Paraíso de verão

Sábado, 19 de Dezembro, 01h40min. da madrugada.


Sábado, 19 de Dezembro, 01h40min. da madrugada.

Continuei andando pela casa barulhenta, enquanto ainda procurava minha irmã após mais de vinte minutos e estava muito tentada a sair correndo ou chutar o próximo idiota que tentasse me apalpar enquanto eu passava. No entanto, eu não correria, pois, a preocupação com a minha irmã era muito maior do que qualquer outra apalpada que eu sofresse nessa festa. Procurei em todos os cômodos possíveis menos os do andar superior, pois se havia muitas pessoas se pegando do lado de fora, imagina do lado de dentro daqueles quartos.

Nem quero imaginar.

Desistindo de dar a décima volta pela casa, resolvi voltar ao lado de fora e lá reparei que não havia procurado no quintal dos fundos, então, fui direto pra ele encontrando várias outros jovens, alguns que deveriam sinceramente pensar na possibilidade de usar um quarto, pois já passaram do nível "demonstração pública de afeto", outros bebendo ou bêbados e minha irmã dançando com um cara.

Espera! Volta!

Minha.

Irmã.

Dançando.

Com.

Um.

Cara.

Fui desviando das pessoas para confirmar o que tinha visto e fiquei surpresa ao ver que era exatamente aquilo. Cassie estava em sua plena consciência e ainda por cima rebolando sensualmente ao som de Justin Timberlake, What Goes Arounds Comes Around.¹

O que diabos esta acontecendo?

— Cassie! - Eu chamei, mas ela não me ouviu por causa do som alto, então me aproximei mais pedindo licença para as pessoas que estavam no meu caminho.

- Cassie. - Repeti e ela se virou para mim rindo.

— Oh, Caty! - Ela me cumprimentou animada. Ok, talvez ela não esteja em sua "plena" consciência, mas com toda certeza ela está consciente, apenas um pouco chapada. - Você veio!

Eu cruzei meus braços e a encarei.

— Como assim “Você veio“ - Eu disse com a voz séria - Você deveria estar desmaiada, ou pelo menos foi o que o tal cara me disse.

— Chad. - Disse o cara que estava dançando com minha irmã enquanto passava a mão por todo o seu corpo há meio minuto.

Minha irmã riu e deu um tapinha no peito dele.

— Esse Chad. - Ela disse com o sorriso sumindo e mordendo o lábio inferior maliciosamente, pronta para beija-lo, então, eu soltei um suspiro irritado e puxei-a pelo braço para um canto do quintal onde eu não fosse empurrada por ninguém.

— Cassie! Você deveria estar inconsciente de tão bêbada e não tentado pegar o Chad! - Eu soltei seu braço com força.

— Ai, Caty. - Ela reclamou - Esquece isso. Vamos curtir.

— Cassie. - Eu lhe lancei um olhar repreendedor e cruzei os braços - Por que me chamou aqui se não precisava de mim?

— Ah, eu achei que seria bom você vir. - Ela diz e dá de ombros.

Seria bom eu vir aqui? Serio? Com aquele tarado que tentou me agarrar na entrada e eu espero não ver novamente e com esse monte de gente se esfregando?

Eu a encarei arqueando as sobrancelhas por sua resposta vazia e, vendo que eu ainda não compreendia, ela soltou um suspiro e continuou:

— A festa estava tão boa que pensei em te chamar, mas, como eu sabia que você não viria se eu simplesmente dissesse: "Ei, Caty, que tal você vir pra festa?", o Chad deu a ideia de usarmos um pouco da imaginação para convencer você. - Ela explicou com um sorrisinho no final.

— E parece que funcionou. - Chad que agora percebi ter seguido eu e minha irmã pra cá, comentou - A propósito é um prazer te conhecer, Caty. - Ele estendeu a mão para me cumprimentar e eu apenas a encarei antes de voltar a focar em minha irmã.

— A uma da madrugada?! - Disse indignada e com a voz um pouco elevada. Cassie sorriu e apenas balançou a cabeça concordando.

— Esse é o horário em que as coisas ficam boas. - Ela sorri maliciosamente e eu revirei os olhos.

— Cassie! Caramba o que você tem na cabeça? - Reclamei irritada - Eu tive que pular aquela maldita sacada a uma da manhã e caminhar mais de quinze minutos na rua escura e deserta, pensando que você estava desmaiada numa festa e com um estranho por nada?! - Eu exclamei inconformada.

— Por que não veio de táxi?

Por que eu não vim de táxi ?

Eu a encaro fixamente até que o braço do Chad passou em volta dos meus ombros.

— Fica calma, gatinha. – Ele diz - Você está numa festa tem que curtir.

Eu semicerro os olhos e encaro o braço de Chad ao redor do meu pescoço antes de focar em seu rosto. Por que esses praianos tem que ser tão ousados?

— Eu já chutei um nas bolas hoje. Você não vai querer ser o próximo, ou vai? - Eu pergunto e ele rapidamente tira o braço do meu pescoço para pôr em volta da minha irmã.

Inteligente.

— Ela é bravinha. - Ele diz e Cassie balança a cabeça concordando. Traíra — Gostei dela - Chad sorri e eu reviro os olhos, mas logo foco em minha irmã.

— Você chutou mesmo alguém nas bolas? - Ela pergunta e eu suspiro.

— Sim, eu chutei. Ele não deveria ter tentado me agarrar, mas isso não vem ao caso agora.

Agora é a vez de a Cassie revirar os olhos.

— Ai, Caty pelo amor de Deus, relaxa. - Ela diz erguendo as mãos, exasperada - Você está bem, viu? Não morreu, não foi sequestrada. Agora para de ser chata e vai viver um pouco sua vida.

— Eu sei muito bem aproveitar a vida, Cassie.

— É mesmo? – Ela me olha cética e cruza os braços – O que você já fez para aproveitar, hã?

— Eu leio...

— Ler livros não conta.

Droga.

— Bom, fiz muitas coisas – Respondi – Eu... Eu... Eu...

— Está vendo? Nada! Você nunca faz nada.

Eu suspirei já irritada com essa conversa.

— Mas essa não é a questão, Cassie...

— Essa é exatamente a questão, Catherine!! – Ela exclamou e eu dei um pulinho, surpresa ao ouvi-la chamar meu nome e não o apelido – Para de ser chata e vai viver um pouco sua vida! Você não sabe o que é viver, não sabe aproveitar e se continuar desse jeito vai morrer sozinha e frustrada!! Fiz isso por você!!

Eu fico parada a encarando, um pouco perplexa com suas palavras e percebo que até mesmo ela ficou, pois nunca me tratou dessa maneira, ainda mais na frente de outras pessoas que nos observavam e riam da nossa cena.

Envergonhada com a atenção indesejada, eu balanço a cabeça e sorrio sarcasticamente, pois essa é a única maneira que sei sair de situações assim e digo:

— Então, sinto muito por não dizer obrigada. – Assim, eu dou as costas para ela, Chad e todos os curiosos que nos observavam e riam as minhas custas.

Escuto Cassie chamar meu nome, mas eu a ignorei e continuei a correr para dentro da casa. No entanto, para todo o lugar que eu ia havia pessoas e mais pessoas e tudo que eu mais queria nesse momento era não ver pessoas.

Não ver ninguém.