A babá Ashtoreth era uma mulher peculiar.

Ela se vestia da cabeça aos pés como uma Mary Poppins da Família Addams.

Ninguém, nem mesmo os Dowlings, parecia saber o seu primeiro nome e nenhum dos funcionários, nem mesmo os mais antigos, tinha memória de já tê-la visto comer ou sem os óculos escuros que ela usava o tempo todo, até dentro de casa.

A senhora Dowling dizia que a babá provavelmente só tinha algum tipo de problema de visão que tornava seus olhos sensíveis á luz e a forçava a usá-los. Stacy, da equipe de limpeza, tinha uma teoria muito mais razoável, de que Ashtoreth havia feito um pacto com o demônio e, como os olhos são a janela da alma, ela era obrigada a escondê-los, do contrário, todos poderiam ver que eles não eram mais humanos. Isso começou como uma piada, mas, a teoria era amplamente aceita agora, principalmente considerando que, desde que a aparecera ás portas da família anos atrás, a mulher não parecia ter envelhecido um dia sequer.

Além disso, todos os funcionários, sem exceção, tinham alguma história estranha sobre ela. Sobre como ela começaria a sibilar do nada quando estava nervosa ou como as plantas, de alguma forma, começavam a tremer quando ela passava. A cozinheira até já havia afirmado ter ouvido a mulher cantado canções de ninar satânicas para o jovem Warlock, E, Bill, um dos guardas, jurava que o seu primo havia lhe contado que a conhecera antes que ela começasse a trabalhar como babá e que ela costumava ser uma Dominatrix em Soho, Londres,

E, é claro, a mais assustadora de todas: Ela e o jardineiro estavam transando.

….

O Irmão Francis era um homem peculiar.

Ele tinha aquele sotaque, e aqueles dentes e usava aquelas roupas…

Ninguém sabia exatamente o contexto de “Irmão”. Talvez fosse um costume na religião dele. Talvez ele tenha sido um padre. Talvez ele estivesse em um culto branco supremacista católico.

A única coisa que todos sabiam é que ele era MUITO (e irritantemente) religioso e aparentava ser um homem muito bom. Bom demais. E religioso demais. E ele parecia saber CADA palavra na bíblia de cabeça. O que provavelmente não era bom.

E o mais estranho de tudo: ele nunca trabalhava.

As árvores e flores da residencia do Dowling cresciam como nunca antes. A grama deles poderia muito bem ter sido a inspiração para aquele ditado sobre a grama do vizinho ser sempre mais verde. E não era como se o Irmão Francis estivesse fazendo qualquer esforço para tal. Ninguém nunca o havia visto pegar uma pá ou com terra nas roupas e as unhas dele estavam sempre limpas e perfeitas, de alguma forma. E toda vez que alguém tentava perguntar qual era o segredo dele, o jardineiro não parecia ter a menor ideia de como a jardinagem funcionava.

Uma vez, na primavera passada, uma única lagarta havia destruído todas as roseiras de Agatha, uma das moças da cozinha, mas, os jardins dos Dowling, lotados de insetos, aves e pragas brilhavam estonteantes e cheios de vida, enquanto o Irmão Francis iria apontar e nomear cada uma das criaturas como “irmã lesma” ou “irmão gafanhoto”, dizendo para o jovem Warlock como ele deveria amar e respeitar todas elas.

—Você acha que ela senta na cara dele para fazer ele calar a boca? Por que certamente ele é irritante para caralho.

—Com aqueles dentes? Como?

Ah, sim. E todo o quadro de funcionários acreditava que eles estavam transando.

Bom, não todos.

Haviam apostas.

Mas a maioria apenas concordava que tão estranho casal devia ter algo rolando entre si.

Então, eles só precisavam encontrar uma prova.

—Então… Ashtoreth. - perguntou Stacy uma vez, enquanto a babá ajudava o pequeno Warlock a amarrar os cadarços antes de um passeio. -Você é casada?

—Viúva. -ela disse, sem ao menos olhar na direção da menina. Ou talvez estivesse olhando. Os óculos. Ninguém nunca tinha certeza.

E mais tarde, na cozinha.

—Viram? Eu disse. Ela é solteira. E o irmão Francis também. Eu acho. Ele disse alguma coisa sobre Deus que eu não entendi.

—Isso não prova nada.

—Prova que os dois são estranhos e sozinhos. Eles combinam.

—Eu aposto que foi ela mesma que matou o marido. Você sabe. Para o pacto.

—Parem com essa merda sobre “o pacto”. Não é verdade.

—Você já viu os olhos dela?

—Não.

—Então você também não pode ter certeza.

Stacy sabia que ela tinha razão, só precisava provar.

Era obvio que eles tinham alguma coisa.

O jardineiro estava sempre corado quando ela estava por perto. Ele lhe daria flores e trabalharia ainda menos (se é que isso é possível) quando a babá e Warlock estavam brincando no jardim, apenas para assisti-la.

E Ashtoreth iria SORRIR. Ela nunca sorria de verdade. Apenas sorrisos pequenos, sem mostrar os dentes e apenas para Warlock. Mas, com o irmão Francis eles eram reais e enormes e felizes. E até mesmo com os óculos, Stacy sabia que ela estava observando-o também.

Uma vez, ela quase os pegou no pulo.

Ela estava limpando o primeiro andar e Warlock havia saído para uma excursão escular.

Ela não havia visto Ashtoreth o dia todo, então, apenas supos que, como Warlock não estava em casa, ela tivesse pego um dia de folga. E então, ela ouviu um gemido e uma voz de homem. Ela tinha acabado de ver o Senhor Dowling no próprio escritório e a Senhora Dowling tinha ido fazer compras com as amigas. Ela sorriu.

Porém, logo quando ela ia bater na porta, a babá a abriu.

Ela estava arrumando o cabelo e as sais e o batom dela estava fora do lugar. Ela nem mesmo corou quando a viu.

—Olá, Senhorita Harrison.- ela nunca chamava Stacy pelo primeiro nome como todo mundo.

—Oh, Oi Ashtoreth! Eu ia limpar essa quarto… Mas eu posso voltar mais tarde...- e deu uma piscadela cúmplice.

A expressão da mulher não se alterou.- Não. Tudo bem. Eu estava procurando uma coisa. Pode continuar.

E saiu. Os saltos dela ecoando contra o piso.

Stacy aguardou alguns segundos, esperando ver um muito envergonhado irmão Francis sair pela porta, mas, isso não aconteceu. Ela adentrou o quarto. Absolutamente vazio.

Ela checou embaixo da cama e nos armários e...Não. Não. As janelas estavam abertas. Ela correu até a beirada, apoiando o corpo para fora, olhando para baixo. Um muito alegre Irmão Francis estava sentado sob uma árvore alimentando alguns pássaros.

—Boa Tarde, Stacy! - ele acenou.

Não. Ele não poderia ter pulado do primeiro andar., poderia?

….

—Eu ouvi. Eu juro!

—Ela estava assistindo porno Stacy. E se masturbando. Meio estranho pensar sobre, mas normal. Eu acho.

—Não era um porno qualquer, ok? Eu reconheceria a voz!

—Ela tem uma tara por sotaques.

—Ou ela estava falando com o demônio. E fazendo algum ritual sexual.

—Gente! Levem isso a sério! Por favor!

—Eu estou levando a sério. Eu realmente acredito na parada do pacto.

—Não é nossa culpa se você está contando uma fofoca absurda Stacy.

—É Stacy. E se você acha que issso significa que você ganhou a aposta você está muito enganada.

Stacy ia ficar completamente maluca se ela não arrumasse uma forma de explicar ou uma pista sobre aquele relacionamento logo. E agora, ela não podia nem ficar ansiosa sozinha, já que o resto dos funcionários estava tirando sarro dela;

É claro, provavelmente eles tinham algo. Mas o irmão Francis pulando pela janela? Com aquelas perninhas curtas? Esse era todo um novo nível de loucura Stacy.

Mas ela sabia que estava certa. E ela ia provar. Um dia.

E de repente, esse dia chegou.

Stacy e agatha estavam conversando em um dos quartos de hóspedes. No dia seguinte, a Senhora Dowling daria uma festa no jardim e muitos dos funcionários com funções diretamente relacionadas ou que trabalharam acima do horário normal e moravam longe iam passar a noite. Era realmente tarde e as duas estavam conversando sobre um dos rapazes que serviria como garçom e ambas achavam fofo.

E então elas ouviram um barulho.

—Stacy, mas que porra? Onde você pensa que está indo?

—Investigar.

—Você nunca assistiu um filme de terror antes? É assim que você morre! - e ouviram o som mais uma vez, alto -Se bem que está mais para um porno do que para um filme de terror, mas não é da nossa conta de qualquer forma. Stacy.

—É a Ashtoreth!

—Você reconhece até o jeito que ela geme agora? Você está obcecada. É só uma aposta.

—Vem logo!- disse ela, arrastando a amiga pelos corredores com ela.

—Stacy!!

—Shhh! Está vindo da cozinha!

E então elas a viram, ambas as garotas se jogando silenciosamente no chão, tentando se esconder atrás de um vaso decorativo gigante. Elas espiaram. Elas viram a babá. Só era possível ver acima da cintura de onde elas estavam escondidas.

A mulher não pareceu notá-las. Na verdade, ela não parecia estar fazendo nada muito interessante, as costas apoiadas no balcão, uma taça de vinho na mão. Mas ela estava SORRINDO. Um sorriso enorme. Não do tipo que ela dava para o pequeno Warlock. Um malicioso. Quase maligno. E por um segundo ela virou a cabeça na direção em que as garotas estavam escondidas e elas quase puderam imaginar, isso é, se existissem pessoas de olhos dourados, que os dela brilharam por trás das lentes escuras enquanto ela gemia de novo.

Agatha engasgou.

E então o sorriso tinha desaparecido. E a mulher olhou para baixo, descontente, e levantou as saias de onde um muito corado irmão Francis emergiu. Ele disse qualquer coisa sobre ir para outro lugar, mas nenhuma das duas teve tempo de ouvir, enquanto Agatha arrastava Stacy correndo de volta para o quarto de hóspedes.

Agatha tinha muitas perguntas e talvez ela não quisesse as respostas.

Mas Stacy não tinha nenhuma.

—Pode ir pagando vadia!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.