Amor

Há uma palavra que defina exatamente o que esse sentimento poderoso quer dizer?

Pra mim existem vários tipos de amor. Há aquele amor entre amigos, há o amor entre um cachorro e seu dono, há o meu amor por computadores por exemplo, e por fim, o tão conhecido amor entre duas pessoas, que as levam a sentir coisas que jamais pensaram que seriam tão afortunados de experimentar. Não que eu acredite muito nesse sentimento que as pessoas tanto gostam de falar, desde o fático casamento dos meus pais eu desacreditei um pouco que exista de fato uma pessoa que seja perfeita para nós, o que não me impediu de sentir alguma coisa parecida com alguns rapazes que passaram pela minha vida.

Eu não desacredito totalmente no amor, mas o sonho com os pés nos chão, assim posso evitar de cair, como já aconteceu muitas vezes. É um sentimento complicado quando sentido, complexo de certa forma, afinal, como sabemos se amamos alguém verdadeiramente ou se tudo não se passa de uma farsa? Por conta de todos os prós e contras, questionamentos e suposições, eu escrevo cartas quando não sei o que fazer sobre os meus sentimentos em relação a uma pessoa. Existem 5 no total, uma para Curtis Holt, um amigo que eu fiz nos meus tempos trabalhando nos Laboratórios STAR, uma para o meu chefinho( ou príncipe da Disney como particularmente gosto de chamá-lo) Ray Palmer que foi super atencioso comigo aceitando uma universitária totalmente perdida na cidade em sua empresa, uma para um namorado que eu tive nos meus tempos estudando em Las Vegas, Cooper Sheldon, uma pra o conhecido Oliver Queen, principal jogador no time de futebol americano da faculdade, e a última e não menos importante, para o meu melhor amigo Barry Allen, que está comprometido com uma das minhas melhores amigas, Iris West.

O quanto isso é ruim? Demais! Tanto que eu nem sei explicar o que aconteceria se eles soubessem. Não que eu queira o namorado da minha melhor amiga, acontece que eu já sentia coisas pelo Barry quando ele e Iris começaram a sair, o que as tornou mais evidentes dentro de mim. Barry é um fofo, acredito que seja por isso eu me apeguei tão rápido a ele. Com seus sorrisos, nossas conversas sobre nossos planos além de nossos filmes favoritos, a forma como ele era atencioso...

- Não!- me repreendi guardando a carta na caixa e as enfiando em meu armário.

- Falando sozinha de novo?- perguntou Caitlin que saia do banheiro penteando seus cabelos.

- Engraçadinha.- respondi a sua provocação voltando a me arrumar, olhei rapidamente o relógio dando um suspiro desgostoso.- Merda, vamos nos atrasar pra primeira aula.

- Não se corrermos.- falou Caitlin pegando sua bolsa.- Sara e Iris estão nos esperando, vamos?

- Vamos.

Eu amava o nosso companheirismo, era difícil encontrar amizades tão fortes e verdadeiras como a minha e de Caitlin, Iris e Sara. Desde o primeiro dia em que pisei aqui as três me acolheram. Eu não sou uma pessoa muito fácil para fazer amigos, não que eu seja totalmente reclusa, mas os riquinhos dessa faculdade em si não me chamavam atenção nem um pouco. Sara é a mais aventureira de nós quatro, sempre se metendo em loucuras e claro, nos arrastando junto. Minha mãe quando a conheceu já a amou, o que me fez pensar se Sara de certa forma não era uma irmã perdida que eu havia encontrado, já que a mesma parecia mais uma Smoak do que eu mesma, puxando os traços malucos de Donna Smoak. Até cabelo loiro natural ela tinha! Enquanto eu sofria para deixar meus fios claros, a vida já se mostrou muitas vezes pra mim que não é justa.

A STAR University era bem renomada no nosso meio, dando o passaporte que eu necessitava para fazer minha pós-graduação no MIT. Não que ela fosse gratuita, de forma alguma, trabalhei muito para finalmente conseguir minha bolsa de 70%, e o emprego na Palmer Tech me ajudava a pagar o restante. Esse era um dos problemas nesse lugar maravilhoso, haviam muitas pessoas legais aqui, porém também existiam os desprezáveis riquinhos que se achavam superiores a todos. Falando em uma dessas pessoas...

- Ah não.- murmurou Caitlin ao meu lado dando um suspiro ao ver Laurel Lance vir em nossa direção.

Laurel era totalmente o oposto de Sara, era fria, não se importava com as pessoas, além de seu ego enorme. Ela também namorava com Oliver Queen, o capitão do time de futebol americano da nossa faculdade, um casal bem dentro dos padrões.

Desde o nosso primeiro encontro eu não simpatizo muito com ela. Laurel também não escondia seus pensamentos sobre mim, com seu sorriso falso sempre dava uma maneira de me irritar ou murmurar alguma coisa sem graça.

Desprezível.

- Olha só quem eu encontrei aqui.- falou com divertimento nos encarando com um pequeno sorriso.

Nojento.

Argh

- Oi Laurel.- cumprimentou Caitlin de forma educada.- Soube por Sara que vai conseguir um estágio na Chase’s advocacy, parabéns.

- Não foi uma surpresa.- sorriu mexendo em seu cabelo.- As pessoas se garantem quando tem talento, não sei se é o seu caso Smoak.

- Bom dia pra você também.- sorri forçadamente, se eu pudesse realmente dizer o que eu queria...

- Parece mais abatida do que o normal, finalmente virou um computador?

- Parece mais venenosa do que o normal, finalmente virou uma cobra?- provoquei a vendo apertar os lábios.

- Sua...

- Achei você amor.

Meu coração deu um sobressalto ao escutar aquela voz. Não que eu gostasse dele, mas também não era cega, Oliver Queen era atraente, extremamente atraente.

- Oi!- sorriu Laurel o beijando propositalmente em nossa frente, se eu pudesse vomitar já teria feito isso.- Eu já estava indo encontrar você mas... Encontrei alguns imprevistos.

Sorri de forma sarcástica a provocação de Laurel quando encontrei o olhar de Oliver, nos lançando um pedido de desculpas silencioso. A mesma murmurou algo e o fez assentir, saindo apressada.

- Me desculpem, ela está fazendo uma dieta diferente, isso tem afetado...

- O minúsculo cérebro dela?- perguntei de forma irônica cruzando os braços.

- Talvez essas porcarias estejam fazendo mal, deveria dar outra coisa no café da manhã dela Queen.- comentou Caitlin o fazendo assentir.

- É... Vou fazer isso.- sorriu quando saiu.

Virei de costas para observá-lo se mover no corredor movimentado. Oliver era rico, sem som sombra de dúvidas, mas isso não o fazia ser menos humano, óbvio que tinha suas falhas, mas ele era tão diferente dela.

Tão diferente de Laurel.

O que me fazia perguntar, como alguém como ele havia ficado tão rendido por uma pessoa tão tóxica?

O amor, nunca vou compreendê-lo.

Ao caminharmos até a nossa aula encontramos alguns membros do time pelo corredor, um moreno de olhos azuis sorriu de forma bem convidativa para Caitlin que revirou os olhos, o deixando decepcionado. Ri baixinho com sua reação, Tommy era um verdadeiro galinha, totalmente o oposto dos caras que Caitlin gostava.

- Decepcionou o Merlyn.- a provoquei.

- Hahaha.- riu sem humor.- Ele nem vai se lembrar disso, e além do mais, ele nem faz o meu tipo.

- Ele é bem bonito.- cutuquei quando a vi soltar um pequeno sorriso.

- Isso é um fato.- concordou quando ri baixinho.- Iris quer fazer um jantar esse sábado, nem acredito que ela vai mudar de faculdade.

- Nem eu.- suspirei.- Vou sentir muita falta da nossa repórter.

- Eu também.

Meus sentimentos por Iris eram sinceros, nós quatro( cinco contando com Barry) éramos uma família aqui, seria difícil ter que me distanciar. Iris sempre me dava bons conselhos, agindo realmente como uma irmã mais velha. Os cafés que ela me levava era maravilhosos, sentiria falta da sua companhia.

***

O crepúsculo caia quando finalmente sai da Palmer Tech e agradeci aos céus por finalmente ser sexta-feira. As coisas estavam um turbilhão ultimente, com os novos projetos para serem lançados no mercado a palavra “tempo livro” era algo que eu desconhecia.

Andei calmamente pelas ruas sentindo a brisa leve que soprava pela cidade, nosso clima geralmente era apático, porém estava diferente.

Quente.

Para o anoitecer era algo raro.

Dei um suspiro aliviado assim que vi o campus da faculdade. Caminhei entre um grupo do time que estava sentado apreciando o céu quando escutei alguns assobios atrás de mim.

- Olha a Barbie.- riu um homem me fazendo revirar os olhos.- O que acha da gente dar uma volta boneca?

- Nos seus sonhos talvez.- respondi escutando um uníssono “O” do seu grupo de amigos.

- Que brava, posso dar um jeito nisso. Se quiser...

- Deixa ela.

A voz masculina me chamou atenção. Virei para trás rapidamente a tempo de encontrar Oliver lançando um olhar intimidador ao rapaz que se calou. O loiro então olhou em minha direção e lançou um pequeno sorriso, qual de forma inconsciente eu retribui.

Voltei a focar novamente no trajeto em que fazia. Assim que finalmente cheguei em meu dormitório ri ao encontrar Sara deitada confortavelmente em nosso pequeno sofá da sala. A mesma fez um “joia” com a mão e continuou deitada, como se estivesse em casa. Caitlin surgiu do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça e sorriu ao me ver.

- Cadê a Iris?- perguntei confusa tirando as pernas de Sara para me sentar.

- Que brutalidade.- reclamou Sara colocando suas pernas em meu colo.

- Você que é folgada.- respondi quando a vi mostrar o dedo do meio.- Muito maduro Lance.

- Eu atendo.- disse Caitlin ao escutar alguém bater na porta.- Barry!

- Oi Snow.- sorriu a abraçando rapidamente.- Oi de casa.

- Oi Allen.- falou Sara batendo em sua mão ainda deitada.

- Lis.- sorriu me abraçando rapidamente.

- Oi Barry.- murmurei quando um sorriso bobo se formou em meus lábios, qual Sara revirou os olhos.- E a Iris?

- Ela andou ocupada o dia todo, mas falou que está pensando em qual prato fazer para amanhã.- comentou a última parte fazendo careta.

- Vamos pedir uma pizza.- interviu Caitlin o deixando aliviado.- É o jantar de despedida dela, não queremos que tenha trabalho.

- Nem acredito que ela vai embora.- murmurou puxando uma cadeira para se sentar.- Como é que eu vou ficar agora?

- Ainda tem a gente.- disse Sara o fazendo sorrir.- Todas nós.

- É.- concordei o lançando um sorriso sincero.- Sabe que pode contar com a gente pra qualquer coisa, né?

- Sei Lis.- assentiu sorrindo.- Ainda tem muita coisa da Iris pra guardar Sara?-perguntou quando a loira se sentou.

- Ela já empacotou tudo, inclusive deixou umas caixas para a doação, algo que todos deveríamos fazer, principalmente você Lis.

- Eu gosto das minhas coisas.- me justifiquei.- Elas tem uma história, cada objeto a sua.

- Talvez seja a hora de viver histórias novas.- comentou Caitlin.- Todos nós vamos doar alguma coisa, fechado?

- Tudo bem.- concordei contrariada os fazendo sorrir.- E como vai ficar seu dormitório agora que a Iris vai embora Sara?

- Solitário, vou sentir a falta dela.- murmurou chateada quando um sorriso travesso surgiu em seus lábios.- Não vai ser bem solitário se vocês me entendem.

- Você não tem jeito.- ri quando joguei uma almofada em seu rosto.

- O que eu posso fazer?- perguntou nos fazendo rir.- Falando nisso, deu a minha hora, boa noite.

- Vai ver a sua irmã?- perguntei quando a mesma fez uma careta.- O quê?

- Visitar a naja a essa hora?- perguntou incrédula.- Jamais.

- Sabe que ela é a sua irmã, não é?- perguntei confusa quando a vi dar de ombros.

- Não muda o que ela é.

- Que relacionamento saudável.- falou Barry em tom baixo.

- Encantador.- ironizei quando a vi sair.- E como você está Barry?

- Cansado Lis.- suspirou vindo se sentar ao meu lado.- Vai ser difícil não tê-la por perto.

- Demais.- suspirei pesadamente.- Ela que geralmente me dá bons e loucos conselhos, bons cafés. Como vou viver sem isso?- perguntei quando o mesmo deitou em meu ombro.

- Ainda tem um amigo pra falar de coisas de nerd.- murmurou nos fazendo rir.

- Fato.

Barry ficou mais um pouco conversando comigo e com Caitlin quando decidiu ir embora. Caitlin tomou posse do seu lugar e ficamos deitadas um bom tempo. Ela sabia dos meus sentimentos confusos sobre o nosso amigo, e sempre me ajudava a lidar melhor com as coisas. Éramos realmente uma família, qual eu jamais gostaria de perder.

E não arriscaria isso por conta de uma maldita carta.

***

O sábado estava sendo bem pacato, pelo menos pra mim. Não havia saído da cama desde de manhã, afinal, havia melhor sensação do que ficar imersa nos livros um dia inteiro?

Eu amo ler, faço disso minha válvula de escape desse mundo cruel em que vivemos, encontrando nas histórias esperança, felicidade e amor, tudo o que precisamos para um mundo melhor. Essas histórias me prendem tanto que as vezes nem parece que eu estou lendo um livro, mas que estou de fato vivenciando aquilo, como eu já havia dito.

Uma válvula de escape.

Atualmente eu lia “ O beijo proibido”. Um fato curioso sobre mim é que amo escrever e ler sobre histórias de amor, mas quando se é para vivenciar...

Eu congelo.

Como se o meu corpo inteiro ficasse estático.

É estranho dar tamanha importância quando se conhece alguém, porque essa pessoa pode ir embora, e tudo aquilo que se é sentido fica esquecido, bom, quase esquecido. Relações são complicados, há muito tempo viemos tendo resultados disso, como o caso do famoso casal Romeu e Julieta, dois perdidamente apaixonados que acabam mortos por amor no final da história.

Como isso virou referência no mundo inteiro?

Ambos acabaram mortos, nenhum viveu o grande amor que os prometeram, tudo se finalizou em tragédia, dor, sofrimento, tenho minhas dúvidas sobre esse casal tão aclamado no mundo do romance.

Por volta das 17 horas comecei a me arrumar. Coloquei uma calça jeans preta e uma blusa de alças azul escura com um decote em v, com gentis babados no decote, além de colocar um batom nude, dando um pouco de vida em meu rosto. Caitlin apareceu logo depois também arrumada, a mesma trajava uma calça jeans simples, assim como a minha, e uma blusa de manga cumprida da tonalidade vinho. Pegou rapidamente sua bolsa e então sorriu.

- Será que não é melhor comermos algo antes de irmos pra lá?- perguntei a fazendo rir enquanto fechava a porta.

- Sara já se encarregou da pizza, tá tudo bem.- respondeu me deixando extremamente aliviada.

Por ser sábado geralmente os alunos aproveitavam para relaxar. Uns iam a festas, restaurantes, outros apenas ficavam bebendo e jogando conversa fora deitados no gramado. Assim que saímos do nosso prédio avistamos ao longe Laurel Lance, que ria abertamente no telefone. Olhei para Caitlin confusa que deu de ombros, nos guiando até o prédio das meninas.

Barry abriu a porta sorridente e nos abraçou. Dei dois passos quando a vi sentada no sofá. Caitlin a abraçou e um tom rosado atingiu suas bochechas. Tentei a todo custo manter meu rosto sereno, porém uma pequena lágrima levou a baixo toda a minha atuação. A mesma também lutava bravamente quando desistiu, me olhou com olhos úmidos quando finalmente me deu um abraço apertado.

- Falei que não queria chorar.- murmurou nos fazendo rir.

- Eu tentei, eu juro.- me justifiquei quando mais lágrimas caíram.- Mas toda vez que lembro que a minha melhor amiga vai embora me dá uma vontade maluca de surtar.

- Você não vai estar sozinha.- me lembrou quando finalmente nos afastamos, limpando o rosto.

- Não vai ser a mesma coisa sem você.- reclamei arrancando uma gargalhada sua,a mesma se me guiou até o sofá.

- Vocês vão se divertir muito sem mim.- comentou na tentativa de me animar.

- Tenho que concordar com a Lis, não vai ser igual sem você.- repetiu Caitlin a fazendo sorrir quando a campainha tocou.- Deve ser a Sara com a comida.

Em um gesto rápido, Barry se levantou e abriu a porta, dando de cara com a loira que segurava duas pizzas em uma mão e uma garrafa de vinho na outra.

- Boa noite família.- disse animada caminhando até a mesinha de centro da sala, colocando as coisas ali.- Cheguei para acabar com a fome de vocês.

- Nossa heroína.- ironizou Caitlin os fazendo rir.- Atacar?

- Atacar!

***

O ambiente era leve e extremamente aconchegante. Iris estava deitada no peito de Barry de forma descontraída no sofá, enquanto eu e Caitlin ocupávamos o outro, já Sara estava encostada no sofá e suas pernas largadas no tapete. Barry de repente se colocou em pé, nos observando ansioso. Olhei confusa em direção às meninas que deram de ombros quando o mesmo limpou a garganta.

- Bom, já que a Escócia fica muito longe pra você vir pra cá no dia de ação de graças... Eu estava pensando em ir te ver!- comentou animado quando a entregou uma passagem de avião.

- O quê?- perguntou incrédula.

- Eu vou viajar até a Escócia para ver você!

- Isso que é atitude Allen.- elogiou Sara o fazendo bater em sua mão.

- Você já pagou por isso?- perguntou Iris em um tom mórbido, totalmente o oposto da reação esperada.

- Já… Por quê?- perguntou confuso quando a viu se levantar.

- Precisamos conversar, mas não aqui.

***

Um clima pesado se instalou no apartamento assim que os dois se trancaram no quarto e começaram a discutir. Caitlin, Sara e eu estávamos sentadas no sofá, se retraindo levemente a cada palavra dita. Barry saiu exasperado e bateu à porta com força quando saiu do dormitório. Iris voltou em silêncio até a sala e se sentou no sofá, abraçando uma almofada. Me sentei ao seu lado e a observei com cautela quando a mesma me encarou.

- Vocês ouviram tudo, não é?- perguntou envergonhada quando assenti.

- Um pouquinho.- disse Sara.- Sinto muito.

- Eu já estava planejando isso.- respondeu olhando para Caitlin e Sara.- Uma hora ia ter que acontecer.

- Sério amiga?- perguntou Caitlin quando a viu assentir.

- Minha mãe disse pra nunca ir a uma faculdade com um namorado, agora que eu vou para a Escócia não faz mais sentido eu e Barry ficarmos juntos.

- Mas você o ama.- murmurei chamando sua atenção.

- Eu sei.- suspirou quando se levantou decidida.- Mas agora acabou, não tem mais volta. Eu vou embora amanhã gente, quero no mínimo me embriagar com vocês uma última vez.

- É assim que se fala.- disse Sara nos fazendo rir.- Eu faço a primeira rodada!

***

Acabamos por dormir no dormitório de Sara e Iris. Foi um verdadeiro sacrifício para finalmente sairmos da cama. A luz do sol irritava extremamente meus olhos, mas consegui levantar mesmo com uma enorme dor de cabeça para levar Iris até o aeroporto. Usamos o carro de Sara para dirigir até lá, eu dirigi na verdade, já que era a em melhor condição dentre nós três.

Na saída vimos Barry, o que partiu o meu coração ao vê-lo tão abatido, mas Iris seguia decidida, sem arrependimentos. Não demoramos a nos despedir, já que segundo a West, se chorássemos ela também iria chorar. Antes de partir fez uma promessa, falando que conversaríamos por chamada de vídeo todos os dias, além de nos fazer prometer que doaríamos alguma coisa.

- Amanhã vou levar minhas coisas para a doação Lis, se quiser levo as suas.- falou Caitlin me fazendo assentir.- Essas caixas? - Perguntou as vendo jogadas ao lado da minha cama.

- É.- murmurei distraída enquanto mexia em meu celular.- Vai ser bom tirar algumas coisas daqui.

- Vai sim.- sorriu compreensiva.- Boa noite Lis.

- Boa noite Snow.

***

Dois dias haviam se passado desde a partida de Iris. Nesse meio tempo acabei encontrando Barry, qual ainda estava desolado com o término repentino. O mesmo havia me perguntado se eu sabia de alguma coisa, qual neguei veementemente, estava tão surpresa quanto ele. Os dois se amavam, formavam um casal tão lindo, ao menos parecia. Acho que de certa forma minha amizade e a de Barry vai voltar a ser o que era antes, já que havia ficado diferente após seu envolvimento com Iris.

Caminhava com um café na mão para encontrar Sara que se encontrava em um estado caótico praticamente dormindo em uma das diversas mesas espalhadas pelo campus. Limpei a garganta a chamando atenção quando a entreguei o café.

- Eu te amo.- murmurou se levantando me fazendo rir.- Eu tô um porre,

- Em pleno dia de aula- a repreendi quando a vi dar de ombros.- Espero que tenha valido a pena.

- Valeu, valeu muito.- comentou com um sorriso sapeca.

- Você...Ouviu isso?- perguntei confusa quando ouvi me chamarem.

- O quê?

- Smoak!- gritou a voz novamente.

Olhei para trás quando vi Oliver correr em nossa direção. Fiquei curiosa e ao mesmo tempo nervosa ao ver que queria falar comigo. Assim que chegou bateu na mão de Sara, que se segurava para ficar em pé.

- Caramba Sara, você tá horrível.- comentou ao analisar seu estado.

- Soube que Laurel te trocou por um cara do estágio, é verdade?- o provocou quando o viu rolar os olhos.- Fico feliz que finalmente se livrou dela.

- Eu tô a fim de falar com a sua amiga.- falou quando seu olhar caiu sobre mim.- A sós.

- Certo...- concordou quando me encarou.- Qualquer coisa estou morrendo no meu quarto.

Assim que a mesma saiu um clima estranho se formou, encarei Oliver curiosa enquanto o mesmo me observava com aqueles olhos azuis.

E que olhos.

Que físico.

Foco Felicity.

Voltei a prestar atenção em Oliver que parecia analisar a melhor forma de abordar qualquer que fosse o motivo para estar ali. Bufei com sua demora quando cruzei os braços, impaciente com sua atitude.

- Eu...Eu fico muito lisonjeado, mas não.- falou me fazendo encara-lo confuso.

- Não?

- Eu achei muito tocante o que você escreveu, e achei legal falar que eu tenho um brilho nos olhos.- continuou quando retirou o meu pior pesadelo do bolso.- Mas eu e Laurel estamos passando por um momento complicado e...

- Não.

Eu não prestava atenção em mais nada do que ele falava, era como se o mundo girasse, e me levasse direto a um imenso precipício cheio de aflições e receios. Senti o impacto do meu corpo ao chão e fechei os olhos.

Aquilo não podia ter acontecido.

Não! Não! Não!

Dividimos algumas matérias no primeiro semestre, o que me deixou com certa empatia por ele. Oliver era gentil, mesmo andando com pessoas fúteis, tirando seu amigo Tommy Merlyn, nele eu conseguia ver uma certa verdade, mesmo com seu jeito brincalhão e de fazer pegadinhas com todo mundo. Acho que Oliver sempre vai ser o crush de qualquer mulher que entre nessa faculdade. Seu físico, seu rosto, e o ponto que eu mais gostava dele.

Seus olhos.

Engraçado, penso tanto nele que é como se estive sobre mim, me observando com uma feição... preocupada?

Por que ele está preocupado?

Sorri com a imagem, não era bem a expressão que eu esperava dele quando nos imaginei trocando uns beijos, a questão é que essa imagem borrada parecia tão real.

Espera um pouco...

- Felicity!- gritou a voz me fazendo pular de susto.

Oliver estava de joelhos me observando, olhei confusa para os lados quando o pânico voltou a me atingir.

Merda.

Não era um sonho.

Era um pesadelo.

- Você tá bem?- perguntou cauteloso quando me viu assentir.- Senta.- falou pegando minhas mãos.

- Não.- murmurei envergonhada fechando os olhos.

- Vem Smoak.- riu da minha atitude quando finalmente me sentei.

- O que aconteceu?- perguntei confusa passando a mão em minha cabeça.- Aí.

- Você desmaiou.- respondeu me lançando um pequeno sorriso.- Se sente melhor?

- Sim.- sorri envergonhada quando foquei em uma pessoa se aproximando.- Merda.

O mesmo parecia extremamente decidido, caminhando com passos duros em minha direção. Olhei para sua mão esquerda quando o vi segurando um papel que jamais deveria ter visto.

Merda

Barry estava com a carta

Barry havia lido a maldita carta.

O meu melhor amigo havia lido a maldita carta;

Minha respiração se descompassou a cada passo que o mesmo dava, de repente me lembrei da presença de Oliver que olhava na mesma direção, confuso e curioso. Juntei toda a minha coragem e virei seu rosto em minha direção e então...

Eu o beijei.

Céus, eu estava beijando Oliver Queen!

E que gosto maravilhoso.

De uma forma uma pouco atrapalhada o mesmo acabou caindo no chão quando o agarrei. Ele parecia surpreso, afinal, quem não ficaria em ser agarrado no meio do campus por uma tarada? Com certeza era isso que ele estava pensando.

A reação surpresa de sua parte parecia ter passado quando o senti descer uma de suas mãos até a minha cintura e a apertar, me fazendo estremecer. Reprimi a todo custo a minha vontade enorme de suspirar com o seu toque quando me afastei.

- Desculpa.- sussurrei quando me levantei e sai correndo.

Barry parecia decepcionado com a cena, assim que passei por ele o escutei me chamar, mas eu não parei, a única coisa que eu queria fazer era sumir.

Ou me enfiar debaixo da terra, o que daria na mesma coisa.

Fechei a porta com força assim que voltei ao meu dormitório, as aulas eram a última coisa que eu me importava hoje. Comecei a vasculhar todas caixas do meu armário, jogando praticamente tudo no chão. Peguei o celular e disquei o número, rezando para que o que eu estava pensando não tivesse acontecido.

“- Cadê você?- perguntou Caitlin.- A aula já vai...”

“- Que caixas você levou pra doação?- a interrompi apressada.”

“- As que você falou ué.”

“- Todas do lado da cama?- perguntei sentindo minhas mãos gelarem.”

“- Sim.- confirmou o meu pior pesadelo.- Felicity?”

“- Eu quero morrer.”

Desliguei o telefone e me joguei em minha cama, agarrando um travesseiro para abafar meu grito.

As cartas haviam sido entregues.

As cartas haviam sido entregues!

Como que eu lidaria com tudo isso agora? E principalmente, como eu olharia para Barry agora?

***

Pov Oliver

Mas que loirinha imprevisível.

Quando recebi aquela carta realmente achei que fosse um trote de algum otário do time, mas assim que a li, assim que vi aquele letra, assim que senti todo o impacto daquelas palavras soube instantaneamente que nenhum deles saberia expressar de uma forma tão bonita seus sentimentos por alguém. Ao que parecia ela estava apaixonada por mim, eu não a julgo, em modéstia parte todas as garotas da faculdade tem uma queda por mim, mas nenhuma jamais havia escrito uma carta.

Tão medieval.

E ao mesmo tempo tão sincero.

Quando a terminei de ler virei para ver sua parte de trás, onde havia o nome de seu dono.

Felicity Smoak.

Não precisava de muito para me lembrar dela.

Felicity sempre andava com Sara, irmã da minha namorada, ex na verdade, ainda era recente. Lembro de já termos assistido algumas aulas juntos, eu faço economia, ela tecnologia, não demorou muito para nossas grades nos separarem. Outras recordações dela foram a forma como enfrentou Laurel, tão corajosa, sem se deixar abater pelos comentários venenosos. Ela era diferente, até uns caras do time já haviam a notado. Não sei muito bem porque repreendi Rene ao cantá-la na tarde de sexta, mas algo em mim não havia gostado da forma em que ele a tratava. E então ela se virou, e de uma forma quase inconsciente eu sorri.

E ela retribuiu.

Com um sorriso maravilhoso.

Tommy ainda dormia quando eu saí para procurá-la. O clima estava quente, algo bom para Star City. Comecei a procurá-la por todas as partes quando a avistei andando com Sara, que de uma forma cômica se segurava para ficar em pé. Bati em sua mão propositalmente, a provocando, qual retribuiu nossa brincadeira me questionando sobre um assunto incômodo, mas eu não queria falar sobre Laurel agora.

Eu queria falar com Felicity.

Somente com ela.

Achei graça de sua reação quando viu a carta que eu segurava, a deixando pálida. Me assustei quando a vi desmaiar em minha frente. Rapidamente fiquei ao seu lado a chamando, chequei seu pulso e vi que estava normal. A mesma acordou quando fechou os olhos novamente, parecendo que preferia ficar desacordada. A ajudei a se sentar quando me olhou desconfortável, sorri em sua direção, a deixando calma, e ainda preocupado a observei. A vi reclamar olhando para um ponto atrás de mim, segui seu olhar mas só vi um cara, um garoto para falar a verdade, mas não tive muito tempo para suposições, porque a maior delas estava por vir.

Felicity praticamente pulou em mim colando nossos lábios, me fazendo deitar com o peso do seu corpo sobre o meu. Demorei a responder, óbvio, não esperava que isso fosse acontecer, mas aos poucos eu relaxei, deixei meu corpo reagir com à sensação e então eu a beijei.

E que beijo.

Mordi levemente seu lábio inferior tentando arrumá-la para ficar em cima de mim, e terminarmos de uma forma mais confortável para ambos a coisa que sabe-se lá estávamos fazendo. Nesse percurso apertei sua cintura e a vi reagir, mesmo que tentasse se segurar.

Eu gostei daquilo.

Tanto que senti uma decepção enorme quando ela se afastou, me olhando envergonhada.

- Me desculpe.- sussurrou quando ficou em pé e começou a correr.

Apoiei meus braços para levantar somente a tempo de vê-la desaparecer. Fiquei deitado ainda no chão, absorvendo o que havia acontecido.

Não era bem como eu imaginava que nossa conversa ocorreria.

Me levantei ainda ofegante, e passei pelo garoto que ainda me encarava, como se houvesse fúria em seus olhos.

Acho que as coisas não haviam ficado tão claras para Felicity, eu precisava falar com ela. Eu precisava de respostas.

Eu não estava pronto para algo novo, principalmente agora que Laurel havia terminado comigo, ela havia sido minha primeira namorada assumida, tinha conquistado um espaço em mim.

Que ela não merecia, como falaram Tommy e Sara sobre o nosso relacionamento.

Me concentrei em encontrar Felicity.

Passei o dia todo tentando achá-la, até parei uma de suas melhores amigas, Caitlin Snow, para me contar onde ela estava, porém a mesma não tinha a visto desde manhã. Recordei do breve lembrete de Sara pela manhã e fui até seu dormitório, e a infernizei para falar onde a loirinha poderia estar. Após encher sua paciência e como um bom amigo lhe entregar remédios para ressaca, Sara me contou que Felicity fazia um estágio à tarde na Palmer Tech, e que saia ás 18:00 horas.

Peguei minha moto e fui tentar encontrá-la. Passei pela empresa da minha família e um aperto em meu peito e me fez apertar os dedos no acelerador. Estacionei e fiquei encostado em minha Ducati, a esperando. De repente vi uma figura loira com os cabelos presos em um rabo de cavalo saírem. Sua reação ao me ver foi algo que me fez segurar para não rir, ela parecia nervosa, apreensiva. A vi dar passos cautelosos em minha direção quando parou em certa distância e cruzou os braços.

- O que você quer?- perguntou sem rodeios.

Então ela era brava.

Interessante.

- Acho que a nossa conversa não ficou muito clara.- comentei quando vi suas bochechas ficarem vermelhas.- Podemos conversar em outro lugar?- pedi quando a vi bufar em resposta, tive que jogar baixo.- Ou talvez eu conte pra faculdade inteira que você fez uma carta pra mim?

- Idiota.- respondeu quando suspirou, de repente seus olhos se arregalaram.- Vamos nisso?

- Prometo ir devagar.- sorri a encorajando, entregando um capacete.

Esperei ela se acomodar atrás de mim, quando ainda incerta colocou seus braços ao redor da minha cintura.

- Segura firme em mim.- comentei quando a senti fortalecer o aperto.- Não tanto Smoak.

- Desculpa.- pediu envergonhada.- Se eu cair dessa coisa você vem comigo.- respondeu me fazendo sorrir.- Estou pronta.

- Lá vamos nós.

***

Estacionei ao lado de uma lanchonete não muito longe dali. Quando entramos vi que Felicity estava acanhada, um pouco apreensiva. Nos sentamos frente a frente quando a mesma pediu um refri. Ficamos em silêncio até nossos pedidos chegarem quando a vi suspirar.

- Quero deixar claro as coisas.- comecei cauteloso.- Eu fico realmente lisonjeado, mas...

- Tá me rejeitando?- perguntou quando deu um gole em seu refrigerante, voltando a me encarar.

- Você falando assim me faz me sentir pior.- comentei sincero quando vi um sorriso brincar em seus lábios.

- Eu não estou apaixonada por você Queen.- respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Sua boca está dizendo isso, mas a sua boca falou uma coisa completamente diferente horas atrás.- a lembrei do acontecido quando vi um tom rosado surgir em seu rosto.

- Eu beijei você pra parecer para outra pessoa que eu não estava gostando dela.- respondeu dando de ombros, uma sensação estranha me atingiu, acho que ego ferido por não ser desejado.

- E quem era a “pessoa”?- perguntei fazendo aspas. A vi se esmorecer diante da minha pergunta.

- Eu não vou responder isso.- rebateu me lançando um olhar desafiante.

- Você vai, porque se não eu vou continuar pensando que você tem uma tatuagem do meu rosto na sua bunda.- comentei quando a vi soltar um sorriso de canto.- E então?

- Barry Allen.- soltou tudo de uma vez.

- Barry Allen.- murmurei pensativo, aquele nome me era familiar. Barry... Ata.- Espera aí.- me interrompi tentando concluir o pensamento, seja qual fosse o sentido só poderia se finalizar com algo ruim.- Ele não é o namorado de uma das suas melhores amigas?

- Era namorado.- me corrigiu quando suspirou.- Agora imagine como seria estranho se ele achasse que eu gosto dele depois de receber aquela maldita carta, seria o fim da...

- Calma aí.- a interrompi a olhando confuso.- Ele também recebeu uma carta?

- Recebeu.

Minha boca entreaberta era o verdadeiro significado de minha atual situação. Eu não era o único a receber uma carta.

Patético

Novamente meu ego estava ferido.

- E eu aqui, me achando especial por receber uma carta de amor.- murmurei ainda incrédulo com a situação.

- Eu fiz cinco cartas, então não se sinta nem um pouco especial Queen.- comentou me fazendo olhá-la chocado.

- Cinco?- perguntei quando a vi assentir.- Que safada Smoak.- comentei com diversão.- Pra quem mais escreveu?

- Vai me deixar em paz?- perguntou me observando quando dei de ombros.

— Se você quiser.

- Tá.- murmurou um pouco incerta de como começar.- Escrevi pro Barry, como você sabe. Para um antigo namorado meu, Cooper Sheldon, Curtis Holt, um amigo que eu fiz nos laboratórios S.T.A.R e pro meu chefe, atual amigo, Ray Palmer.

- Ray Palmer.- repeti com certo desgosto, não gostava nenhum pouco desse sujeito , principalmente depois do dia qual ele tentou comprar a empresa da minha família.

Mesquinho.

- Não gosta do Ray?- perguntou confusa com a minha reação.- Por quê?

- Digamos que eu não seja o seu maior fã.- respondi dando de ombros quando voltei a encará-la. Ficamos nos fitando por alguns segundos quando a mesma desviou o olhar e olhou o relógio.

- É melhor irmos.- comentou me fazendo assentir.

O caminho de volta não demorou muito, Felicity estava mais relaxada, o que deixou a viagem mais leve e até mesmo apreciável, tirando o fato que as vezes ela me apertava mais do que deveria, algo que me fez soltar um sorriso de canto. Parei em frente ao seu dormitório, e a mesma desceu, me entregando o capacete ainda sem jeito.

- Me desculpa te envolver nessa situação.- pediu honesta quando suspirou.- Você deve estar me achando uma tarada.- comentou a última parte me fazendo soltar um pequeno riso, qual a mesma me acompanhou.

- Sempre pode ser pior.- disse quando a vi assentir.- E sobre o Allen? O que vai fazer?

- Contar a verdade.- deu de ombros.

- E qual é a verdade?- insisti quando vi uma pequena ruga se formar entre suas sobrancelhas.

- Eu...Eu não sei.- suspirou pesadamente quando se virou e começou a caminhar em direção a porta.

Eu analisava meus pensamentos caminharem em um caminho diferente, novo até então buscando uma solução.

Quando eu a encontrei.

Uma solução para tanto os meus problemas quanto para os dela.

Desci da minha moto e a alcancei, subindo os pequenos degraus, ela me olhou confusa, arqueando as sobrancelhas a procura de uma resposta.

- E se você não falar?- perguntei quando a vi franzir o cenho novamente.

- O quê?

- E se a gente deixar as pessoas acharem que estamos saindo juntos?- perguntei mais para mim mesmo do que pra ela.- Não só o Allen vai saber, mas todo mundo.

- Por que quer fazer isso?- perguntou desconfiada cruzando os braços.

- Pra te ajudar com o Allen.- respondi quando senti seu olhar afiado em mim.- E pra causar ciúmes em Laurel, assim ela volta pra mim.

- Claro, está querendo me usar como uma muleta.- murmurou com sarcasmo.

- Tecnicamente você me usou primeiro.- a lembrei quando bufou em resposta.- Smoak, não precisa me responder agora, ok? Pense no assunto.- pedi quando ainda relutante ela assentiu.

- Mas não se anima muito não.- comentou enquanto abria a porta me observando mais uma vez.

- Sou otimista.

Felicity então entrou no prédio de seu dormitório e subiu as escadas, eu ainda conseguia vê-la pela porta da frente de vidro. Um sorriso me escapou com o acontecido. Voltei com um sorriso de orelha a orelha até a minha moto quando notei a presença de um garoto que andava ali por perto, o reconheci instantaneamente.

Então esse era o tal Barry Allen.

Hora de colocar as cartas na mesa.

O mesmo me encarava com uma cara carrancuda quando sorri em sua direção e o cumprimentei de longe.

- Deixou a Felicity em casa?- perguntou cruzando os braços me encarando seriamente.

- Sim.- respondi como se não fosse nada.

- Estão saindo há muito tempo?

- Um pouco.

Dito isso coloquei meu capacete achando graça da pequena e saudável provocação que eu havia feito. Talvez essa fosse as respostas para os nossos problemas.

Ou será que era o começo de um?

***

POV Felicity

Se eu pudesse resumir o dia em uma palavra seria insano.

Absurdamente insano.

Céus, como fui me envolver em uma confusão como essa?

Tudo estava começando tão bem, por um segundo achei que realmente o dia poderia ser bom, mais uma vez o destino me fez de idiota.

E como fez.

O que eu fiz pra receber tudo isso em um dia só?

Barry deve estar exatamente confuso, principalmente depois de me ver agarrando o Queen na frente de todo mundo, ele parecia tão...

Decepcionado

Por que ele estaria decepcionado? Será que o sentimento era recíproco?

Que sentimento Felicity? Nem você sabe o que está sentindo.

E além de lidar com ele e o Queen, ainda tive que me preparar quando vi o meu chefinho maravilhosa sentado em minha cadeira com aquela maldição na mão. No começo eu fiquei nervosa, óbvio, pensei que talvez ele não quisesse falar mais comigo quando Ray riu.

Ray riu.

E por incrível que parece me ajudou a colocar meus pensamentos em ordem.

Claro que no começo fiquei extremamente envergonhada, o “príncipe da Disney”, como eu gostava de chamá-lo, havia lido algo muito pessoal sobre ele, mas Ray agiu diferente.

Ele entendeu.

E me ajudou principalmente quando falei de Barry, o meu maior problema.

Eu não posso ficar com ele, de maneira nenhuma, mesmo agora que ele e Iris estão separados, seria uma traição, eu não podia apunhalar minha melhor amiga pelas costas.

Eu não podia machucá-la.

Como eu olharia para Barry agora?

Nossa amizade estava abalada, não havia qualquer possibilidade de sermos o que éramos antes, eu não acredito que havia perdido o meu melhor amigo.

O meu nerd.

Tão fofo.

Com aquela risada...

De repente meus pensamentos mudaram de direção, ao invés de imaginar Barry pensei em Oliver e a maneira como nos tratamos hoje. Primeiro eu o agarrei, sei que fiquei extremamente envergonhada mas uma parte de mim havia gostado, principalmente quando o senti me apertar, aí Oliver...

Por que além de lindo tinha que ter uma pegada tão boa?

Segundo que ele havia me buscado no trabalho, e tenho que admitir, andar agarrada com Oliver Queen em uma moto havia sido uma das melhores sensações da minha vida, principalmente porque com isso ocorreu uma brechas enormes para a minha imaginação fértil, só de nos imaginar próximos...

Foco Felicity, foco.

Ele parecia preocupado em falar de uma forma doce que seus sentimentos por mim não era recíprocos, o que não me chocou nem um pouco. Oliver saia com modelos, lindas e com um vazio enorme, por mais que eu não gostasse de Laurel eu não podia negar, ela era linda, Oliver jamais me olharia com outros olhos.

Eu não era o seu tipo.

Então por que ele havia proposto uma coisa tão absurda? Eu e ele? Juntos? Só podia ser piada.

Percebi que enquanto pensava em Oliver minha preocupação com Barry havia sumido, interessante.

Será que era assim que funcionava?

Se Barry achasse que eu gostasse de Oliver as palavras absurdas da carta sobre meus sentimentos por ele não fariam sentido, afinal, eu não era apaixonada por ele?

Ou era?

Por que sentimentos tinham que ser tão complicados?

Deixei meu celular de lado ao ler algumas mensagens de Barry, eu não sabia como respondê-lo ou quando iria respondê-lo.

Me revirei na cama mais uma vez e suspirei, talvez Oliver estivesse, talvez fosse uma solução para ambos dos nossos problemas. Fechei os olhos tentando relaxar, amanhã seria um dia cheio.

O dia que eu faria uma das coisas mais loucas na minha vida.

***

Acordei mil vezes mais decidida do que estava quando fui dormir. Me arrumei rapidamente e sai do meu quarto indo para a pequena e confortável sala, onde Caitlin já se aprontava para sairmos. A mesma me lançou um olhar interrogativo e eu não a julgava, não nos falávamos um dia inteiro praticamente, pois quando a mesma chegou ontem eu já me encontrava em estado de hibernação. Sorri em sua direção e então me aproximei.

- Conto depois, ok?- perguntei quando a vi assentir.- Agora tenho que resolver outro problema.

- Barry?- jogou no ar me deixando surpresa.- Ele também estava estranho ontem, não entendi muito bem.

- Tem haver com ele, mas na verdade preciso falar com outra pessoa.- suspirei.- Sabe aonde posso encontrar a essa hora Oliver Queen?

- Oliver Queen?- perguntou virando imediatamente em minha direção.- Mas o que...

- Depois.- enfatizei quando a vi bufar em resposta.- Por favor Snow.- pedi fazendo biquinho o que a causou um riso.

- Seja lá qual for a confusão que você se meteu eu vou saber mesmo.- deu de ombros me fazendo rir.- Os meninos do time treinam agora cedo no campo e é claro que o capitão vai estar lá.- respondeu me deixando surpresa.- O quê?

- Como você sabe disso?

- Talvez um dia eu tenha saído pra tomar um café e tenha apreciado uma das melhores visões ao amanhecer, tirando o Por Do sol é claro.- respondeu travesse me fazendo rir.

- O Merlyn era essa visão?- provoquei quando a vi revirar os olhos.

- Você não tinha algo pra fazer não?- perguntou desviando do assunto e por mais que eu amasse provocá-la eu precisava ir, antes que perdesse a coragem.

- Cruze os dedinhos.- pedi quando finalmente sai.- Vou precisar de toda sorte possível.

O clima estava um pouco ameno quando sai, mas o sol que furava as nuvens de forma discreta já me aqueciam um pouco. Caminhei até a parte onde ocorriam os treinos e avistei alguns caras correndo. Na medida que me aproximava vi uma figura de um rapaz sentado na arquibancada, quase deitando porém se encostava com os cotovelos no degrau, os observando correr e fazer flexões. Não precisei de muito para o reconhecer pois assim que chegava o mesmo se virou em minha direção e me olhou com atenção, um sorriso gentil o escapou quando acenou em minha direção.

- Bom dia.- cumprimentou ainda sorrindo.- Felicity não é?

- É.- assenti confusa, eu nem falava com Tommy Merlyn, como ele sabia o meu nome?

- Sara fala muito sobre você.- sorriu mais uma vez respondendo minha dúvida.

- Ela fala demais.- dei de ombros.

- Fato.- concordou ainda me encarando.- Está perdida?

- Na verdade não.- suspirei quando me sentei ao seu lado, o mesmo arrumou sua postura para me observar.- Vim falar com o seu amigo.

- Seria invasivo eu perguntar o por quê?

- Seria invasivo eu perguntar por que não está treinando?- rebatei nosso pequeno jogo quando o vi sorrir novamente.

- Espertinha.- comentou divertido.- É uma resposta simples. Primeiramente, eu odeio acordar cedo. E segundamente que acordar cedo pra fazer exercícios deveria ser considerado um crime.

- Não posso discordar, odeio fazer exercícios também.- comentei, o único que eu fazia era até a minha lanchonete favorita, que fica há duas quadras daqui!.- Oliver não briga com você?

- Eu sinceramente não ligo.- deu de ombros.- Não que eu deixe de treinar, esses dias tenho preferido esse horário, mas geralmente treino à tarde.

- Entendi.- murmurei quando meus olhos voltaram ao campo.- O único exercício que eu faço é até a minha lanchonete preferida, fica umas duas quadras daqui.

- A Corner Café?- perguntou quando assenti.- Eu adoro aquele lugar, mas só gosto de ir de manhã.

- Você é confuso.- pensei em voz alta.- Não gosta de acordar cedo para treinar, mas acorda pra ir em uma cafeteria.

- Não é bem pela cafeteria que eu vou.- respondeu sincero.- Tem uma mulher que vai lá, eu gosto de vê-la.

- Stalker.- o chamei quando rimos.- Eu e Caitlin amamos lá também.

- Caitlin é a que viajou?- perguntou quando balancei a cabeça negativamente.- É a dos olhos azuis?

- É, esses dias elas têm... Espera um pouco.- me interrompi quando um sorriso malicioso surgiu em meu rosto.- Você vai ao horário das 7:30?

- É.- respondeu se dando conta tarde demais da resposta que havia me dado.- Garota, você é boa.- murmurou abismado me fazendo rir.- Senti minha privacidade invadida.

- Agora você sabe como as pessoas ao seu redor se sentem com as suas brincadeiras Merlyn.

Aquela voz me fez estremecer. Assim que virei em sua direção Oliver estava parado de braços cruzados e nos observava. O mesmo me fitou por alguns segundos quando desviou o olhar, voltando a encarar Tommy.

- Sempre dando o seu jeitinho.- comentou e Tommy deu de ombros, respondendo uma provocação que deveria ser interna entre os dois.- O que faz aqui Smoak?

- Vim falar com você.- respondi o surpreendendo.

- 7:30 e como eu estou sobrando aqui vou embora.- comentou Tommy me deixando vermelha. -Nosso segredinho Felicity, não conta pra ninguém.- piscou em minha direção enquanto saía, ganhando um olhar rabugento de Oliver.

- E então?- perguntou Oliver tomando o lugar que Tommy estava a pouco tempo.- O que veio fazer? Não é a maneira mais discreta de me ver treinar Smoak.- provocou.

- Engraçadinho.- respondi com sarcasmo, parando pra pensar não era uma má ideia...- Vim aqui falar sobre o nosso acordo.

- Acordo?- perguntou confuso.

- Eu aceito.- respondi clareando suas ideias, um sorriso surgiu em seu rosto.

- Ótimo.

Seu movimento seguinte me pegou completamente despreparada. Foi diferente do primeiro, mas mesmo assim ainda era estranho. Sua mão segurava meu rosto nos mantendo próximos, enquanto sentia a sensação maravilhosa de nossos lábios juntos. Me afastei e o encarei confusa quando percebi um silêncio estranho e olhei para trás, vendo que havia uma enorme plateia.

Ele queria chamar atenção.

Esperto.

Mas eu não iria querer que isso acontecesse de novo.

- Vamos precisar organizar isso direitinho Queen.- murmurei enquanto fingia um sorriso.- Hoje.

- Posso te buscar na Palmer Tech, aí conversamos.- respondeu quando assenti.

Me levantei rapidamente e sai apressada, cumprimentando alguns caras que estavam estáticos, me observando. Oliver limpou a garganta os chamando atenção, me fazendo suspirar aliviada pelo desvio do foco, é estranho saber que há uns doze caras te observando, é como se eu não soubesse andar.

Eu precisa estruturar as regras dessa brincadeira o mais rápido possível, Oliver não iria ficar me agarrando quando queria.

Não ia mesmo.

Isso me deixava feliz ou triste?

***

O dia assim como as aulas passaram mais rápido do que eu imaginei. Sentia alguns olhares em mim dos meninos do time mas tentava desviar a todo custo, algo que chamou a atenção de Sara e Caitlin, me infernizando para falar o que estava acontecendo. Eu responderia depois, primeiramente eu precisava conversar com ele.

Quando sai da Palmer Tech avistei Oliver distraído observando o enorme prédio. Estalei os dedos o chamando o despertando quando soltou um sorriso divertido em seu rosto.

- Namorada.- provocou quando revirei os olhos.- Você podia ser mais carinhosa Smoak.

- E você podia ser menos idiota Queen.- respondi olhando para os lados.

- Onde vamos?- perguntou me entregando um capacete.

- Corner Café.- respondi.

- Nosso ponto de encontro então.- murmurou divertido enquanto eu o apertava, céus, como ele tinha músculos.- Pode afrouxar o aperto? Nem saímos ainda.- comentou me deixando extremamente envergonhada.

- Desculpe.- pedi diminuindo a força.- Melhor?

- Agora sim.

Em alguns minutos chegamos na lanchonete e por mais que eu estivesse com medo, a viagem havia sido boa. Oliver abriu a porta da frente como um verdadeiro cavalheiro, me fazendo balançar a cabeça negativamente em sua direção pela brincadeira. Pedi um milkshake quando o vi somente tomar um refri, algo que me chamou atenção.

- Você não come doces?- perguntei o deixando surpreso.

- Preciso manter minha dieta.- respondeu dando de ombros, bufei em resposta.

- Como se um milkshake fosse estragar esse corpo incrível.- murmurei infelizmente alto demais quando percebi que Oliver me encarava com um sorriso provocativo.- Eu disse isso em voz alta, não é?

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- Disse.- respondeu divertido quando balançou a cabeça negativamente em tom brincalhão.- Você é engraçada Felicity.

- Obrigada Oliver.- comentei nos fazendo rir, era a primeira vez que nos chamávamos pelo primeiro nome.- Precisamos estabelecer algumas regras.

- Regras?- perguntou incrédulo quando assenti.- Você sabe mesmo como tirar a graça das coisas.

- Não quero que fique me beijando.- o ignorei pegando um pequeno caderno em minha bolsa.

- Por quê?

- Porque não.- respondi levemente irritada.- Isso não é real, quando for eu quero que seja verdadeiro.

- Nunca namorou?- perguntou sem esconder a surpresa.

- Já, mas não quero falar sobre isso.- respondi, porém deixei minha insegurança de lado.- Quer colocar alguma coisa?- perguntei o entregando a caneta.

- Você vai ter que ir a todos os meus jogos, e claro, as festas.

- Então você vai me levar e buscar na Palmer tech.- sorri com a minha genialidade, uns dias sem pagar Uber ou Ônibus já me ajudariam muito

- Justo.- concordou.- Eu...Eu posso te escrever bilhetes?

Seu pedido me surpreendeu. Jamais pensei que Oliver fosse esse tipo de cara.

- Laurel queria que eu fosse mais romântico então ela vai surtar com isso.- completou fazendo meu sorriso desmanchar.

- Que... lindo.- comentei.

- Se não posso te beijar o que posso fazer?- perguntou.- Sabe, as pessoas vão desconfiar se eu não puder tocar você.

- Você pode me abraçar.- dei de ombros.

- Tá.- concordou ainda pensativo.- Mas você vai ter que ir na viagem de Coast City, até porque nenhuma pessoa em sã consciência deixa o namorado ir sozinho.

Isso me deixou um pouco insegura. Essa viagem acontecia todo ano como uma forma de agradar os riquinhos daqui, os deixando em uma pousada perto da maravilhosa praia de lá. Pelo o que Sara me falou, ir nessa viagem era um sinônimo de transar, o que não seria problema para alguns.

Mas pra mim era.

Principalmente por ser virgem.

- Isso é daqui a três meses.- comentei o observando.- Tem certeza que vamos estar fazendo isso até lá?

- Se estivermos você vai ter que ir comigo.

Aquilo era daqui a 3 meses, tenho certeza que até lá esse jogo meu e de Oliver não passará de uma lembrança embaraçosa.

- Certo.- concordei quando o mesmo me passou o caderno, assinei meu nome e o entreguei, fazendo o mesmo.- Temos um acordo.- estendi a mão quando o escutei rir.

- Temos um acordo Smoak.

***

Assim que abri a porta fui recebida por dois olhares interrogativos de Caitlin e Sara que me esperavam impacientes. Coloquei minha bolsa sobre a cadeira e me sentei no sofá, fazendo com que as duas se aproximarem. Peguei meu celular quando Caitlin o tirou da minha mão e me encarou, arqueando as sobrancelhas.

- O quê?- perguntei fingindo que estava confusa.

- O quê?- repetiu Sara incrédula se sentando no sofá.- Eu estou de manha comendo no refeitório quando escuto o grito histérico da minha irmã falando um monte de você.- começou em voz alto quando me contrair um pouco.- E essa nem é a melhor parte.

- Melhor?- repeti incrédula.- É a pior parte Sara.

- Você está namorando com Oliver Queen e não nos contou!- exclamou Caitlin tentando parecer irritada, mas sua frase saiu completamente animada.- Eu devia ter desconfiado, ele estava procurando por você essa semana.

- E ele perguntou onde você trabalhava, até me deu remédios para ressaca.- falaram me surpreendendo, Oliver fez tudo isso somente para falar comigo?.-E hoje escutei uns caras do time comentando que Oliver deveria estar ocupado com a “loirinha dele “agora à noite, e vejo que não estavam errados pois vocês chegaram juntos.

- Vocês saíram?- perguntou Caitlin deixando sua irritação de lado.- Onde foram?

- Ele só me buscou no trabalho.- dei de ombros enquanto Sara não parava de sorrir.- Não gostei dessa sua expressão na sua cara.

- Laurel deve estar te odiando.- riu divertida como se gostasse.- E Oliver realmente merece alguém melhor que ela, vocês formam um casal bonito.

- Quem diria que o sua queda nele não era tão pequena assim.- riu Caitlin.

- Queda? Tá mais pra penhasco.- completou Sara.- Até mais que no Allen.

Barry não, não queria falar nele ainda, assentia sorrindo para tudo o que as mesmas diziam, se elas soubessem a verdade...

- Vou encher o saco do Queen agora.- riu Sara o mandando uma mensagem de voz.- “Achou que ia se livrar de mim como cunhada?”.

- Sara!- a repreendi envergonhada.

- Ele respondeu.- sorriu com satisfação.- Hmmm, ele deve estar bem na sua por me responder de forma tão carinhosa.- brincou me deixando curiosa.

- Você está feliz?- perguntou Caitlin quando assenti.- Isso que importa então.- sorriu quando me abraçou.

Pelo visto seria bem mais difícil manter essa farsa do que eu imaginei.

***

Acordei com barulhos estridentes de Caitlin secando o cabelo, eu a amava, muito, mas precisava me acordar desse jeito? Me levantei sem vontade nenhuma e abri a porta, a encontrando ao lado da tomada da pequena cozinha, sorri em sua direção e fui me trocar, mas sem voltando alguma.

Hoje seria o primeiro dia da nossa mentirinha.

Céus, eu vou surtar.

Me prontifiquei a comprar nosso café hoje, Caitlin concordou e voltou a focar em arrumar seus fios. Dei um suspiro aliviado assim que senti a brisa da manhã bater em meu rosto.

Eu estava precisando disso.

Algo para me acalmar.

Andei as duas quadras mais contente do que de costume quando finalmente vi a adorável cafeteria. Abri sua porta de vidro e entrei no local que estava movimentado. Peguei o cartão e comecei a ver as opções, mesmo sabendo que acabaria pedindo o de sempre. Senti alguém próximo a mim quando olhei para trás, me assustando ao encontrar Oliver ali, totalmente tranquilo me observando. Levei a mão ao peito e o lancei o olhar raivoso, qual o mesmo deu de ombros.

- O que está fazendo aqui?- perguntei cruzando os braços.

- Liguei pra sua amiga, Caitlin.- deu de ombros.- Ela me falou que você estava aqui e então eu vim.

- Por quê?- repeti sem paciência.

- Queria falar com você antes de começarmos a nossa “coisa”.- comentou fazendo aspas no ar.- Você é sempre tão brava assim?

- Só com idiotas.- respondi quando o vi soltar um sorriso de canto.

O sorriso na verdade.

- Vai maltratar Tommy então.- comentou quando olhou o local.- É bom as opções aqui?

- Eu adoro.- sorri quando a moça nos chamou.

- Bom dia, o que vão querer? O de sempre Smoak?- perguntou a moça por já me conhecer.

- É.- concordei sorrindo.

- Qual é o seu de sempre?- perguntou Oliver curioso cruzando os braços.

- Três cappuccinos com chocolate, umas três rosquinhas e pão integral com queijo branco.- dei de ombros quando vi uma pequena ruga se formar entre suas sobrancelhas.- O quê?

- Seu café é absurdamente gorduroso, tirando o pão integral.- comentou me fazendo revirar os olhos.

- Patty, no lugar de três cappuccinos eu quero quatro.- falei quando a mesma anotou.- 6 rosquinhas, e quatro pães integrais.

- Quatro cappuccinos?

- Você vai comer um doce hoje.- comentei divertida enquanto passava o meu cartão.

- Deixa eu te ajudar a pagar pelo menos.- pediu retirando o seu do bolso.- Patty, certo?- perguntou a mulher loira que sorriu em sua direção.- Divide em dois por favor.

- Ok.

Assim que nossos pedidos saíram o mesmo fez questão de me ajudar a carregá-lo. Andamos em silêncio por alguns minutos quando o mesmo parou e pegou seu telefone.

- “Me encontra na mesinha perto do campo..- falou quando escutei uma voz feminina responder.- É sério, levanta. Fala pro Merlyn ir pra lá também, e a sua amiga.”— falou quando desligou. O olhei confusa quando o mesmo deu de ombros e continuou a caminhar.

Estava indo em direção ao meu dormitório quando o mesmo colocou sua mão em meu ombro e me guiou até outro local, iria contestar quando avistei ao longe Tommy, Caitlin e Sara juntos, sentados ao redor da pequena mesinha conversando.

- Consigo fazer um café saudável e bem mais gostoso do que esse Smoak.- brincou quando o encarei.

- Você ou os seus empregados?- o provoquei.

- Posso te surpreender.- comentou sorrindo quando finalmente olhou em meus olhos.- Precisamos ser convincentes.- falou em tom baixo olhando rapidamente para nossos amigos.

- Se eles caírem todo mundo cai.- completei seguindo sua mesma linha de raciocínio, o que o fez soltar um pequeno sorriso.- Pronto?

- Pronto.

Abrimos um enorme sorriso e nos aproximamos. Oliver retirou os pedidos da sacolas e os colocou na mesa, cumprimentando as meninas. Sorri para Tommy que veio em minha direção, me fazendo gritar em surpresa quando o mesmo me levantou do chão e me abraçou.

- Cunhadinha.- brincou enquanto ainda me segurava, consegui ouvir a tempo Sara chamando Oliver de cunhado.

- Merlyn!- o repreendi quando finalmente me colocou no chão.

- Desculpe, fiquei emocionado quando descobri que você e Oliver estavam namorando, o que explica a reação dele no campo.- o provocou ganhando um olhar de repreensão de Oliver.

- Por quê você não come Tommy? Tem rosquinhas aí.- sugeriu Oliver se sentando, deixando um espaço ao seu lado para que eu me acomodasse.- Obrigada pela dica Snow.- piscou em sua direção.

- Vocês já estão de segredinhos.- bufei quando coloquei os pães na mesa.

- Tenho que ter aliados.- brincou Oliver me entregando o café.

- Não pense em fugir do seu.- comentei o entregando o copo enquanto pegava outro.- Não é ruim Oliver, você vai gostar, eu gosto.

- Não vai desistir, não é?- perguntou quando assenti negativamente.- Sempre tão teimosa?

- Um pouquinho.- dei de ombros quando o mesmo sorriu.

Oliver fez realmente toda uma cena para provar o café, o experimentou devagar, sentindo o líquido descer em sua garganta, esse processo estava me deixando ansiosa.

- E aí?-perguntei esperançosa quando o mesmo levou o copo a boca novamente.- Oliver!

- É bom.- concordou quando sorri vitoriosa.- Satisfeita?

- Muito.

- Fofos.

Sara nos fez desviar o olhar para encará-los, os três nos observavam divertidos, com sorrisos provocativos no rosto.

- Realmente.- concordou Tommy quando seu olhar caiu em Caitlin.- Pode me passar as rosquinhas Snow.

- Claro.

Sorri em sua direção ao lembrar do motivo que o mesmo ia a cafeteria de manhã. Tommy piscou em minha direção e se concentrou em seu café, assim como todos nós. A conversa fluía fácil e até engraçada, principalmente por conta dos comentários de Sara e Tommy, que não tirava os olhos de Caitlin.

Senti Oliver apertar a minha mão, me fazendo encara-lo, não falamos nada, porém eu sabia exatamente o que ele queria dizer.

Havíamos conseguido.

Passamos no teste

***

Os primeiros dias da nossa farsa estavam ocorrendo surpreendentemente bem ao meu ver. Diversas pessoas nos parabenizaram pelo relacionamento e até falavam pra mim que achavam super romântico Oliver me entregar bilhetes, quais eu nunca li, até porque deveriam estar em branco e era humilhante demais pra mim passar por isso.

Tomar café juntos havia meio que se tornado uma tradição nossa, com Sara, Caitlin e Tommy( qual não me deixava em paz, mas tenho que admitir, eu gostava dele, principalmente por vê-lo tão encantado por Caitlin, algo que eu usava ao meu favor para o irritar, já que o mesmo fazia isso comigo 24 horas por dia).

Antes eu me sentia invisível, mas agora “namorando” com Oliver eu sentia um grande holofote em mim, me dando destaque em cada lugar que eu passava. Laurel sempre me encarava com um olhar de desgosto, ela e suas amiguinhas, em principal Helena Bertinelli, sua melhor amiga( e fura olho), sempre davam um jeito de se mostrarem superiores quando eu passava. Os amigos de Oliver eram bem animados e me tratavam super bem, Roy( o mais novo do time e mais reservado) era qual eu me identificava mais, ele era gentil, fazia umas piadas e me livrava do excesso de perguntas feitas pelos demais, eu gostava dele. Oliver era popular, mas eu havia percebido que ele tinha um número certo de pessoas quais chamasse verdadeiramente de amigos. Mesmo com toda essa mudança, às vezes eu só queria sumir, principalmente quando encontrava Barry me observando tristemente, eu ainda não havia falado com ele.

E nem sabia quando faria isso.

Tão covarde.

Estava deitada despreocupadamente no sofá após um dia cansativo na Palmer Tech. Oliver havia me levado e me buscado, cláusula que eu mais amava do nosso trato. Caitlin também estava ao meu lado e mexia confortavelmente no celular quando alguém bateu na porta. Me lançou um olhar interrogativo qual dei de ombros quando a mesma se levantou e foi atender. Oliver estava parado sorridente a porta e a cumprimentou, seu sorriso se transformou em uma cara confusa ao me ver jogada no sofá

- Não se arrumou ainda?- perguntou cruzando os braços.

- Me arrumar?- perguntei confusa.- Me arrumar pra que?

- Pra festa do Ramirez?- perguntou confuso.- Não leu meu bilhete?

- Eu não vou a essa festa.- ri voltando a olhar para a TV.

- E por que não?- perguntou se sentando ao meu lado.- Temos um trato Felicity.

- Eu... Preciso ajudar a Caitlin.- menti descaradamente .- Infelizmente...

- Vai se arrumar Lis.- ordenou Caitlin me puxando.- Anda.

- Lis?- perguntou Oliver com um sorriso divertido.

- Apelido.- respondeu Caitlin dando de ombros voltando a me encarar.- Vai.

- Mas...

- Isso é uma ordem Smoak, vai!

- Quanta brutalidade.- murmurei indo para o meu quarto, dei um suspiro ao analisar minhas roupas.- Qual? Vestido... Não, definitivamente não já que vamos de moto.- murmurei enquanto via os cabides, de repente um sorriso surgiu em meus lábios ao encontrar uma blusa branca que minha mãe havia me dado.- Que os poderes de Donna Smoak caíam sobre mim.

Decidi usar uma blusa branca com uma calça jeans preta e um casaquinho de mangas compridas da cor cinza grafite, já no pé coloquei uma bota com salto de cano baixo, da cor preta. Fiquei indecisa entre um batom nude ou um vinho, mas escolhi o que daria mais destaque para a minha boca de noite. Arrumei rapidamente meus cabelos lembrando de levar um laço, com certeza eu não resistiria e os amarraria até o fim da noite.

Quando sai vi Oliver e Caitlin conversarem despreocupadamente, até mesmo rindo. Seus olhos se desviaram rapidamente da minha amiga e caíram sobre mim, fazendo meu estômago se agitar ao ser analisada por Oliver Queen. Ele parecia surpreso, me olhava com a boca entreaberta, Caitlin riu de sua reação e se levantou, fazendo joia com as mãos indicando que havia gostado da minha escolha.

- Você... Tá linda.- murmurou Oliver me deixando vermelha.- Vamos?

- Vamos.

Seguimos em silêncio até onde Oliver havia deixado sua moto estacionada. O mesmo me entregou o capacete enquanto colocava o seu, visão que me deixou hipnotizada, Oliver era lindo, sem dúvida alguma, mas sentado em uma moto usando uma jaqueta era demais. A gótica que habitava em mim no meus tempos morando em Vegas deu um grito em animação.

- Fe-li-ci-ty.- escutei a voz ao longe de Oliver, me despertando.

- O quê?- perguntei finalmente voltando à realidade.- Hmm?

- Não vai subir?- perguntou quando me acomodei rapidamente.

- Espero que esse lugar seja legal, se não eu vou infernizar você por ter interrompido a minha maratona de Os Vingadores.

- Você precisa assistir Clube da Luta.

- Assistimos os vingadores e Clube da Luta então.- sugeri quando passei meus braços ao redor de sua cintura.- Quantos músculos, imagina sem camisa...

- Você pode ver se quiser.- comentou com humor quando fechei os olhos envergonhada.

- Eu disse isso em voz alta, não é?- perguntei escondendo meu rosto em suas costas quando o escutei rir.

- Se concentra em se segurar pra não cair Smoak, já já chegamos lá

***

A casa onde ocorria a festa de Rene Ramirez era absurdamente grande, céus, pôde-se chamar isso de casa? Tá mais pra uma mansão.

Prendi meu cabelo em um coque e suspirei, talvez pudesse ser legal.

Ou terrível.

Oliver percebeu que eu estava nervosa, retirou a mão da maçaneta e a colocou no meu ombro esquerdo, olhando fixamente pra mim com aqueles olhos azuis intimidadores.

- Relaxa, vai ser divertido.- sorriu em minha direção quando levou sua mão em meu cabelo, desfazendo meu coque.

- Oliver!- o repreendi.

- Você fica linda com eles soltos.- sorriu me deixando sem graça.- Deixa eu te mostrar, faz uma pose.

Levei minhas duas mãos as bochechas e olhei para o seu celular, o mesmo sorriu com a imagem e então me mostrou, ele tinha razão, eu não estava tão ruim.

- Me empresta o seu celular.- pediu quando o encarei confusa.- Confia em mim.

- Tá.

O entreguei quando o mesmo abriu a câmera e soltou um sorriso de canto, me entregando logo depois o aparelho.

- Agora você pode colocar ela como seu fundo de tela.

- E qual é o seu?- perguntei cruzando os braços quando o mesmo arqueou as sobrancelhas em desafio.

- Você me subestima.

O mesmo pegou seu celular novamente e me mostrou a foto tirada há alguns minutos atrás. Revirei os olha com sua expressão vitoriosa e encarei a porta à frente. Oliver segurou em minha mão me passando confiança, iria protestar por ele ainda estar com meu laço mas desisti. Assim que adentramos o local foi impossível minha boca não ficar entreaberta.

Era incrível.

Quantas pessoas moravam ali dentro? Cinquenta?

Oliver passou seu braço ao redor do meu ombro e nos guiou por um corredor que dava onde estavam todos os convidados. Havia uma espaçosa e charmosa sala, onde haviam diversos móveis e até uma mesa onde os meninos jogavam. A cozinha ficava no mesmo cômodo, e diversas garrafas de bebida e copos descartáveis estavam depositados no balcão. Algumas pessoas tomavam banho na enorme piscina do lado de fora, separada apenas pela porta de vidro posta no cômodo.

Rene jogava com os demais quando avistou Oliver e sorriu animadamente em sua direção.

- Queen!- falou Rene o dando um tapinha nas costas.- Smoak.- me cumprimentou batendo em minha mão.

- Sua casa é maravilhosa.- comentei realmente impressionada.

- Meus pais estão viajando e pensei, por que não fazer uma social?- perguntou rindo em resposta.- Fiquem a vontade, blz? Vocês que mandam!

- Eu vou pegar uma bebida pra gente.- falou Oliver me fazendo assentir.

- As meninas estão ali.- indicou Rene fazendo meu sorriso desaparecer.- Helena? Chama a Felicity pra sentar com vocês!

— Senta aqui com a gente Smoak.- sorriu falsamente indicando o sofá ao lado, Laurel me lançou um olhar de superioridade.

Caminhei em suas direções e as lancei um sorriso contido enquanto me sentava no sofá oposto, cruzando as pernas. Apertei as mãos nervosamente enquanto observava o ambiente ao redor, escutei Helena limpando a garganta me fazendo voltar a encara-la, a mesma continha um sorriso provocativo no rosto.

- E então, você e o Queen.- comentou animada.- Como? Quando?

- Estamos saindo há uns dias.- sorri quando vi Laurel bufar em resposta.

- E vocês já... Você sabe.- comentou me deixando confusa.- P na V? V no P?

- Eu não estou entendendo.- comentei realmente confusa quando Laurel riu ao seu lado.

- É claro que eles não fizeram.- comentei clareando as minhas ideias.- E não pergunta muito, a Felicity é tímida.

- Não tanto como você imagina Laurel.- arqueei as sobrancelhas em tom de desafio, ela estava começando a me irritar.

- Eu vou pegar alguma bebida.- disse ficando em pé.- Você quer alguma coisa Smoak? Um suquinho?

- Oliver foi pegar pra mim.- respondi sorrindo quando a mesma me encarou raivosa.- Mas obrigada.

Oliver acabou esbarrando com a mesma quando voltava com nossos copos, Laurel passou como um furacão ao seu lado e o mesmo olhou pra mim confuso, qual respondi dando de ombros. Oliver cumprimentou Helena e então se sentou ao meu lado, assim que a mesma saiu Oliver sorriu.

- Arrasando Felicity.- brincou me fazendo rir.

- Essa é a parte mais legal.- respondi divertida quando cheirei o meu copo.- Tem certeza que tem álcool nisso?

- Eu vou dirigir, claro que não tem.- respondeu me deixando impressionada.

Oliver era responsável.

Uau.

- E isso é o quê?- perguntei quando senti o líquido descer em minha garganta.- É horrível Oliver.

- Chá de Kombucha.- respondeu dando de ombros.- Vamos tirar uma selfie.- falou enquanto me arrumava, decidi beijar sua bochecha.- Você é melhor que eu nisso.- comentou divertido quando me observou.

- Levo minhas coisas muito a sério.- dei de ombros.- Eu sou uma boa namorada falsa.

- Que humilde.- brincou me fazendo rir, seu sorriso se desmanchou assim que um homem se aproximou de nós dois.- Max Fuller.- cumprimentou com um sorriso azedo.

- Queen!- sorriu falsamente quando seu olhar cheio de intenções caiu sobre mim.- Felicity, não é?

- Felicity Smoak.- respondi quando Oliver passou seu braço ao meu redor, o encarando seriamente.

- Um prazer em conhecer a loirinha do Oliver.- sorriu quando seu olhar voltou ao loiro que o encarava com cara fechado.

- Felicity é um amor com todo mundo, impossível não gostar da minha cunhadinha.

Um suspiro aliviado me escapou assim que Tommy apareceu, mesmo com seu sorriso inocente era óbvio que ele sabia exatamente o que estava ou o que poderia acontecer. Pelo o que percebi, Max e Oliver não se davam bem, dentro e fora de campo.

- Sua vez na mesa Max. Rene quer revanche.- comentou o Merlyn o indicando para sair, Oliver suspirou assim que o mesmo se foi.

- Babaca.

- De nada.- piscou Tommy quando me abraçou rapidamente.- Como é que vai Lis?

- Todo mundo sabia que seu apelido era Lis, menos eu?- perguntou Oliver.

- Tommy é invasivo, você sabe.- respondi dando de ombros.

- Ela já me ama.- sorriu me fazendo rir, Oliver também estava mais leve.- Vou fazer uma coisa, presentinho pra vocês, fiquem de olho na piscina.

Olhei confusa para Oliver que sorriu e dando de ombros, indicando para que observássemos Tommy. O mesmo cochichou algo para Roy que sorriu, e se posicionou ao lado do som. Tommy havia chamado Max para conversarem, fez sinal discreto para Roy que mudou a música e a aumentou.

- Festa na piscina!

De repente várias pessoas pularam na água, Tommy aproveitou o momento de distração e empurrou Max, nos fazendo gargalhar, apoiei minha cabeça perto do queixo de Oliver e comecei a rir, qual o mesmo me acompanhou.

- Aí meu Deus.- falei sem conseguir segurar a risada.- Tommy é sensacional.

- É sim.- riu Oliver que ainda me abraçava, estávamos tão confortáveis que nem havia percebido nossa proximidade.- Vou no banheiro, ok?

- Certo.

Oliver se levantou e caminhou até o cômodo, ainda encarava a cena piscina com um sorriso divertido quando Roy abaixou um pouco o som e veio se sentar ao meu lado.

- Isso foi maldade.- comentei quando o mesmo me lançou um sorriso sapeca.

- Esse cara é um porre, mereceu.- deu de ombros quando encarou meu copo.- O que têm aí?

- Só falo se você beber.- o entreguei quando o vi fazer uma careta.

- Isso é horrível Smoak.- reclamou cheirando o copo.- Que merda tem aqui?

- Chá de Kombucha.

- Oliver e suas coisas estranhas.- comentou quando concordei.- Não sei como ele consegue.

- Nem eu, argh.- reclamei só de pensar no gosto do chá.- Estou tentando fazer ele experimentar doces, pra adoçar a vida.- comentei divertida.

- Deve estar dando certo, ele anda mais leve.- disse quando o encarei curiosa.- Vocês formam um bonito casal.

- Obrigada.- sorri quando observei Oliver aparecer com um semblante fechado.

- Quer comer em algum lugar?- perguntou quando assenti.

- Tchau Harper, se cuida.- sorri quando o abracei.

- Muito boa a brincadeira.- comentou Oliver piscando em sua direção.- Se está querendo ganhar pontos comigo sobre Thea conseguiu.

Roy ficou rapidamente vermelho, algo que fez Oliver sorrir com a provocação.

Acabamos por escolher o Corner Café para comermos. Eu beliscava as batatas fritas de modo descontraído quando senti o olhar de Oliver em mim com pequeno sorriso que teimava em seus lábios, não o sorriso galanteador, como eu já havia visto, nem o popular Oliver Queen, mas somente Oliver, leve e pensativo.

- Você mandou muito bem hoje.- sorriu quando levou seu copo de coca aos lábios.- Laurel ficou furiosa.

- Não precisei fazer muita coisa.- dei de ombros, realmente, Laurel facilitou as coisas. Senti o olhar de Oliver em seu celular e o sorriso que a pouco tempo se encontrava ali desapareceu, em seu local uma expressão abatida se formou.

- Eu odeio quando ela faz isso.- suspirou.

- Ainda estamos falando dela?- murmurei sem querer, para a minha sorte Oliver estava focado demais em seus pensamentos para me escutar.

- Ela passou a festa inteira me evitando, agora que não estamos lá ela me enche de mensagens.- suspirou indignado.- Talvez eu ligue pra ela.

- Hmmm.- murmurei quando comi mais uma batata, percebi que chamei a atenção de Oliver.- O quê?

- Você, fica com esses olhos, tão julgadores.- comentou cruzando os braços.

- Só acho estranho você ainda falar com a sua ex pelo telefone.- respondi dando de ombros, realmente era estranho, como Laurel havia o enfeitiçado?

- Diz a perita em relacionamentos.

- Você só teve um relacionamento sério Oliver, então você não é exatamente o experts no assunto.Você é obcecado por ela.

- Não sou não.- rebateu firmemente.

- Então prove, não ligue pra ela hoje.- falei o encarando fixamente quando o mesmo assentiu com uma expressão divertida.

- Pra quem é sempre quietinha você tem bastante opinião.

- A questão é que ninguém nunca foi honesto com você Oliver.- disse o observando, o mesmo se curvou para que ficássemos mais próximos.

- Seja honesta comigo então Smoak.- falou enquanto me olhava fixamente.- Por que não se envolve com ninguém?

- Acho que não sou muita atrativa.

- Mentira. Billy Malone te chamou pra sair ano passado e você recusou.

- Virou uma espécie de stalker agora?- perguntei incrédula olhando para os lados.- Têm câmeras escondidas em você, não é?

- Engraçadinha.- falou com humor.- Mas sério Felicity, por que não?

- Eu sinceramente não sei.- suspirei quando me concentrei em apertar as minhas mãos.- Eu adoro escrever sobre o amor, adoro pensar sobre ele mas... Quando finalmente acontece comigo eu não sei como reagir. Fico assustada, tão covarde.

- Você não é covarde Felicity.- falou Oliver me corrigindo.- Mas por que pensa assim?

- Quanto mais pessoas você deixa entrar na sua vida, mais pessoas podem sair dela.- sorri tristemente quando me lembrei de uma memória antiga.- Acho que tenho esse trauma por conta do meu pai, ele não morreu mas... É como se tivesse. Isso acabou me fechando, eu o odeio tanto por isso. - suspirei. - Não que eu não acredite no amor, acho um sentimento super poderoso, e espero ter coragem suficiente para vivê-lo um dia, é complicado.

- Eu consigo entender você.- sorriu Oliver segurando minha mão, fiquei observando nossos dedos entrelaçados.- Sobre não se apegar, não sei se você sabe, mas meu pai morreu em um acidente.

- Eu vi sim, sinto muito.- sorri compreensiva.- Deve ter sido uma dor imensurável.

- E foi.— concordou quando seus olhos se desfocaram.- Eu o perdi, e o que eu mais me arrependo é não ter me desculpa com ele quando entrou naquele maldito barco.

Fortaleci o aperto em nossas mãos quando nossos olhares se cruzaram novamente. Ficamos parados assim, por alguns minutos sem dizer absolutamente nada, Oliver sorriu em minha direção e eu retribui, mas sua frase seguinte me pegou completamente desprevenida.

- Você fala que tem medo de deixar as pessoas se aproximarem, mas não tem medo de estar comigo.

- Porque o que temos não é real.- respondi simplesmente.

Sua postura mudou drasticamente. Oliver assentiu com a cabeça e retirou sua mão da minha, com um sorriso contido no rosto.

- Essa é Felicity Smoak senhoras e senhores.- disse em um tom diferente, até meio... Irônico?- Se querem sinceridade é com ela mesmo.

- Espera.- o chamei ainda confusa.- Estamos bem, não é?

- Sim, só vou no banheiro.- falou quando assenti.

Mas afinal, o que eu havia feito?

***

Suspirei aliviada assim que fechei a porta, que noite estranha.

E legal ao mesmo tempo.

Sorri com a imagem de Caitlin e Sara dormindo nos sofás, as acordaria mas pareciam tão confortáveis com aqueles lençóis...

Acho que perdi uma maratona.

Com certeza perdi, olha as pipocas no chão.

Caminhei com cuidado até o meu pequeno quarto e troquei de roupa. Quando me preparava para deitar escutei uma notificação do Instagram, fui a olhar somente pela aba quando a mensagem escrita me deixou curiosa.

“ @Oliverqueen te marcou em uma publicação.”

Mas que publicação?

Sorri quando vi qual a imagem, nós dois juntos, Oliver sorria enquanto eu beijava sua bochecha.

Uma noite perfeita se faz com boas companhias, e para a minha sorte eu tive a melhor.”

Meu coração se sobressaltou com aquela fala, ele estava me zoando?

Ou falava sério?

Eu deveria mandar uma mensagem?

Curti a foto e comentei dois corações quando a enviei pelo direct, o mandando uma pequena mensagem.

Bobo, sabe que não posso dizer o mesmo, não é Queen?”

Vc é notável Smoak.”-respondeu logo em seguida me mandando dois corações.

“ Boa noite Oliver.”

“ Boa noite Lis.”

Sorri com o apelido que ele também havia adotado. Decidi acordar Sara e Caitlin para dormirem na cama, coloquei um colchão no chão qual Sara apagou rapidamente, assim como Caitlin. Infelizmente não tive a mesma sorte que elas, fiquei acordada um bom tempo até finalmente pegar no sono, uma dúvida estava me deixando inquieta.

O que eu estava sentindo era realmente real? Ou só eram as consequências de uma mentira perfeita?

***

Ficava mais fácil com a medida do tempo fingir que eu e Oliver tínhamos alguma coisa, havíamos nos tornado bons confidentes, posso até chamá-lo de amigo agora, mas sobre as dúvidas que eu tinha antes?

Elas pioraram.

E muito.

Céus! Será que eu estava confundindo as coisas?

Continuávamos saindo, bastante na verdade, e ríamos muito quando estávamos juntos, eu gostava de estar com Oliver.

E sabia que isso era um erro.

Pois quanto mais eu apegasse, mais seria difícil na hora em que nosso acordo se finalizasse.

Eu tentava deixar essas coisas para lá, principalmente ao pensar em Barry e Iris, ainda não havia juntado coragem para contar sobre meu namoro com Oliver, até porque da maneira que eu falo muito com certeza me atrapalharia, o que causaria consequências terríveis, e pra que falar? Ela estava tão feliz.

Vivendo um sonho.

Conversávamos diariamente por vídeo chamada, ela sempre me perguntava de Barry, outro que eu quase não via, a não ser quando nossos olhares se cruzavam pelos corredores, momentos em que eu queria desaparecer por sentir seu olhar decepcionado em mim. Eu havia o magoado, sabia disso, e sabia também que ele continuava a se reunir com as meninas, sem mim, elas perceberam que alguma coisa havia ocorrido entre nós dois, e eu agradecia sua discrição com o assunto, como eu já havia dito, tenho amigas maravilhosas.

Falando em amigos, Tommy já podia ser considerado um, sempre dava um jeito de provocar Oliver nos jogos mandando beijinhos pra mim, quais eu sempre recebia o encarando descrente de suas atitudes. Eu sabia a mulher que Tommy estava “encantado”, palavra que no vocabulário Merlyn era usada no significado de “apaixonado”, pois segundo ele, admitir para si mesmo algo tão importante o fazia entrar em desespero, e eu não o julgava, quando se tratava de mim eu reagia da mesma forma, ou pior. Caitlin também parecia mais acessível ao moreno, principalmente por ele ter se tornado alvo frequente em nossas vidas, sempre dando um jeito de agradá-la.

Fofo.

Eu e Oliver nos encontrávamos deitados no sofá, assistindo Vingadores. Caitlin e Sara nos abandonaram, segundas elas precisávamos de um tempo sozinhos, algo que me deixou completamente sem graça. Quem se deu bem nessa história toda foi o Tommy, que se prontificou em ajudá-las.

Espertinho.

Mais uma jogada certeira.

- Não sei o motivo qual as mulheres babam tanto nesse cara.- murmurou Oliver com a bacia de pipoca em seu colo, assistindo a famosa cena de provocação em Capitão América e Tony Stark.

- Qual dos dois?- perguntei os observando.- Ambos são maravilhosos.

- Fazem o seu tipo Smoak?

- Eu não tenho bem um tipo.- respondi pensativa.- Realmente, eu acho que não tenho.

- Nadinha?- perguntou quando neguei.- Nem para os caras que receberam a carta?

- Isso inclui você também.- revirei os olhos, ainda era constrangedor falar desse assunto.- Não entendi sua pergunta Oliver.

- Eu faria o seu tipo?

Mordi o lábio inferior levemente em tom nervoso. Claro que Oliver era o meu tipo, e tenho certeza de que qualquer outro ser humano consciente, com aquele corpo, aqueles olhos...

Aqueles braços.

Os olhos ainda eram o que me cativavam mais.

- Também gosto dos seus olhos.- respondeu meu burburinho alto.- Há uma coisa especial neles, não sei explicar, mas me cativam.

- Obrigada.- sorri envergonhada abaixando o olhar.- Os seus são diferentes também, sinto uma sensação boa quando os observo.

- Obrigado.- sorriu, que sorriso Oliver.- Quer comer alguma coisa?

- Quero, tô morrendo de fome.- falei sincera pegando o meu celular.- Vai querer o que?

- Cozinhar pra você.- respondeu me surpreendendo.- Me magoada desse jeito Smoak.

- Tem certeza que não vamos morrer?- o provoquei quando o vi revirar os olhos.- É preconceituoso, eu sei disso, mas não é comum meninos ricos saberem cozinhar, ou saberem qualquer coisa.

- Me acha um mauricinho então?- perguntou arqueando as sobrancelhas.

- Acho.- respondi sua provocação cruzando os braços.

- Vai se arrepender.

Eu devia ter previsto que ele estava planejando alguma coisa.

Comecei a rir desesperadamente enquanto o loiro fazia cosquinhas em mim. Oliver bagunçou totalmente o meu cabelo me fazendo deitar no sofá. Tentei me defender de alguma forma mas me dei por rendida, eu já estava destruída.

- Chega.- ri quando o mesmo parou e soltou um riso baixo.- Você me deixou horrível Oliver.

- Impossível, você é sempre linda.- respondeu me deixando vermelha.- Principalmente com vergonha, fica encantadora Smoak.

- Sem graça.- comentei desviando o olhar, notei pela primeira vez a forma em que nos encontrávamos.- O que vai cozinhar pra mim?

- Agora quer que eu cozinhe? Não tem mais medo de ser envenenada ou algo do tipo?-ironizou nos fazendo soltar um riso baixo.

- Acho que vou ter que confiar em você.- murmurei enquanto nos encarávamos.

- Bom.- sorriu Oliver.- Porque eu confio em você.

Um silêncio se instaurou no local, os únicos sons que eu conseguia ouvir era a própria respiração de Oliver e o ritmo do meu coração, que se encontrava acelerado, principalmente quando Oliver levou sua mão ao meu rosto e o acariciou, contornando meus lábios com o polegar. O mesmo me observava atentamente, como se algo o impedisse de tomar o próximo passo, e por mais que minha mente gritasse não, eu queria, mesmo com as consequências. Oliver suspirou então aproximou seu rosto do meu. No momento em que estávamos quebrando a distância alguém bateu na porta.

Mas que merda.

Quem seria a essa hora?

Oliver ainda ficou um pouco indeciso se saia ou não, sorri em sua direção e assenti, quando o mesmo se levantou.

- Pode deixar que eu atendo.- falou caminhando até a porta, seu sorriso desapareceu assim que a mesma abriu.- Tinha que ser você.- murmurou com certa rudez, ergui minha cabeça para ver quem poderia ser para deixá-lo tão de mau humor quando um suspiro surpresa me escapou.

- Queen.- cumprimentou Barry sem esconder seu desgosto, seu olhar caiu em mim logo depois.- Podemos conversar Lis?

- Pode ser outra hora? Amanhã talvez?- sugeri, eu não queria ter aquela conversa.

- Estamos meio ocupados agora.- comentou Oliver recebendo um olhar rabugento de Barry em resposta.

- Amanhã conversamos então Lis, boa noite.- me lançou um sorriso tímido voltando a fechar a cara ao olhar Oliver.- Boa noite.

- Boa noite.

Barry ainda o encarou por alguns segundos quando Oliver arqueou as sobrancelhas , indicando para que o mesmo saísse. Quando fechou a porta o olhei curiosa.

- Estamos ocupados?- perguntei quando o vi sorrir.

- Estamos, vamos cozinhar Smoak.- piscou em minha direção.

- Já avisando que sou péssima.- ri quando o vi pegar um macarrão do pequeno armário e analisar as opções disponíveis.- Tão concentrado.- provoquei.

- Tentando te impressionar.- respondeu quando retirou da geladeira queijo e um pouco de carne moída que eu e Caitlin havíamos comprado.- Fácil e rápido, você vai gostar.

- Posso ajudar em alguma coisa?- perguntou quando o vi pensar.

- Provar o molho conta?

- Com certeza.- concordei o fazendo rir.

- Só relaxa Smoak.

- Ok.

Era engraçado vê-lo tão concentrado, eu só o via assim no campo, quando passava as ordens ou quando estava prestes a fazer uma jogada ariscada. Em um momento, Oliver retirou sua camisa e foi impossível não observá-lo, eu estava certa.

Haviam muitos músculos.

E que peitoral! Céus!

Desviei o olhar rapidamente quando o vi me observar, me segurei para não rir com o quase flagra. Logo o prato que Oliver estava fazendo ficou pronto, e com um cheiro maravilhoso. O mesmo pegou um garfo e enrolou o macarrão, que além de carne moída continha queijo e outra coisa que eu não sabia. O provei lentamente degustando, tentei parecer o mais imparcial possível porém o meu suspiro de prazer me entregou.

- Isso... É maravilhoso!- disse animada.- Como aprendeu a fazer isso?

- Tenho os meus dons.- deu de ombros quando revirei os olhos.

- Exibido.- falei enquanto pegava dois pratos.- Chega a ser irritante você ser perfeito em tudo.

- Sempre esquentadinha.- murmurou me observando.- Chega a ser engraçado uma pessoa tão pequenininha guardar tudo isso.

- Hahaha.- falei com sarcasmo voltando ao sofá com o meu prato.- Deve ser por isso que você e Tommy se dão tão bem.

- Nós crescemos juntos.- comentou se sentando ao meu lado.- E após o acidente ficamos mais unidos, uma família.

- Isso é lindo.- falei sincera, levei o garfo na minha boca e suspirei, sem modéstia alguma estava muito bom.- É ótimo ter amigos que ficam ao nosso lado em tempos difíceis, eu demorei a encontrar, mas agora me sinto em casa.- sorri.

- Foi muito difícil pra você? Se mudar pra cá.- perguntou voltando a comer.

- Um pouquinho.- respondi.- Vegas é onde eu nasci, mas não é a minha casa.

- Vegas?- perguntou surpreso colocando seu prato na mesinha de centro, se virou apoiando seu braço esquerdo no sofá, como se fôssemos fofocar.- Você é de Vegas?

- Surpresa!- disse divertida também colocando meu prato na mesinha.- Nunca jogue cartas comigo.

- Você é de Vegas.- murmurou incrédulo.- Nunca imaginei.

- Posso te surpreender.- falei divertida ficando da mesma maneira que ele.

- Você já foi dançarina? Tem tatuagens?

- Nenhuma das anteriores.- falei soltando um riso baixo, o mesmo me acompanhou.- Já me meti em umas confusões pra lá por conta de jogos clandestinos.- falei fazendo uma careta ao lembrar da memória.- Quase fui pra cadeia.

- Você era rebelde então.- comentou divertido.- Isso explica toda essa marra.

- Eu não sou marrenta.- rebati me dando conta do que fiz.- Talvez um pouquinho.

- Pouquinho.- repetiu com humor.- Ainda fala com a sua mãe?

- Ela é maluca, porém eu a amo.- sorri nostálgica.- Sempre me apoiou, me incentivando, nunca desistiu de mim.- falei quando sensação amarga me atingiu.- Pelo menos ela.

- Diz isso por causa do seu pai?- perguntou atento quando assenti.- Você não o odeia.

- Acho que foi o único sentimento que sobrou quando se trata dele.- suspirei.

- Eu e meu pai tínhamos problemas, muitos problemas.- comentou me chamando atenção.- Mas acima de tudo eu o amava, mesmo com as discussões diárias, eu o amava, muito.- suspirou quando passou a mão no cabelo em gesto nervoso.- Nunca tive a chance de me redimir.

- Eu sinto muito Oliver.- murmurei, era horrível vê-lo assim, tão vulneravelmente.- Você tem razão, eu não o odeio, e parando pra pensar pelo menos ele não está...

- Morto.- completou Oliver simplesmente, nos fazendo rir.

- Isso não foi legal.- falei com um pequeno sorriso.- Eu nunca contei isso a ninguém.

- Nem eu.- falou me fazendo sorrir.- Obrigado por me escutar Lis.

- Obrigada por me escutar Oliver.

O mesmo parecia indeciso quando me abraçou, me acomodei em seu corpo quente e o apertei, era bom estar assim com Oliver, eu sentia calma, paz, confiança.

- Jamais pense de novo que é insuficiente.- sussurrou.- Jamais.

Suspirei quando o mesmo se afastou e beijou levemente minha testa, com seus olhos azuis fixos em mim. Senti sua mão apertar a minha, e fazer círculos com o polegar na mesma, eu queria falar tanta coisa, mas era como se todas as palavras tivessem desaparecido.

Sara, Caitlin e Tommy abriram a porta, nos tirando de nossa bolha. O mesmo os cumprimentou e depois piscou em minha direção, sorri em resposta. Não eram necessárias palavras para selarem nosso segredo, o mesmo estava guardado a sete chaves, e cheguei a uma conclusão.

Eu gostava de conversar com Oliver, e ele me fazia bem.

***

POV Oliver

Hoje seria um jogo importante para nós, se passássemos, entraríamos nas quartas de finais com outras faculdades do estado, o que era impressionante. Os caras do time estavam absurdamente animadas, sempre me dando um tapinha e me agradando, Max era o que mais estava me dando nos nervos, com toda aquela encenação e pose de bom moço, o que claro ele não era, tenho que me segurar todas as vezes que o vejo olhar pra Felicity.

Babaca.

Já teria quebrado sua cara, por sorte Tommy sempre apaziguava as situações.

Falando em apaziguar, uma pessoa em especial vinha me deixando mais calmo ultimamente, com suas divagações, adoráveis na minha opinião, o seu jeito divertido e extremamente teimoso de agir. Eu e Felicity estávamos mais próximos, bem mais próximos, nunca me imaginei confidenciando coisas tão pessoais pra uma pessoa, nem com Laurel eu falava sobre o meu pai, mas com ela era diferente.

Ela era diferente, e por incrível que pareça eu confiava nela.

Muito.

Uma parte de mim se sentia atraído por ela, e eu entendia, Felicity era bonita, eu via a maneira que os outros caras olhavam pra ela quando saímos, mas não era somente sua beleza que me atraía, mas sua simpatia, seu sorriso, a maneira que tratava as pessoas.

Tão gentil.

Mas que merda estava acontecendo comigo?

Nosso primeiro mês como namorados estava correndo bem, Laurel me mandava mensagens diariamente, sempre me questionando por estar com Felicity. Eu não a entendia, nosso namoro não era um dos melhores, isso era fato, mas nos dávamos tão bem, estávamos em um momento tão bom, quando de repente ela decidiu terminar comigo.

Eu não a entendia.

Talvez Sara e Tommy estivessem certos, minha proximidade com Laurel desde quando éramos menores havia afetado minha percepção de ver quem ela realmente era, porém mesmo com tudo isso ela ainda era minha amiga, e eu queria que ela ficasse bem.

Suspirei quando coloquei meu capacete, nosso jogo começaria em meia hora. Tommy apareceu sorridente, seus braços estavam para trás e percebi que o mesmo cobria alguém.

- Trouxe um presente pro capitão entrar relaxado no campo.- falou animado quando revirei os olhos.

- Tommy, eu já falei mil vezes que não quero nenhuma...

- Como você é mal agradecido.- me interrompeu revirando os olhos.- Eu trouxe a minha cunhadinha.- falou quando Felicity saiu atrás do mesmo e arqueou as sobrancelhas para mim e Tommy.

- Que tipo de ofertas o Tommy tem feito pra você?- perguntou cruzando os braços.- Fiquei curiosa.

- Eu... Eu vou deixar o casal sozinho.- sorriu Tommy apressado a abraçando.- Sabe que é a minha preferida, né?

- Então tem outras?- continuou o joguinho me fazendo segurar o riso, Tommy estava pálido.

- Claro que não! Eu quis dizer que entre...

- Entre?

- Saí daqui Tommy.- falei quando o vi respirar aliviado.- Eu sei cuidar da fera.- provoquei quando a vi balançar a cabeça em tom negativo.

- Te amo Smoak!- falou antes de sair.

- Foi maldade o que você fez com ele.- comentei me aproximando, a mesma deu de ombros.

- Achei que fosse justo me vingar de todas as brincadeirinhas do Tommy.- falou com diversão, que sorriso maravilhoso.

- O que veio fazer aqui?- perguntei apontando para o vestiário masculino.

- Pensei em te desejar boa sorte, o jogo de hoje é importante.- falou quando sua expressão se mudou para preocupação- Achou ruim eu vir aqui, né? Não deveria...

- Felicity.- a interrompi colocando minha mão sobre seu ombro, a mesma se calou instantaneamente.- Eu adorei que você tenha vindo.- a mesma sorriu com a minha fala.

- E os outros?- perguntou desviando o olhar.

- Já devem estar chegando.- dei de ombros.

- Melhor eu ir então, acho que vai ser estranho eles me encontrarem aqui.- falou franzindo o cenho.- Boa sorte Oliver.- disse me abraçando, a apertei mais contra mim.- Não preciso aumentar o seu ego falando que você joga bem.

- Se isso foi um elogio, muito obrigado.- falei quando nós dois rimos.

- Desculpe.- pediu quando se afastou um pouco, suas mãos ainda seguravam meus braços.- Você joga bem Queen.

- Obrigado.- sorri de forma irônica quando escutamos murmúrios, suspirei e continuei a encará-la.- Você...

- Tô indo.- falou me fazendo assentir.- Boa sorte pra... Todo mundo.- murmurou acenando para os restante dos caras que haviam chegado, saindo rapidamente.

Ela ficava tão adorável com vergonha.

Acho que é uma boa ideia colocar isso no meu próximo bilhete para ela, sempre quis ver sua reação diante de minhas escritas, mas a mesma nunca as lia em minha frente, me deixando absurdamente curioso com seus pensamentos. Era fácil escrever pra ela, e uma parte mim gostava de fazer isso.

Sorri na direção em que a mesma se foi quando Tommy passou seu braço ao redor do meu pescoço.

- Você está de quatro por ela.- falou nos fazendo rir.- Encantado na realidade.

- Encantado?- perguntei confuso, aquela palavra para Tommy era o mesmo que...

- Totalmente. Encantado.- falou pausadamente me dando dois tapinhas nas costas.

- Se arrumem pessoal, daqui a pouco entramos.- ordenei quando os vi assentir, arrumei meu capacete e suspirei.

Tommy deveria estar maluco, eu não estava “encantado” por ela.

Ou estava?

***