Patricinha? Será?

Nossa festa, nosso Ethan...


A minha empolgação com as notas durou até o almoço, fiquei sozinha, apenas eu e meu prato. Pedro havia me agradecido mil e duas vezes na escola. Ethan e eu rimos até toda escola se esvaziar, tanto da minha negação que aquilo só podia ser brincadeira-tipo: eu invadi a escola e mudei minha nota- ou apenas da cara de Pedro a cada vez que olhava a folha de notas, se certificando que era verdade.

Minha mãe deixou um recado com Denise, que: Iria viajar a negócios e não sabia quando voltava. A maioria dos adolescentes fica feliz quando seus pais os deixam em casa sozinha. Mas lá estava eu, em uma mesa de doze lugares, e só um era ocupado. Não que com minha mãe a casa ficasse cheia, mas na verdade sem ou com ela, eu parecia mais um fantasma vagando.

* * *

–Veja pelo lado bom... –Mel chega, mais uma vez atrapalhando o diário. Ethan está sentado ao meu lado, conversávamos sobre a viajem de minha mãe. Decido que tenho que tomar cuidado de agora para frente, Mel chega sem declarar sua presença, enquanto conto a Ethan coisas da minha vida. –Agora poderemos fazer a nossa festa! –Continua ela empolgada. Mel puxa uma cadeira e senta de frente a Ethan e eu.

–Uma... Festa? –Pergunto erguendo as sobrancelhas.

–Sim! Por acaso se esqueceu que nossos aniversários estão chegando? –Mel cruza os braços sobre o peito esperando que eu concorde com a ideia maluca de uma festa.

–Não. –Mas na verdade, eu esqueci que meu aniversário de dezessete estava chegando. Que por acaso dois dias depois é o de Mel.

–Dezessete anos é uma idade muito importante. Assim com vinte e dois. –Diz Mel, dando seu melhor olhar de persuasão.

–Não sei, acho que não é uma boa ideia. –Digo na certeza que essa festa nunca acontecerá.

–Fala sério! –Mel me dá um olhar reprovador. –Não tenho nada pra fazer, estou entediada e...

–Tá. –Digo entendo que ela não vai parar de falar enquanto não me convencer. –Prometo pensar no assunto.

–Pensa com carinho. –Mel se levanta e me da um beijo na testa. Depois se vira para e Ethan e diz: –Tenta convencer ela.

–Qual seu problema com festas? –Me pergunta Ethan logo quando Mel sai.

–Então quer dizer que esta de acordo? –Respondo com outra pergunta. Surpresa porque ele gostou da ideia de Mel, penso que se isso fosse uma questão de democracia a festa estaria de .

–Não vejo mal nenhum. –Afirma Ethan.

–Não sei nem como me comporta em uma festa onde sou convidada, imagina se eu for à anfitriã.

–É só uma festa. –Diz Ethan calmamente.

–Uma festa que vai me dar dores de cabeça. –O encaro desejando papel e lápis para que eu pudesse desenhar que eu não quero. –Minha opinião sobre uma festa continuará a mesma de sempre: É desperdício de dinheiro, apesar de não sermos mão-de-vaca.

–Clara, vai dar tudo certo, prometo. –Ethan sorri confiante.

* * *

–Vai dar tudo errado! –Exclama Ethan, uma semana depois. Estávamos sentados na mesa discutindo os preparativos. –Quem foi que teve a belíssima ideia de ser uma festa de gala?

–Culpada. –Mel diz rindo.

–As pessoas vão a festas para se divertir, para dançar, se embebedar. –Explica Ethan. –Não para mostrar o vestido bonito.

–Algumas garotas vão para isso. –Digo. A ideia me parece boa.

–Vou te contar uma história, querido Ethan. –Mel começa. –Desde sempre, sonhei ter nascido na época onde homens e mulheres saiam por aí exibindo seus belos vestidos longos e ternos. Por que me odeio de calça. Agora...

Mel faz uma pausa, depois continua:

–Imagine uma turma muito grande de adolescentes, todos eles vestidos adequadamente... Ou melhor, pense em Clara. –Mel se volta para mim ao mesmo tempo em que Ethan. –Ela não ficaria linda em um vestido rosa longo tomara-que-caia?

Ele abre a boca para responder, mas Mel o interrompe:

–Não diga nada. Apenas imagine.

–Oh não! Rosa! –Reclamo.

–Tudo bem, talvez vermelho. –Palpita ele, para minha surpresa.

–Quem estiver de acordo com a festa de gala, levante a mão. –Dessa vez é Mel quem fala.

Sem relutâncias nos três erguemos as mãos.

Aquelas reuniões se repetiram por um mês, o meu aniversário, e o de Mel, ficando cada vez mais próximo. Foi minha prima quem ligou para minha mãe pedindo permissão, e eu para meu pai, matando a saudade da sua voz. Os convites foram entregues em cima da hora para nosso desespero, nele deixamos claro que seria uma festa de gala, o Buffet tinha sido contratado. E outros detalhes foram resolvidos por Mel, e algumas opiniões por Ethan e eu.

–Hora de respirar. –Diz Mel se jogando na minha cama. –Até que fomos rápidos, falta uma semana esta tudo perfeitamente em ordem.

Pego a lista para revisar.

–Música...

–Ok. –Confirma Mel.

–Fotógrafo.

–Ok. –Repete ela.

–Nossos vestidos.

–Lindos! –Diz ela empolgada.

–Terno de Ethan.

–Ele e eu já escolhemos semana passada. –O jeito com que ela diz só me faz imaginar uma coisa.

–Sem... Mim? –Pergunto, minha voz sai fraca.

–Você estava cuidando dos convites, espera... Pensei que não se importaria, já que não sente nada por ele. Ou sente? –Mel ergue as sobrancelhas.

Suspiro e apenas nego com a cabeça. Ocupada demais pensando que Mel pode estar interessada em Ethan. E ele nela. Varro essa ideia da minha cabeça, se eles estiverem... Não importa, afinal não sinto nada por ele, não é mesmo?