Depois daquela noite inesperada, de Edgar aparecendo do nada no muro pra simplesmente me chamar para sair. Tudo pareceu mais calmo depois que me deitei na cama e perdi a consciência. A diferença foi que dessa vez não acordei atrasada como já estava virando costume, acordei cedo até mais do que eu deveria. Ainda estava escuro deveriam ser umas quatro da manhã... Madrugada para alguns, mas não para os meus olhos que estavam arregalados no escuro. Levantei me guiando pela cama, depois a mesinha. Até consegui aceder à luz.

Bom... Agora é só você e eu, meus amados pensamentos. Peguei a toalha e me direcionei para o banho.

Edgar. Esse era o meu primeiro pensamento. Como ele podia ser tão lindo e educado? A maioria dos garotos ou é um, ou outro. Um exemplo era Ethan e Rafa, eles são bonitos, mas na maioria das vezes não se mostram tão gente boa. Ethan podia até ser um pouquinho, mesmo assim não gosto quando ele me olha dizendo “Você é doída?” E nem de ele me achar patricinha. Edgar parecia enxergar uma coisa em mim, que nem eu sei o que é. Como se me conhece, mas essa não era uma história de amor a primeira vista. Era apenas uma simples história de uma adolescente ignorada pela vida, mas que podia se dá bem...

Ou não...

Enfim, tomei banho, me vesti com o simples uniforme, e pedi para Cesar me levar. Sem contar que só uma pergunta que eu não tinha resposta:

Por quê? Por qual motivo?... Ou simplesmente por que não, eu não tinha beijado Edgar? Esperei dois meses para ter aquela oportunidade, pra simplesmente desviar... Desviar... Isso parecia tão eu...

Desvio das minhas amigas, de minha mãe, de Ethan naquele dia, de Edgar ontem. Parecia até que o lema da minha vida era “Desviar de qualquer coisa, ou ficará pior do que já esta”.

Passei pelos corredores do Colégio, mas parei ficando de queixo caído. Abri e fechei a boca varias vezes, não acreditando nos meus olhos. Exatamente todo o mar de alunos estava se beijando, não eu. Ethan e Lisa. Rafa e Beatriz. O que? Rafa e Beatriz?

Com certeza Rebeca tinha matado aula, ela não deixaria isso acontecer. Rebeca não gosta do “grupinho: Ethan, Lisa e Rafa”. E assim como ela faria o mesmo. Correria daqui enquanto estava tempo. Mataria aula.

Antes que alguém me notasse, fugi da escola como um aluno irresponsável e pervertido. Só tinha um problema não podia voltar para casa, Denise no papel de mãe “encheria meu saco”. Mas essa historia de beijos, me levava para um lugar, e não era muito longe da minha casa.

Andei o bastante, para me cansar, foi diretamente a casa de Edgar e bati na porta, em toques não tão apressados, já que eu não tinha nenhuma desculpa elaborada.

Ele me atendeu. Estava apenas com uma bermuda e chinelos, sem camisa. Seu sorriso logo se formou para mim, sorri também. Mas pela sua reação ele acabava de perceber que esse era o horário da escola.

–Veio me pedir uma xícara de açúcar? Vizinha. –Edgar brincou.

–Fugi da escola. –Disse antes mesmo de ele perguntar.

–Fugiu para me pedir uma xícara de açúcar? –Edgar abriu um pouco mais a porta, deixando que eu espiasse um pouco da sua casa por dentro. E parecia tudo tão perfeitamente organizado e branco... Literalmente branco.

–Na verdade não. –Entrei na brincadeira.

–Entre, Clara. Adoraria saber o motivo da sua fuga. –Edgar deu espaço para que eu pudesse entrar. Então entrei.

Ele fechou a porta atrás de nós, eu ainda estava com a minha mochila nas costas. Então delicadamente a joguei no canto perto da porta.

–Minha nossa! –Exclamei perplexa com a beleza da casa, eu já tinha vindo antes aqui, mas com outros vizinhos. –Realmente não era isso que eu esperava.

–O que você esperava? –Edgar cruzou os braços, entretido, enquanto eu reparava a verdadeira Casa branca. Tudo era branco! Sofá, mesa, parede, teto, escada. E o resto eu não sei.

–Como você mora sozinho... Meia de todas as cores, na cozinha. –Dei de ombros.

–Esqueci de dizer ontem. Branco é minha cor preferida. –Edgar explicou, nem um pouco preocupado de eu estar invadindo sua privacidade.

–Me desculpe você estava fazendo alguma coisa importante? –Esperei que ele respondesse, para avaliar sua reação.

–Não. –Edgar não hesitou em negar. –Na verdade, eu estava me preparando para nadar, se você quiser ver...

–Sério? Eu adoraria. E alias, não posso voltar pra casa. –Disse. Depois Edgar, me guiou para a área da piscina.

A piscina era maior que a da minha casa, de uma forma retangular. Não pude deixar de lembrar o dia que vi Edgar nadando, mas dessa vez seria diferente eu não estava me escondendo.

–E então, ainda não me disse. Por que matou aula? –Edgar olhava para mim curioso.

–Foi inacreditável. –O deixei mais curioso. –Parecia até cena de filme, ou uma competição de quem beijava melhor.

Edgar franziu o cenho. Sorrindo quase como se tivesse imaginando a cena, ou talvez ele ainda não tivesse entendido.

–Simplesmente quando comecei a caminhar no corredor, todos os alunos estavam aos beijos. –Expliquei, e pela sua reação ele realmente não tinha entendido antes.

–E por que não ficou, mesmo assim? –Edgar me encarou.

–Sei lá... Fiquei com medo que o primeiro idiota que passasse por ali, tentasse me beijar. –Na verdade não era essa a verdade. A verdade era: Senti-me enojada com a aquela escola, são tantas as picuinhas, e dramas e o que mais odeio “Modinhas sem noção”, talvez aquilo fosse moda agora, todos se beijarem ao mesmo tempo, alguém grava um vídeo e posta nas “redes sociais”.

Só depois de dizer aquilo para Edgar, foi que percebi que ele tinha tentado me beijar na noite passada. Será que ele tinha entendido que ele era um idiota?

Voltei para ele rapidamente, ainda sem coragem para avaliar seu rosto, me ordenei para olhar.

Não dizia nada.

–Você não entendeu... –Me senti na obrigação de explicar, até por que Edgar estava se mostrando ser muito legal, e agora olhando para ele a luz do dia, eu me arrependi e muito, de não ter o beijado quando ele deu a oportunidade. –Não que você fosse um idiota... E nem que apareceu do nada...

Eu só estava piorando as coisas, mas não satisfeita continuei.

–E quis-me... –Parei a frase, mas agora Edgar me olhava profundamente, entretido com meu embaraço, mas não sorria. Só tinha um jeito de acabar com aquela situação.

Primeiro me certifiquei que estava perto o bastante e depois... Oh e depois!... Depois... Não me deixei mais sentir inveja de todos aqueles alunos nessa mesma manhã. Foi apenas consumida pelo leve toque dos lábios de Edgar. E quando nos afastamos não acreditei.

Estava encrencada!

Denise me olhava reprovando. Se ela fosse minha mãe com certeza essa seria a hora de ela gritar e me dar uma surra.

–Não deveria estar na escola. –Denise suspirou, mas senti que ela ainda estava incrédula.

–Deveria. –Suspirei também. –Mas acontece que ocorreu uma coisa bem esquisita... Mas espere o que esta fazendo aqui?

–Faxina. Eu te disse semana passada... –Denise encarou Edgar não reprovando a sua atitude, como reprovou a minha, apenas como se dissesse “ela é apenas uma estudante, e você já esta na faculdade”. –Pode vir comigo?

–Claro. –Respondi, sabia bem pra que ela me chamava, mas mesmo assim quem se sentia desconfortável era Denise em praticamente me dar uma bronca. –Só vou pegar a minha mochila, lá dentro.

Em poucos minutos eu e Denise caminhamos para casa.

–Não faça mais isso, entendeu? –Denise parecia sincera. –Só dessa vez não vou contar aos seus pais, mas, por favor, não repita, ou serei obrigada a... –Denise não terminou.

E eu apenas assenti. Fazer o que? Eu estava errada.

Almocei, e rapidamente Ethan chegou. Mas dessa vez ele não estava sozinho. Havia uma garotinha com ele, cabelos pretos, mochila nas costas preta. Usando uniforme de alguma escola que eu não conhecia.

–Desculpa. –Ethan disse disfarçadamente da menina. –Hoje terei que ficar com ela. Essa é minha irmã.