“Your body is wonder, I’ll use my hands”

MAYER, John.

Bianca

ATCHIM! Merda! Esse inverno ainda me mata. Por que sempre tenho que passar todos os Natais da minha vida gripada? Devo ter colado chiclete na mesa da Santa Ceia, não é possível. Mas o melhor desse tempo é poder chegar em casa depois da faculdade, jogar minha mochila no chão, brincar com meu gatinho e engatinhar para o meu travesseiro novamente.

Quase morro de alegria ao lembrar que semana que vem é meu aniversário e alguns dos meus amigos montaram uma festa surpresa pra mim (fato que eu descobri desencriptografando uma mensagem secretas deles), eles fecharam o meu pub favorito só para a comemoração e ainda convidaram um cantor pra animar a festa. Posso morrer depois disso certo? CERTO! Tudo o que devo fazer agora é cuidar da minha, ATCHIM, saúde.

John

Não sei por que continuo escrevendo essas músicas românticas, não estou apaixonado, por pior que isso seja. Amar alguém que ainda não existe na minha vida é ridículo. Acorda John!

Por que me mudei pra Atlanta? Pra compor? Ah, por favor, ESTUPIDEZ! Só fico nesse riff de 10 segundos. A única e pequena parte que escrevi dessa música me lembra a minha primeira namorada que tive aos 14 anos, afinal foi o relacionamento menos conturbado que eu tive desde então. Melhor que isso só se que comparar a nada.

Quer saber? Vou sair dessa casa, pensar um pouco...

~

Bianca era brasileira, estava em Geórgia nos Estados Unidos para finalizar a pós-graduação em Gestão de Tecnologia, era a típica nerd, sempre ligada na tomada. Por ser muito inteligente, se formou aos 19 anos, e logo aos vinte foi para o exterior. Ela era linda, por trás dos óculos redondos vintage e das roupas largadas. Cabelos negros e lisos na altura dos ombros com um corte reto, olhos bem redondos e expressivos e a pele branca, quase pálida, diferente do bronze tradicional das brasileiras, ela não tinham muito tempo (nem paciência) para ir à praia.

John, cantor, compositor, guitarrista e perfeito. Tudo que toda garota sonha e que nenhuma tem. Tinha acabado de se mudar para Atlanta, estava com 20 anos e já fazia um sucesso significativo na cidade, com vários shows marcado. Não imaginava que seria um artista mundial em poucos meses.

~

Era sexta-feira pela manhã, estava menos frio e se forçar um pouco a visão daria pra ver um pouco do Sol fosforescente por trás das nuvens brancas. O grande dia havia chegado, Bianca acordou esticando-se na cama quente e com um mar de lençóis e edredons.

-AI MERDA!!! Gato idiota!!! – Ao espreguiçar ela chuta sem querer o gato e ele a arranha a perna dela, da panturrilha ao calcanhar, deixando uma bela ferida. – Mas como diabos eu vou pra minha festa agora?! Vou ter que usar calça?! E o vestido maravilhoso que eu comprei pensando nessa noite?! GRRR!

Após se levantar com o susto do arranhão, tomou um banho quente lavou o cabelo e vestiu seu roupão azul com o Cérebro, do desenho animado Pink e o Cérebro, bordado na altura do seio direito. Preparou seu chá de maçã e esperou alguma ligação, imaginou que alguém quisesse acordá-la de surpresa de aniversário.

Já eram 11h30min da manhã e ninguém ligou, nem mesmo seus pais. Irritada calçou suas pantufas e sentou na cadeira de balanço na sala, ficou olhando para varanda a espera de alguma mudança.

Uma e quarenta e nada. Nada mesmo. Aliás, uma coisa mudou, a neve que começara a cair na janela. O roupão úmido já não estava mais agradando, a visão já estava turva com a luz que vinha da varanda, até o gato assustado já havia pedido desculpas ronronando no colo dela.

-Está na hora de se mover não é Steve?! – Morar sozinha não fazia mesmo bem à Bia, falar com o gato já estava se tornando demasiado comum. – Vou agora mesmo vestir uma roupa e sair para almoçar em algum lugar desconhecido, ok? OK! – Pior quando ela começava a responder pelo gato.

Já passava das 15h30min, ela estava almoçando em um restaurante italiano quando seus pais ligaram, a parabenizaram e comentaram que mandaram presente via correio e que o mesmo havia sido extraviado. QUE DIA DE SORTE, pensou Bia. Bom, pelo menos alguém se lembrou do aniversário dela. Deu 16h00min e ela resolve voltar pra casa e tentar camuflar a ferida que o gato fez na batata de sua perna.

Voltando para casa andando resolveu passar na porta do Pub, na esperança de ver alguns dos seus amigos combinando alguma outra surpresa na casa e assim que encontrasse com algum deles ela poderia alegrar-se um pouco nesse dia desastroso. A neve estava escorregadia, ela estava com botas até os joelhos e um sobre tudo cinza que a mantinha quente, de repente, olhando para o Pub, viu que saía pela porta principal um rapaz alto, cabelos castanhos curtos, vestia-se com calças jeans desbotadas, uma blusa vermelho-bordô de gola alta, jaqueta de couro, óculos escuros e um violão nas costas. Ela sentiu que faltou um pouco de oxigênio no cérebro, o mundo em volta ficou em câmera lenta, e a ferida na panturrilha começou a latejar compulsivamente.

-OH My Gosh! – Colocou a mão no peito com plena consciência que estava para ter uma parada cardíaca quando lentamente o sangue voltou a circular no seu corpo. Aquele, sem dúvidas nenhuma, era o homem mais perfeito que ela já havia visto na vida inteira. – Nos meus 21 anos completados hoje eu nunca vi um homem desses, meu Deus do céu, será que é ele que vai tocar no meu aniversário?

Finalmente algo significativo aconteceu naquele dia patético, Bia chegou correndo em casa animada, com vontade de ser a garota mais bonita da noite, sonhava que seria aquele cara que tocaria no seu aniversário, queria chamar a atenção dele.

Passadas algumas horas alguém estava na porta, desajeitada Bia corre para abri-la. Olha pelo olho-mágico e vê seus 12 amigos, do outro lado com garrafas de espumante e flores, todos homens, a profissão que Bianca escolhera lhe rendeu muitos amigos do peito e poucos namorados, por trabalhar em uma área praticamente restrita ao sexo masculino era encarada como um amigo e esquecida como mulher.

- Hello guys! – Enquanto abria a porta, abria-se também a boca de todos os amigos ao vê-la. Ela estava maravilhosa, como eles nunca haviam visto antes. Seu cabelo estava um negro brilhante, bem liso, caindo em seus ombros nus, em seu pescoço uma gargantilha com um pingente de gatinho feito em brilhantes, um vestido azul turquesa escuro caía perfeitamente definindo sua silhueta mostrando as curvas bem brasileiras de Bia, usava botas no tornozelo com salto agulha, tática para esconder o arranhão. Havia aprendido a se maquiar na tarde do dia anterior pelo Youtube, estava perfeita, com delineador escuro e batom vermelho, a pele era clara e uniforme, como um pêssego, suas maçãs do rosto estavam rosadas por causa do frio. Exalava Chanel nº 5 que aprendera a usar com a sua musa Marylin Monroe.

-WOW! BIA, VOCÊ ESTAR MARRAVILHOSSA GARROTA! - Disse Andy forçando um português recém aprendido com a amiga.

-Holy Crap! Bia, muy bonita, estás linda mi amor! – Concordou Carlos, um porto riquenho, amigo de Bia da turma do ano anterior, que havia feito tudo para ficar com ela.

-Você está doente Bia?! – Perguntou Greg, colocando a mão na testa de Bia como se estivesse verificando se estava com febre, e posteriormente aferindo a pressão com as pontas dos dedos indicador e médio no pulso dela.

-Não idiota! – Responde Bia dando um tapinha no ombro de Greg.

-CONGRATS BIA!!! HAPPY BIRTHDAY!!! – Todos gritam para saudá-la.

Bianca agradeceu todos de coração e ninguém se lembrou de perguntá-la como ela sabia que ia sair com eles esta noite.

~

Já eram 23:30 e todos estavam um pouco altos quando decidiram, finalmente, para a alegria de Bia, ir para o Pub. Por já estarem um pouco bêbados, resolveram não correr o risco de derrapar com o carro no gelo e foram a pé, a boate ficava a uma quadra e meia da casa de Bianca, foram andando lentamente, com as garrafas de espumante semi-vazias nas mãos sem coordenação e gargalhando muito no caminho. Uma pequena guerra de bolas de neve herdou apenas o cabelo do lado direito da cabeça da aniversariante molhado. Àquelas horas já haviam sido suficientes para comemorar o aniversário pra ela, e nem imaginava que a noite estava para começar.

Chegaram ao Pub e perceberam que a casa não havia sido fechada como foi combinado, eles resolveram abrir para o público, pois o cantor da noite estava causando uma grande repercussão na cidade, os donos não iriam perder este lucro. O ânimo dos amigos de Bia já estava muito alto, quase aconteceu uma agressão física entre eles e os seguranças, mas ela conseguiu apartar a briga e ainda conseguiu fechar a área vip ao lado do palco para comemorarem seu aniversário.

-Vamos garotos! It’s show time! – Bia entra na boate andando lentamente para verificar o local e dirigindo-se lentamente para a área vip, todos a olham e cochicham coisas, algumas mulheres por inveja, alguns homens por desejo. Ela sentiu-se um pouco constrangida e se escondeu em meio aos garotos. Chegando a área vip ela senta no sofá vermelho entre todos os amigos. Sua roupa e sua pele contrastavam com a cor do local, ela ficava ainda mais linda, seus lábios brilhavam um vermelho intenso lembravam balas de cereja em formato de coração, mascava lentamente e fazia bolhas de chiclete com a língua enquanto bebia taças de champanhe.

Faltavam alguns minutos para começar o show, parecia coincidência, mas a casa fez questão de não anunciar o músico da noite, só para deixá-la morta de curiosidade, os amigos dela não sabiam informar o nome do cantor, e também ela não teria como adivinhar o nome do rapaz que vira naquela tarde. Ela estava ansiosa, coçava a batata da perna que começava cicatrizar.

-Senhoras e senhores dentro de alguns instantes irá começar a tão aguardada apresentação da noite, aguardem! – Disse a voz no amplificador em meio ao som abafado de alguma música mixada no fundo.

Dançaram algumas músicas, beberam mais alguns drinks e após vários minutos agonizantes para Bianca, é chegada a hora.

- Um cantor admirado pelos homens pelos seus solos na guitarra e desejado pelas mulheres por sua beleza, veio de Connecticut buscar inspiração para suas letras aqui em Atlanta! Senhoras e senhores, com vocês, JOHN MAAAAAYER!!!

Aplausos vieram de todos os cantos do pub. Ele entrou tímido de cabeça baixa e segurava a guitarra pelo braço, sentou-se e acenou para platéia agradecendo a recepção. Estava vestido com calça jeans e camiseta preta básica deixando amostra uma tatuagem no antebraço direito, logo começa a tocar, dedilha alguns riffs de olhos fechados, a banda o acompanhava perfeitamente em um blues clássico.

Tocou mais alguns minutos e abriu os olhos, então viu que ao lado direito do palco havia um anjo sentado na área vip, involuntariamente abriu um sorriso direcionado a ela enquanto cantava uma canção denominada “Waiting The World To Change”.

Bianca não quis acreditar, ela arrepiava com a voz rouca de John, era um som tão agradável e sensível que a hipnotizou, por um instante achou que era um sonho, era mesmo aquele rapaz que ela havia visto à tarde. A pulsação estava desregulada, às vezes acelerava noutras parecia parar, ela suava frio, e havia momentos em que parecia que só existiam ele e ela naquele salão. Ela era muito cética, mas agora começara a acreditar em amor a primeira vista.

Ela não conseguia se mover, falar ou andar, nada. Completamente imóvel, em choque, como um coma, maravilhada, impressionada, achou por um momento que não conseguiria nunca ter a chance de chegar perto daquele homem, quanto mais ter algo mais.

Começa a tocar “I’m Gonna Find Another You”, uma lágrima escorre lentamente pelo rosto de Bianca, o aniversário dela estava acabando assim como o show. Ela desejava com toda fé que ele descesse daquele palco e cantasse só para ela, em seu ouvido, sussurrando com a voz rouca e doce.

-Muito obrigado e boa noite! – John agradece o show e sai lentamente do palco cumprimentando a platéia que estava próxima do palco. O DJ volta a tocar remixes de bandas britânicas. Meia hora se passa, Bianca desiste de esperar que ele saia do camarim e vá falar com ela, por que afinal ele faria isso? Não havia chances que aquilo acontecesse. Ela resolveu esquecer, passar por cima disso, e curtir o fim da noite com os sete amigos que sobraram acordados.

-A senhorita poderia me acompanhar, por favor? – Um segurança negro de quase 2 metros a aborda na área vip.

-Mas por quê?! O que eu fiz?! Estou só comemorando meu aniversário, poxa! Eu sei q estou um pouco bêbada, mas não estou fazendo nada fora do comum. Hey, mas que saco... Pra onde você está me levando?! Hey!!! Estou falando com você.. – Bianca cambaleia com as pernas e enche o segurança de perguntas enquanto o acompanha, ele permanece calado. Caminham entre os labirintos do pub quando ela observa a última porta do corredor entreaberta, uma estrela na porta escrita MAYER fez o coração dela disparar, na hora ela travou não conseguia mais andar, o segurança praticamente a arrastou para que entrasse no camarim.

-Oi! – Disse John com um sorriso leve no rosto.

-O-o-o-oi! – Responde Bia gaguejando.

-Tudo bom?

-Tu-tudo!

-Como você se chama?

-Bian-HIP-ca! Digo, Bianca! – Responde com um soluço herdado do espumante.

-Belo nome! Você é daqui mesmo Bianca?

-Errr.. ahm... não.... Sou do Brasil... – Sem jeito Bia esfrega as mãos de nervoso.

-Sente-se, não fica ai como uma estátua, relaxe!

-Ok, me desculpe!

-Não precisa se desculpar garota! Apenas relaxe, e diga-me o que uma brasileira veio fazer em Atlanta?

-Estudar, ahm... Estou fazendo pós-graduação.

-WOW! Quantos anos você tem?

-Eu tenho 21, hoje! – Sorri Bia.

-E está fazendo pós-gradução? Nossa você deve ser muito inteligente! E você se formou em que?

-Engenharia da Computação.

-Sério?! Nossa! Isso explica todos aqueles caras em sua volta, eles devem cair em cima de você não é?

-Arrr, não... Eu não costumo ser assim todos os dias. – Bia aponta para a roupa um pouco amassada.

-Ok, vou direto ao assunto. – John levantou-se e estirou a mão para que Bia se apoiasse para levantar. – Você é solteira?

-Err... sim! – Responde Bia, sem jeito, colocando o cabelo atrás da orelha.

-Ótimo! Você me acompanharia até um lugar que gosto de ir?

-Ahm... Claro!

Os dois caminharam para fora do Pub, os amigos de Bia e todas as mulheres da festa acompanharam com a cabeça eles saírem. Ao sair do local andaram vários metros pela rua úmida, conversaram muito, Bia nunca imaginou que teria tanto em comum. Pararam em uma lanchonete mexicana para comer algumas tortilhas.

-Onde você mora?

-Ali!!! – Bianca aponta para o outro lado da rua.

-Então você já conhecia essa lanchonete?

-Errr...Um pouco... – Na verdade Bia comia ali praticamente todos os dias, adorava o spanglish que os donos do restaurante falavam, e sempre os imitava, era um lugar colorido, cheio de chapéus mexicanos e luz de neon. Ela ria sempre com o Juan, o dono do local.

-¿Hola, bonita, como estás? –Disse Juan, na maior intimidade.

-¡Muy bien! ¿Y usted? – Respondeu Bia em um espanhol forçado.

-Então você conhece “um pouco” a lanchonete? – John pergunta já com um sorriso no rosto. – Enfim, já sei que não é mais uma novidade pra você esse restaurante então depois que comermos vamos para outro lugar.

Bia estava encantada, ia para qualquer canto que fosse se nele estivesse John, ela poderia passar dias e dias escutando ele falar e rir, o jeito que a voz rouca dele ganhava e perdia oitavas era maravilhoso, era doce. John estava abismado com a simplicidade e beleza de Bia, queria ficar com ela, do jeito mais infantil e carinhoso, de mãos dadas e selinhos a cada minuto, queria acima de tudo amá-la, sentir aquela pele aveludada esquentando seu corpo.

-Vamos? – Pergunta John ansioso.

-Claro! – Ela mais ansiosa ainda já levantando e vestindo o sobretudo.

John joga uma nota de U$50,00 sobre o balcão e ajuda Bia a se vestir, ambos caminham para fora da lanchonete se despedindo de longe em espanhol com Juan.

Atravessam a rua e Bia se pergunta para onde John a está levando, entram no prédio de Bia.

-HEY! Você está indo pra minha casa? – Bia questiona.

-Não, beautiful, estou indo para a minha casa! Hahaha...

-Como assim seu doido?

-Bia, eu moro no seu prédio! Hahaha... Não fica nervosa.

-Mas... mas... como assim? Como eu nunca te vi?

-Não tenho muito costume de ficar dentro de casa, saio muito para ver a rua, as pessoas, as coisas, para me inspirar para compor. Geralmente só entro para dormir, você provavelmente está em casa na hora que eu subo. Contudo, eu te vejo sempre. Todos os dias quando você sai para a faculdade e caminha até a parada de ônibus com as bolsas nos ombros prestes a deixar tudo cair. Hahaha....

-HEY, isso não é justo, você me vê sempre largada e meio-acordada meio-dormindo, não é justo.

-Te vejo sempre linda, Bia.

Nessa hora as pernas de Bianca pareciam não existir, John falara aquilo olhando dentro dos olhos de Bia, ela se sentiu hipnotizada, ele fez questão de deixar a voz falhar no fim da frase para que tudo ficasse mais lindo e perfeito, ela estava arrepiada dos pés a cabeça.

John tira lentamente um fio de cabelo sobre os olhos de Bia, ele aproveita para descansar sua mão sobre a maçã do rosto dela, a outra mão envolve carinhosamente a cintura e ele a puxa para perto do seu peito. As bocas se aproximam quase se tocam quando a porta do elevador se abre.

-Boa noite! – Diz a senhora de uns 70 anos do 14º andar que tinha problemas com gases.

- Boa noite! – Responde ambos encostando-se à parede do elevador o mais distante da senhora possível, querendo gargalhar Bia se esconde atrás de John tampando a boca no ombro dele.

Décimo - oitavo andar, a porta do elevador se abre os dois praticamente saltam pra o corredor fugindo do odor, ambos quase roxos, ou verdes de enjôo, porém rindo, como nunca riram antes. Como em algumas horas tudo podia ficar tão engraçado e perfeito, apesar dos fatos trágicos como o ocorrido dentro do elevador. Eles caminhavam lentamente no corredor enquanto John pegava a chave do apartamento. Quando entram, Bia fica abismada não acreditou que o tempo passou tão rápido, pois o dia estava amanhecendo pelas janelas iluminando todo apartamento, o mesmo era amplo, cheio de instrumentos, cases emicrofones, poucas paredes, tudo num tom pastel, alguns papeis escritos outros amassados forravam o chão e parte de uma mesa, a câmera retrô de 8mm sobre o sofá chama a atenção de Bia.

John entra tentando organizar alguns papéis, arrumar um pouco o apartamento típico de um homem, mas para um músico estava bastante limpo. Bia corre para o banheiro, estava apertada desde a lanchonete, chegando lá se depara com uma banheira, ela pensou seriamente em entrar nela, mas achou que seria muito inconveniente. Ao sair do banheiro ela observa John que coçava a nuca enquanto colocava algo em duas taças, a vontade dela era de sair correndo e beijá-lo, mas também achou que seria muito inconveniente.

-Oi, beautiful! – John diz virando-se em direção de Bia e esticando o braço junto com a taça para ela.

-Oi! – Apaixonada.

Ambos caminham para o sofá, lá eles conversam sobre as vidas de cada um, e um pouco da vida dos outros, mais uma vez riam até a barriga doer, entre uma dessas risadas e um silêncio oportuno John toma coragem e se aproxima do rosto de Bia. Em silêncio ela tocava o rosto dele como se quisesse verificar se aquilo não era um sonho, ou se ele era mais um fruto da imaginação dela, por fim, quando ele a beijou lentamente ela acreditou, eles estavam lá, se descobrindo.

Os lábios se encaixavam como se fossem feitos um para o outro, as línguas se encontravam ainda tímidas, abraçavam-se enquanto um despia o outro. Ele a pegou no colo deixando-a sobre a cama desarrumada, ali eles se amaram e caíram no sono agarrados.

~

-Bom dia, beautiful! – Disse John sentado em uma poltrona próxima à cama onde Bia acordava.

-Bom dia! Oh meu Deus, há quanto tempo está aí? – Disse enquanto coçava um dos olhos e prendia o cabelo num coque alto.

-Tempo suficiente para saber que você é tão perfeita que chega doer às vezes!

-Para seu bobo. – Ela olha o outro lado da cama e percebe que John fez panquecas com mel e chá de maçã. – Como você sabe disso?

-Isso o que?

-Meu café da manhã favorito. – Fala apontando às panquecas.

-Juan me disse que é o que você costuma comer todos os dias lá na lanchonete.

-Hahaha, você é doido sabia?

Ao acabar o café eles se amaram novamente e então Bia finalmente foi tomar banho na banheira, John aproveitou para pegar o violão e tocar a música que acabara de compor para ela.

Alguns dedilhados começam, o coração de Bia dispara, ela se questiona o que fez de tão bom a alguém que a fez merecer aquilo tudo, John começa a cantar vidrado no sorriso de Bia que se encontrava coberta de espuma.

A música parecia ainda mais bonita quando ela pensava na tradução em português, ela observou que algumas daquelas estrofes haviam realmente acontecido ou dito naquela noite. Ele conseguira transmitir todo o ocorrido em apenas uma música. Ela queria aquilo pra sempre.

“Temos a tarde toda

Você reservou este quarto para dois

Só tenho uma coisa a fazer é me descobrir

Descobrindo você

Uma milha para cada polegada

Da sua pele, que parece porcelana

Seus lábios doces como uma bala

E sua língua de chiclete

Se você quiser amor

Nós faremos

Nadar num mar profundo de cobertores

Reúna os seus grandes planos

E desfaça-os

Isso vai demorar um tempo

Seu corpo é o País das Maravilhas

Seu corpo é o País das Maravilhas (eu usarei minhas mãos)

Seu corpo é o País das Maravilhas

Tem algo no jeito que o cabelo que cai sobre seu rosto

Adoro vê-la engatinhar em direção ao travesseiro

Diga-me aonde devo ir e,

Mesmo que eu saia para ir lá

Nunca vou deixar sua cabeça encostar à cama

Sem minha mão para apará-la

Se você quiser amor

Nós faremos

Nadar num mar profundo de cobertores

Reúna os seus grandes planos

E desfaça-os

Isso vai demorar um tempo

Seu corpo é o País das Maravilhas

Seu corpo é o País das Maravilhas (eu usarei minhas mãos)

Seu corpo é o País das Maravilhas

Caramba, baby

Você me frustra

Sei que você é toda minha, toda minha

Mas você é tão bonita que chega doer às vezes

Seu corpo é o País das Maravilhas

Seu corpo é o País das Maravilhas (eu usarei minhas mãos).”

Ela terminou o banho e o beijou calorosamente agradecendo a música com os olhos cheios de lágrimas, vestiu-se com a roupa dele e eles voltaram para cama.

Aquele dia não terminaria ali, não existia mais ninguém no mundo além deles, naquele dia, não sairiam dali, se amariam por todo dia e toda noite. Sem dúvidas aquele foi o melhor aniversário que Bia teve, mas quem ganhou o melhor presente foi John.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.