Patricinha? Será?

O mundo é confuso.


Ethan me fita com um olhar estranho, como já era de se esperar, mas uma vez não sei o que quer dizer aquilo. Tudo bem, que dessa vez eu fui longe demais. O que Ethan diria a Lis, quando todos soubessem que estamos estudando na mesma escola.

–Você quem sabe. –Ethan responde dando de ombros. –Não posso te dizer “Não você não vai por que eu não quero".

–Isso é um sim? Digo: Você tinha proibido Lis e eu sermos amiga, por mais estranho que isso vai ser...

–Não é um sim. É “tanto faz”. –Ethan explica me interrompendo.

–Mas eu quero saber a sua opinião. Certo que quando Lis e eu éramos amigas... Você veio com aquela história. –Suspiro fazendo uma pausa, Ethan me ouve atentamente. –Então quer ou não quer que eu vá?

–Eu disse tanto faz. Esta tudo bem se você for. –Ethan diz meio que indeciso.

–Ta. Vou cuidar disso. –Respondo, não acreditando que Ethan concordou com mais uma das minhas maluquices.

Naquele mesmo dia consegui transferir minha matrícula, não foi fácil pegar autorização com minha mãe. E tive que dar uma desculpa para antiga escola. Mas o pior estava por vir.

–Oi. –Ethan atende ao celular, é domingo. E já esta escurecendo enquanto eu andava no condomínio, buscando ar puro.

–Oi, alguém já sabe que estamos na mesma escola? –Pergunto a Ethan.

–Todo mundo. Rafa desconfiou de começo, acho que ele continua, mas eu jurei que tinha sido coincidência. O mesmo para Lis, ela queria mudar de escola junto comigo. Mas a escola dos seus irmãos ficaria muito longe para pegá-los, mas pra ela esta tudo bem.

–Espera... Depois nos nós falamos. Não acredito no que eu estou vendo. –Desligo o celular, Ethan parece estar curioso, mas só se despede.

E o que eu estava vendo? Ainda estou... Edgar e Rebeca. Sentados na calçada dois metros da casa dele, seus rostos estão quase colados, prestes a se beijarem. Já vi aquela cena milhares de vezes, Rebeca sempre faz o mesmo: Primeiro passo; conquiste o cara, segundo; na hora do beijo faça com que ele deseje e pergunte apenas com olhares coisas que só “bad girl” fariam: “Você me merece? Pois a milhões que desejam isso

Isso é bem a cara dela, teorias que a mesma inventou. Mas não eu não deixaria isso acontecer, me aproximo dos dois que estão encarando um ao outro que nem me percebem.

–Olha o que temos aqui! –Quase grito no começo, mas gosto disso. Os dois saltam e me fitam sem saber o que esperar. Os olhares são mais confusos do que o meu quando os vi. –Uma “ex” amiga...

Sim, eu retiro o que eu disse há algumas semanas atrás, não amo essas “duas amigas” coisa alguma. Rebeca e Beatriz que se danem, cansei!

–... Temos também um “ex amigo” um “quase” alguma coisa. –Continuo, fazendo aspas com as mãos fitando Edgar.

–O que foi agora, Clara? –Rebeca me pergunta, ainda não sei como responder essa pergunta, é muito cinismo da parte dela.

–Garota se toca! Edgar e eu estávamos saindo. –Digo, enquanto noto uma risada do meu lado, e quando me viro é Edgar. –O que esta rindo? Não precisa responder, só continuem de onde...

–Esta com ciúmes? –Ele me interrompe, com a pergunta que me faz engasgar.

–Não. –Digo, na verdade eu não sei, foi um pouco da raiva do momento de ver Rebeca fazendo tal barbaridade, depois de ver o jeito que estávamos, se bem que ficamos bem afastados depois.

–O que é então? –Pergunta Edgar. Em outra ocasião eu teria ficado boba com seu sorriso lindo.

–Não é ci... –Começo.

–Tudo bem eu já entendi. Vou embora. –Conclui Rebeca.

–Calada! –Edgar se vira para ela. –Agora diga Clara?

–Não tenho nada a dizer continuem de onde pararam. –Digo e começo a andar rápido, rumo a minha casa.

Mas em poucos minutos, Edgar me alcança.

–Dá pra esperar? –Ele pergunta, mas continuo a andar. Ele então segura meio braço me obrigando a parar. Suspiro, porque isso já esta me irritando. –Agora olha para mim.

Eu olho mais me arrependo. Edgar esta rindo, mas faço a minha melhor cara de raiva, depois riu percebendo que a cara de raiva remete a ciúmes.

–Eu disse que esta tudo bem, pode voltar para Rebeca. –Digo, mas quando olha para trás ela não esta lá mais. Volto-me para Edgar, que parece não estar nem por Rebeca ter ido embora.

–Sério mesmo? Estava com ciúmes... de mim?

–Não é... –Começo a falar, mas Edgar mantenham o sorriso que quer dizer “não acredito em você”, por isso desisto.

–Isso não é motivo para se envergonhar. Na verdade, faz tempo que não me sinto tão feliz. –Edgar me olha sem desviar. –Só estava com Rebeca porque pensei que você não queria nada comigo, estava tão longe.

–Eu longe? Eu não estava longe. –Digo sabendo que isso é uma grande mentira, mas estou tão chocada com essa situação, porque estou prestes a receber uma declaração posso ver nos olhos de Edgar.

–Se eu tivesse percebido que estava me levando a sério... Eu nunca teria feito isso, por que eu realmente gosto de você. –Edgar diz. –Gosto tanto, que não quero mais ser seu amigo. Se é que me entende. O que me diz minha Clara?

E o que você diz, Clara? Repeti três vezes em minha mente. Na verdade acho que nunca vi o amor de perto, o que sei é que sabemos quando é amor, de algum jeito saberemos. O que eu sentia por Edgar poderia se tornar “amor”?

Só vendo pra saber.

Não pensei muito, o que me preocupava. Mas em poucos minutos surpreendi Edgar. Eu não disse: Não ou sim, apenas o beijei. Não foi o que chamamos de um beijão ou beijo de cinema. Foi delicado, tinha ternura, era leve e doce. E eu gosto disso, não é como se eu ficasse agitada e minhas pernas tremessem, mas prefiro não me lembrar dessa sensação, dessa confusão que tive com Ethan. Com Edgar eu não estava oscilando entre os sentimentos.

–Presumo que isso seja um sim? –Edgar me diz sorrindo.

Volto para casa, isso pode parecer estranho, mas já me sinto diferente. Fala sério, senhorita Clara? Só por que agora tem um namorado precisa agir assim? Riu sozinha enquanto entro no meu quarto, está escuro, mas mesmo assim não acendo a luz. O escuro, eu amo o escuro, por mais incrível que pareça a sensação que o “nada” provoca em mim, faz com que eu pense ou aja sem vergonha alguma. E isso que eu faço; primeiro penso em como namoradas devem agir, eu não sei como ser uma boa namorada, nunca fui uma para saber. Ótimo! Agora pareço uma idiota, e é para isso que serve o escuro. Agora preciso comemorar minha felicidade; no escuro. Dançando.

A melhor parte de e dançar no escuro, e que você pode mexer seus braços sem nenhum ritmo e jogar sua cabeça para trás e para frente sem nenhuma sincronia com os pés, até por que os pés devem ficar quietos, escolher um lugar onde não tenha nenhum móvel para evitar acidentes. Isso sem nenhuma vergonha acredite que até mesmo Deus não está te vendo. E desligue o celular, ou pode se assustar como eu agora.

A tela do celular se acende com um barulho de mensagem. Ethan.

TEM CERTEZA, Q QUER ESTUDAR NAQUELA ESCOLA?

Respondo: CLARO, DIÁRIO.

{...}

A escola era como qualquer outra. Os corredores, os banheiros -masculino e feminino- as salas de aula, diretoria, biblioteca, quadra da educação física, os alunos que pareciam figurantes aos meus olhos... Só havia algo que estava diferente.

–Que tal tentarmos sermos os figurantes. –Digo para Ethan.

Ethan, ele era o “diferente”, aqui andávamos lado a lado, como se fossemos amigos desde crianças, e um só se mudou para cá por causa do outro.

–Boa ideia. –Ele diz seus olhos concentrados nas portas, procurando a nossa classe. Ethan encontra, eu então o sigo.

Nós vamos parar nas últimas carteiras, o famoso “fundão”. Ethan senta do meu lado na outra fila, me deixando no meio, olha para outro lado e percebo um garoto que esta tão concentrado em seu celular que só pode ser um escravo da tecnologia; alto, magro, olheiras abaixo dos olhos como se fosse sombras do próprio olho, cabelo castanho claro bagunçado, e aparenta ter quatorze a quinze anos, mas que provavelmente tem dezesseis como eu.

Ele percebe que estou o encarando, e ergue as sobrancelhas. Não é feio, talvez uma boa noite de sono resolva o problema. Ele olha para além de mim, o que parece ser Ethan.

–Ótimo. –O garoto diz com um sorriso sarcástico. –Sejam bem vindos ao inferno que um gênio resolveu chamar de escola. Sou Pedro.

Olho para Ethan, que esta rindo do menino, quase como se dissesse “ele é um cara legal, posso ver”.

–Sou Ethan. –Ele se apresenta. Os dois olham para mim, então percebo que Pedro quer saber meu nome, mas seu rosto diz “Se não quiser, não to nem aí”.

–Clara. –Digo o que soa quase como uma pergunta.

–Aqui é permitido celular? –Ethan pergunta a Pedro.

–Claro que não! –Pedro arregala os olhos e olha em volta enquanto guarda o telefone. –Só que ninguém vai dizer que pode.

–Bom dia, classe! –A professora entra com um sorriso gentil.

O mais legal foi que ninguém nos olhou da cabeça aos pés, e apontando “olhem os novatos!” Nem sequer os professores, apenas pegaram nossos nomes e só...

À tarde Ethan e eu conversamos no diário sobre a nova escola, mas ele parecia diferente. Resolvo contar sobre meu namoro, para que ele possa rir e me zoar da minha cara de tonta.

–Ethan, Edgar e eu estamos namorando. –Sorrio esperando que ele risse comigo. Mas ele só me fita por um instante e diz:

–O mundo é mesmo confuso, Lis e eu terminamos ontem à noite.