SARA

Sou teleportada para a casa dos meus padrinhos, não faço escândalo pois deixei Ollie e Felicity na caverna, mas não estava afim de dirigir até a fazenda para dormir, já que não tem como se teleportar para lá, medida de segurança. Me arrasto escadas acima, até meu quarto.

É reconfortante encontrar as cochas lilás e papel de parede com princesas bordadas, é o quarto mais brega que já vi na vida, o que faz todo o sentido, já que fui eu mesma que escolhi a decoração aos meus sete anos. Me jogo na cama, após tirar o colar enfeitiçado do meu pescoço e o deixar sob o abajur de fada, acho que não durmo a dois ou três dias, já perdi as contas.

—Sara! –sinto meu corpo ser sacudido. –Sara!

—Quem morreu? –começo a me levantar, procurando por meus sapatos, e encontro Luna me olhando com aqueles olhos enormes, arregalados como se estivesse anestesiada ou em algum tipo de choque. –Você está bem? –questiono cautelosa.

—É, eu tô bem, acho que estou.

—Não parece bem, está pálida e estranha. –ela escorre se sentando no chão com as costas apoiadas na cama.

—Encontramos uma possível localização do Zoom, mas Barry, Oliver e Hal foram verificar antes, não querem arriscar colocar Wally frente a frente com ele novamente. –dispara a falar, muito rápido e o mais bizarro, sem gaguejar nenhuma vez. –Ele não deve estar lá, não que não queira, só o que quero é que toda essa merda acabe, mas é improvável demais...

—Luna! –grito para que ela me percebesse. –O que está acontecendo com você? Não deveríamos estar indo para a caverna agora?

—Não! –exclama, pegando minha mão e me puxando para baixo, me obrigando a me sentar a seu lado no chão. –Tem ideia de como foi difícil sair de lá para vir falar com você?

—Eu ainda estou com sono. –murmuro.

—Nem começa, você dormiu a noite toda, agora já passa das onze. –fala apontando para meu relógio de elefante, só então percebo o dia claro. –Esse quarto é medonho!

—Fui uma criança criativa. –dou de ombros envergonhada.

—Eu fui sua madrinha, não gosto de vestidos bufantes nem cerimônias enormes como a sua foi, mas você é minha melhor amiga, eu te amo, então fui sua madrinha. –olho para ela confusa. –E agora você precisa, precisa me ajudar Sara.

—Lu, estou começando a ficar preocupada. –ela abraçava os próprios joelhos contra o peito.

—Eu não pensei nisso quando ele fez o pedido, só pensei “olha, ele quer casar comigo” e “Deus, como esse cara é gostoso!”, mas eu vou ter que dizer meus votos na frente de um monte de pessoas, das nossas famílias, e você precisa me lembrar o quanto eu amo o Connor, e me obrigar a caminhar até o altar se for preciso. –sorrio radiante, a puxando para um abraço apertado que acaba envolvendo as pernas e braços e toda a bolinha que ela havia se tornado.

—Você se casa, nem que eu precise te chutar até o altar. –prometo, e ela sorri aliviada. –Deixa eu ver o anel! –ela tira do bolso uma aliança linda, com um senhor diamante. –Nem vou perguntar por que está no bolso. –dou risada.

—Queee... queria te contar antes de mostrar paaa... para os outros. –confessa tímida, colocando o anel no dedo anelar de sua mão esquerda.

—Esse não é o anel que ele comprou.

—Sabia sobre o anel? –me olha chocada.

—Hey, nós não éramos tão próximas na época, e depois eu me esqueci. –assumo, na defensiva. –Estou feliz por vocês, e por mesmo no meio de toda essa bagunça, ter algum motivo que me faça querer sorrir. –seguro sua mão com carinho. –Só para esclarecer, você me chamou para ser sua madrinha, não foi?

—Claro. –responde naturalmente, até perceber minhas intenções. –Você e Wally não tem jeito! –revira os olhos. –Oh, Connor e eu decidimos que vocês serão nosso casal de padrinhos, só vocês, e juntos. Não é uma competição.

—Uau, isso foi maduro. –murmuro surpresa e um pouquinho desapontada. -Por que nós nunca somos maduros assim?

—Por que são as duas pessoas mais competitivas que conheço!

—Já falaram com ele?

—Nós o obrigamos a dormir, Connor vai contar quando ele acordar.

—Sedaram o Wally?

—Oliver quem sedou, nós só o distraímos pra ele levar a flechada. –não deveria rir daquilo, não mesmo, mas a notícia do casamento dos meus melhores amigos é a primeira coisa que me anima desde minha suposta morte.

—O que está acontecendo aqui? –Isis abre a porta, nos fazendo olhá-la boquiabertas.

—O que...

—Que porra é essa Isis? –concluo por Luna, que nem consegui formular a frase.

Isis Queen é uma garota doce, carinhosa, mas cheia de manias. Ela lida com a irritação mudando as coisas, redecorando o quarto, a casa alheia, ou até mesmo a caverna. A questão é que ela gosta de refazer coisas que já estão perfeitas, faz com que ela se sinta melhor. Mas quando a vemos com o que deve ser uma antiga blusa de algodão do Connor, uma calça de moletom enorme e tênis, parecendo uma mendiga doida e toda suja de tinta e poeira, tenho até medo de perguntar o que é que ela está quebrando.

—Meu quarto, ele tem a mesma cor nas paredes a cinco anos. –dá de ombros.

—Quer conversar? –Luna pergunta, batendo no chão a seu lado. Isis sorri culpada e se senta ali.

—Eu quebrei a divisória que separava meu quarto do quarto do Connor. –conta de uma vez, como uma criança confessando a arte que fez. –Agora tenho um super quarto. –Luna se esforça para não dar risada.

—Você vai para a faculdade em dois meses. –a lembro.

—Então vou viver esses dois meses como uma princesa! –sorri para mim.

—Eu vou me casar. –Luna diz para ela. –Com o seu irmão. –esclarece como se não fosse obvio, enquanto mostra o anel, e vemos Isis abrir um sorriso largo, depois a abraçar, quase da mesma forma que eu fiz antes. As duas me olham, esperando a minha confissão.

—Eu vou ser a pessoa que vai chutá-la até o altar. –dou de ombros, forçando um sorriso, e elas reviram os olhos. –Não estou em um bom momento. –falo sério dessa vez. –Acabei de me casar a dois meses, mas não durmo na mesma cama que meu marido desde então, sabe como é difícil ficar sem sexo? –encaro as duas para enfatizar meu ponto. –Estou legalmente morta, e o psicopata que estamos caçando foi um dos meus amigos mais antigos.

—Damian é um idiota. –Isis murmura. –Vocês devem estar pensando que isso não é novidade, bom, não é mesmo. Mas ele era “meu” idiota, agora é só um idiota de quem eu gosto. Nem consigo olhar nos olhos dele, e meu pai vai me matar quando ver o que fiz com os quartos!

—Não tenho um pai para me levar até o altar, Phill pode até andar comigo até lá, mas não é a mesma coisa. –Luna termina, e nós ficamos em silêncio.

—Que droga. –sussurro apertando a mão de Luna, e ela faz o mesmo com Isis, ao menos estamos juntas.

WALLY

Acordo confuso, levando cerca de um minuto para me tocar que estava na ala hospitalar da caverna do arqueiro, em seguida vejo Connor em uma poltrona. Felicity sugeriu que ele usasse uma cadeira de rodas para se locomover temporariamente, para que não atrapalhasse em sua recuperação, nem preciso gastar o tempo em explicar o porquê da mula do Connor não ter aceitado. Ele fingi um sorriso, ao estilo Oliver Queen ao perceber que estava acordado.

—Vocês me doparam. –acuso, me sentando na cama hospitalar.

—Eu não fiz parte disso, não avisei, mas quem distraiu foi Luna e Felicity. Fique à vontade para brigar com elas. –dá de ombros.

—Não tem graça. –respiro fundo, ainda um pouco grogue.

—Você precisava dormir Wally. –justifica. –Precisa estar em sua carga total quando encontrarmos aquele desgraçado.

—Alguma novidade?

—Felicity pediu para dizer que só vai ser atualizado depois de um banho, e comer. –ele aponta para uma mesa no canto que tinha roupas limpas, toalha, e um saco pardo do Big Belly Burger. –E que se não fizer, ela dá um jeito de trazer a Iris aqui. –Connor espelha a careta que aparece em meu rosto.

—Tudo bem. –digo de má vontade. –Não vai sair? –questiono quando ele não se move.

—Vou esperar, bem aqui. –mais uma vez a sombra de sorriso passa por seu rosto. Sabe aquela música do elefante que incomoda? Pois é, podem adaptar para Arqueiro Verde, pois com certeza dois arqueiros incomodam muito mais.

Tomo um banho rápido, mas preciso admitir que foi bom sentir a agua quente em meu corpo, ando tão tenso que nem mesmo consigo apreciar essas pequenas coisas. Visto o par de calças jeans, camiseta e moletom, Fel me conseguiu até um par de tênis e meias limpos, e Deus sabe que precisava disso. Quando volto para o quarto Connor está na mesma posição, não que ele consiga ficar pulando, ferrado como está, mas o cara nem se moveu.

—Você está mais irritante que o normal. –sinto que é meu dever o informar, ele apenas sorri mais uma vez, sereno.

—É melhor começar a comer.

—Vai dar uma de Christian Grey agora? –olho para ele irritado, mas como, por que não estou louco a ponto de negar comida.

—Vou me casar. –diz, e balanço a cabeça, enquanto me ocupava com meu sanduiche.

—Temos esperança disso. –respondo de boca cheia. –Era um sonho distante, até a santa Luna aparecer em nossas vidas...

—Wally, é sério. –me interrompe e o olho surpreso. –eu pedi Luna em casamento ontem.

—Sem cerimônia grande, pelo amor de Deus! –é a única coisa que consigo formular em minha mente, e Connor dá risada.

—Não parece coisa da Luna, nem minha. –dá de ombros, deixo a comida de lado e me viro em sua direção.

—Parabéns cara, você conseguiu uma das boas. –digo feliz por eles.

—Vamos pegar o Zoom. –fala com seriedade. –Esse pesadelo vai acabar, e todos nós voltaremos a ter uma vida.

—É. –aquilo me lembrava que tinha trabalho a fazer. –Quer ajuda? –estendo a mão para ele se apoiar em mim para levantar. –Deveria usar a cadeira Connor, só por uns dois dias, o soro da Cait vai fazer efeito em seu metabolismo e vai se curar muito mais rápido. –passo seu braço por meus ombros e sustento parte do seu peso.

—Ele que faça efeito com minhas pernas se movendo. –diz com esforço, enquanto andamos até o elevador, Connor é um cara pesado, deveria aceitar a cadeira só pra facilitar as nossas vidas. –Luna foi falar com Sara, vocês serão os nossos padrinhos. Os dois como um casal, nada de competições. –dou risada de sua precipitação.

—Vai ser uma honra. Obrigado.

O elevador se abre e me assusto com a quantidade de pessoas na caverna. Todo o time do Arqueiro estava presente, incluindo Tommy Merlin. Hal e o tio Barry, conversavam com Ollie em um canto, afastados do resto. Dick, Barbara e Damian estavam mais interessados em observar o que Felicity fazia, e Firestom estava saindo no momento em que entramos.

—É como entrar em uma Comic Com fora de época. –murmuro, ajudando Connor a se sentar na cadeira de Luna.

—Zoom está atacando. –Canário Negro se aproxima com Speed. –Ronnie vai conter o Onda Térmica, mas pode não ser o suficiente. Ele parece estar no comando da Galeria de Vilões.

—Que merda. –Connor murmura. –Como posso ajudar?

—Ficando aqui com sua mãe. –aponta para Felicity. –Você está ferido Con, não vai para campo. –ela toca o ombro do sobrinho com ar de desculpas, e Thea o olha sobre os ombros de Laurel com a expressão torturada.

—É melhor ficar. –diz a ele. –Temos ajuda, precisa se curar agora.

—Ele quer a mim, eu posso ir e cuidar disso. –digo apertando meu anel, e tirando o uniforme dele, mas quando estou prestes a sair correndo, me vejo dentro de uma imensa bola verde, correndo em uma daquelas rodas de porquinhos da índia. –Hal! –exclamo irritado.

—Não vai sair o atacando sem um plano mais uma vez. –Tio Barry para em minha frente e Hal me liberta. –Não é apenas ele.

—Onde está o Snart para colocar o cachorrinho dele na coleira? –questiono irritado.

—Em 1945. –Felicity e tio Barry respondem ao mesmo tempo. –Ele não é o único a atacar, é apenas o que está em Star City. –Felicity continua. –Central, Keystone e Gotham estão sendo atacadas. –ela abre imagens na tela, e vejo Batman, e a Caçadora lutando contra o Capitão Bumerangue.

—E por que todos estão aqui? –questiono o irritado.

—Não é obvio? –Damian pergunta com sua arrogância natural.

—É uma distração. –Ollie me responde de forma descente. –Ele está atrás do dossiê, quer pegar nossos familiares.

—Onde meus irmãos estão? –me levanto em um salto. –E a tia Iris?

—Nós os colocamos em lugares seguros, todos eles. –Dick responde.

—Mas e as garotas? Sara, Isis e Luna já deveriam ter voltado. –John se pronuncia, e meu olhar cruza com o de Connor, e vejo que ninguém ali estava confortável pelo descuido.

—Onde elas estão? –me viro para Felicity.

—Na mansão... –dessa vez ninguém me para quando saio, seguido pelo tio Barry.

‘Vamos nos organizar, estamos a caminho para te dar apoio.’ Escuto a voz de Damian através do comunicador.

‘Wally, por favor, traga as três em segurança.’ Connor fala em seguida, e posso sentir o desespero contido em sua voz.

ISIS

Nada pessoal, mas essa história de casamento é bonita e tudo mais. Isso quando sua amiga não é sequestrada e supostamente morta, e depois volta com uma outra identidade e uma aparência totalmente diferente, mas voltando, casamento é uma história muito bonita. Só que depois de Sara, não consigo passar cinco minutos pensando nisso, logo a melancolia começa a bater, e tudo que quero é ficar em um quarto escuro agarrada a uma barra de chocolate.

Tudo bem, aquela explicação foi horrível, vou formular de outra forma. Luna perdeu os pais muito nova, e quando eu penso em um vestido branco, dizer o grande ‘Sim’, e colocar uma algema de diamante em meu dedo, penso também em algumas coisinhas mais. Pequenas coisas como meu pai me levando até o altar, minha mãe chorando baixinho, vovó Donna toda orgulhosa do vestido que me ajudou, ou obrigou a escolher, e Connor fuzilando o meu noivo com seu melhor olhar assassino. Sem falar no noivo que prefiro não entrar em detalhes agora, por algum motivo passei a imaginar Eric Dane em seu auge, vestindo um smoking, ou mesmo um jaleco de médico.

A questão é que tirando Phill, Luna não vai ter nada disso. Claro que para ela é uma vantagem não ter a vovó Donna em seu pé a cada detalhe do casamento, mas sei que queria a família dela, e por mais que nunca fala sobre isso, é muito fácil decifrá-la, ninguém seria o mesmo depois de uma perda como a que sofreu. Sei que não é a mesma coisa, passa longe, mas eu sei a dor que foi ver meu pai sendo morto em outra realidade, e o sentimento de perda que abalou cada osso do meu corpo, não sei como seria viver com isso 24h do meu dia.

—Isis? – ouço Sara me chamar me arrancando do devaneio.

—Planeta Terra para Isis. –Luna aperta a ponta do meu nariz, me fazendo sorrir com o gesto.

—Desculpa. –abraço Luna em uma demonstração descabida de carinho. –O que eu perdi?

—Nada, você estava com cara de boba. O que foi que aconteceu entre você e Damian afinal? –Sara me olha com aquele olhos quase negros me espreitando, cheia de preocupação.

—Nada. –respondo de forma vaga, por algum motivo idiota ainda me dou ao trabalho de proteger Damian. Não sei qual seria a reação da minha família ao que ele fez, e não vou testar para descobrir a resposta logo com Sara e Luna, a noiva e a melhor amiga do meu irmão que ele quase deixou para a morte.

Por um momento tudo estava tranquilo, calmo, mas claro que não duraria muito tempo, na verdade não durou tempo algum, por que a sirene de alerta de invasores começou a soar, e nas janelas, placas de titânio desceram como medida de segurança, lá de fora conseguíamos ouvir disparos para manter os invasores longe.

—Defcon 4. -Sara olha assustada para mim, enquanto colocava o colar de volta no pescoço, e calçava apressada os sapatos.

—O que? – Luna pergunta assustada.

—Estamos sob ataque. –me levanto, correndo até meu quarto para pegar alguma arma.

Nos corredores luzes vermelhas piscavam em sinal de alerta, em sincronia a sirene ensurdecedora, literalmente feita para gerar pânico. Quando saísse disso, teria que pedir para minha mãe rever esse sistema. A última janela da casa estava se fechando no exato momento que eu corria pelo corredor, e do outro lado com um sorriso irônico, como se estivesse gostando do desafio, Zoom, em seu uniforme macabro, me observava. Ok, se eu saísse dessa com vida, iria pedir minha mãe rever os conceitos do Defcon 4.

—O que está acontecendo? – Luna corre até mim com um tablet.

—Isso não vai funcionar, a casa está isolada. Nem mesmo o teletransporte da Liga consegue nos alcançar agora. –explico enquanto o barulho fora da mansão, passa a superar a sirene irritante.

—Precisamos de um local seguro. – Luna não queria demonstrar, mas estava em pânico, isso por que não viu com quem estávamos lutando, por que se soubesse a situação estaria muito pior.

—O quarto do pânico? Aquilo ainda está viável?

Não sei quando foi a última vez que meus pais mexeram naquele quarto de bagunça, mas era a nossa melhor chance, talvez o único lugar que conseguiria entrar em contato com alguém e pedir ajuda. Até onde sei, o quarto possui um sistema próprio de comunicação. Minha mãe provavelmente invadiu um satélite abandonado, ou se apossou algum que pertencesse a causas estupidas, mas funciona, é o que importa. Começo a correr pelos degraus enquanto batidas estrondosas faziam os lustres tremerem dando a impressão que tudo iria desabar.

—Cara, sua avó vai ficar uma fera. –Sara toma a minha frente correndo para a garagem. –Ela ama aquele jardim.

—Nem fala. –Luna estava logo atrás. –Amanhã vou ter o maior trabalho para encobrir os rastros dessa guerra. O que vocês acham de uma reforma? Porque tive uma ideia para as revistas de fofoca.

—Posso colocar a culpa da parede do Connor nisso. –pondero entrando na garagem. –Eu topo.

Sara para em frente a um painel onde tecnicamente meu pai guarda suas ferramentas, o que é só fachada. Ativo o código de segurança em um painel que logo se abre para uma escada subterrânea, lá em baixo um quarto de quatro metros quadrados, com luz e um sistema de segurança que aguentaria a uma ogiva de dez megatons. Deixo as duas entrarem as trancando. Ativo o sistema de comunicação, eu não as poderia ouvir, mas elas iriam entender o porquê.

—Desculpe. –peço as duas que batiam na porta furiosas. -Hunt já me viu aqui dentro, ele não vai parar até me encontrar, assim vocês estarão seguras. Entre em contato com os outros. –provavelmente Luna conseguiria abrir essa porta, mas até lá Hunt já não estaria mais aqui.

Corro de volta a parte principal da mansão, os barulhos do exterior da casa estavam piores, mas de repente tudo cessa, e é como o próprio tempo parasse. A Katoptris começa a brilhar como se fosse feita de ouro reluzente, que acabara de ser forjado.

—Isso não é hora. – resmungo, mas ela não se importa, me levando para longe.

Eu estava em um lugar muito parecido com a cozinha de casa, alguns detalhes diferentes, mas basicamente a mesma coisa, Sara estava parada com cara de brava, olhando para Wally que bebia ruidosamente um milk-shake. Connor estava sentado em uma baqueta do balcão com Luna em seu colo, enquanto os dois fingiam seriedade, temendo alguma retaliação de Sara, que mesmo brava parecia radiante. Tudo estava tranquilo e pela primeira vez em muito tempo eu estou sentindo aquela pontinha de paz. Todos se divertindo e aproveitando o momento até que os risos contidos são cessados pelo barulho da campainha. Como um choque de realidade, um soco no estomago se preferir, volto para o centro da mansão.

­—Espero que esse seja o meu futuro. – olho para Katoptris esperando uma resposta que nunca viria. – Por que se for uma realidade alternativa, te jogo no rio Estige.

SARA

—Eu vou matar aquela garota! –grito dando um soco em uma das paredes do quarto, enquanto Luna estava ocupada revezando entre o tablet em suas mãos, onde tentava invadir o sistema de segurança de Felicity, e o painel estranho de controles, que usava para entrar em contato com os outros.

O quarto do pânico não era grande, mas também não era um cubículo. Havia um vaso sanitário, uma pia pequena em um canto. Um armário de armas e suprimentos, e por fim uma mesa cumprida com um painel de controle no qual Luna estava gastando toda a sua atenção. As paredes eram a prova de som, e revestidas no que eu acredito ser chumbo, a iluminação fraca não torna as coisas mais animadoras.

—Para de andar, está me distraindo. –reclama, sem olhar em minha direção.

—Me diz o que diabo ela tem naquela cabeça? –passo a mão no rosto, parando ao lado de Luna. –Deus me ajude a não ter uma filha com esse gênio, ou não respondo por mim!

—Hunt não podia ver você. –responde tentando ser imparcial. –E mesmo sua versão asiática levantaria suspeita. –as palavras eram apenas para me acalmar e ela conseguir trabalhar em paz, pois o canto de seus lábios estavam travados em uma careta permanente. Delphine estava tão irritada com Isis quanto eu.

—O que está fazendo?

—Não quero entrar em contato, não antes de conseguir tirar a gente daqui para ajudar a Isis. Mandei apenas uma mensagem para Felicity, ela vai entender o recado e mandar reforços.

—Algo como “A idiota da sua filha resolveu se matar”, pode ser a mensagem perfeita para resumir a situação. –bufo.

Luna se levanta com o tablet em mãos, e a vejo travar uma espécie de batalha com o computador por alguns segundos, até finalmente a sirene parar. Corro para um armário em uma prateleira grande e pego um arco e uma aljava que estava em meio a um arsenal variado. Olho para Luna por um momento, ela não aprendeu a manejar nada além de variados bastões de treino, e a menos que consiga um parecido com o do Asa Noturna que seja elétrico e resistente, qualquer coisa pode ser inútil. Jogo uma Glock em sua direção, e dois pentes de recarga.

—Consegui. –volta o tablet para a bolsa e carrega a arma com habilidade. –Seu pai me ensinou. –dá de ombros sobre meu olhar surpreso. –Vamos, os outros devem estar a caminho.

—Talvez ainda conseguimos impedir aquela... – eu não tinha nome para expressar minha raiva. – Sua cunhada.

WALLY

—Wally, precisamos de um plano. –tio Barry gritava ao meu lado, mas a única coisa que eu queria era arrebentar aqueles dentes, fazer ele engolir cada pedacinho daquele sorriso falso, e para isso eu não precisaria de um plano, precisaria apenas marcar um encontro do meu punho com aquela fuça traíra. –Wally? – tio Barry grita novamente mas eu já estava muito a sua frente.

Quando por fim chego a mansão tudo parecia um campo de batalha, consigo até ver as trincheiras na casa onde passei parte da minha infância. Tenho que admitir, a velha mansão estava resistindo bravamente, até parece estar prestes a criar vida como uma versão de Transformes só com tijolos e pedras, em vez de engrenagens e fluido de motos. Mas mesmo com todo o sistema de defesa a casa não iria resistir por muito tempo. No telhado olhando, parado, Zoom me olhava como se não tivesse nada mais agradável para fazer.

—Pensei que não apareceria. –Zoom arranca a mascará, agora conseguia ver a loucura estampada em seu olhar. –Vejo que trouxe companhia. –aponta para tio Barry que estava parado ao meu lado.

—Hunt, você não precisa fazer isso. –meu tio tenta apelar para alguma razão, mas ele não o conhecia como eu, Hunt era só loucura, estava claro para mim.

—Vou treina-lo, como já deveria ter feito.

Ele era tão rápido como qualquer um de nós, e entre os tiros e lasers que o sistema de proteção disparam. Hunt vem nos atacar, quase me acerta um soco, que desvio e logo ele já estava lutando contra o meu tio, que tenta levar a luta para longe, para que eu tente entrar em contato com Luna, Isis e Sara, saber se elas estão bem. Mas Zoom é esperto, ele conhece à nossa maneira de lutar, impedindo qualquer avanço, se desviando das investidas do meu tio e revidando em contra partida. Empurro Hunt para longe que esboça um sorriso voltando a nos atacar.

–Vamos, vocês são dois Flash’s, dão conta de um cara que estava até mês passado em uma cadeira de rodas. –diz com um sorriso frio.

Não enxergo mais nada, só uma vontade sobre humana de esfregar a cara dele na parede da mansão, parto para cima dele, sem me importar com o resto, ele apenas sorria esperando, quando ouço o grito do meu tio, me tira de algum feixe de energia que iria me atingir, e nesse momento que ele baixa a guarda, Hunt o ataca na coluna, consigo ouvir o barulho de ossos sendo quebrados, um grito de dor e o Tio Barry cai inconsciente no chão.

—Vamos ser sinceros, esse não é o show do seu pai. É entre nós dois.

—Cara, você é louco, como eu não vi isso antes? –digo com a garganta embargada de ódio.

—Esse é só o começo. –Hunt dispara uma série de socos, me desvio com dificuldade de todos, a cada movimento ele se tornava mais rápido. -Para você se tornar o que é necessário, precisa de mim Wally. – ele dispara um chute e enquanto desviava de um golpe elétrico dos sistemas de segurança.

—Você está me cansando, Hunt. –apelo segurando sua perna e o giro, o lançando contra um disparador que estava na minha direção.

Quando estava prestes a correr em direção a mansão, sinto meus pés sobre o que só pode ser descrito como água, eu não estava mais em Star City. O desgraçado convocou o Mestre dos Espelhos. A meu Deus, de novo não. Sara!

ISIS

O barulho desaparece, sobrando apenas a sirene que iria me causar dor de cabeça por um mês, claro se eu estivesse viva em um mês. Então ela também para, quase me deixando grata pelo o silencio, quase. Pois o silencio tornou a imagem do Zoom atravessando a porta com seu corpo vibrando ainda pior do que seria com a sirene maldita.

—Talvez seja a hora de trocar a fechadura. –a voz de Zoom parecia estar em todo o lugar, o que era algo bem possível.

Sinto o vento me levantar, e antes que percebesse a Katoptris estava brilhando novamente, mas dessa vez não me levou até uma visão, foi algo muito mais inusitado. Em um golpe, que só posso explicar como sendo mágico, consigo acertar a perna de Hunt, mas a resposta é imediata, um golpe único, e sinto minha cabeça se chocar com a parede, um barulho parecido com o disparar de uma arma, então tudo desaparecer.