Os passos não estavam tão rápidos como ele costuma fazer, contudo ainda estava difícil para ela manter o ritmo. A jovem não fazia ideia de onde planejava ser levada mas também não se importava já que qualquer lugar seria melhor do que ter que passar a noite toda e, talvez, o dia todo pendurada naquele poste.

Demorou um pouco para finalmente avistar o que parecia ser um túnel e talvez o local de destino. Yui andava alguns passos atrás de Subaru pôde observar os arredores de grama alta dando um ar assustador a entrada. Por um instante pensou em hesitar e fugir dali, mas por conta da paciência que o rapaz mostrou o tempo todo sem dar gritos ou reclamar de sua lentidão resolveu dar uma chance.

O vampiro entrou na frente a fazendo seguir com receio, entretanto assim que passou pelos primeiros segundos de caminhada percebeu que não era tão terrível quanto parecia ser.

O local era comprido onde um rio calmo passava bem no meio. No canto onde havia terra barcos de plástico estavam boiando. Normalmente seria impossível ver esse tipo de coisa a noite em um local fechado, porém o túnel estava parcialmente destruído tendo largos buracos na parte superior e até pedaços que já deviam ter desabado anteriormente.

Subaru nem se importou com a sujeira ou os destroços pela terra enquanto caminhava já Yui, com medo de dar mais trabalho, tomava cuidado olhando onde pisava.

De repente ela o viu parar e se encostar na parede cruzando os braços como se estivesse sozinho ali. Sem entender ou querer questionar o seguiu parando ao seu lado sentindo os tijolos frios tocarem suas costas.

— Aqui ninguém vai incomodar.

A voz indiferente dele passou uma imagem de desdém, contudo para ela já significava muito saber que ele se deu ao trabalho de ajuda-la. Aliviada agradeceu sem ouvir respostas dele.

A noite estava sendo terrível e como tudo sempre podia piorar ela nem se permitiu ter esperanças. Apenas suspirou tentando relaxar ouvindo o som calmo da água e sentindo seu corpo esfriar ainda mais a forçando a se abraçar.

— O que está acontecendo? – A voz baixa conseguiu ecoar levemente pelo local o fazendo olhar por cima a vendo fitar o chão entristecida. — Não era pra ser um desafio?

— Ah... – Cansado suspirou coçando a nuca. — Teve uma aposta. Quem te encontrasse primeiro podia ficar com você. – O rosto dele estava parcialmente visível e suficientemente irritado. Ela pôde ver e mesmo assim sentiu-se idiota por estar ali.

— Então... eu não me perdi?

— Claro que se perdeu! – Irritado gritou como se estivesse guardando isso a muito tempo. — Se não fosse por isso você ainda estaria comi- – se interrompeu assim que viu o olhar assustado dela o encarar. Engolindo as palavras se virou novamente. — Nada.

— Você ia-

— Não é nada!

Yui sabia que não deviria persistir mais nessa conversa e tão chateada quanto cansada se virou encarando o rio. Ele, da mesma forma, fez o melhor para desviar sua atenção dela e do que quase acabou dizendo.

O silêncio entre eles cresceu deixando o eco de seus gritos presos ali como se ainda estivessem perto.

— Eu não concordei com isso... – timidamente comentou mais para si do que para ele ouvir.

— Quer reclamar? Então reclama com eles. – Sem se mover respondeu alto e claro. — Não tenho nada a ver com isso.

— Mas você estava participando. – Inocentemente mudou a direção para fita-lo e para surpresa dela o comentário o fez a encarar incrédulo e quase sem saída. Por uns instantes os lábios dele ficaram abertos como se as palavras estivessem com vergonha de sair.

— Cala a boca! – Foi a única coisa que conseguiu em sua defesa.

Sem opção ela faz como dito se perguntando o porquê dele sempre se alterar em qualquer conversa simples.

Não sabia o que fazer e já que o vampiro não parecia querer conversar ela se permitiu vasculhar o local com os olhos na tentativa de se distrair das dores.

Era difícil de enxergar, mas com esforço conseguiu ver pedaços de decorações rosadas e envelhecidas nas paredes, desenhos de corações quase totalmente apagados e o formato de cisnes nos barcos. O local finalmente começava a fazer sentido para ela a fazendo arregalar os olhos surpresa.

— Aqui é o túnel do amor? – O comentário chamou a atenção dele que automaticamente olhou ao redor entendendo.

— Parece... – a voz não mostrava qualquer sentimento, porém assim que viu o rosto de bochechas vermelhas sua expressão mudou corando tanto quanto ela. — Qual é o seu problema? Isso não significa nada!

— Eu não disse nada!

— É melhor nem pensar também!

— Os dois. – No meio da gritaria constrangedora uma voz manhosa vinda dos barcos chamou a atenção. — Fiquem quietos.

— Shu? – Yui reconheceu rapidamente fazendo Subaru suspirar ligeiramente incomodado.

— Ótimo...

— O que está fazendo aí?

— Tentando dormir.

Automaticamente o silêncio caiu sobre eles. Era uma situação constrangedora demais para falar. Ela se sentiu culpada por estar fazendo tanto barulho com ele ali enquanto Subaru estava mais irritado por ter o irmão no meio de seu caminho com ela do que por ter o interrompido.

Sem paciência ele se afastou da parede caminhando entre suspiros em direção para fora do túnel.

— Subaru?

— Já deu dessa palhaçada. Vou encontrar os outros pra gente ir embora.

— Eu-

— Você fica aqui! – Gritou a fazendo parar antes de dar o primeiro passo e virando a cabeça a olhou por cima dos ombros com olhos gentis. — Não vou demorar.

Ela o viu partindo e apesar da vontade de seguir, decidiu obedecer. Afinal estava cansada e ferida demais para testar ainda mais seus limites.

Sem saber exatamente o que fazer observou o barco onde Shu estava o assistindo deitado de comprido nos bancos com os olhos fechados pacificamente embalado pelo movimento suave da água. A imagem a fez se perguntar como ele conseguia dormir em qualquer lugar dessa maneira.

Sem ter intenção seu corpo começou a seguir até a margem na tentativa de vê-lo melhor, mas, por causa da pouca luz, acabou errando o passo e caindo no barco com ele.

A queda brusca e até assustadora a fez dar um grito o surpreendendo tanto pelo peso quanto pela voz em cima dele.

— O que foi? – Sonolento a viu desajeitada sobre seu corpo com os olhos fechados de dor.

— De-Desculpa.

Envergonhada tentou se afastar e sair rápido dali, porém com tantas chacoalhadas acabou fazendo o barco entrar em movimento seguindo o rio.

Ao perceber se apoiou na beirada vendo assustada o quão longe estava para pular de volta a margem. Com essa atitude descuidada ela nem percebeu que estava jogando todo peso do barco para um único lado. Quando Shu percebeu o risco de virar e acabar se molhando ele rapidamente se sentou a pegando pelos ombros e puxando para perto a fazendo se sentar entre suas pernas.

O barco balançou violentamente levantando algumas gotas de água fazendo Yui se encolher assustada até finalmente se estabilizar.

— Idiota.

A voz arrastada atingiu seus ouvidos como uma estaca no peito a fazendo perceber sua atual situação. Assustando e com o rosto vermelho abriu os olhos tentando se afastar.

— De-Desculpa, eu vou-

Quando tentou sair daquela posição sentiu o vampiro passar os braços ao redor de sua cintura a puxando para trás e impedindo que se levantasse.

— Se ficar se mexendo o barco vai virar.

A vergonha era tanta que não conseguia pensar em nada para dizer ou explicar seus motivos para sair dali. Então apertando as mãos no pano de sua saia sentiu o coração acelerar alto enquanto ouvia os suspiros cansados dele atrás.

— Ah... Eles não estavam brincando. – A voz baixa e estoica a pegou de surpresa. E apesar disso não precisou perguntar para saber que era das marcas em sua pele que ele falava.

O constrangimento tomou conta dela a fazendo se encolher ainda mais. O movimento foi bem perceptível para ele e no mesmo instante, com cuidado, se inclinou beijando suavemente o ombro dela.

O toque repentino a assustou e instintivamente fez se virar com o rosto vermelho vendo o dele próximo a olhar. A expressão dela o fez rir.

— O que foi? Não me diga que quer mais.

— Não! Não é isso! – Desesperadamente tentou negar se balançando.

— Hm... – se afastou tomando um longo suspiro ainda com os braços ao redor dela. — Bom, não estou querendo me esforçar para qualquer coisa agora.

Ainda sentindo a reação desesperada de seu coração acelerar seus sentimentos ela assentiu um tanto aliviada. Shu sempre foi preguiçoso, mas bastava a primeira dentada para ter incentivo a continuar e dominar seu corpo.

Cabisbaixa olhou para seus pés entre os dele sentindo vergonha acompanhada de um conforto incomum. Estava começando a se acalmar quando o vampiro voltou para perto a abraçando mais forte e deitando a cabeça sobre o ombro dela.

— Shu-

— Me avisa quando o barco chegar no final.

Apesar de constrangedor a situação não era ruim. De tudo de desagradável que tinha acontecido durante a noite esse momento era até acolhedor.

Apesar de seu peito estar eufórico ela não quis se debater ou afasta-lo, ao invés disso quis que durasse mais um pouco.

Ela sabia que quando encontrasse com os outros toda essa corrida voltaria a acontecer então o que havia de ruim em aproveitar esse instante de paz agora? A jovem se deixou levar apoiando suas costas no peitoral dele podendo finalmente apreciar o céu estrelado daquela noite.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.