Paraíso de verão

Sábado, 19 de Dezembro, 02h30min. da madrugada.


Sábado, 19 de Dezembro, 02h30min. da madrugada.

Sabe aquele momento em que você sabe ter tomado à decisão errada, mas, por orgulho você não muda de atitude?

Pois bem. Esse é exatamente um daqueles momentos.

Assim que entrei na rodinha de jovens, Alec cumprimentou alguns deles com um leve aceno de cabeça, enquanto eu, para minha infeliz surpresa, reconheci um dos cinco rostos presentes.

O tarado que me agarrou quando entrei na casa. Ele estava com o braço ao redor do pescoço de uma garota enquanto ria de algo que ela falou e, assim que me notou presente, arqueou as sobrancelhas.

— O que essa cadela faz aqui? - Ele exclama.

Eu estava pronta para mostrar meu lindo dedo do meio pra ele, que bati o recorde de vezes que já o mostrei num dia, quando Alec envolveu as mãos protetoramente em minha cintura.

— Do que você a chamou, Trenton? - Ele perguntou com a voz assumindo um tom ameaçador que eu desconhecia.

O tarado, ou melhor, Trenton, o encarou por longos minutos parecendo travar uma batalha de olhares silenciosa com Alec.

— Nada, Alec. - Ele disse e pegou um copo de Vodca voltando sua atenção para a loira lindamente plastificada ao seu lado.

Alec continuou com a mão na minha cintura até o momento em que sentamos no chão nos juntando a rodinha e eu fiz o máximo que pude para ignorar a sensação que era ter sua mão ao meu redor.

— Já pode tirar a mãozinha, parceiro. – Dou um tapinha em sua mão e ele me olha maliciosamente e então a ergue como se estivesse se rendendo, mas não comenta nada, o que eu realmente acho estranho por que jurava que ele soltaria alguma piadinha com isso, mas sua expressão estava completamente seria.

— De onde você o conhece? - Ele pergunta.

— Ele é um idiota.

Ele sorri fracamente.

— Sim, ele é, mas você ainda não respondeu minha pergunta.

— Ele veio falar comigo assim que entrei na festa. - Eu explico, ocultando a parte dos beijos no pescoço e um chute doloroso em todos os seus filhos que não me arrependo um minuto sequer de ter dado.

— Hum. - Ele murmura pensativo e aproxima o rosto do meu ouvido - Tem certeza que quer jogar isso? Você não me parece o tipo de pessoa que...

— Aproveita as festas? - Eu completo arqueando as sobrancelhas - Você está completamente enganado por que eu amo festas e sempre ganho nesse jogo - Eu minto e ele assente, um pouco desconfiado, ao se afastar. – Veja e aprenda.

— Então, pessoal. - O moreno que nos trouxe aqui se pronuncia - É o jogo de sempre. Quem vai começar?

— Eu começo. - Trenton se voluntaria e então enche um copo com a bebida no meio da roda - Vou perguntar para a novata aqui. - Então, ele apontou diretamente pra mim e internamente eu resmunguei. Por que logo esse idiota?

Logo um arrependimento bate ao lembrar-me que eu nem sei que diabos de jogo é esse, mas eu tento não demonstrar a minha inabilidade.

— Você é puta? - Ele pergunta direto e eu arregalo os olhos.

— Não. - Eu imediatamente respondo e todos em volta começam a rir, menos Alec que encara fixamente Trenton com um olhar nada agradável.

— Toma. - Ele me entrega o copinho da bebida.

— Por quê? - Eu questiono e ele ri.

— Você é lerda? Acabou de falar a única palavra proibida do jogo.

Se eu soubesse as regras do jogo seria mais fácil, no entanto, eu não admitiria para ele o meu desconhecimento. Meu orgulho é maior que isso. Mas, como a Caty que sou jamais deixaria essa passar batido, por isso, finalmente, ergui meus dois lindos dedos do meio para ele, fazendo todos ao nosso redor rir, inclusive Alec. Pego a bebida de sua mão e a tomo num gole só, fazendo uma leve careta.

— Você não sabe jogar, né? – Alec diz contendo uma risada.

— Detalhe.

— Ok, agora é minha vez. - Uma garota de cabelo vermelho como fogo diz - Vou perguntar para você, Trenton. É verdade que a novata ali - Ela surpreendentemente aponta pra mim - Te deu um chute nas bolas mais cedo e você ficou no chão chorando que nem mulherzinha? - Ela pergunta e então eu inconscientemente começo a rir ao lembrar-me da cena.

Meu Deus o que está acontecendo comigo? Eu não costumo rir assim.

Trenton semicerra os olhos para a garota-Lavagirl, enquanto todos os outros riam.

— Você fez o que, Caty? - Alec pergunta, rindo descrente ao meu lado e aí eu recordo a parte em que eu não contei toda a verdade para ele de como acabei conhecendo Trenton. Mas, antes que eu posso explicar os detalhes, um jovem de cabelo loiro coloca a mão no ombro dele, rindo incontrolavelmente.

— Ai, cara. - Ele passa a mão nos olhos - Trenton tentou beijá-la assim que ela chegou, mas, ele não pensou que ia levar um chute nas joias ao fazer isso. Mandou bem garota! - Ele ergue a mão indicando que eu deveria fazer um High Five com ele o que eu jamais faria em outros tempos, mas, só por que agora parece engraçado e para mostrar que sei aproveitar e também por culpa total do álcool em minhas veias, é exatamente isso que eu faço.

— Não sei do que vocês estão falando, idiotas. – Trenton responde e eu pego um copo e encho com cerveja.

— Resposta errada, amigo. Ou você quer que eu lhe de outro chute para fazer você lembrar? Eu não me importo. – Digo e o garoto me encara e mostra o dedo do meio antes de pegar bruscamente o copo da minha mão para tomar a bebida.

— Você esta chapadinha, sabia disso? – Alec comenta e eu rio.

Por que eu estou rindo mesmo?

— Eu sei. Não é legal? Estou curtindo. – Minha voz sai um tanto levada, mas eu já nem me importo mais.

— Ok. Eu serei o próximo. - O garoto ao meu lado diz e faz uma pergunta para o moreno que acabei por descobrir se chamar Marcus.

— Você dormiu mesmo com a namorada do Paty? - Ele sorri malicioso e o garoto balança a cabeça ao ouvir o coro de "U" que os outros integrantes do jogo soltam.

— Eu prefiro beber a ter que responder a isso. - Ele diz, mas vejo um sorriso no canto de seus lábios. - Vai Alec me passa essa bebida aí! - Ele pede e Alec prontamente enche o copo para ele e o entrega.

— Você nem precisava responder a essa, pois todo mundo já sabe a resposta mesmo. - Ele comenta e todos ao redor riem inclusive Marcus.

Eu com toda certeza acharia isso o cumulo, pois quem é que dorme com a namorada de outro cara? No entanto, eu culpo totalmente a bebida por minha insensibilidade.

Após mais algumas partidas e alguns copinhos a mais de bebida eu estava completamente tonta e, se já não media palavras antes, agora muito menos.

— Ok, Ok. - A loira plastificada que eu descobri se chamar Mage e estava com muita vontade de enfiar minha mão em sua boca para calar aquela voz irritantemente mesquinha, diz. - Eu vou fazer a última pergunta e vai para a Caty.

Deus meu, me ajude a não jogar minha bolsa nela.

— Manda.

Primeiro de tudo a garota me olha de cima a baixo avaliando minha calça jeans, tênis Allstar e minha blusa preta folgada antes de perguntar.

— Você é virgem? - Ela pergunta com um sorriso malicioso no rosto e vejo alguns dos caras ao redor lutando para controlar o riso, menos Trenton, é claro.

— Qual é Mage? Que pergunta é essa? - Alec diz e olha pra mim - Você não precisa responder isso.

— Ahhh, relaxa. Ela só fez uma perguntinha - Eu sorrio falsamente para a garota, que faz o mesmo - Sim, eu sou.

A partir do momento em que assumo isso, Mage e alguns ao redor começaram a rir. No entanto, eu apenas reviro os olhos. Se o objetivo era me fazer ficar constrangida não deu muito certo. Por que eu sentiria vergonha disso?

— Se quiser eu resolvo isso pra você, amor. – Marcus oferece sorrindo sensualmente para mim e Alec dá um soco, não tão fraco, no seu braço.

— Qual é Alec!? – Ele exclama, passando a mão no local que provavelmente estava dolorido agora – Era brincadeira, relaxa.

— Por mais que eu mesma queira ter dado esse soco, Alec, e dar um soco em você por ter dado um soco por mim, obrigado.

Alec sorri.

— Foi um prazer.

— E para você Marcus a resposta é não. – Eu olho para ele que faz uma carinha triste me fazendo rir.

Espera!

Eu estou realmente discutindo minha virgindade com um cara que mal conheço?

Devo estar pior do que pensava por que, de repente, começo a rir com esse pensamento.

— Só não sei qual é o problema com isso? – Eu pergunto e Mage para de rir para me olhar.

— Nenhum, mas estava bem na cara que você é uma – Ela olha para minhas roupas – Quem vem de calça jeans e com um blusão desses para uma festa – Ela tira sarro e eu rio cinicamente.

Agora. Sim.

Ela que pediu.

— Olha, eu me sentiria ofendida com isso se eu realmente ligasse para o que sai da boca irritante. Mas eu não estou nem ai – Então, eu examino sua vestimenta de cima a baixo: Vestido preto decotado e curtíssimo e um salto tão alto que nem eu sei como ela consegue andar com essas coisas. Claro, jamais julgaria ela por sua roupa, como ela fez comigo, mas, ao vê-la flertar durante o jogo com três caras diferentes ao mesmo tempo eu posso falar o que vou dizer agora – Antes uma virgem do que uma puta!

Alec ao meu lado engasga com a bebida que estava tomando e todos os outros riem com o que eu disse ate mesmo Trenton. Mage olha com a boca aberta para mim descrente.

— O que você disse?

Eu olho bem para o rosto dela.

— Eu disse “Antes uma virgem do que uma puta” – Eu repito e a garota escancara mais ainda a boca – Além de puta é surda? Sem preconceitos. – Ergo minhas mãos ao alto.

— Sua cadela! – Ela exclama e então começa a se levantar irritadamente do chão – Você vai ver.

Opa!

— Ok. Acho melhor te levar embora daqui – Alec diz e começa a me puxar pela cintura – Já devia ter te levado a três copos de bebida atrás.

Eu me desvencilho de seu braço e coloco a mão no seu rosto.

— Não se preocupe, super-herói. Em festas tem brigas, né? Se for aproveitar tem que ser a experiência completa. Além do mais – Eu olho para Mage que se aproxima de mim – Eu sei lutar boxe.

Após dizer isso alto suficiente para alguns ouvirem, ouço um coro de gritos se espalhando e vejo olhar da garota e toda sua confiança fraquejar, mas, ela logo se recompõe.

Claro que quando aprendi a lutar boxe não era com esse objetivo, mas, sim, para me defender de algum tarado que tentasse me agarrar, porém, acho que posso usar minhas habilidades aqui.

“Nunca julgue um livro pela capa” É o que eu sempre digo, além de:

Odeio quando me subestimam.

Vejo Mage aproximar mais alguns passos de mim com um olhar mortal no rosto e, quando estava pronta para lhe dar um soco, ouço mais um coro de gritos e não entendo o porquê se nem bati nela ainda, porém, logo é explicado quando um garoto chega correndo e grita:

— Galera, a polícia está vindo!

Policia?

Os homens de fardinha que prendem os meliantes, ladroes e assassinos?

O som de sirenes torna-se audível a partir desse momento e pela terceira vez na noite me arrependo de ter vindo aqui.

Ai, Deus, devia ter ficado em casa dormindo.