Estou tão acostumado a estar errado, estou cansado de me preocupar
Amar nunca me deu um lar, então eu vou sentar aqui em silêncio

— Vá embora, Oliver.

Um sempre gritava e o outro devolvia na mesma altura – se não mais alto – um empurrava e o outro puxava para logo empurrar e ser puxado também. Era difícil, mas no final eles sempre acabavam se puxando, juntos.

Mas pela primeira vez enquanto puxava Jade não parecia disposta a puxar de volta.

Nem mesmo empurrar de certa forma.

Apenas deixar.

— Você tem certeza que quer isso mesmo?

Todos sempre apostavam que seria ele a desistir primeiro, mas pelo visto seria Jade.

— Você queria a sua paz, agora eu quero a minha.

Ele não conhecia aquele olhar ou se quer estava familiarizado com o gosto amargo da conclusão de que talvez dessa vez não houvesse mesmo uma volta quando tudo que tinha antes era pequenos términos que prometiam tolamente não retornarem, mas sempre o faziam de alguma forma.

Era assim que funcionavam em meio a toda conturbação da relação.

Não era saudável, mas era o que gostavam.

— Eu vou embora então.

— Feche a porta quando sair.

Erguendo a tela novamente a morena colocou os fones e tornou a digitar freneticamente. O gosto amargo se intensificou e ele saiu com a triste certeza que ela não o chamaria de volta.

Não dessa vez.

Quando alcançou o último degrau da escada pode encontrar o caçula West ainda desmontando algo novo que definitivamente já não era a panela e outra pessoa deitada no sofá.

Ryan West, o nome surgiu na mente no momento em que o rosto da rapaz olhou-o arqueando uma sobrancelha.

— Ele é o ex namorado da Jay?

— Sim – erguendo a cabeça Filipe também olhando-o por um ou dois segundos antes de se voltar para o primo dando de ombros – A julgar pela cara dele ainda continua como ex.

Filipe não estava sendo cruel, apenas explanando um fato constatado, porem, aquilo soou como verdadeiro soco para Beck.

— É por ai – soltou por fim, com as mãos nos bolsos da jaqueta, os olhos daquele parente que lhe era desconhecido o analisava mais do que poderia ser considerado educado – Eu já vou indo.

O West mais novo não o acompanhou ate a porta por estar entretido demais com suas coisas e Beck só pode agradecer a isso, palavras de confortos nunca viriam de Filipe, no entanto, quando estava do lado de fora em direção ao carro só pode ouvir alguém chamando-o.

Era um West, mas não Jade West.

O rapaz de cabelos escuros e olhos claros se aproximou segurando a jaqueta acima de um dos ombros e um olhar de deboche que só fez Beck questionar-se se este desconhecido viera apenas para jogar sal em sua ferida. Se esse fosse o caso a ex certamente ficaria irritada com ele por esmurrar a cara de um parente querido dela.

— Conhece alguma pizzaria boa? Eu sou Ryan, primo da Jade. Como não sou da cidade não conheço muitos lugares.

Jade apenas entraria no carro dando ordens.

— Entra que eu te levo em uma.

~&~

Os fones nos ouvidos deitada na cama com os pés apoiados na parede acima da cabeceira Jade não viu a porta do quarto ser aberta e o primo passar até sentir o colchão afundar e um travesseiro ser puxado para acomodar a cabeça do rapaz que a olhava com um pequeno ar de curiosidade.

Uma das sobrancelhas da morena arquearam, removendo os fones esperando, mas o primo não disse nada por tempo suficiente para irrita-la.

— Por que esta aqui?

— Comprei pizza, vim te chamar para comer.

— Estou sem fome.

— Por causa dele? – o silêncio fora a brecha para Ryan continuar – Filipe presumiu que do jeito que o cabeludo caiu daqui vocês não conseguiram reatar. Você não gosta mais dele?

Os olhos da West foram para o teto, os braços rodeando o corpo e um suspiro deixando os lábios.

— Acho que estou percebendo que apenas gostar já não é suficiente.

— Se fosse suficiente muitos relacionamentos não acabariam tão rápido quanto começam. Por isso meus relacionamentos deram errado.

— Seus relacionamentos deram errados porque você tem um puta dedo podre pra mulher!

— O seu também não é dos melhores – um pequeno silêncio se instalou no cômodo, azul contra azul. Nem mesmo o grito de Filipe os chamando do lado de fora suficiente para distrai-lo mesmo que momentaneamente – Vai defende-lo como fez naquele dia?

— To’ mais afim de socar a sua cara do que defender ele.

Um sorriso se apoderou do rosto do rapaz com tais palavras e até foi correspondido por um de Jade. Uma das pessoas que mais a ensinara a ser cruel jamais teria medo dela.

— Esta entregando as fixas?

— Talvez. Estou mais preocupada em organizar minha cabeça agora.

— Isso é bom – Ryan pegou o fone brincando com a dobradura que o objeto permitia – Uma vez uma pessoa me falou de um ditado chinês; “Pessoas arrumam os cabelos todos os dias. Por que não o coração?”. Achei extremamente ridículo quando ouvi na época, mas acabei gostando com o tempo.

— Ele não combina com você.

— Não combina mesmo – Ryan deu de ombros – Mas combina com você. Se você acha que dá para consertar alguma coisa e vale a pena, apenas faça, se não, apenas siga com a consciência leve de que fez o que pode e não precisa se arrepender de nada.

— Não quero sair daqui correndo atrás dele como sempre fiz.

— Então não faça. Por agora vamos apenas comer e ver se o Filipe conseguiu remontar aquela panela e fazer uma sessão de Sexta-feira 13.

~&~

Ele esperou pacientemente por um ligação dela todo o final de semana, não aconteceu. Até mesmo os pais dele fizeram comentários estranhando o tempo prolongado do termino, a mãe quis comemorar o fato, mas o pai a impediu e Beck agradeceu muito por isso. As coisas já estavam incomodas o suficiente.

Quando a segunda-feira chegou e a primeira vez que a virá ela estava arrumando as coisas no armário enquanto ele era atormentado pelo pedido de uma colega de classe pedindo ajuda em algo e oferecendo seu número para que pudessem manter contato com maior facilidade.

Jade não o cumprimentou e apenas se foi quando alcançou tudo que precisava.

— Copie o que precisar e depois me devolva quando der – disse estendendo o caderno de capa cinzenta, em outras situações ele pegaria o papel para jogar fora logo depois, mas pela primeira vez ele não viu sentido no ato de gentileza desnecessário, para não dizer falso.

— Beck.

Ele ignorou o chamado fechando o próprio armário e apenas seguindo para o andar de cima.

Cat não passava mais tanto tempo com o grupo quando Jade não estava mais com eles e com desgosto ele pode ver a morena dialogando com alguém de modo que não parecia que veria aquele ser humano contando os segundos para sair correndo de perto da garota.

— Devemos torcer pra Jade começar a namorar aquele individuo sem amor à vida e talvez nos deixar em paz? – André ponderou com os braços cruzados sobre a mesa metálica onde assistiam o desenrolar de um dialogo entre a colega assustadora e o rapaz.

— Se isso acontecer abortamos o plano do Japão – Robbie acrescentou – Lá se vai meu plano de viver de yakisoba e lámen.

— Você não duraria um mês lá, cabeçudo – Rex alfinetou.

— O que você acha disso, Beck? – Tori questionou notando o silêncio do amigo.

O rapaz riu estendendo o caderno para a morena que fez uma careta ao ler o que estava escrito ali falando algo que Beck supôs ser algum comentário ácido para abalar o colega, não abalou, porque ele ainda continuou sorrindo comendo salgadinhos apimentados que Beck sabia serem os favoritos da ex. Ele próprio tentou comer, mas não aguentou e ela riu e fez piadas por longos minutos sobre a falta de resistência dele. Foi irritante, mas as risadas dela fizera valer a pena o momento.

— Não vai dizer nada, Oliver.

Beck não reconheceu a voz de primeira até virar-se para ver quem havia falado e encontrar o rapaz de estilo rockeiro dividindo a atenção entre olhar para as pessoas ocupando a mesa e a outra mesa onde a prima estava. Uma das sobrancelhas arquearam quando a atenção se demorou mais sobre Beck, esperando.

— Te conhecemos amigo? – André soltou com uma pitada de incerteza que Beck supôs provir da mentira porque as chances dos amigos conseguirem reconhecer Ryan eram grandes.

Ryan deu de ombros.

— Beck me conhece. Eu vim por ele.

— Mano, isso soou meio estranho.

Internamente Beck concordou com André.

— Senta ai.

— Melhor não – os olhos de Ryan vagaram pelo lugar – Vamos dar uma volta que precisamos conversar... em particular.

Ele poderia dizer não ou insistir em conversar aonde estavam, mas guiando-se pela curiosidade Beck apenas juntou a mochila e se levantou seguindo o West e ignorando os olhares preocupados que tomava conta das faces dos amigos, mas ele conseguiu ouvir uma última frase ser proferida por André enquanto se afastavam.

— É hoje que o Beck vai pra pancada.