Peace

Capítulo Único


peace

❝I never had the courage of my convictions

As long as danger is near

And it’s just around the corner, darlin’

‘Cause it lives in me

No, I could never give you peace❞

—peace, Taylor Swift

~♡~

Querida Roxanne,

Hoje faz um ano que estamos namorando. É engraçado como você me odiava, me achava a pior pessoa do mundo, mas agora sabe que não sou o que parecia. Confesso que nunca fiz tantas boas ações quanto gostaria, passei a infância na cadeia. Você me conheceu como alguém obcecado por dominar o mundo, matar o Metroman, é claro que ia me odiar. Mas eu sempre gostei de você. Era por isso que eu sempre te sequestrava, mas nunca te fazia mal algum, não te oferecia perigo, não te machucava. Eu só queria te provocar. Você era desafiadora, sempre com uma resposta na ponta da língua. Quem se importava com o Metroman quando eu podia bater de frente com você? Ele era mais forte, mas você é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Essa é a característica que eu mais admiro em alguém, sei que você concorda comigo, por isso gosta de mim também. Somos dois nerds, não somos?

Às vezes, quando eu ainda fingia ser o Bernard, eu tinha medo de você descobrir quem eu era de verdade e me abandonar para sempre. Eu me olhava no espelho e sentia como se estivesse desperdiçando a sua honra. Você era uma mulher tão linda, tão bem-sucedida, tão querida por Metrocity. E quem eu era? Megamente, o cara espalhafatoso que achava que o mundo girava à sua volta, odiado por todos, mas que dava o seu show mesmo assim. Eu era um rock star sem plateia, falando merda no microfone enquanto me vaiavam. Queria ser como o Bernard, ele era bem vestido, tinha traços delicados, cabelos castanhos numa cabeça não tão grande, óculos que lhe davam um charme de intelectual. Ele me parecia o seu tipo. Eu tinha vontade de usar o relógio o tempo todo, até quando não estava com você, porque não queria mais me ver como quem eu era. Eu não queria ser mais o vilão em botas de couro de bebê foca. Eu não queria mais ser o Megamente. Eu só queria ser normal. E seu. Principalmente seu.

Mas a farsa não podia ser mantida para sempre. Você descobriu tudo, viu meu verdadeiro rosto e me deixou sozinho na chuva. Eu não era como o Hal, não podia te forçar a ficar, não podia te amarrar na antena de um prédio e te obrigar a ser minha. Foi tão doloroso ver o seu olhar de decepção, suas palavras duras me cortando como uma lâmina. "Você realmente achou que eu ficaria com você?", aquilo ecoou na minha mente por dias e noites. Foi pior que levar um soco do Metroman. Foi pior que o bullying que eu sofri na escola. Eu nunca quis te fazer sofrer. As coisas fugiram do controle e eu não tinha coragem de contar a verdade, mas, àquela altura, eu já te amava a ponto de dar a minha vida por você, de me tornar um mártir, um herói, um Metroman. Tudo para ser o que você queria, o que você precisava. Eu não queria mais te sequestrar, queria ser o seu salvador, queria estar do outro lado da história. Mas como poderia te salvar se era eu que estava te ferindo?

O perigo vive em mim. Fui moldado para isso, criado para matar. Fui órfão, todos os outros da minha espécie estavam extintos, nunca me identifiquei com ninguém. Convivi com os piores criminosos da cidade, tive os piores exemplos, acabavam comigo na escola, me odiavam e me chutavam por ser diferente, até quando eu tentava ser bom para eles. A única coisa que eu fazia bem era estragar tudo, bagunçar o coreto, ameaçar a ordem pública e a vida das pessoas. O mundo parecia me dar o sinal, como se aquela fosse a minha vocação. Eu a abracei com tudo, porque parecia a minha única chance de vencer na vida, de me vingar, de provar o meu valor. Mas quando eu finalmente consegui o que queria, descobri que a vida tinha me dado uma rasteira. Tudo me levou a acreditar que eu estava destinado a ser mau, até que eu descobri que o dono do meu destino era eu mesmo, não os outros. Eles tinham julgamentos tão atravessados sobre mim. O maior erro da minha vida foi acreditar neles e não me ouvir. Mas o que eu podia fazer? Eu era apenas uma criança...

Hoje em dia, adulto e mais consciente dos próprios sentimentos, posso dizer que o ódio das pessoas me levou ao caminho errado, mas seu amor me trouxe de volta para onde eu sempre deveria estar desde o começo. Meus pais me disseram quando eu era bebê: "Você está destinado à grandeza", e eles estavam certos, por que eu não os ouvi? Você me deu toda a grandeza que eu merecia, me fez enxergar que eu não era uma aberração. Quando você foi raptada por Hal e eu fui obrigado a fugir da cadeia para te salvar, eu sabia que era o momento perfeito para me redimir das minhas mentiras, para ser o herói que você queria, alguém como o Metroman. Não, não como ele. Alguém melhor que ele. Alguém que nunca deixaria Metrocity na mão como ele deixou. Alguém que nunca te deixaria morrer. Alguém que morreria em silêncio no seu lugar se fosse preciso. E você sabe que eu o faria.

Eu fico feliz que você tenha me perdoado. Mesmo tendo salvo a sua vida, eu não sentia que você me devia algo, não é assim que as coisas funcionam. Eu tinha me redimido, mas a escolha ainda era sua, você podia me dar uma segunda chance ou não, perdoar as minhas mentiras ou não. Eu não ia te pedir nada, queria que você fosse até mim. Foi quando senti o seu abraço. Minhas mãos tremeram, meu rosto esboçou uma expressão surpresa, quase não te abracei de volta porque paralisei com o momento. Você ainda gostava de mim, mesmo eu sendo um idiota. Eu jurei naquele momento que nunca te faria chorar de novo. Fechei meus braços em torno do seu corpo e prometi te proteger de qualquer novo vilão que aparecesse. Eu seria o cara bom. E não era só por você. Era por mim também. Eu me sentia melhor e mais realizado daquele jeito. O vazio tinha ido embora. Eu finalmente tinha encontrado a grandeza da qual meus pais falavam com tanta ternura. Como eles podiam saber? Estavam falando de você, eu tenho certeza.

Desde então, muito aconteceu em Metrocity. É óbvio que novos idiotas como o Titã apareceram para desafiar Megamente. No início, eu tive medo. Se eu sempre perdia para o Metroman, quem garantia que eu poderia ser um herói competente como ele? Mas descobri uma coisa: os caras maus sempre perdem. Quando faço algo em nome do bem, as coisas ficam fáceis, como se a nobreza da motivação melhorasse o meu raciocínio, me tornasse mais forte para lutar. Era porque eu tinha paixão pelo que eu fazia. Eu não queria mais vencer pelo capricho de vencer. Eu tinha uma boa razão para vencer: você. Todos eles tentavam te sequestrar para me persuadir – e eu peço desculpas por isso, sempre dei problemas para você porque sou muito visado pelos vilões –, mas eu não deixava por menos, sempre estava lá para te salvar. Eu nunca te deixaria sozinha, lutaria com você nas trincheiras, te daria minha selvageria, te daria um filho. Eu não poderia pedir outra vida além dessa.

Seria o suficiente se eu nunca pudesse te dar paz?

Com amor,

Megamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.