Um suspiro seu cortou o silêncio por um breve momento. Sentiu um alívio morno encher seu peito, o nó, que se instalara em sua garganta desde o pronunciamento mentiroso da Echo Girl, se desfazendo. Zen sentia que podia finalmente voltar a respirar.

E imaginar que aquele alívio fora proporcionado por Jumin Han, o homem que podia dizer odiar há apenas alguns dias e agora simplesmente não tinha certeza. O homem que sabia exatamente onde encontrá-lo quando queria estar sozinho. O mesmo homem que estava no seu lado no seu lugar secreto, e Zen podia achar estar sonhando se Jumin não tivesse esbarrado seu braço no dele por acidente.

Zen voltou os olhos vermelhos para Jumin, observando como a luz alaranjada do sol poente lhe acentuava os traços finos. Suspirou, não bastava ele ter nascido rico, ele também precisava ser bonito – não que ele fosse mais bonito do que Zen, isso seria impossível.

—Quando vai parar de me encarar? – a voz tranquila de Jumin soou, o despertando de seus pensamentos. – Você não está pensando em me empurrar daqui de cima, está?

Se fosse há dois dias, pensou, mas não disse nada.

—Só estava pensando em como você mudou – não era de todo mentira. –, eu odiava você até uns dias atrás, e agora estamos aqui, assistindo ao por do sol.

—Já pensou que talvez tenha sido você que mudou o jeito que você me enxerga? – disse com um meio sorriso torto. – Eu sempre fui bem legal.

Zen fez uma careta, mas ele podia ter razão. Jumin e ele nunca tinham conversado de verdade até aquela tarde. Zen estava sempre fugindo do outro, fugindo do seu dinheiro. Era um preconceito bobo por causa de seu irmão mais velho, mas ele mesmo não gostara tanto do irmão um dia?

Pensou no que Jumin lhe dissera mais cedo, "Somos uma família" e era a mais pura verdade. A RFA era a única família que conhecia, a única que realmente precisava, e isso queria dizer que o milionário estava incluso naquilo.

Passou a mão pelos cabelos platinados e encarou Jumin com olhos desconfiados. Lembrou do riso sincero que havia provocado no outro momentos antes e percebeu que não conhecia o homem ao seu lado. Que aquela era uma pessoa diferente de quem vinha odiando durante todos aqueles anos.

E pensar que, se ele não tivesse sido tão esquivo com o outro durante todo esse tempo, talvez ele e Jumin fossem amigos agora. Jumin tentara tanto ajudá-lo no começo de sua carreira como ator, e mesmo que Zen tivesse recusado todas as propostas de maneira tão rude, Jumin havia ido até ali pra tentar ajudá-lo de novo, mesmo que agora ele estivesse queimado com o público por causa da Echo Girl.

Jumin sorriu pra ele, um sorriso sincero que Zen não sabia que o outro podia expressar, e se sentiu curioso para conhecer mais daquele homem.

Mas ainda tinha algo o incomodando.

—Como você sabia que eu estaria aqui? – perguntou. – Você veio aqui uma vez em toda a sua vida. Por que se lembra desse lugar?

Jumin desviou os olhos para o por do sol por alguns momentos, como se pensasse se deveria contar seus motivos ou não. Por fim, seus lábios se curvaram e ele voltou a encarar Zen.

—Eu nunca me esqueci – disse com a voz baixa. – Porque foi aqui que eu te conheci.

Zen engoliu em seco, os olhos vermelhos se arregalando.

—Cara – disse por fim, com um semblante desconfiado, mesmo que sentisse o rosto esquentar. –, que tipo de resposta é essa? Você me dá calafrios.

Houve um pequeno silêncio, em que os dois se entreolharam de maneira emburrada.

—Acho que você não se importaria em usar orelhas de gato para o comercial, não é? – Jumin disse, o fuzilando com o olhos.

—Ah, não! – Zen se desesperou, com a voz irritada. – Você deve ter ficado maluco!

Pararam mais uma vez. Jumin parecia uma criança emburrada e a irritação de Zen não conseguiu se estender diante daquela expressão quase infantil, acabou por se deixar rir.

—Você é um cara estranho – Zen disse por fim, depois de se acalmar.

—Fico feliz por confiar em um cara estranho como eu – disse com um suspiro um tanto impaciente.

Mas fora ele quem confiara em Zen, no final de tudo. Lembrou-se mais uma vez do que ele lhe dissera "Se você acha que pode confiar em mim, segure a minha mão"*.

Zen sabia que era apenas uma maneira de dizer, mas ante aqueles olhos teve que controlar a vontade de deixar sua mão deslizar até a do outro, entrelaçando seus dedos nos dele. Sabia agora que podia se apoiar em Jumin para explicar a verdade para todos e reconstruir sua carreira do zero. Sabia agora que não importava o que os outros dissessem, Jumin não viraria as costas para ele.

Sabia que podia segurar a sua mão.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.