Peixinhos

Capítulo Único


Mais um semestre na faculdade havia acabado e o casal universitário teria mais tempo livre para realizar outras atividades de lazer. Apesar de estarem namorando há pouco tempo, uma coisa que Afrodite sabia sobre Shun era sobre seu medo de água. Não que o jovem não a bebesse ou se banhasse, a questão era que tanto o mar, quanto piscina e até mesmo uma hidromassagem estavam fora de cogitação para o virginiano. Sempre que ia nesses espaços, Shun apenas ficava tomando banho de sol, molhava os pés na beirada do mar ou então tomava uma chuveirada na piscina do clube.

Então, em um dia frio, o pisciano teve uma brilhante ideia. Ele levaria seu amado para a piscina aquecida do clube, pois poucas eram as pessoas que se aventuravam naquela época do ano. Era o cenário ideal para ter seu momento "professor de natação". O sueco sabia que o japonês não era fã de surpresas e aquela justamente envolvia trabalhar um de seus maiores medos.

— Sabe que hoje é o pior dia para ir à piscina do clube, a menos que queira treinar — falava para um dos principais nadadores da equipe da Faculdade de Atenas — Acho que dificilmente encontrarei uma parceria para jogar vôlei, com essa chuva.

— Você trouxe sua sunga?

— Só porque você pediu. — fez um biquinho indignado — Preferiria estar lá em casa contigo fazendo maratona de filmes, com direito a pipoca e chocolates.

— Acho que teremos tempo de voltar e assistir ao menos um ou dois filmes — deu um selinho rápido no namorado — Então vamos logo nos trocar no vestiário.

— Ai ai, só você mesmo Afrodite! — reclamava emburrado.

Eles não demoraram a se trocar e o pisciano fez o namorado tomar uma chuveirada rápida com ele. Ao chegarem próximos à piscina, Shun já se preparava para sentar no banco com as coisas dos dois ao lado, mas foi impedido de fazer isso.

— Hoje não! Eu tenho uma surpresa para você — abriu a bolsa e retirou algo de dentro.

— Você sabe que eu não entro em piscinas, né? Eu já te contei a história de quando era criança e…

— E você se afogou na piscina, sim contou umas dez vezes — começou a soprar uma boia — Me ajude a encher a outra — soprava — E também disse que isso aconteceu por uma brincadeira de mau gosto de um coleguinha seu da escola. Se não fosse por ele, você estaria nadando feito um peixinho agora, mas nunca é tarde para aprender.

— Foi por isso que você me trouxe aqui hoje?

— Sim. Hoje o dia está perfeito, sem movimento, ninguém para atrapalhar ou te julgar. Quero te fazer boiar pelo menos — continuava a soprar e viu o namorado começar a soprar a outra bóia de braço, era um sinal positivo.

— Vamos ficar na parte rasa, ok?

— Como desejar, mas saiba que estará seguro comigo. Esqueceu quem aqui faz parte da equipe de natação?

— Você — fez um biquinho antes de continuar a soprar — Eu vou usar essa boia grande também?

— Até se sentir seguro para tirar — garantiu.

Shun estava um pouco relutante por dentro, afinal encarar um trauma não é fácil, mas estava disposto a ceder. Seu namorado era um nadador profissional, estava ali com as boias e sem a pressão de espectadores para julgá-lo. Então colocou seu “kit de nadador iniciante” e sentou na borda do lado raso da piscina.

— Muito bem, já está com os pés dentro d’água, isso é muito bom — disse o mais velho dentro da piscina — Quer uma mãozinha para descer?

— Espera só mais um pouco, por favor — respirou fundo — Pode me dar a mão? — e assim conseguiu descer.

— Viu? Aqui nem é tão fundo.

— Fale por você que é alto — seus pés tocavam o chão e a água batia na altura de seu peito.

— Aqui você nem precisaria usar uma boia, foi isso que eu quis dizer — riu baixinho — Sinta a gravidade, nós ficamos mais leves dentro d’água. Dê seus primeiros passos na “lua”, meu amor.

— Está muito engraçadinho hoje — ainda segurava a mão do namorado e andava um pouco desajeitado — Eu não lembrava de como era essa sensação — acabou soltando a mão inconscientemente enquanto explorava aquele ambiente — Até que é bom!

— Quando se sentir pronto, eu irei te ensinar a boiar aqui no raso mesmo e vamos continuar no seu tempo.

— Olha, eu realmente agradeço pelo esforço que está fazendo para me ensinar a nadar. Outra pessoa teria desistido de tentar — tentava tirar seus pés do chão — É assim que se boia?

— Estamos quase lá. Você está usando essa boia grande, vamos para o meio da piscina que você vai sentir que está boiando.

— No meio? — perguntou preocupado.

— Vamos ficar perto da borda sempre. É que isso não funciona bem se você tem apoio nos pés — iam devagar até o mais jovem sentir que não conseguia mais tocar o chão — Prontinho! Apenas se segure na boia grande e estará boiando — sorriu — Como se sente?

— Isso é estranho, mas não é ruim.

Shun estava se acostumando com a sensação de estar dentro daquela piscina e aos poucos o horror de sua experiência traumática passava. Ainda estava receoso de fazer as coisas dentro d’água, mas uma pequena curiosidade surgia ali e seu namorado percebia isso.

— E então? Quer aprender o outro jeito de se boiar?

— É mais fácil que esse?

— Na verdade não, mas você vai entender quando estiver fazendo. Vamos voltar para a parte rasa que eu vou te ajudar nisso.

Assim, eles voltaram para o raso e o sueco tirou a boia maior do japonês. Então ele indicou para que seu namorado tentasse deitar sobre seus braços esticados.

— O segredo para conseguir boiar desse jeito é a calma. Deixe seu corpo esticado e procure relaxar — dizia em tom de tranquilidade.

— E se eu começar a afundar?

— Eu não vou te deixar afundar, amor. Esse tipo de pensamento deixa seu corpo agitado e isso te faria afundar se eu não estivesse te segurando.

— Tudo bem, então vou tentar pensar em nada.

Aos poucos, ele ficou mais relaxado, sua respiração estava controlada e se sentia mais leve. A água que antes incomodava seus ouvidos parou de incomodar, como se uma barreira invisível surgisse. Shun relaxou tanto que se esqueceu de onde estava e o que estava fazendo. Era como um sonho. Afrodite ficou até com pena de ter que tirar seu namorado de tamanho estado de tranquilidade, mas levemente conduziu os pés do jovem líbero ao chão quando abaixou um de seus braços. O virginiano sentiu seu corpo abaixar, então logo abriu seus olhos e encontrou os de seu companheiro, que transmitiu a segurança que ele precisava.

Eles ainda ficaram lá por mais meia hora e o mais jovem até resolveu se arriscar mais com sua boia na parte rasa. Afrodite muito pacientemente o ensinou a se movimentar melhor dentro d'água e estava feliz pela receptividade de Shun. Depois, eles saíram da piscina, tomaram uma ducha e voltaram para o apartamento do sueco onde finalmente puderam curtir um filme leve, com direito a pipoca e alguns chocolates.

— Então, meu amor, gostou da surpresa? — fazia cafuné no namorado que estava com a cabeça encostada sobre seu peito.

— No início não, mas você conseguiu me fazer mudar um pouco de ideia. A piscina não me parece mais apavorante como era.

— Acredito que em breve você se sentirá melhor dentro da piscina, conforme for aprendendo. Depois, o próximo desafio será o mar.

— O mar nem pensar! Esse consegue ser traiçoeiro e eu prefiro só molhar os pés! — o assunto praia ainda o deixava nervoso, mas Afrodite não poderia tirar a razão dele, pois muita gente não sabe lidar com o mar.

— Ok! Você venceu nessa. Agora estou pensando em um desafio mais simples para a gente.

— E qual seria? Também envolve água?

— Um banho de banheira bem relaxante — disse com um sorrisinho sugestivo no final — O que acha?

— Um desafio de cada vez, Afrodite! — disse com o rosto vermelho — O meu problema com água pode ser superado aos poucos, mas você precisa lidar com esse fogo — levantou e jogou uma almofada de leve no rapaz — Bom, eu preciso voltar para casa e terminar de colocar as lições em dia. Boa noite! — pegou sua mochila e foi para o batente da porta.

— Boa noite, peixinho! — abriu um sorriso bobo ao ver a expressão de Shun — Até amanhã!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.