A Toca Do Coelho

Desde sempre, sou muito curiosa. Isso não mudou nem mesmo quando fiz 17 anos.

Minha mente está ficando perturbada, tenho sempre o mesmo sonho. Todas as noites, sou eu e um monte de animais com roupa e raciocínio humano. Odeio esse pesadelo, mesmo que coelhos falantes e vestidos sejam fofos.

Passos pesados e arrastados interrompem meus pensamentos, é o Mike. Sorrio e levanto-me de minha cama, destranco a porta e abro, ficando de cara com sua camisa polo branca, que eu lhe dei.

—Uh... Oi Al...- Diz ele meio envergonhado pela nossa briga de ontem.

—Olá Michael!- Falo tentando ser seca e grossa, mas não consigo com ele.- Quem te deixou entrar? A mamãe saiu e a Taylor também.

Ele me olha ainda meio envergonhado, mas ele sorri, ao ver minhas bochechas corarem.

—Oh minha pequena Al!- Diz ele, mas não olho para sua boca, e sim para seu piercing prateado e brilhante.- Não fique com rancor da noite de ontem. Okay borboletinha?- Me afasto ao perceber que estou muito perto dele.

Não respondo. Mike é meu melhor amigo desde que me conheço por gente, mas ontem ele me magoou muito.

Quando penso no que ele me disse ontem, meu coração se aperta e eu sinto lágrimas arderem em meus olhos.

—Não chore borboletinha... Me perdoe! Não queria dizer aquelas coisas horríveis, muito menos te magoar!- Diz ele com sua voz amorosa e preocupada.

Ele puxa meus braços e envolve nele, formando assim um abraço.

As lágrimas rolam por meu rosto pálido, porem rosado.

—Você me deixou muito triste!- Murmuro e apoio minha orelha em seu peito, assim posso ouvir seu coração.

—Me desculpe borboletinha!- Diz ele com um tom profundo de arrependimento.- Eu estava explosivo.

Ele puxa meu queixo, assim fazendo eu o olhar.

—Não sei se posso o perdoar! Estou muito ocupada pensando em suas palavras horríveis e ofensivas.- Falo fingindo estar brava, porém meu coração está em pedaços.- Se eu encontrar um horário em minha agenda, eu o encaixo.

Ainda o abraçando, ele ri fraco.

—Você é linda quando está brava.

—Errado! Sou uma fera horrível quando estou brava!- Falo tirando um de meus braços de seu corpo e apontando para minha maquiagem toda borrada de chorar.

—Al! Você é linda e perfeita.- Diz ele voltando a por meus dois braços em seu corpo.- Não sei por que usa maquiagem. Você não gosta e não deve usar!

—Quem seria você para dizer o que eu devo ou não usar?- Pergunto com os meus olhos fixos nos dele.

—Sou alguém que te ama muito e que te acha linda!- Diz ele sorrindo.

—Ah Mike...- Murmuro fofa e o olhando.- Também te amo muito!

Fico na ponta dos meus pés descalços e lhe dou um beijo na testa.

—Sabia que não ficaria brava comigo por mais de 10 horas. Você não vive sem mim!- Diz ele com um tom de convencimento. É desse Mike que eu gosto. O garoto maroto e convencido que eu sempre amei.

Rio fraco o olhando.

—Olha quem diz! Você contou os minutos para me ver!- Gargalho o olhando.

—Tecnicamente foram horas!- Ele sorri convencido, porém ainda amoroso e brincalhão.

Me derreto com seu sorriso, o olho boba e vejo seu celular vibrar. Ele não dá muita atenção. Então ele segura meu rosto de forma um tanto selvagem, mas preocupada.

—Você estão muito pálida Al...- Diz ele sério e preocupado.- Você comeu alguma coisa desde que voltou do colégio?- Ele me encara um tanto irritado.

Ele descola meu corpo do seu e aguarda minha resposta.

—Não...-Digo em forma de murmuro.- Mas não é por isso que estou pálida, é que eu estava ficando doente e fraquinha de não poder mais ouvir sua voz doce e suave.- Me aproximo e passo minha mão pelo seu rosto.- Mas você irá me curar!

Colo nossos corpos e rio.

—Eu estou falando sério Al! Sua saúde é algo precioso.- Ele diz outra coisa, só que bem baixo, soou como "Igual a você."- Você tem que se alimentar melhor.

Faço um biquinho fofo e sorrateiro.

—Ah... Eu me alimento muito bem!- Mantenho meu biquinho.

—Olha Al, você sabe que eu tenho que ir para meu curso, mas quando eu voltarei aqui mais tarde para vê-la. Não quero te ver mal, então me escute. Cuide melhor de si, caso contrário eu cuidarei!

MAIS AINDA?- Penso e suspiro, descolando nossos corpos.

—Tudo bem... Me desculpe!

Ele não diz nada, mas seu olhar é amoroso e orgulhoso. Ele me abraça e beija minha cabeça, meu corpo se arrepia ao sentir seu piercing roçar meu coro cabeludo. Acho que ele sente meu arrepio, pois se afasta.

—Tchau borboletinha!- Ele sorri e sai de meu quarto. Sorrio satisfeita e me jogo na cama.

Pego meu celular e ponho Avril Lagvrine, fico com o olhar fixo na data "04/03/2011".

Solto um longo suspiro, ponho os fones e saio de meu quarto, cantarolando Complicated da Avril. Entro na cozinha e pego a panela, um miojo de galinha caipira e uma colher de madeira.

Coloco água na panela e ligo o fogão novo que a mamãe comprou a poucos dias. Deixando a água ferver, quebro o miojo, quase o transformando em pó. Abro o saquinho, tiro o tempero e jogo todo o miojo dentro da panela. Ponho o tempero, mexo, deixo 5 minutos por que eu sou vida louca e pego o miojo. Ponho dentro de um pote e começo a comer.

—AH!- Grito jogando a colher longe.- TA QUENTE!

Bufo já impaciente. Ponho o pote na geladeira, arrumo as coisas e espero enquanto ouço Girlfriend, também da Avril.

Como estou impaciente, pego o miojo e como ele, mesmo estando quente.

Olhando pela janela da cozinha, vejo o jardim, o belo jardim de rosas da mamãe. As rosas são, ou brancas ou vermelhas. Mas sempre que penso nisso, me irrito.

—Mas ora! Rosas deveriam não ser nada além de rosas! Por que rosas seriam brancas ou vermelhas?- Falo enquanto como o miojo.

Bufo e coloco o pote vazio de miojo na pia. Vou até a porta que leva ao jardim o observo.

—Mamãe devia plantar apenas rosas que são rosas!

Pareço uma criança falando, soa infantil e irritado. Enrolo uma mexa de meu cabelo em meu dedo e sinto o vento me puxar até as rosas. Acompanho o vento e brinco nas rosas, sem ligar para as suas cores.

Vejo uma pequena criaturinha passando entre meus pés, rio e tento pegá-lo, mas ele é rápido. Finalmente ele sai do meio das rosas. Agora posso ver o que é... É um coelho branco com um belo paletó e um relógio de bolso em suas mãozinhas.

—EU ESTOU MUITO ATRASADO!- Grita ele desesperado.

Ele repetia as mesmas coisas quando estava nas rosas, porém era um um tom silencio.

—Não grite!- Exclamo em um tom maluco e alto.

Ele me encara e corre. Corro atrás dele e vejo-o entrar em uma toca. Quase caio na toca, mas ao ver que era muito funda e escura, recuo correndo. Estou muito animada, muito mesmo. Ouço a campainha tocar e corro para atender.

É o Mike. Ele está com suas mãos no bolso na jaqueta de couro.

—MIKE!- Grito de emoção e abraço ele.

—Oi borboletinha!- Ele ri ao ver minha emoção e me abraça também.- Você comeu?

—Sim, sim! Mas tanto faz! Algo incrível aconteceu.- Ele me olha e põe uma mecha loira de meu cabelo atrás da minha orelha.

—Ora, ora... O que poderia deixar Alice Garden Liddell tão animada?- Ouvir ele me chamar pelo nome completo me arrepia toda.

—U-uh... Ve-venha ver!- O puxo, acabando com nosso amoroso e confortável abraço. Vamos até o jardim.- Parece estranho e surreal, mas eu vi um coelho falante que é rico pelo visto!

Rio animada, mas ele me olha um pouco sério.

—Al... Isso é sério?- Ele segura minha mão com preocupação.

Sua voz soa tão séria e preocupada, que meu corpo estremesse. Sinto frio, meu corpo se arrepia, me apoio nele.

—AL!- Ele grita por impulso.- Ai meu deus...- Ele me olha.- Está bem?

Penso na toca, puxo ele cambaleando e quase caindo até a toca.

—Estava aqui! Eu juro... Eu vi...- Falo ficando fraca, minha palidez retorna.

Mike, sem pensar duas vezes, me pega no colo e me abraça.

—Você está quente borboletinha... Alucinou com febre...- Ele entra.

NÃO! O COELHO!- Penso e olho Mike, com meus olhos quase se fechando.

—M-mas...- Abro a boca para continuar a frase, mas não consigo.

Seus olhos ficam marejados, meus braços rodeiam seu pescoço. Ele sorri ao ver que eu tendo agradá-lo.

—Você está bem?- Pergunta ele com a voz bem suave. Seu hálito doce e refrescante me derrete completamente.

—S-s-sim...- Murmuro fraca.

Ele entra no meu quarto, tira todas as roupas de cima da cama e me deita cuidadosamente.

Começo a ver tudo girando, Mike segura minha mão e repete muitas vezes para eu ficar acordada.

Mas não dá, não consigo...

Desmaio, a última coisa que ouço não é a voz calma e reconfortante de Mike, é o Coelho... Ele disse "Vamos logo Alice... Você também está muito atrasada..."

Continua...