Ela mal teve tempo de ver os estragos que aquela queda havia causado, apenas sabia que tinha que correr e se afastar o mais rápido possível. Olhando para trás para ter certeza de que não o via mais acabou chocando seu corpo ao de outro com tanta força que o impacto a fez cair sentada causando ecos pela ala.

Com uma mão na cabeça ela a balançou sentindo dores em pontos que nem se lembrava de ter machucado. Seus olhos apertados correram na direção onde havia trombado e com dificuldade encontrou o homem de olhar violeta frio a observando de cima bem a sua frente.

— Reiji? – Questionou ainda com um olho fechado.

— Realmente... O que está fazendo correndo por aí no escuro?

— Eu... é que... – Os olhos dele a encaravam tão duramente que pareciam vasculhar cada mínimo centímetro dela como se fosse um item em exposição. Envergonhada tentou desviar de sua direção, porém algo na mão dele atraiu sua atenção. — Eh? Esse é o Teddy?

A pergunta o fez se lembrar do que estava fazendo ali e arrumando os óculos suspirou cansado.

— É... Ele estava em um banco. – Olhando para a pelúcia sempre bem cuidada, comentou irritado. — Eu não sei como o Kanato foi esquecer ele.

— Ele... Não faria isso.

— Eu sei. – Respondendo rispidamente lançou um último olhar para o animal antes de se voltar para ela. Seus olhos novamente procuraram por detalhes no corpo dela e o resultado de sua busca só serviu para frustra-lo. — Como raios isso aconteceu? – Ainda mais irritado pela garota permanecer naquela posição decadente no chão, questionou se ajoelhando perto dela.

Como por instinto na presença próxima dele, ela rapidamente puxou a saia tentando se arrumar pensando no que deveria dizer se nem tinha entendido ao que se referia com aquela pergunta. Afinal, Yui conhecia bem as dificuldades que tinha para conversar com o vampiro, sabia que se falasse sobre o que tinha acontecido antes haveria consequências que ela não queria enfrentar, mas também não sabia o quão pior seria se mentisse.

— O que é isso?

O questionamento sério a trouxe de volta encontrando o olhar dele a observando confuso. Sobre sua perna havia pedaços de vidro de tamanhos diferentes presos causando cortes fundos e outros superficiais sujando de vermelho sua pele. Ela se assustou ao notar que até aquele momento não tinha percebido algo tão doloroso, mas agora que tinha visto a dor começava a incomodar.

— O espelho... – sem querer falou preocupada pensando em Ayato e se o mesmo estava bem.

— Espelho?

— Ah! – A voz interessada do outro só ressaltou que aquilo não deveria ser ouvido por ele. Uma corrente fria desceu por sua nuca enquanto tentava disfarçar o olhar assustado. — Eu... cai em um...

— Oh... Com licença. – Deixando a pelúcia sentada ao lado ele delicadamente colocou a mão sobre os vidros retirando pequenos fragmentos com as pontas dos dedos a fazendo gemer baixinho. — Estava correndo?

— Sim... Distraída...

— Sozinha? Ou... Corria de algo? – A garota engoliu rispidamente as palavras sentindo sua respiração sair do controle ao vê-lo levantar o rosto para encarar intensamente seu olhar em busca de mentiras. — O que vai me responder?

Seus dedos pousaram sobre o caco maior alojado próximo ao joelho enquanto seus olhos presos aos dela esperavam ansiosos. Reiji queria ouvir a resposta torcendo vigorosamente para que ela covardemente tentasse engana-lo. Dessa forma teria uma desculpa para toma-la para si e repreende-la da forma que o satisfizesse.

Ela sabia o que iria acontecer se mentisse e não conseguia controlar o desespero que se apossava de seu peito. Sua mão instintivamente foi até o ferimento no ombro o cobrindo como se estivesse tentando negar a situação enquanto seus lábios trêmulos tinham congelado pelo frio no estomago.

O mais velho riu irritado e firmando seu toque sobre o caco o movimentou lentamente fazendo sons molhados entre a carne ferida e o sangue que escorria. A dor foi automática e Yui não teve outra opção senão gritar alto tentando puxar a perna para longe dele.

— Quando eu faço uma pergunta, – sem dar importância ao sofrimento exibido em sua frente, continuou falando como se conversasse em um chá da tarde — gosto de ouvir uma resposta. Você deveria saber disso. – Segurando sua perna com a mão livre ele a forçou ali e sem qualquer remorso empurrou o fragmento mais fundo a vendo se contorcer e esticar os membros como se pedisse por ajuda. — Então?

— Ayato! Eu estava com o Ayato. – A resposta saiu quase como uma suplica que foi atendida. Reiji soltou o caco assim que ouviu o nome e a jovem, ainda sentindo o calor e os rasgos em sua pele, se jogou para trás no chão sem folego entre lágrimas. — Eu fugi dele...

— Hm... Perdi para ele. – Sua expressão séria se tornou sombria seguindo os sussurros.

— Reiji... – como se tentasse controlar o choro ela chamou o fazendo olhar em sua direção sem se abalar. — Está doendo...

— Doendo? – Riu como se ouvisse algo absurdo. — Eu sei disso. – Voltando-se para o último caco que ainda estava preso na perna seguiu em frente o puxando o mais rápido possível criando um corte maior do que estava na pele delicada a fazendo gritar.

A garota com os olhos fechados se contorcia virando de um lado para o outro com as mãos nos lábios como se o silêncio fosse o suficiente para ajudar a parar a dor. As lágrimas escorriam sem parar enquanto sua perna tremia como reação a todo o sofrimento.

Em meio a gemidos e soluços baixos ela sentiu algo se aproximando. Deitada no chão tentou levantar a cabeça quando foi surpreendida pelo corpo do homem em cima ao dela.

— Ora, o que foi? Não está feliz por eu estar te ajudando? – Suas mãos se apoiaram ao lado da cabeça fechando qualquer passagem possível, podendo encarar o rosto dela há poucos centímetros do seu. A expressão miserável ali o fez sorrir contente.

Apoiando-se para trás o vampiro se sentou levemente sobre a cintura da menor apoiando o peso nos próprios joelhos e sem tirar os olhos dos dela levou a mão para trás tocando a perna exposta da jovem. Sua mão correu acariciando a pele até chegar sobre o ferimento que sangrava exageradamente. Ela até tentou puxar a perna na tentativa de se afastar, porém era inútil se não tinha para onde ir. Em seguida a mão foi trazida de volta para frente parando diante dos olhos sedentos dele que admiravam o sangue vermelho brilhando na luz.

Yui assistiu à cena em meio a choro e terror o vendo levar os dedos até os próprios lábios onde lambeu e chupou cada gota sangrenta. O som da saliva acompanhava os gemidos sedentos dele aumentando o desconforto nela.

— Como esperado do seu sangue. – Com um sorriso se inclinou para frente falando com a voz acolhedora que a confundia no meio de toda a sua frieza. — Nunca é o suficiente... – as palavras eram entre cortadas por suspiros pesados que deixavam nítido a ânsia dele por ela.

Com a respiração descontrolada Reiji seguiu até a orelha da garota dando uma mordida suave. Ao mesmo tempo que o corpo doía ela sentia seus olhos pesarem e sua pele arder no calor do toque. Ele se afastou dando um riso curto ao ver o rosto vermelho e os olhos redondos lacrimejando pedindo por ajuda.

— Que expressão indecente. – Enquanto falava baixo se aproximou do pescoço a beijando.

Ela já não tinha mais controle da própria cabeça que se movia tremula sem ter certeza se isso era culpa da dor ou do prazer. Sua garganta estava quente e o corpo ficava cada vez mais pesado enquanto Reiji lambia cada gota que escorria pelo pescoço ao peito dela.

Tudo estava se perdendo quando, de repente, ele parou se afastando rapidamente. A jovem que já não conseguia manter os olhos abertos se esforçava para ver a imagem embasada dele movimentar a cabeça de um lado para o outro como se procurasse algo antes de se voltar para ela novamente. Seu rosto próximo disse algo que Yui não conseguiu ouvir e logo depois ele se levantou a deixando ali.

Essa era a única chance que tinha de sair desse labirinto de espelhos, contudo a fraqueza por ter o sangue sugado por dois vampiros a impediu de se mover e a dor eminente em seu corpo a fez desistir e se entregar de vez ao desmaio.