Bem, o que dizer de ontem? Se eu pudesse resumir em uma palavra seria: Alivio. Senti-me bem mais leve, depois daquela tarde, parecia exagerado dizer isso, mas aquela pequena tarde que desabafei com Ethan, te me deixado melhor, adormeci analisando cada uma das palavras ditas ao diário. E acordei super atrasada, perdendo o primeiro horário. Tive que implorar para a porteira da escola, me deixar entrar.

Quando consegui, meus colegas estavam na aula de educação física, mas eu não era a única a chegar atrasada. Cruzei no corredor com Ethan e Lisa de mãos dadas, como já era de se esperar nem um “Oi” sequer. Não que Ethan precisasse me cumprimentar, na verdade ela estava mais do que certo, as pessoas daquela escola não podiam nem sonhar, o que estava acontecendo.

Fui direto para o banheiro feminino, troquei a calça por um short, e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, e segui em direção ao ginásio. Meus colegas pareciam já estar formando os times.

Esse não era um bom sinal. Por que eu sempre me dava mal em escolhas de times. Ninguém me escolhia porque eu era uma péssima jogadora.

Elisa, nossa professora, estava com uma bola na mão, ela tinha cabelos castanhos ainda mais escuros que o meu, tinha um corpo bonito, e tinha filhos. Da pra acreditar? Ela então me viu entrando.

–Clara, fique nesse time. –Elisa apontou, para o time onde Rebeca e Beatriz estavam. Até aí tudo bem, até eu vê quem estava no outro. Verônica.

Verônica, não era aluna da nossa turma, era gordinha de um jeito estranho, a quem diga que não sabe se ela é menino, ou menina. Ela nem estudava na nossa escola, ela só vinha aqui, para participar das aulas de educação física, por um dos dois motivos: Ela gostava de bater na gente, ou Elisa obrigava ela vir por que nossa humilde professora gostava de ver sua turma levando boladas.

Enfim, quando isso acontecia, ela sempre marcava uma de nós- Rebeca, Beatriz e eu- Estávamos fritas!

Os dois times foram cada um para os respectivos lados, fiquei tentada a sair correndo quando Elisa gritou que era queimada. E a bola estava na mão de Verônica. Ela deu um sorriso maldoso, para ninguém em particular, era isso que eu tentava acreditar.

A última coisa que vê, foi à bola vinda em minha direção. A bola acertou minha cara - literalmente minha cara - e tive certeza o porquê do nome daquele jogo idiota.

Continuei deitada, tive vontade de xingar Verônica, Elisa, todo mundo. Meu rosto deveria estar vermelho sangue. Um rosto então apareceu, meus olhos estavam só meio abertos, mas era Ethan.

–Esta bem? –Ele estendeu a mão direita, com muita relutância aceitei.

–Na verdade não. –Agora eu estava de pé, me senti um pouco tonta, mas não disse nada. –Meu rosto esta queimando.

Ouvi as risadas de todos. Elisa finalmente deu o ar da sua graça.

–Parem todos. –Ela ordenou. –Clara, se quiser pode sair.

Entendi aquele “sair”, como uma ida ao banheiro. Bem o dia seria horrível hoje, quando meu dia começa assim pode saber que vai terminar assim.

Lavei o rosto e olha! Eu estava certa, vi no espelho o lado esquerdo da minha bochecha vermelho. Entrei no banheiro, abaixei a tampa do vaso e limpei com papel higiênico. Sentei e deu uma longa respirada. A minha frente milhares de nomes escritos na porta.

Érica é uma vadia. Carol e Bruno se amam. Vitor é gato. Enfim, coisas que só um banheiro de escola tem.

Tentei pensar no que eu iria dizer para Ethan hoje, já que eu estava de bobeira. Provavelmente se ele não tivesse visto minha lastimável bolada na cara, seria algo que contaria a ele. Algo que achei bem interessante foi ele ter me levantado do chão, ao em vês de Rebeca e Beatriz, ou a professora Elisa. Foi como milhões de pessoas moram nessa cidade, Ethan foi o primeiro a aparecer. Trinta pessoas naquele ginásio, Ethan teve a elegância de me ajudar.

Bem, minha conclusão resulta que preciso de amigos como Ethan.

Eu poderia dizer a ele o quanto não entendo Verônica, que acho uma palhaçada ela implicar comigo, Rebeca e Beatriz, fala sério! As patricinhas que são as vilãs das historia? E sinceramente não mereço estar nesse grupo já que não sou uma. Espero que depois disso, professora Elisa estabeleça regras para Verônica, como “Você não deve pegar pesado só com as patricinhas, mas também com os invisíveis e os populares por sua simpatia um exemplo Ethan, Lisa e Rafa”.

Agora lembrando sobre o diário, poderia contar também sobre o sonho que tive.

Simplesmente era um jardim, todo lindo, a primavera em questão, eu estava com um vestido rosa, e lembro que fiquei muito nervosa com isso. Uma coroa de diamantes o que me faz uma princesa, e adivinha. Eu era uma princesa e eu estava rodeada de elfos, fadas, anões - tipo os da Branca de neve – animais pequenos e fofos. Só que não, isso não era fofo.

Acordei só uma frase veio a minha boca “Que diabos foram isso?”. Preferia ter sonhado com o bicho papão correndo atrás de mim, aquele sonho foi um... Nojo. Para consertá-lo eu colocaria um vestido azul curto, a coroa jogaria no lixo, fadas e todas as criaturas fantasiosas iam se trocadas por cavalos, simbolizando o cavalo que eu nunca tive. Sempre pedi para meu pai um, ele sempre dizia não. O único não que já recebi do meu pai.

Resolvi trocar o short pela calça, apesar de não ter a mínima vontade de voltar para a turma. E já que eu estava de bobeira, peguei uma caneta e resolvi escrever algo na parede.

Hum... Que tal... “Sou muito mais que isso!”

E assim fiz, enfeitando com algumas estrelinhas, que ficaram bregas pra caramba.