretanto, hoje estava aéreo e pouco falante. Isso não era o seu eu habitual. Castiel resolveu investigar, assim que chegaram num platô da montanha.

— Algum problema, Dean?

— Hã? Nada. Só estou pensando com meus botões.

— Sobre o que?

— Nada importante.

— Desembucha, Dean.

— Quer o que? Desembucho se eu quiser, senhor detetive.

— Calma! É força do hábito. Já que você não quer falar, vou adivinhar. Diga-me se estou certo. Seus problemas têm a ver com sua linda namorada, Lisa?

— Nope!

— Doença na família?

— Vira essa boca pra lá, mau agouro.

— Então seria ... a batida de outro dia na casa daquele stalker?

— ...

— Sério? Isso é uma surpresa. Simples, vá até ele e peça desculpas. Não que você estivesse errado ...

— Já fiz isso.

— Então?

— Eu o encontrei na rua e trocamos socos. Depois o levei pra casa, e lhe dei meu número, mas ele não atende minhas ligações. Acho que ele quer distância de mim.

— É compreensível. Só não entendo por que você está chateado.

— É que eu tenho pena dele. Sempre isolado, por causa de sua doença de pele, sem interação humana, com medo do mundo, como se fosse um cãozinho perdido, vivendo no mato. Eu só queria oferecer minha amizade.

Castiel aproximou-se de Dean e olhou sua face atentamente.

— Mais alguma coisa que queira me contar?

— Não ... exceto que estou frustrado.

— Se aquele rapaz fosse uma bela garota eu até entenderia sua frustração, mas não é o caso. Então, estou bastante surpreso.

— Não é preciso ser do sexo feminino pra eu me importar com um ser humano. Sinal de que tenho sentimentos.

— Sei. Sinal de que está apaixonado.

— Que ... Mas que conversa é essa, Cas? Tudo pra você se resume a sexo?

— Em se tratando de Dean Winchester, sim.

— Ei, gente, que discussão é essa? — falou Pamela Burns, psicóloga forense, amiga de Castiel que veio junto para a escalada.

— Nosso amigo aqui ...

— Não, Cas ... — Dean o apartou.

— Calma, gente! Não vamos acirrar os ânimos. Se for algo importante e eu puder ajudar, me contem. Se não, é melhor esquecer o assunto. — Pamela tentou aparar as arestas.

Castiel fechou a cara e cruzou os braços. Dean deu um profundo suspiro e passou a língua nos lábios, como se se preparasse para algo muito difícil.

— Há alguns dias conheci um rapaz que tem uma doença de pele chamada psoríase. Ele vive recluso e se recusa a falar com as pessoas. Tentei fazer amizade com ele para ajudá-lo, mas vive me rechaçando. E eu não sei o que fazer.

— Entendo, mas ... por que estava discutindo com Cas?

— Cas tem a infeliz mania de relacionar meus atos com intenções sexuais.

— Oh! — Pamela exclamou.

— Na verdade, eu apenas disse que você estava apaixonado. — Castiel se defendeu.

— O que dá na mesma. — Dean teimou, ainda com mágoa na voz.

— Dean, é possível sentir afeto por alguém sem ... querer ter intercurso carnal prazeroso ... Isto é, o mesmo sentimento que temos pela família, por animais de estimação, ou por pessoas desconhecidas que passam por uma provação. — Pamela tentou explicar.

Dean fez uma cara de quem não estava entendendo aquela conversa.

— Ok! Mas não digam que estou apaixonado. Eu sou hetero e estou muito satisfeito com minha namorada.

Castiel ergueu as duas mãos em sinal de derrota.

— Você acha que poderia ajuda-lo, Pam? Digo, ajuda-lo psicologicamente? — Dean perguntou esperançoso.

— Talvez, mas se ele não quer sua ajuda, Dean, como iria querer a minha?

— Pois é. Já pensei sobre isso e não vejo solução. Nem chegamos a ser amigos, ao menos o bastante para invadir seu apartamento e arrasta-lo de lá para a luz do sol, quero dizer, ele tem direito à privacidade.

Pamela e Castiel se entreolharam e riram.

— Entendi seu ponto, Cas. — Pamela falou.

— Ah, não! Não comecem de novo. — Reclamou Dean.

— Dean, você pode tentar ajudá-lo através do advogado. Aquele sujeito baixinho com nome de anjo. Acho que o nome era Archangel. — Castiel tentou ajudar.

— Taí, não havia pensado nisso. Obrigado, Cas! — Dean sorriu.

Surra

Longe dali, naquele mesmo dia, Sam Winchester estava caminhando tarde da noite, em direção à sua casa, após um passeio noturno que incluiu assistir uma partida de basquetebol universitário. O jogo não o empolgou, mas a multidão nas arquibancadas era um show à parte. Eram barulhentos, coloridos, apaixonados e vibrantes. Entoavam hinos e festejavam cada ponto. Para se enturmar ele até comprou luva, boné e bandeirinha, que agitava imitando a massa humana. Como cientista social era uma lástima. Como oservador alienígena era patético. Como ser humano não passava de um imitador, mas ele estava feliz e pela primeira vez se sentiu como parte da humanidade. Talvez algum dia poderia ir a um jogo e reagir genuinamente, ao lado de amigos. Sam sorriu satisfeito consigo mesmo

Subitamente, um indivíduo cruzou seu caminho e o atingiu de surpresa com algo duro e pesado, no rosto. Sam caiu pesadamente, mas não perdeu a consciência, rolou e tentou levantar-se, o que foi pior. Passou a levar chutes na cara e no peito, o que o obrigou a assumir uma posição fetal, protegendo a cabeça com as mãos e juntando os joelhos na altura do estômago. Ao vê-lo imóvel e gemendo baixinho, seu agressor passou a expolia-lo de seus bens. Retirou sua carteira, relógio, celular, sapatos e casaco. Por um momento, Sam temeu que o marginal fosse roubar todas as suas roupas, deixando-o completamente nu, não que fosse reagir, pois ele não queria mais apanhar, mas tinha vergonha de ter suas cicatrizes expostas. O meliante era tão folgado que esvaziou sua carteira ali mesmo, levando apenas seus cartões de crédito e algum dinheiro, atirando a carteira vazia sobre o corpo de Sam. Depois foi embora calmamente.

Com muita difculdade, Sam ergueu-se e catou seu pertences pelo chão. Foi até seu apartamento, que abriu com a chave reserva que estava sobre o batente superior da porta, e entrou. Arrastou-se até o quarto e se jogou na cama. Precisava dormir. Talvez assim a dor lancinante em cada parte de seu corpo parasse. Pela manhã procuraria um médico. Por hoje, já lhe bastava reconhecer o grande fiasco que ele era. Um idiota incapaz de se defender de um ladrão. Por que não comprou a maldita arma?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.