Patricinha? Será?

Hoje ninguém vai estragar meu dia.


Os comentários de segunda-feira na escola eram “a festa”. Quem pegou quem? Quem estava namorando desde então? Quem ficou bêbado demais, e fez uma besteira? Quem fez uma besteira e nem tinha bebido? –Achei que estavam até falando de mim, não vi ninguém da escola que não estava alcoolizado. Mais eu não tinha feito uma besteira!- Talvez estivessem falando de Lisa, que terminou com Ethan e agora voltou, mas isso nem poderia ser uma besteira dependendo dos motivos. Voltando ao assunto, o que se via hoje nos famosos corredores, eram os cochichos dos estudantes, cheguei até imaginar se na sala dos professores eles também estavam falando da festa.

Mais enfim... Hoje tinha mais uma aula de Educação física, eu tinha medo em pensar com que olhos Verônica me olharia.

A primeira aula os “segredinhos”, se tornaram mais expostos, e os que ainda não acreditavam que Lisa e Ethan tinham voltado, lá estavam os dois no mesmo lugar de sempre. De vez em quando Rebeca ou Beatriz diziam coisas fúteis no meu ouvido, já que isso tinha virado mania hoje.

–Rafa estava dando em cima de Vitória. –Dessa vez era Rebeca.

–E de quem que ele não dá em cima? –Sussurrei de volta.

–Justamente. –Rebeca riu. Ela não estava acostumada a eu dar tanto assunto as suas conversas. –Bem aí, que eu estava querendo chegar... Ele também paquerou nossa querida amiga aqui. –Rebeca apontou com os olhos para Beatriz. Ergui a sobrancelha, e me virei para o exercício de matemática, que parecia saltar do livro para me matar.

Quando finalmente para o mau a aula de educação física chegou, fui me trocar junto com minhas amigas. E sorri ao ver minha frase na parede “Sou muito mais que isso”.

Elisa parecia estar bem mais determinada a fazer o certo hoje. O que seria deixar Verônica de fora, como punição por ter esmagado meu rosto na ultima aula, mas ela não fez isso.

–Vamos escolher os times. E vai ser queimada. –Elisa gritou para que todos a ouvissem e eu suspirei com a péssima noticia.

–Ótimo. –Verônica pegou a bola.

–Só um aviso, Verônica. Se você machucar alguém... Já sabe. –Elisa parecia falar sério, em relação à punição de Verônica. –E vamos lá! Escolha seu time, Verônica.

–Fico com... Clara.

Quase tive uma síncope, eu estava no time de Verônica. O que significava que sem boladas por hoje, e significava também que o alvo de Verônica seria Rebeca ou Beatriz que ficariam no outro time. O que eu podia fazer? Fiquei feliz por mim!

E eu não era a única que estava surpresa, todos me olharam em choque.

–Beatriz... –Rebeca escolheu a primeira do seu time.

–Rafa... –Disse Verônica. Nem se importando por Beatriz. Rafa era muito bom.

–Lisa... –Rebeca parecia que pularia na garganta de Verônica a qualquer momento.

Todos olharam surpresos outra vez, Lisa era boa mais nem tanto a ponto de ser escolhida por Rebeca.

–Ethan... –Verônica se vangloriou, com seu sorriso hostil.

–Escolha o seu último jogador, Rebeca. E resto da sala joga na próxima rodada. –Professora Elisa disse.

–Vitória. –Rebeca disse tristemente, fazendo Verônica rir.

Todos foram para seus respectivos lados. Lisa estava com a bola, então ela começaria. E seu alvo era Ethan.

Ele sorriu para sua namorada, assim como ela sorriu ao queimá-lo na perna. Verônica pegou a bola e todas já sabiam o seu alvo também. Rebeca. Em poucos segundos a bola atingiu o rosto da minha amiga, assim como o meu semana passada, a diferença foi que Rebeca não desabou no chão. Ela deu um grito escandaloso e histérico, que tive uma leve impressão que Elisa saltou de susto.

–Chega! –Elisa caminhou em nossa direção. –Verônica, venha comigo.

Verônica suspirou, mas os olhos dela contavam que ela estava feliz em deixar uma patricinha irritada.

–Não te escolhi por causa daquilo. –Verônica esbarrou em mim e disse antes de sair, fazendo só com que eu escutasse.

O “daquilo” que Verônica deveria estar falando, era o tal segredinho dela de usar muitas blusas para parecer mais... Forte?

–Quem acha que Verônica não volta mais? Levanta a mão. –Rafa disse, fazendo todos levantarem a mão, menos eu.

Depois de tudo aquilo com Verônica na escola, estava refletindo em casa, que Verônica estava mentindo, não havia outro motivo a qual ela me escolhesse. Devia ser um “joguinho” dela, ela me colocava no seu time e em troca seu segredo estava guardado. E eu saia no “lucro” sem levar boladas.

Só então quando Ethan chegou descobri que não. Ethan tinha dito para Verônica me colocar no time dela, simplesmente pelo fato de eu ter me machucado e não ser tão antipática como Rebeca e Beatriz.

–O que? –Disse perplexa. Nós estávamos sentados no mesmo lugar, perto da piscina, nas cadeiras de praia.

– Por que está surpresa? –Ethan se sentou direito.

–Naquele dia que ela literalmente me queimou, eu descobri um segredo de Verônica. –Comecei. –E pensei que talvez aquilo fosse um aviso da parte dela, para não contar a ninguém.

Ethan ergueu a sobrancelha.

–Verônica usa mil e duas blusas, só para se sentir mais forte, ou seja, lá qual for o outro motivo. –Expliquei.

–Cada louco com sua mania. –Ethan deu de ombros. –Você, por exemplo, tem a sua...

–É... –Concordei, quando na verdade eu pensava na noite de sábado, quando Ethan tentou me beijar embriagado, e eu estava certa Ethan não se lembraria de nada, ele não se lembra do que não aconteceu.

–E aí? O que vai me falar hoje? –Ethan me tirou do devaneio.

–Sabe... Estive pensando naquele dia que Verônica me deu a bolada, que se você não estivesse lá. Eu te contaria como aquilo foi horrível...

Ethan escondeu o sorriso.

–Não ri não, doeu muito. E ainda recebi uma ameaça de surra de Verônica, por causa do tal segredo. –Suspirei.

–Me deixa adivinhar? Você a chantageou: Ela pegava leve na queimada e você ficava de boca fechada. –Ethan se achava muito esperto. Só o que fiz foi assenti.

–Também tive um sonho, naquele mesmo dia, que me dá nojo só de pensar: Eu estava de vestido rosa e... Era tudo tão... –Fiz uma cara de indignação. –verde... E havia animaizinhos fofos. Enfim, um nojo.

–Ei... Com licença... –Uma voz veio de algum lugar. O muro.

Minha nossa! Não acredito! Meu vizinho gato estava com um sorriso olhando para mim, em cima do que parecia ser uma escada. Fiquei paralisada, se dependesse de mim nada sairia da minha boca, até ele falar alguma coisa.

–Oi... –Ele disse, “para nossa alegria.”

–Oi... –Respondi, mas ele parou de sorrir, só então percebi para quem ele olhava. Ethan.

–Eu sou o Edgar. Seu vizinho. –Ele disse sem graça. Não acredito que Ethan ia estragar tudo!

–Sou Clara, e esse é meu amigo Ethan. –Deixei claro quem era ele.

–E aí? –Ethan cumprimentou sem nem olhar para ele, apenas com aceno com a mão.

–Aconteceu alguma coisa? –Não contive o sorriso no final, e nem Edgar.

–E que eu pensei... Importa-se se eu falar na frente do seu amigo? –Edgar disse.

–Não, não costumo esconder nada de Ethan. –Tratei logo de dizer.

–Sabe que eu achei você bem... Autentica... E divertida. E então... –Edgar não continuou.

–E então? –Incentivei.

–Pode parecer um pouco estranho já que a gente nem se conhece direito. –Edgar sorriu ao ver minha expressão. Minha cara devia estar a de uma menina bem bobinha. –Quer sair comigo? –Ele disparou.

Fiquei sem fala.

–Se não quiser aceitar, vou entender...

–Não. –Disse. –Não é isso é que...

–É estranho... –Ele me interrompeu, e agradeci a Deus, já que eu não sabia o que dizer. –Podia ser hoje. Por favor, não diga não! –Ele fechou os olhos, esperando a pior resposta.

–Tudo bem. Vou te passar meu número caso você desista. –Sorri para quebrar o clima.