Nada interessante aconteceu no resto da tarde, além dos meus pensamentos que não chegavam a lugar nenhum, tentar imaginar qual seria a reação de Ethan a me ver, seria tortura, seria vermelhidão até a alma, depois de ter que esconder ele no meu guarda-roupa, seria muito diferente da menina que não tem muita vergonha, mas algo me dizia que a hora era agora. Iria falar com ele.

Ethan estava apoiado na parede a uns dois metros do banheiro masculino, e Lisa não estava por perto, nem qualquer dos seus amigos, oportunidade perfeita, ele parecia olhar para o nada.

–Pode me explicar como conseguiu sair da minha casa, sem ninguém ver? –Disse em um tom quase mal-educado. Ethan se virou como se visse um fantasma.

–Você é doida? –Ethan perguntou quase como afirmação.

– Você já me perguntou isso, agora responda a minha pergunta. –Exigi.

–Simples. –Ethan deu de ombros. –Sai do guarda-roupa, do quarto, desci as escadas, passei pela porta, pelo condomínio. E absolutamente ninguém me viu.

–E aí o que achou do emprego? –Não queria ter que fazer essa pergunta, mas foi preciso, até mesmo para saber se era loucura mesmo.

–Ta falando sério? –Ethan riu, esperando que o eu contasse a piada e nos dois gargalhássemos daquela situação, mas não fiz isso.

–Às vezes nem eu acredito nas minhas loucuras. Então se não quiser acreditar...

Parei de falar quando ele parou de rir, e me olhou com um olhar de “você é doida?”. Já estava me cansando disso.

–Eu sei, eu sei. É uma burrice sem tamanho, mas é minha burrice. –Revirei os olhos. –Então respeite, alias burrice vai ser a sua se não aceitar, muitas pessoas gostariam de ter um emprego, que só precisam escutar, o que o outro pensa.

Ethan ficou paralisado, olhando para o corredor que as poucos ia se esvaziando, considerei que ele estivesse pensando a respeito.

–Tudo bem. Vamos fazer um teste. –Disse depois de perder a paciência. –Até por que acredito que não vai dar certo, pelo menos com você não, mas se der... Tanto faz... Fica por sua conta.

–Beleza. –Não consegui identificar o que ele queria dizer com “beleza”. –Que fique claro que papo de maquiagem... Não!

Depois disso, me virei e sai andando rumo à classe. Encontrei minhas amadas amigas no meio do corredor, e nada mais de interessante aconteceu na escola, apenas eu me preparando meu texto de apresentação para Ethan, isso tudo é claro na cabeça.

Quase não almocei, estava acovardada demais para engolir qualquer coisa. O que desceu foi apenas um suco de laranja, com muita insistência de Denise, logo após subi para o quarto, e fiz o contrato de Ethan, com tudo que ele não poderia fazer bem “claro”, isso incluía não contar para ninguém.

Denise então me ligou pelo celular, dizendo que “o garoto” tinha chegado.

–Pode deixar que eu mesmo o apresente a Cesar, assim ele pode auxiliá-lo. –Menti claro que não iria apresentá-lo ele a Cesar coisa nenhuma, de vez em quando Ethan teria que fazer uma limpeza na piscina, mas isso a gente via depois.

Pego o contrato e desço. Ethan esta me esperando na área da piscina. Como eu queria ter o poder de saber o que pensam as pessoas.

–E então? –Ethan diz. Maldita hora eu tive essa ideia, pela primeira vez sinto meu rosto se esquentar de vergonha, mantenho meus olhos no chão.

–Digamos que você será o meu diário humano. –Começo, me ordenado para tirar os olhos do chão, isso demonstra vulnerabilidade. –Aqui esta o contrato, explica o que você deve fazer. –Entrego o contrato. –O que é basicamente me ouvir.

Ele olha o contrato e nem lê, e para minha surpresa pede uma caneta.

–E como principal regra, do que não deve fazer, é contar para alguém. –Completo, já que ele não leu.

–E se alguém descobrir? –Ethan termina de escrever seu nome e me entrega. Ethan José Nunes.

–Ainda não pensei nisso. –Respondo o que basicamente verdade. –Mas você terá que limpar a piscina de vez em quando, para disfarçar, não se preocupe creio que o salário, vai valer à pena.

–Tudo bem, só não me trate assim tão... Formalmente. –Ethan disse, o problema era que ele disfarçava muito bem suas reações, eu nunca sei o que é sério ou brincadeira.

–Eu não... –Comecei entender o que ele queria dizer com isso.

–Não se preocupe creio que o salário, vai valer à pena. –Ethan me imitou, com uma voz fina e irritante.

–Você está muito enganado comigo. –Sorri sinicamente.

–Talvez. Só o que sei de você é que é uma patricinha, amiga de patricinhas piores que você. –Ethan também sorriu, um debochando do outro, isso é um “ótimo” começo.

–Não importa o que pensa de mim. –Acabei com as implicâncias. –Você não precisa confiar em mim, nem gostar, mas eu sim, por que se eu não confiar em você como poderei te contar meus segredos, tudo que acontece na minha vida, minhas fantasias, medos.

Ethan me olhou petrificado, fiquei pensando se ele achava realmente que íamos conversar sobre maquiagem.

–E porque você quer fazer isso? –Ethan parecia realmente curioso.

–Bem, eu te falo, mas agora me diga: Está disposto a realmente me ouvir? –Perguntei com toda seriedade a pergunta que ficou martelando na minha cabeça, será que alguém seria capaz de me ouvir?

–Quer começar agora? –Ethan respondeu com outra pergunta, mas estava bem claro que era um sim.

E eu não pude evitar um sorriso.

–Bom meu diário humano acho que podemos começar. –Falei depois de um tempo, com estranheza na palavra meu na frase.

–Está aí! Por que não relata o que pensa em um diário de verdade. –Ethan disse.

–Se acalme gafanhoto. –Mostrei com as mãos uma cadeira de praia do lado da piscina, Ethan então se sentou. –Se eu te contar tudo hoje o que vou mostrar daqui a uma semana?

Ethan assentiu, só tinha um problema, eu ainda me sentia envergonhada.