Paraíso de verão

Sábado, 19 de Dezembro, 16h30min.


Sábado, 19 de Dezembro, 16h30min.

Alec e eu nos beijamos, também. Foi bom? Mesmo que eu odeie admitir, fora o melhor beijo que alguém já me dera. Ele passou a mão pelo meu corpo? Com certeza, se não o fizesse não seria Alec. Foi quente? Como uma fornalha, mas não se compara com a cena que presencio nesse momento. Minha irmã e Chad estão, praticamente, tendo relações sexuais a céu aberto e, pior, dentro de uma floresta, um lugar perigoso e que qualquer pessoa poderia vê-los. Fico pensando nas crianças que estão fazendo trilha junto com seus pais e na cena traumática que ficaria presente em seus rostos inocentes ao presenciar tal ato. Não me leva a mal, não sou contra DPA¹°até por que Alec e eu nos pegamos minutos atrás em um lugar em que qualquer pessoa também poderia ter nos visto, mas, não estávamos a ponto de transar como Cassie e Chad estão pestes a fazer. Ou melhor, estavam prestes a fazer.

— Eu tenho uma ideia. – Comento com malícia perigosa na voz, enquanto as engrenagens funcionam em minha cabeça. Alec me observa cuidadosamente, tentando decifrar o que se passa em minha mente. Ele não faz uma maldita ideia, porém.

— Caty? No que você está pensando? – Ele pergunta com cautela, mas eu não respondo. Com um plano fresco em minha mente, começo a caminhar ao longo da margem do rio, tomando cuidado para que meu corpo fique bem escondido atrás dos arbustos ao seu redor e não faça qualquer barulho extremamente audível que poderia denunciar a nossa presença aqui. Mais uma vez, a ninja presente em mim entra em ação e, dessa vez, não é um vestido que tenho como missão, mas, sim, derrubar a garota que o usou na noite anterior e o tarado embaixo dela.

Assim que chego a uma parte do terreno extremamente barrenta e próxima ao casal se atracando, eu paro de andar.

— Caty? O que está passando por essa mente indecifrável? – Alec pergunta em voz baixa atrás de mim. Eu desvio olhar do meu objetivo apenas por um minuto, para focar no rosto cauteloso dele. Alec está preocupado com o que passa em minha cabeça agora e eu não o culpo. Não são pensamentos doces que rodam minha mente. Na verdade, nunca são, mas, agora, estão em um nível elevado de travessura.

Eu sorrio fingindo inocência e Alec me lança um olhar desconfiado.

— Eu estou apenas... Civilizando o lugar. – Digo e não há como esconder a malícia em minha voz. Eu dou as costas para Alec, deixando-o refletir um pouco em minhas palavras enigmáticas e abaixo cuidadosamente a margem do rio. Visto que estamos mais próximos de Cassie e Chad agora, os gemidos que saem dos lábios da minha irmã são mais audíveis e meu estômago revira. Eu enfio minhas mãos no terreno lamacento abaixo de nós e Alec, que observa atentamente ao meu lado, faz uma careta de desgosto ao entender, por fim, o que planejo fazer.

— Acho que isso não é uma boa ideia, Caty. – Ele aconselha e, assim que estou satisfeita com a quantidade de barro que consegui retirar do solo, eu me levanto. A lama faz cócegas em meus dedos, quando foco meu olhar em Alec.

— Não se preocupe. Ela vai me perdoar. – Afirmo com um sorriso inocente puxando o canto dos meus lábios em seguida – Até por que, eu estou fazendo isso pelas crianças.

Alec me encara com olhos semicerrados e a confusão é evidente em seu olhar.

— Crianças? – Eu assinto e ele balança a cabeça, entregando os pontos – Deus, você é maluca.

Eu sorrio. Um sorriso verdadeiramente contente. Um sorriso que raramente está presente em meu rosto a não ser por encenação. Contudo, facilmente ele está aqui em meus lábios agora e eu realmente não quero admitir o porquê.

Eu desvio meu olhar do de Alec e miro no rosto excitado da minha irmã. Agora, Chad está apertando o outro peito dela tão forte que é provável deixar uma marca, mas Cassie não parece se importar, em tudo. Na verdade, é exatamente o contrário. Pelo olhar satisfeito em seu rosto e os gemidos baixos que escuto, acredito que ela está gostando bastante. Pena que não vai durar muito tempo, eu penso e, em seguida, movo meu braço para trás apenas o suficiente para ganhar impulso e lanço o barro em direção a minha irmã. Por mais que eu tenha uma péssima mira, fico impressionada quando o barro acerta em cheio o cabelo e pescoço nu de Cassie, assim também como o rosto de Chad, que estava beijando-a naquela região.

Um grito estridente e feminino seguido de um “Ai meu Deus” e um grunhido irritado masculino tornam a ecoar pela cachoeira em seguida. Não percebi que permaneci em pé com um largo sorriso no rosto, até o momento em que Alec me puxou para baixo ao seu lado e permanecemos escondidos atrás de um arbusto convenientemente alto. Minha garganta coçava para soltar a gargalhada presa nela e eu tive que fazer um real esforço para contê-la, enquanto observava Cassie, com a cara repleta de lama, sair como um raio de cima do colo de Chad.

— De onde diabos veio isso?! – Ela exclamou com uma cara de nojo em seu rosto, enquanto passava as mãos em seu pescoço repleto de lama.

— Como eu vou saber? – Grunhiu Chad molhando a mão no rio e passando-a em seu rosto, pois havia resquícios de barro nele. – Deus, eu acho que engoli lama. Literalmente.

Cassie fez uma careta e revirou os olhos.

— Bom, pelo menos ela não sujou todo o seu cabelo. – Ela resmungou e com a mão fechada como uma concha pegava água do rio para lavar seu rosto, pescoço e cabelo, porém o barro presente nesse último não saía com facilidade e Cassie soltou um xingamento por isso – Deus, isso só vai sair direto quando eu lavá-lo em minha casa e usar todo o pote de shampoo.

Cassie semicerrou os olhos ao longo da cachoeira, assim que retirou máximo que conseguiu de barro do seu coro cabeludo. Seus olhos vagueavam cuidadosamente ao longo do mato à procura do culpado, como os de um gavião a procura de sua presa. Sua presa, porém, estava aconchegada ao peito duro de um cara e fazendo o melhor para esconder o seu corpo atrás do arbusto. Eu mordia o lábio inferior para não soltar a risada que venho prendendo desde o momento em que vi o rosto de Cassie marrom de lama e, acredite, isso não é fácil. Você querer rir loucamente e não poder fazer isso é a coisa mais frustrante que existe.

— Aposto que isso foi obra da Caty. – Cassie acusa, após alguns minutos de silencio perseguidor e eu sorrio ao observar sua irritação por uma brecha no arbusto.

— Se foi ela, Alec está junto também. – Grunhiu Chad com desgosto evidente na voz – Maldito empata foda!

— Foi mal, cara. – Alec sussurrou com pena presente em sua voz e eu dei uma cotovelada em seu estômago que o fez arfar levemente e dar um tapinha em minha bunda em seguida. Eu só não o empurrei, por que percebi o momento em que Cassie bufou irritada e começou a afastar-se da cachoeira e Chad, com um pulo, tornou a segui-la. Ele envolveu as mãos ao redor da cintura dela quando a alcançou e pressionou o nariz no lado limpo de seu pescoço. Eu torci meu rosto ao observá-los. Eles realmente vão continuar a cena que atrapalhei minutos atrás ali? Poderia ser inacreditável se eu não achasse possível. Bom, se isso tornar a acontecer, eu tenho outras ideias em minha mente que poderiam funcionar bem em pará-los. Contudo, não vou precisar usá-las, pois Chad torna tudo mais fácil para mim.

— Ei, nós podemos continuar de onde paramos. – Ele sugere sensualmente beijando-lhe o pescoço e sinto vontade de vomitar – Provavelmente, se forem realmente Alec e Caty, eles devem ter fugido pensando que fomos atrás deles. Então, devemos estar sozinhos novamente... - Percebo o tom sugestivo em suas palavras e meu estômago revira pela décima vez. Pensei que Cassie iria concordar com sua sugestão, pois ela permaneceu com os olhos fechados por longos segundos, porém, quando os abriu, irritação fervia em seu olhar.

— Você é um idiota! – Ela exclamou e, furiosa, deu as costas para Chad e pulou nas pedras para se afastar o mais rápido possível dele.

Chad permaneceu imóvel com uma bela confusão presente em seu olhar.

— Espera gata! O que houve? – Ele gritou, mas Cassie moveu sequer um centímetro de sua cabeça na direção dele e Chad soltou um grunhido frustrado quando a viu prestes a adentrar a trilha – Oh, merda!

Com passos pesados, ele tornou a ir ao seu encalço, pulando de pedra em pedra ao longo do rio tão rápido que eu pensei que em algum momento ele iria cair de cara em alguma delas. Alec e eu escutamos o ruído de seus pés esmagando duramente as folhas no chão assim que ele chegou à margem do rio e entrou na trilha. Em seguida, os gritos altos de Cassie ecoaram ao longo das árvores e meu coração acelerou. Eu não conheço Chad e ele poderia muito bem estar machucando Cassie nesse momento pelos gritos estridentes e xingamentos que escuto.

Em um pulo, eu estou de pé e marchando em direção a aquele idiota, pronta para socar sua cara bonita por sequer encostar um dedo em minha irmã. Contudo, dedos quentes prendem em meu pulso e não consigo ir muito longe.

— Me solte Alec. - Eu ordeno, enquanto tento usar a outra mão para soltar seus dedos do meu braço – Ele pode estar machucando Cassie.

Alec me observa com a mandíbula cerrada e com o rosto sério, enquanto me debato.

— Ele não vai machuca-la, Caty. – Ele afirma e por mais que a certeza esteja presente em sua voz, ainda não é suficiente para acalmar meus nervos ansiosos e ele suspira – Presta atenção, eles pararam de gritar.

Eu paro de me debater e, por fim, noto que os gritos pararam e, agora, apenas o balançar das árvores com vento e o som do correr da água ao longo do rio é possível ouvir.

Eu guincho.

— Ele pode muito bem tê-la matado.

— Eu o conheço a vida toda. – Ele garante com o rosto nebuloso e sério – Ele jamais prejudicaria uma mulher. Confie em mim.

Eu o observo atenta e cuidadosamente. Ele está com a mandíbula cerrada e o aperto sobre meu pulso está mais firme, não a ponto de machucar, pois acredito que Alec jamais faria isso comigo, mas, como se ele quisesse passar a confiança que tem em seu amigo para mim. Não é preciso, porém. A expressão séria em seu rosto e a certeza em suas palavras é o suficiente para que eu assinta com a cabeça. Eu nunca o vi tão certo sobre uma coisa antes e isso, com certeza, ajuda a... Confiar nele. Confiar de que seu amigo não vá fazer nada de mal a Cassie.

O rosto de Alec suaviza e ele solta o meu braço lentamente. Ficamos em silêncio, encarando um ao outro por longos minutos.

— E agora? – Ele pergunta.

Nos entreolhamos mais uma vez e logo explodimos em gargalhadas contidas, que tornam a acompanhar o som da cachoeira e o balançar das árvores ao nosso redor. Um grande contraste com momento anterior, onde o clima tenso se estendia entre nós como uma longa ponte.

— Eu nunca vou entender as mulheres de sua família. – Alec comenta entre risos.

— Shiu! – Levo o dedo indicador aos lábios indicando que devemos fazer silêncio, mas não contendo minhas próprias risadas – Eles ainda podem estar por perto.

Alec torna a dobrar-se de tanto rir e eu não reluto nem por mais um minuto e torno a acompanhá-lo com a mesma veemência. Quando minha barriga e bochechas doem de tanto rir loucamente, ergo meu olhar para Alec e noto que seu sorriso desapareceu e ele está observando atentamente minhas feições.

— O que foi? – Indago, passando a mão nos meus olhos que lacrimejam e deixando que as últimas risadas escapem de mim.

Alec não responde de imediato. Ele me surpreende ao passar o braço ao redor do meu pescoço e puxar meu corpo para perto do seu. Eu permito, contudo, pois o calor de seu corpo ao meu redor até que é confortável.

— É a primeira vez que escuto você rir assim.

— Bom, eu meio que não tive escolha. – Respondo com um leve sorriso nos lábios – Eu me lembro de dizer que riria de você caindo no chão e isso vale para ver minha irmã levando lama no rosto. – Eu faço uma pausa, refletindo – Isso faz de mim uma pessoa ruim?

Às vezes, eu penso que sou muito cruel com Cassie, mas quando penso em todas as coisas que ela já aprontou contra mim ao longo dos anos, qualquer resquício de dó ou pena evapora na mesma hora. Cassie pode ser uma vadia louca quando quer.

Alec balança a cabeça de um lado para o outro e sorri.

— A pior de todas.

O clima entre nós muda drasticamente mais uma vez. Sempre é assim com Alec. Ele consegue mudar o ambiente de frio para extremamente escaldante apenas com o olhar. Seus olhos azuis brilham com intensidade e desejo e ele desce o olhar ao longo do meu rosto para focar em meus lábios. Sei o que passa em sua mente agora, pois é exatamente o que passa na minha ao observar sua boca e me lembrar da sensação que é tê-la contra a minha. Seus lábios quentes e levemente avermelhados são um convite para qualquer garota beijá-los e, assim que esse pensamento cruza minha mente uma careta toma conta do meu rosto. Fico me perguntando quantas garotas já passaram por eles. Quantas garotas sentiram os lábios sedosos de Alec acariciar os seus? Quantas sentiram suas mãos deslizarem pelo seu corpo e deixarem rastros quentes a onde elas encostaram? Com certeza, não foram poucas, pois Alec exala esse ar “me beije” e imaginar várias meninas trocando saliva com ele, faz uma sensação estranha cruzar minha espinha. Ciúmes, talvez?

Não.

Caty não tem ciúmes ou qualquer sentimento meloso como esse por ninguém. Mal o conheço e, além do mais, Alec só está aqui para me mostrar como fazer um bom tempo e isso não envolve eu tendo uma crise indevida e infundada de ciúmes que, com toda certeza, é alguma imaginação da minha cabeça. Contudo, a expressão em meu rosto deve contradizer minhas palavras, pois Alec pergunta:

— Você está bem?

Eu saio do meu transi de pensamentos totalmente proibidos de se ter e foco em Alec. Ele me observa atentamente, então, eu finjo um sorriso do tipo “Nada está acontecendo em minha cabeça maluca” e respondo:

— Melhor impossível.

Maior. Mentira. De. Todas.