Paulina e os filhos ficaram na cama até o horário do almoço se aproximar. Quando seus estômagos roncaram pedindo comida, para a alegria das crianças, Paulina variou. Pegou o celular e discou o número da Pizzaria. Paulinha e Gabriel estavam eufóricos por saberem que passariam o dia todo com a mãe. Desde o divórcio de Paulina e Carlos Daniel, ela sustentava a casa e os filhos sozinha. Com uma enorme insistência de vovó Piedade, quando Paulina saiu do hospital, a convenceu de pagar uma casa para ela. Mesmo Contrariada, acabou aceitando por seus filhos. Não mereciam passar trabalho com ela. Rapidamente conseguiu um emprego, e duas semanas depois conheceu Manuela. Manu havia herdado uma pequena fortuna dos pais. Tinha de investir em algo, mas até o momento, não achava nada de seu gosto. Em uma tarde de sol e beira-mar, Manu contou seus desejos a Paulina e ela fez o mesmo. A noite brindaram com suco de laranja o inicio de um futuro promissor.

Naquele dia, Paulina e as crianças comeram as pizzas jogados ao chão da Sala. Ali passaram a tarde. Jogaram tabuleiro, cantaram, e Gabriel que agora aprendia violão cantou e tocou para a mãe. Entre as diversas brincadeiras, Paulina até arriscou jogar Videogame com eles, mas acabou perdendo todas. Passava das quatro horas da tarde, Paulina lia para as crianças que a escutavam atentamente. A campainha tocou interrompendo o momento belo.

–Eu abro! –Gritou Paulinha levantando-se do tapete com velocidade e correndo até a porta.

Gabriel rastejou até a mãe e deitou a cabeça em seu colo.

–Te amo mamãezinha. –falou baixinho.

–Meu amor, também te amo, meu príncipe.

–Papai! Gritou Paulinha fazendo Gabriel correr até a porta também.

–Pai! –o abraçou junto a Paulinha.

Paulina não acreditou no que ouvia. Carlos Daniel estava ali, em sua frente. Estava ali. Levantando-se como um furacão, ajeitou o short do pijama e caminhou com pressa pelo corredor.

–O que fazes aqui? –Disse séria com os braços cruzados.

–Oi Paulina. –Aquela boca com dentes perfeitos entregou-lhe um belo sorriso.

–O q-que queres? –tentava manter a postura, mas sua voz a entregava.

–Vim ver nossos filhos. –Abaixou a cabeça olhando para as crianças que permaneciam agarradas a sua cintura.

–Primeiramente: -Ergueu a mão. –Deveria ter ligado antes de...

–Eu Liguei! –seu sorriso desapareceu. –Liguei infinitas vezes. Você nunca atendeu. –Sua voz enfraqueceu.

–Eu não vi nenhuma chamada. –Sua voz foi convincente.

–Deixei inúmeras mensagens. –Continuou.

Bem, sim. Ela tinha de admitir que não havia olhado sua caixa de entrada com frequência. Era o trabalho, as crianças, Juan... eram tantas coisas.

Sem pedir licença alguma, Carlos Daniel caminhou pela casa como se conhecesse cada canto dela. As Crianças estavam agarradas a ele. Paulina ficou sem fala quando as crianças levaram ele para conhecer o restante da casa. Após o tour pelo primeiro andar, subiram as escadas enquanto Paulina os seguia mais distante.

–Aqui, o quarto da mamãe...

Paulina nem teve tempo de Dizer nada, e Paulinha e Gabriel já tinham arrastado Carlos Daniel para dentro do ambiente. O quarto era um ambiente espaçoso de tons claros. Em uma janela de vidro, cortinas florais em rosa claro e bege deixavam o ar de “Paulina” no local. Abaixo, uma penteadeira branca de época. Na parede oposta de cor rosa claríssimo, a Cama completamente desarrumada pela festa do amanhecer. Ao lado da cama, um criado mudo com um abajur de cúpula igual as cortinas. O chão era de uma madeira escura envernizada. No centro do quarto, um tapete felpudo rosa claro. O quarto tinha exatamente a cara dela. Louca de raiva, encostou-se a porta com os braços cruzados. Carlos Daniel olhava tudo com atenção. Em uma das paredes, um quadro de aproximadamente 40cmx90cm, era preenchido por uma foto dela sobre uma cama, deitada com a cabeça jogada para trás.

–Linda fotografia. –Falou ele com um sorriso virando-se para ela.

–Obrigada, foi presente de Manuela. –Baixou o olhar.

–Manuela? –Perguntou interessado.

–Grande amiga e sócia na agência. –Respondeu fechando o semblante.

–Ah, sim. –Murmurou ele.

–Ali é o closet da mamãe, e ali o banheiro. –Apontou Gabriel para os cômodos.

–Olhe! –Disse Paulinha correndo para a porta do closet.

–Paulinha, não a... –Antes que Paulina concluísse a frase, os três já estava lá. Carlos Daniel olhava encantado as coisas de Paulina. Nas araras de roupas protegidas por um vidro, ele observava cada peça com atenção... Principalmente as rosas.

–Não mudou nada. –Disse ele apontando um vestido rosa.

–Deveria ter mudado? –Ironizou ela parada no centro do quarto.

–Uau! –Ergueu as mãos em rendição. –Foi só um comentário! –Disse fazendo cara de ofendido.

–Mamãe! –Gritou as crianças pedindo para parar.

–Arg! –Bufou ela saindo a passos largos do quarto. –E não ousem mostrar meu banheiro! –gritou do corredor.

Paulina sentou-se no sofá remoendo-se de raiva. Como ele podia aparecer ali, assim? Bem, ele podia. Era o pai dos seus filhos e além do mais, ela tinha de admitir, o homem da sua vida. Quando ouviu as conversinhas e risos deles voltando para a sala, pegou uma revista sobre a mesinha e fingiu ler.

–Sua casa é linda. –Sorriu para ela. –Tudo aqui lembra você. –mudou o semblante. –Exatamente tudo. –murmurou.

–Obrigada. –Murmurou sentindo o rosto corar.

–Importaria se eu levasse as crianças para um sorvete? –Perguntou.

–não, sem problemas. Que horas voltaria?

–Bem, -olhou para o relógio. –Agora são 15:12hrs. Estaria bom lá pelas 18:00hrs?

Paulina fixou o olhar no punho de Carlos Daniel. O Relógio. Tinha sido presenteado por ela no ultimo aniversário dele enquanto estavam casados.

–T-tudo bem... eu vou dar uma volta.

–Não gostaria de ir conosco? –Sorriu.

–não seria uma boa ideia. –Seu rosto corou completamente.

–Ah, vamos mãe... o que custa? Faz tanto tempo que não podemos ficar com o Papai, e a senhora anda trabalhando tanto... vamos mãe?

Paulina sentiu uma faca atravessar seu peito. Sentiu-se tão culpada por ficar tão pouco tempo com as crianças. O trabalho estava ocupando um grande espaço do seu dia, era uma maneira de amenizar tantos pensamentos.

–Desculpem meus amores, -Disse Paulina olhando as crianças. –Mas hoje não...

–Ah, Mãe... por favor... –Pediram com uma carinha triste. –Mãe...

–Amores, não... Tenho alguns catálogos para preencher, e um logotipo para desenhar...Ligarei para a Manu vir pra cá... Outra hora saímos, ai levamos a Luiza também, ok? –Aproximou-se acariciando os cabelos de Gabriel.

As crianças acenaram em concordância.

–Qualquer coisa, liguem, ok?

–Eu irei cuidar bem deles querida. –murmurou colocando uma mecha de cabelo de Paulinha atrás da orelha.

–Eu.. eu.. eu sei. –Ficou vermelha.

–Então vamos? –Perguntou ele com um sorriso para as crianças. As crianças sorriram de volta. Paulinha e Gabriel correram para a porta. Carlos Daniel permaneceu no mesmo lugar. O Olhar deles se chocaram. Paulina congelou no lugar em que estava. O som das batidas de seu coração começaram a ecoar em sua mente. Latia cada vez mais acelerado chamando pelo nome do amado, que agora, estava em sua frente.

–Fiquem bem, -Murmurou ele saindo da sala sem deixar de olha-la.

–Ficarei. –Respondeu com a voz embargada.

Paulina sentou-se no sofá e ali ficou por um bom tempo. Seus pensamentos eram dispersos, ela estava mais confusa do que nunca. O som do celular tirou ela de seus devaneios. Levantando sofá em um salto, correu até o celular, ao olhar na tela, a foto dela com Manuela na beira da praia, usando óculos escuros e chapeis. Sorriu ao olhar a foto e atendeu ao celular.

–Paulina Martins, designer de propaganda, boa tarde... –Brincou.

–Ah Paulina! –Riu. -Hoje é sábado! Vamos sair?

–Você esta louca? Temos que ver aqueles catálogos... –Falou séria.

–Pelo Amor de Deus Lina, é sábado! Sábado! –Berrou aos risos.

–Onde você esta? –Perguntou curiosa.

–Naquele bar dos drinks doces que você adora. Pelo menos algo com álcool você gosta né? –Debochou.

–Arg, sem graça isso. –Riu. –Hey, venha para cá... tenho que fazer aquele logotipo ainda esse final de semana. Venha e traga 2 drinks pra mim. Temos que conversar, e preciso deles...

–Ai ai ai, o que houve?

–Advinha que acabou de levar Paulinha e Gabriel para tomar sorvete? Acabou de conhecer toda a minha casa, até meu quarto, como se fosse... sei lá...

–Ai Meu Deus... Quem? –Falou eufórica.

–Adivinhe! –Riu debochada.

–Sei lá... fala logo...

–Nada mais, nada menos, que Carlos Daniel Bracho. –Falou seria.

–O seu ex-marido lindo e gostoso!? –Berrou.

–Manuela! –Gargalhou. –Eu sei que ele é lindo. –tentou conter o riso.

–Dormiu com ele hoje? –curiosa.

–Manu! Não! Nós mal nos falamos, e tenho tantas coisas pra te contar...

–Ok! Sem mais! Eu estou indo pra sua casa agora, e vou pedir praquele barmen lindo e loiro uma garrafa daquele drink.

–Ok! –Riu. –Te espero.

Paulina desligou o celular e caminhou até seu escritório. Sentando-se atrás de sua mesa de vidro fosca, Pegou tudo o que precisava e se pôs a fazer o logotipo. Mesmo com um milhão de coisas em mente, o desenho estava ficando perfeito.

–Sábado! –Gritou Manuela encostada a porta com uma garrafa de vidro em mãos. Paulina deu um salto da cadeira.

–Droga! Quer me matar!? –Falou com a voz acelerada. Manuela caiu em gargalhadas.

–Ainda não, mas quem sabe um dia, né? -Ficou seria fazendo uma cara maligna.

–Cruzes Manu! –Paulina ficou séria. Manuela riu ainda mais.

–Vamos beber! –Gritou erguendo as mãos pro alto. –Aqui ou na copa?

–Aqui.

–Vou buscar os copos de whisky, pode ser? –perguntou ainda na porta.

–ótimo! –Disse Paulina batendo palmas.

Paulina sentou-se em uma das poltronas do escritório e colocou os pés sobre a mesinha de centro. Manu retornou com a garrafa e os copos em mãos. Manu serviu os copos e entregou um a Paulina. Ela sentou-se como a amiga e resolveram colocar o papo em dia. Depois de Manu contar a maravilhosa noite que teve com o entregador de vinhos, fazendo Paulina cair nas gargalhadas, Ela ficou séria de repente e Manu a olhou com um olhar questionador. Após contar a amiga tudo sobre o jantar na noite anterior e sobre a aparição de Carlos Daniel em sua casa, e a visita dele em seu closet, dedicou-se a rir com a amiga e beber um pouco.

–Lina, você recebeu o Carlos Daniel assim? –Tentou conter o riso apontando para o pijama.

–Sim. –murmurou.

–O Que! Não consigo acreditar! Você esta maluca? Como pôde recebê-lo assim? De Pijama! –Berrou levantando as mãos.

–Primeiramente, eu nem tive tempo de pensar. Quando percebi, ele já estava em minha porta e logo passeando pela minha casa. Em Segundo Lugar, ele já me viu de tantos jeitos. Fomos casados 10 anos. De Pijama é o de menos. –Tentou justificar.

–Ah não. Vamos lá! –Manu levantou do sofá feito um furacão. Agarrando Paulina pela mão, subiu as escadas quase arrastando-a.

–O que você vai fazer? –Perguntou perdida com tanta movimentação.

–Você, agora, chuveiro! –Apontou para o banheiro.

–Manuela, não...

–Sem mais Paulina! Agora. Vamos, vamos, ainda quero fazer seu cabelo... vamos logo.

–Arg! Como você é chata! –Bufou levantando as mãos fechadas.

–Eu sei, agora vai! –Exclamou.