DAMIAN

Assim que John, Felicity, Oliver e o meu pai foram teletransportados para a Torre de Vigilância, Wally apareceu entre Isis e eu, fazendo com que a garota desse um pulo para o lado.

–Qual é o evento? Por que todos estão aqui e eu nem fui convidado? – Wally olha para mim com uma mistura de nojo e raiva, e volta o olhar para a Isis e depois para Sara. – Por que ele está aqui?

–Ele foi convidado. – Isis fala com uma expressão que faria com que até mesmo eu a temesse, se fosse Wally, provavelmente estaria com receio pela minha vida.

– E eu não fui?

–Para de drama. Você tem um quarto no andar de cima, não é como se precisasse de convite para abrir a geladeira de casa, você nunca precisou, por que precisaria disso hoje? – Connor tinha uma expressão de frustração no rosto, mal parecia prestar atenção na crise do amigo. – Eu não acredito que ele simplesmente me largou aqui. Sou um membro da Liga... Eu comecei essa investigação. – estreito o meu olhar para ele. – Ok, nós começamos isso, ai eles acham que não devemos nos meter e nos colocam no banco de reservas?

Me viro em sentido a porta, isso não iria me levar a lugar nenhum. -Onde você vai? – Isis me para antes que eu chegue a saída, suas mãos seguram levemente meu ombro.

–Gotham, lá eu vou ter mais detalhes, e pelo menos três parceiros para fazer um plano reserva ao que a Torre está fazendo agora. Uma imagem melhor do campo de ação e talvez, só talvez, eu não vá descontar a minha frustração em algum criminoso idiota por lá.

–Eu vou com você. – seus dedos escorregam pelo meu braço se entrelaçando com os meus.

– Eu também. – Wally se materializa entre nós dois, e consigo ouvir um suspiro de frustração de Sara.

–Eu vou para casa. – ouço a voz baixinha de Luna- Acho melhor deixar você cuidarem disso.

–Qual é Luna? Você não quer conhecer a Batcaverna? -Wally abre um sorriso enorme para a garota que parece se encolher com a atenção de todos se voltado a ela.

–Você nunca viu um sistema tão avançado na vida. – Connor aperta seus ombros para lhe dar coragem e a única coisa que eu conseguia pensar era quem os tinham convidado?

–Vamos todos então. – Isis sorri animada e eu apenas reviro o olhar, por que se eu fosse dar a resposta que eu queria seria sem educação até mesmo para mim, e não iria insultar assim a memória de Alfred, parece que em nossos últimos anos enquanto eu era vivo a sua missão na terra era me dar um pouquinho de bons modos, e é nisso que tento me apegar agora.

–Ok, mas Luna vai precisar de um comunicador. – aponto para Wally que sai e em instantes estava de volta e entrega o aparelho a garota que timidamente coloca no ouvido. Aperto o meu dispositivo entrando em contato com Tim.

‘Nada pessoal Damian, mas estou em meio a uma crise. Tenho certeza que pode se virar sem mim.’

–Posso, mas vou demorar mais. Seis para a caverna na minha posição. – respondo rapidamente, já que ele estava tendo que lidar com o mesmo que eu.

‘Se for dar uma festinha em casa, cuidado com os suvenires do Alfie.’

–Vou anotar. - e em uma fração de segundos minhas células são desmontadas em Star City e reorganizada em Gothan.

–Banheiro? – Luna pergunta indicando a costumeira ânsia de vomito que sentimos nas primeiras vezes que somos teletransportados, Connor envolve sua cintura a levando a um canto da caverna onde havia o vestiário, nós ouvimos ela dizer baixinho ao amigo. –Não é igual a Star Trek.

–Realmente não é. – Connor responde rindo.

No alto das escadas da caverna, Dick e Barbara estavam parados nos observando, e ao fundo pude ouvir o barulho da moto de Jason entrando pelos túneis. -Qual é o plano? – Jason tira o capacete colocando por sobre o guidom da moto?

–Desativar o androide. – Barbara senta à frente dos computadores e vários ângulos do que se passava em Nova Orleans aparece a nossa frente.

–Isso é igual a Star Trek, mais sombrio, talvez igual Star Wars e todo o lance da estrela da morte. – Luna volta olhando extasiada para tudo.

–Olha Luna, tem até um dinossauro. – Wally para a frente da garota apontando para a o museu que Alfred havia criado e nós o mantínhamos mesmo após a sua morte.

–E Alfie jurava que só os morcegos eram detetives. – Jason se aproxima de Barbara apontando para uma imagem, que ela logo amplia. – Flash estava caído entre escombros enquanto Diggle tentava resgatá-lo.

–Tio Barry! – diz em espanto. – Eu vou ajudar.

–Não! – Connor, Dick e eu falamos ao mesmo tempo.

–Precisamos de um plano. – Sara aperta o braço do namorado. – Um bom plano. – Ela me olha indicando que era melhor eu fazer algo rápido por que ela não conseguiria segurar Wally por muito tempo. Eu nem posso culpá-lo, queria estar lá também.

–Amazo replica os poderes, mas ele já tem os poderes do Barry, podemos usar o Wally em campo. – Jason sugere.

–Wally e Barry tem poderes parecidos, mas não são exatamente iguais. –vejo Sara prender a respiração. –Barry cria a Speed Force, a velocidade que ele pode alcançar é...

–Absurda. –Wally termina, olhando para onde a mão da namorada estava o segurando, como se pensasse em como se soltar sem que ela percebesse. –Eu uso a Força da Velocidade, é parte da Speed Force, mas é como um carro envenenado, e a Speed Force é apenas minha gasolina, a Força da Velocidade é meu motor. –explica.

–Talvez se ele for em campo possa dar mais força para o Amazo. – Sara diz mesmo com o olhar mortal do namorando sobre ela. – Você não vai entrar em batalha se for para dar mais poderes a essa coisa. – aponta para a figura brilhante.

– O que seu pai está fazendo? – Luna observa no alto de um prédio Oliver apontando uma flecha em direção a Amazo.

–Isso não vai dar certo. – Dick fala quando a flecha é disparada, e antes que ela o atingisse, Amazo a intercepta no ar. Mas alguma coisa acontece que ele cai de joelhos, e de imediato meu pai o ataca.

–A ponta da flecha. – Isis aponta. – É Kriptonita. Vai funcionar. – mas antes que ela feche a boca o androide se levanta jogando o velho Wayne no chão e com certeza trincando algumas das suas costelas.

–Barbara abre o áudio. – Connor pede, e ela de pronto estabelece a conexão.

‘...ele tem a força de Aquaman e a regeneração do Flash.’ Oliver fala enquanto saltava do telhado indo em direção do meu pai, já Amazo alçava voo e desaparecia de vista.

‘Ele se adaptou.’ Batman levanta com dificuldade, e aperta do comunicador do ouvido. ‘Robin, eu coloquei um rastreador no Amazo, não o perca de vista.’ aponto para Barbara que já o tinha localizado e uma tela auxiliar surge indicando a posição do androide.

–Temos trabalho fazer. – digo enquanto uma serie de imagens surge a frente de todos.

ISIS

Ver meu pai ser morto duas vezes seguidas em um dia, definitivamente não está em meus planos. A Batfamilia discutia entre si, quem iria ou não a campo, era como se o resto de nós não existisse, eles sabem como ser bons anfitriões! Meu irmão parecia considerar nesse momento, como não foi uma boa ideia arrastar Luna conosco, e Sara tentava conter o furação Wally. Mas eu apenas via os lazeres do Superman atravessando o crâneo do meu pai, só que agora isso passou a ser uma possibilidade real, já que o androide possui os poderes do Clark.

–Vocês estão perdendo muito tempo! –minha voz acaba sobressaindo as outras, o que faz com que todos os olhos presentes no local, me encarem. –Desculpem, sei que estou na casa de vocês. –justifico sobre o olhar assassino de Jason. –Mas é meu pai ali também.

–O que sugere? –Barbara pergunta.

–É simples, todo o treinamento que Dick nos deu ao longo desses anos. –respondo revirando os olhos, e quando se viram para ele, Asa Noturna me olha confuso. –Todos esses poderes assuntam, mas não estamos olhando para a vantagem que Batman e o Arqueiro Verde acabaram de nos dar...

–Todas as fraquezas. –Connor completa com um meio sorriso.

–Isis sempre foi minha aluna preferida. –Dick fala para Babs que revira os olhos.

–Aquela luz não está menor? –escutamos a voz baixa de Luna, que apontava para o monitor, onde o sinal do Amazo estava perdendo força.

–Batman não usa rastreadores que se limitam a distância. –Jason murmura recolocando o capacete.

–Achava que só o marciano conseguia burlar esse tipo de coisa. –Damian comenta irritado.

–Ele tem os poderes do Flash, o corpo dele pode vibrar e transpassar coisas, o que estamos olhando agora, pode nem mesmo ser o Amazo. –Wally fala, depois fecha a cara, percebendo que acabara de ser educado com o Damian, idiota!

–Problemas! –Dick diz tocando seu comunicador e se afastando, para colocar a Liga a par do que descobrimos.

–E o sinal sumiu. –suspiro cansada.

–Não tem o que ser feito agora, além de monitorar todo o mundo a espera de que algo suspeito apareça. –Barbara fala se levantando. –Sincronizei o sinal de alerta da torre da liga com os dispositivos de vocês, se qualquer coisa acontecer, vamos saber.

–Eles não parecem estar progredindo muito. –Damian reclama se sentando onde Barbara estava.

–Amazo é uma inteligência artificial, e se tem uma coisa que sei, é que Felicity poder encontrar qualquer coisa que deixe uma assinatura eletrônica. –ela o responde bagunçando seu cabelo, o que faz com que a carranca dele aumente. –Vou para casa, vocês deveriam fazer o mesmo. –ela nem mesmo acaba de falar quando escuto o som da moto de Jason arrancando, ela e Dick saem em seguida.

–Barbara está certa. –Sara diz encarando o Wally, que parecia ressentido por ela o ter impedido de ir auxiliar o pai.

Estranho o fato de meu coração não doer nesse momento, e ele não dói quando ela o diz que sente muito, e o beija, ou quando ele a pega nos braços e desaparece a caminho de casa. Mas me sinto estranha, como se estivesse tão acostumada a sofrer por ele que não o fazer, chega a ser esquisito. Meu irmão me encarava pensativo, e vou em direção a ele e Luna.

–Acho que deveríamos ir para cara também. –dou de ombros, e vejo Damian absorto demais no trabalho para perceber nossa conversa, mas ele é o Robin, então sei que aquilo era só um dos muitos lugares em que a mente dele estava nesse momento.

–Acho que nosso pai estava certo. –Connor diz e o olho sem entender. –E talvez eu seja mesmo idiota. –ele olha para Luna com um meio sorriso que ela corresponde, me sinto perdendo uma boa piada. –Hey, Damian! –chama se afastando de nos duas. –Posso falar com você por um segundo?

O outro assente se levantando, e vão para um lugar mais afastado da caverna. –Sinto muito. –Luna diz com sua voz baixa, enquanto observávamos os garotos conversando.

–Eles não vão se matar, pode ficar tranquila! –respondo sorrindo para ela, que devolve automaticamente.

–Não por isso Isis! –murmura com o som do riso, ainda em sua voz. -É como assistir o clip de Bad, do Michael Jackson, não acha? –olho para a garota de cabelos cacheados, percebendo que meu irmão achou uma espécie de versão descente dele mesmo.

–Damian é como esse clip o tempo todo! –concordo, me sentindo mais leve pela primeira vez, durante todo esse maldito dia.

–Connor finalmente percebeu que ele é mesmo seu amigo.

–É, finalmente. –concordo. –Mas por que sente muito? –me lembro de seu comentário.

–Também perdi meu pai. –conta abraçando o próprio copo, e foi a minha vez de murmurar um “sinto muito”. –E você viu o seu morrer hoje. –ela suspira, e faço o mesmo. –Consigo entender o que está sentindo, e lamento muito por passar por isso.

–Eu só grito com meu pai, a mais de três meses Luna. –deixo o ressentimento transparecer em minha voz. –Tenho sido uma péssima filha, e precisei o ver morrer para perceber isso.

–Ao menos pode o encontrar quando chegar em casa. –dá de ombros com tristeza. –Tem tempo para mudar isso.

–Não é tão fácil assim. –me viro olhando para ela.

–Acredite, eu daria toda a minha coleção de Game Of Thrones para ter essa chance. –ela segura em meus ombros, e concordo.

–Vamos embora. –escuto a voz de Connor atrás de nós.

–Eu disse, eles não se mataram. -debocho com sarcasmo para Luna, e Connor força uma risada de escárnio.

–Sinto desapontá-las. –responde irônico, mas desvio dele, e vou em direção ao Damian.

–Obrigada, de novo. –falo o vendo me olhar sério. –O que foi? –estranho a falta de um comentário irônico, ou pouco educado vindo dele.

–De nada. –responde apenas.

–Só isso? Não vai reclamar de eu ter trago um monte de gente para sua base, ou por ter te arrastado para minha casa, mesmo você sendo contra? –estava chocada.

–Parece estar se sentindo culpada Queen. –fala, mas seu rosto ainda está da mesma forma, indecifrável.

–Não estou. –minha voz sai em tom de dúvida e ele ergue uma sobrancelha. -O que meu irmão te disse? –semicerro meus olhos para ele, que apenas olha por sobre meus ombros antes de voltar a me encarar.

–Não foi nada, eles estão esperando você. –aponta para Connor e Luna, que estavam tão perdidos no mundinho deles que nem devem se lembrar da minha existência nesse momento.

–Sério?

–Sabe que eu não sou o tipo de cara que recebe amigos, e dá conselhos. –solta como se estivesse com aquilo engasgado. –Não gosto da metade das pessoas que estavam aqui hoje, e provavelmente, só suporto a outra metade. E você está fazendo com que eles passem a me olhar diferente, e se importar comigo, e não quero que se importem!

–Por que não? –o olho chocada. –Você é mais do que deixa que percebam Damian, eu sei que é...

–Não sou não! –me interrompe irritado. –Está vendo? É isso o que você faz, com essa... –ele aponta para mim, depois passa a mão pelo rosto cheio de frustração. –Olha Isis, eu tenho trabalho a fazer, e estamos sob ataque, preciso focar nisso agora, é melhor você ir. –concordo com um aceno, e dou as costas para ele, me sentindo traída.

–Tim, me leva para casa. –falo tocando meu comunicador, enquanto passo por meu irmão sem conseguir olhar em sua direção.

DAMIAN

Eu precisava de um tempo, subo em minha moto e saio pelas ruas de Gotham. Sou um hibrido de Wayne com Al Ghul, quando estou com raiva, nervoso ou estressado faço o melhor que posso para me acalmar, em outras palavras soco tudo que aparece em minha frente. Para não causar muito estrago em casa, os bandidos são uma ótima solução. Duas horas depois, nove marginais presos, e não estou nem mesmo perto de ficar calmo, e tudo era culpa da Isis, dela e daquela forma de me olhar... Eu não preciso de amigos, ou mais preocupações, e acima de tudo, não quero estar me sentindo culpado por ser exatamente quem sou.

–Merda! – grito no alto da torre do relógio de Gothan, nem sabia o por que de ter parado lá, estava apenas vagando pelos telhados até me deparar com os ponteiro mais conhecidos dessa cidade.

–Você não deveria esta em casa criando um plano infalível para derrotar aquele androide? –Jason para ao meu lado com os braços cruzados olhando alguma coisa lá embaixo.

–Pensei que seria o Dick a aparecer por aqui. – não era muito a cara do Jason vir dar uma de consciência, isso era a coisa do Grayson, talvez a Barbara quando ela não está querendo matar alguém.

–Al está com dor de ouvido e Babs está com a Felicity, rastreando o Amazo, então sobrou esse irmão mais velho. – faz uma careta que se assemelha a minha com esse conceito absurdo de família que temos.

– O que quer Jason? Eu posso imaginar que Dick falaria, mas você não é o exemplo de pessoa sociável. –o olho de soslaio.

–Fato. – ele se senta ao meu lado no beiral da torre e apoia o braço em uma das gárgulas antes de voltar a falar. – Eu tenho os meus amigos e você não vai me ouvir falar isso outra vez, e de disser para alguém que tivemos essa conversa vou arrancar a sua pele de uma maneira muito lenta e cruel. –ameaça sério. -Ajudei a trazer você de volta para esse mundo, não duvide, posso tirá-lo. – fico tentado a desafiá-lo, só para ter em quem descontar a minha raiva, mas sabia que quando a luta tivesse acabado, ele, mesmo todo destruído ainda iria me dar um sermão, Jason não é muito de falar, mas ele tem os seus momentos, e quando começa é melhor deixar que termine logo.

–Então, vai dizer ou só veio fazer ameaças? – se ele vier com o papinho de cara legal como o Connor, me jogo do alto dessa torre, melhor, jogo ele do alto da torre.

– A questão é que meus amigos são importantes para mim. Roy e Koriand'r me ajudaram em um momento que eu não aceitava a ajuda de ninguém, estiveram lá mesmo quando eu disse que não os queria por perto. Se não fosse eles já estaria morto, de novo. Fica mais fácil aguentar isso em que me tornei, quando eles me olham como nada mais que um cara normal. -ok, sou obrigado a admitir, foi assustador. Tive que segurar minha expressão para não mostrar que estava em choque. – Você morreu Damian, e isso não é algo que se supere com facilidade. O que você era foi estilhaçado e triturado até virar pó, depois foi soprado para a inexistência, então nós o trouxemos de volta, você foi obrigado a se recompor de uma maneira que é impossível imaginar. Acredite, não queria saber, mas sei, e não tem como passar por isso sozinho. – para ele foi impossível, ele era fraco. – Dick está preocupado com você.

–Dick está sempre preocupado com alguma coisa. – me levanto. – Obrigado pela conversa, mas tenho umas coisas para fazer... Em qualquer outro lugar. – disparo o meu gancho em direção ao prédio a minha frente. Uma coisa Jason estava certo, preciso de um plano para Amazo, e com isso não fosse o suficiente, as palavras de Jason vão ficar martelando a minha mente, inferno!

Chego a mansão com a mente fervilhando. Depois que o Alfred morreu, nada naquela casa era o mesmo de antes. Me jogo em frente a uma poltrona na biblioteca, a minha frente a pintura dos meus avós paternos. Meu pai era muito parecido com Thomas Wayne, e eu era muito parecido com o meu pai, mas seus olhos eram iguais o de Martha, tinha uma coisa ali que mesmo depois de tantas lutas e perdas meu pai não tinha perdido, acho que era esperança, não tenho isso em meus olhos. Acho que o meu olhar era de um Al Ghul no fim das contas. Nunca consegui ver o mundo como o meu pai o vê. E não gosto de encarar essa pintura, é como um lembrete de que algo está muito errado em mim, por mais que na maior parte do tempo, eu mesmo não admita.

Viro minha poltrona até ficar de frente para uma pintura que eu mesmo finalizei. Lembro o quão desconfortável Alfred ficou por ter que posar para esse nosso momento em família, isso quase valeu o fato de eu ter que fazer um cosplay de pinguim com aquele smoking e gravata borboleta idiota. Bruce sentado nessa mesma poltrona que eu estou agora, rodeado por Dick, Tim, Alfred e eu. Ainda bem que meu pai não chamou o Jason, acho que invés de terminado eu teria jogado um balde de tinta no retrato, não que a presença de Tim, não tenha me tentado a fazê-lo.

Fixo na imagem mais próxima de um verdadeiro avô que já tive. O que será que Pennyworth falaria para mim? Provavelmente alguma coisa que eu não ouviria. Diria que eu devo deixar essa barreira de lado, que fazer parte de alguma coisa além do que somos aqui seria uma coisa boa... Todas essas coisas, com muito sarcasmo.

Devo admitir que ver a Srta. Queen com a camiseta do Robin foi algo inusitado. Imagino o que o Sr. Queen acharia disso? – Alfred está parado a minha frente com um bule. – Chá, patrão Damian?

–Por que ela estava vestindo aquela blusa? – questiono enquanto Alfred enchia uma caneca de um liquido purpura fumegante. – Odeio chá de hibisco. – faço uma careta enquanto o liquido desse quente pela minha garganta, o velho apenas sorri.

–Eu sei. – não sei se ele fala com relação ao meu desgosto pelo chá, ou aquilo é uma resposta para minha pergunta. – Ela é uma garota muito especial.

–Para quem gosta do tipo manipuladora, persuasiva e... –suspiro. –Com aqueles olhos, ela é perfeitamente aceitável. –desdenho colocando a xícara sobre o pires e me levantado. Passo a observar as chamas dançando na lareira. Isis é como uma sereia, a diferença é que o canto dela não me levaria para uma morte dolorosa, mas sim para uma campina florida, cercado por coelhos e bambes saltitantes, o que me assusta muito mais.

–Seu tipo perfeito então. – levanta a sobrancelha como em desafio para que o contradiga, apenas reviro os olhos, não tinha como discutir, não se quisesse fazer alguma coisa hoje ainda. – Ela vai precisar de você. – seu tom não é mais leve, era assim que ele fala quando alguma coisa séria estava acontecendo. – Ela não entende o que é ter um lado escuro. Srta. Queen o deixou se aproximar, mesmo quando tudo e todos disseram para ela fazer o oposto.

–Eu não quero isso. – afirmo categoricamente.

–Você está tentando me enganar ou a si próprio patrão? – e lá está o sorriso dele.

Acordo com a luz da lareira refletindo em meus olhos, de repente, não queria tão pouco encarar esse outro retrato. O mordomo consegue ser tão persuasivo quanto a garota com a blusa do Robin. Talvez eu deva mesmo ligar para Star City, apenas para conferir se alguém pensou em um plano contra Amazo.

FELICITY

Odeio esse teletransporte, e sei que mesmo depois de já ter passado por essa experiência milhares de vezes, ainda vou querer me sentar e contar até três sempre que reaparecer em algum lugar. E é exatamente o que faço quando chego em casa, por volta das quatro horas da madrugada, procuro a poltrona mais próxima e me jogo nela, respirando fundo, sinto apenas os braços de Oliver me envolvendo e me tirando de lá, e depois sou carregada para nosso quarto. 3... 2... 1.

–Deveriam criar uma forma melhor para nos trazer de volta. –reclamo abrindo meus olhos, e vejo Oliver parado em minha frente, com um sorriso de compreensão em seus lábios, o ar me falta por um segundo, e preciso piscar algumas vezes ao olhar para ele, que mesmo todo machucado como está, ainda é o homem mais lindo que já vi, quase não parece real.

–Eu sei, você odeia isso. –termina por mim, e me levanto pegando o kit de primeiros socorros que mantinha em nosso banheiro, na verdade, tem um em cada banheiro da casa, no armário da cozinha, e na garagem, só por precaução.

–Deveríamos aumentar o kevlar do seu traje. –digo caminhando em sua direção, Oliver está sentado em nossa cama sem camisa, e posso ver um corte em seu peito devido ao impacto quando o Robô Pinóquio o lançou contra o prédio. –Em algum momento, toda sua pele vai estar coberta por cicatrizes. –me sento a seu lado e começo a limpar os ferimentos.

–Se aumentássemos, eu ficaria mais pesado, minhas flechas mais lentas, e então sim, todo o meu corpo estaria mesmo coberto por cicatrizes. –responde afastando meus cabelos do meu rosto com carinho.

–Parece que tem um instinto suicida latente! –reclamo, irritada e ele solta um riso baixo.

–Apostei comigo mesmo quanto tempo demoraria até que você me desse sermão por um Oliver em um universo alternativo, que se sacrificou por um bem maior. –sinto o sarcasmo natural em sua voz, mas nem mesmo levanto meus olhos em sua direção, era absurdo demais.

–Não aja como se não fosse capaz de fazer o mesmo. –acuso pegando a agulha e começando a suturar o corte em seu peito. Oliver suspira, mas ficamos em silêncio por alguns segundos, e ele só responde quando passo a cuidar dos machucado em seu rosto.

–Me desculpe. –fala, e suspiro involuntariamente. –Você está certa, eu faria.

–Esse é seu problema Oliver! –solto a gaze e me levanto furiosa andando de um lado a outro, controlando meu tom de voz para não acordar as crianças.

–E você também faria o mesmo no meu lugar! –se levanta me olhando sério. –Diz se seria capaz de viver em um mundo onde eu, Connor e Isis pudéssemos ser mortos? Que não se sacrificaria para nos dar uma pequena chance de sobreviver?

Olho para meus próprios pés, sem conseguir o encarar, faria qualquer coisa por eles, e Oliver sabe disso, sabe que está certo. O sinto se aproximando, a temperatura de seu corpo parado em frente ao meu chega a me tocar. Levanto meus olhos encontrando os seus que pareciam estar em chamas pela forma que me olhava. –Essa não é a questão. –murmuro hipnotizada por seus olhos.

–Você faria. –afirma mais uma vez, mas agora com sua voz quase doce, enquanto acariciava meu rosto. –E eu te amo por isso.

–Eu amo o fato de você nos colocar a frente de tudo Oliver, amo o marido, pai e homem que é. Mas...

–Não quer me perder. –completa e confirmo com um aceno. –Não sei quem aquela versão minha era, quem eram as pessoas que ele amava. Só sei que ele deu a vida dele por elas, e não por que era o único caminho, como eu acreditei ser no passado. –garante, e posso ver sinceridade em seus olhos. –Nossa família é tudo para mim Felicity, e sempre vou escolher vocês, e vou lutar para ficarmos sempre juntos.

–Obrigada. –fecho meus olhos, deixando meu corpo se encostar no dele, sentindo seus braços me envolverem, em meu lugar preferido no mundo.

Depois de alguns minutos volto a cuidar de seu rosto, quando termino me troco, e Oliver vai ao quarto das crianças para ver se estão bem, enquanto preparo para dormir as três horas que me restam. Mal fecho os olhos e já sou despertada pelo alarme estridente anunciando que meu descanso acabara. Me levanto com dificuldade, e beijo o rosto de Oliver que murmura em protesto quando me afasto em direção ao banheiro, só uma chuveirada para me acordar de verdade, uma chuveirada e talvez...

–É disso que estava falando! –solto agradecida, quando vejo o lindo corpo nu do meu marido entrando no boxe para me fazer companhia. –Deus, como eu amo a minha vida! –digo antes de ter meus lábios cobertos pelos seus.

Quando finalmente saímos do nosso quarto somos invadidos pelo cheiro de bacon e ovos que nos guiam até a coisinha. Connor está tirando uma porção generosa de ovos mexidos da frigideira enquanto Isis mexia seu iogurte com granola de um lado a outro do prato, não precisava ser gênio para saber que algo a incomodava.

–Bom dia. – beijo o alto de sua cabeça, e a bochecha de Connor ao passar por eles.

–Bom dia. – os dois respondem de má vontade juntos.

–Nossa, até parece que quem levou uma surra do Amazo foram vocês e não eu. – Oliver senta ao lado de Isis na bancada da cozinha, cruza os braços olhando para os filhos.

–Por sinal, boa luta. – Isis sorri para o pai, mas não parece mesmo feliz. – Uma boa ideia expor o androide a Kriptonita.

–Mas... – eu sei que teria um ‘mas’ ali.

–Poderíamos ter ajudado. – Connor empurra o prato para frente.

–Não vamos expor vocês a um perigo desse. – sento ao lado de Connor com minha caneca de café.

–Claro perder o papai é uma ideia muito melhor. - Isis revira o olhar me faz querer trincar meus dentes, não foi essa educação que dei a essa menina. – Eu vi você morrendo, pelo amor de Deus! Não me faça ver essa cena ao vivo. – ok... Agora ela desarmou nós dois.

–Vocês não tem...- Oliver começa e olha para mim pedindo ajuda.

–Idade? Sou um membro da liga. – Connor lembra, deveria ter usado o meu voto contra ele entrar na Liga, agora ele tem esse super trunfo contra nós.

–Eu tenho uma adaga que me mostra coisas difíceis de lidar, te garanto, prefiro enfrentar um Androide. – Isis desiste de vez do café e passa a olhar hora para Oliver e eu. – E não vem falar que por que não temos poderes e isso tudo, por que é exatamente isso que somos qualificados para essa missão.

Respiro fundo passando a mão pelo alto dos meus cabelos e olho para Oliver, que tinha a mesma expressão encurralada. Fixo meus olhos nos dele, precisávamos tomar uma decisão, imediatamente. Eles tinham certa razão, mas ainda são nossos filhos. Vinte e três, e treze, não é exatamente a idade de criancinhas, mas Isis ainda é muito nova, posso ver nos olhos do meu marido que ele pensa o mesmo. Connor não deixaria a irmã se arriscar mais do que ele sabe que ela é capaz, não a colocaria em risco, mas isso o deixaria muito mais exposto, não...

–Falem em voz alta. –escutamos a voz de Isis interrompendo a nossa conversa.

–Proteger Isis vai te expor ainda mais. –Oliver diz a Connor que assente.

–Eu não preciso protege-la sozinho. –responde. –Damian vai estar lá, Wally e Sara, e o senhor. Nada vai acontecer a Isis.

–Wally não pode. –digo ao mesmo tempo que Oliver. –Ele vai calibrar os poderes que o Pinóquio já tem. –termino, e Connor solta um riso baixo.

–Eu não contaria muito com Damian, aparentemente, eu sou muito parecida com você mamãe. –ela bufa, e os garotos dão risada da frustração da minha filha, só posso me sentir constrangida. –Não que precise de baba, por que não preciso!

–Okay, então temos você e Damian para resguardar Isis. Eu vou estar lá... –Oliver confirma a afirmação anterior do filho levando a xícara de café aos lábios. –Pode funcionar. –ele me olha esperando minha resposta.

–Isso é um sim? –Isis abre um grande sorriso, que desarma tudo o que restava de forças para persistir no não, em mim.

–É. –digo depois de um longo suspiro, e sou atingida pelos braços de minha filha que dá a volta correndo na bancada para pular em mim.

–Melhor mãe, do mundo!

–Sempre sou quando faço o que vocês querem. –desdenho, tentando não demonstrar minha satisfação com o elogio.

–Vocês vão treinar juntos. Todos vocês, comigo, Bruce e Dick. –Oliver entra no modo herói.

–Ou, podemos treinar Connor e eu com o senhor, e deixar a Batfamilia de fora. –Isis tenta.

–Que bonitinho, ela brigou com o namorado! –Connor implica e vejo Oliver engolir em seco, preciso segurar o riso.

–Todos. –ele repete sério. –Ou podem ficar de fora...

–Vou ligar para a Sara, e nossos tios. –Isis se apressa, deixando os agregados do morcego por conta do irmão, que ainda dava risada quando ela sai apressada da cozinha. Escuto meu celular vibrar sobre a bancada e vejo a foto de Laurel no visor.

–Acho que vai ir a Gotham hoje. –digo a ela quando atendo o telefonema.

‘Ótimo, mas antes, precisamos ver Luna, tenho novidades sobre o caso dela.’

–Estou a caminho, nos vemos na QC em meia hora. –respondo desligando em seguida. -Connor me olhava interessado, deve ter escutado o nome de Luna, com a audição biônica que o amor nos concede. Dou risada do meu pensamento idiota. –Preciso ir, meus muffins lindinhos. –digo a eles que sorriem do apelido ridículo.

–Posso ajudar? –Connor questiona antes de beijar meu rosto.

–Se puder eu te aviso. –garanto indo em direção a Oliver que me abraça apertado e dou um beijo no alto de sua cabeça. –Me mantenha informada.

–Sempre. –ele sorri e me pego mais uma vez parada, suspirando.

–Essas crianças apaixonadas... –a voz debochada de Connor que estava escorado na bancada a nossa frente de braços cruzados, me tira dos meus devaneios.

–Você conhece bem a sensação. –Oliver implica o fazendo engolir em seco. –Vou te levar ao seu carro. –decide se levantando, entrelaça seus dedos nos meus e deixamos nosso filho para trás, com cara de bobo.