-Juan pode estar com leucemia.

- Leucemia? – Paulina sentiu o mundo cair sob seus pés. De repente, nada mais importava. Só Juan.

- Ainda faremos exames, mas parece que sim.

- Ah, meu Deus. – Paulina abraçou forte a criança em seu colo, como se aquilo pudesse o livrar da doença. – O que vamos fazer? Tem cura? Meu Deus. Não. Não. Não.

- Meu amor, se acalme. – Carlos Daniel disse, abraçando a esposa.

- Ele é tão pequeno... Tão frágil. Não, meu Deus. – Paulina disse, trêmula, chorando.

- A senhora precisa se acalmar. Pode passar mal desse jeito. Não é hora de entregar os pontos. Vocês precisam ser o apoio um do outro e também do Juan. Ele precisa de vocês. – Isso, porém, não adiantou. De tão nervosa, Paulina desmaiou com o filho no colo. A sorte era que estava sentada.

- Meu Deus. – Carlos Daniel tirou o filho do colo da mãe, dando tapinhas no rosto da esposa para que acordasse. – Paulina, acorde. Acorde!

O doutor correu ao corredor, pedindo uma maca o mais rápido possível. Logo, dois enfermeiros estavam colocando o corpo inconsciente sobre uma maca. Paulina ficaria em um dos quartos do hospital, em observação.

- Mamãaaaaae! – Juan gritou, se mexendo no colo do pai, ao ver a mãe ser levada.

- Shh. Calma, filho, ela só ficou dodói, ta? – Carlos Daniel explicou, rezando para que Juan se acalmasse. Sem saída, deixou o filho com uma enfermeira e seguiu o doutor até o quarto onde colocavam Paulina.

- Paulina... Meu amor. – Carlos Daniel falava sozinho, passando as mãos pelos cabelos da esposa.

- Vamos ter que aplicar um calmante. – dr. Varella disse, já preparando a seringa e aplicando no braço da mulher. – Enquanto isso, algum problema se fizermos os exames em Juan?

- Não, pelo contrário. Vamos lá.

Assim, o pequeno Juan passou a manhã inteira fazendo exames. Claro que reclamou para tirar sangue, mas logo se acalmou. Era a perfeita cópia da mãe: enfrentando tudo sempre com calma. Paulina acordou no meio da tarde, encontrando Carlos Daniel observando o jardim da janela e o pequeno Juan dormindo no sofá.

- Carlos Daniel? – ela chamou, ainda com a voz fraca.

- Meu amor – ele disse, após se dar conta de que Paulina tinha despertado. - se sente melhor?

- Não muito. – ela admitiu. – É verdade então?

- Não sabemos, mas já fizemos os exames. Não se preocupe meu amor, por favor. – ele disse, acariciando a cabeça da esposa. – Seja o que for, enfrentaremos juntos. Juan vai ter os melhores médicos e logo ficará bem.

- Assim espero, meu amor. Que Deus te ouça.

- Mudando de assunto, você precisa comer. Vou pedir pra trazerem alguma coisa pra você, e também vou pedir pra te examinarem. – Assim, Carlos Daniel saiu do quarto.

Paulina observou o filho dormindo. De todos eles, Juan era o mais parecido com ela. Apesar disso, era super apegado aos pais. Mas, acima de tudo, era muito novo e não merecia passar por isso. Meu Deus, era apenas uma criança. Ainda tinha muito o que viver. Se Paulina pudesse evitar que sofresse, faria qualquer coisa.

Carlos Daniel voltou, junto com o médico e uma funcionária que trazia um lanche para paulina.

- Se sente melhor, Paulina? – doutor Varella perguntou, se aproximando.

- Sim, doutor, foi apenas um susto. Quero saber do meu filho.

- Não se estresse, pode te deixar nervosa de novo. Os exames devem sair em uma hora e meia. Por enquanto, tente comer. Assim que receber os resultados eu volto.

Assim, o médico e a funcionária saíram, deixando o lanche de Paulina em uma mesa.

- Agora você tem que comer. – Carlos Daniel disse, colocando a bandeja mais perto de Paulina.

- Não, Carlos Daniel. Não estou com fome. Depois eu como.

- Não, meu amor, você tem que comer agora. Não queremos duas pessoas doentes na família.

- Está bem. – Paulina disse e conseguiu comer o sanduíche de peito de peru e tomou o suco, mas deixou a maçã de lado. No restante do tempo, Carlos Daniel tentou ao máximo distrair a esposa, conversando sobre a fábrica. Depois, Juan acordou, e foi a vez de Paulina tentar distraí-lo. Sorte que era tranquilo.

No fim da tarde, Dr. Varella entrou no quarto. Bastou isso para que Paulina ficasse apreensiva.

- Senhora Bracho, eu já assinei sua alta. Podemos ir até a minha sala para conversarmos melhor? Vou pedir para uma das enfermeiras cuidar de Juan durante esse tempo.

- Tudo bem, doutor. – Paulina disse, e se levantou com o filho no colo. Depois de deixa-lo com a enfermeira, ela e Carlos Daniel foram até a sala do médico, de mãos dadas para apoiar um ao outro. Após se sentarem, o doutor explicou a análise dos exames.

- Bom... Senhor e Senhora Bracho, infelizmente o que suspeitávamos era verdade. Seu filho está mesmo com leucemia. – nesse momento, Paulina respirou fundo, procurando manter a calma. Carlos Daniel precisava dela mas, principalmente, seu pequeno Juan precisava dela.

- E como podemos tratar, doutor? – Carlos Daniel perguntou, apertando a mão da esposa.

- Não vou mentir, senhor. A leucemia já está um pouco avançada. O que temos que fazer agora no início é evitar que a doença traga complicações. Vou passar antibióticos. Vocês precisam ser rigorosos na alimentação, senão ele pode enfraquecer. E ele também vai precisar de transfusões de plaquetas, para que o sangue coagule normalmente. Ele vai ter que passar por sessões de quimioterapia para evitar que o câncer se espalhe. Mas agora o mais importante é achar uma pessoa compatível para doação de medula.

- Então queremos fazer logo os exames, doutor. O mais rápido possível.

- Bem, senhor Bracho, nessa situação os pais sempre são descartados. É impossível que sejam compatíveis. Considerando a genética, cada um de vocês é apenas 50% compatível com Juan. Precisamos de 100%, ou o corpo de Juan pode rejeitar o transplante.

- Então, doutor, Carlinhos e Lizete podem ser compatíveis? – Paulina perguntou, torcendo por um “sim”.

- Não, senhora Bracho. Apenas Paula, porque é a única irmã de Juan que tem os mesmos pais.

- E se não conseguirmos?

- Bom, podem procurar no resto da família, mas é bem raro.

- E se não der temos que achar um doador compatível no país?

- Exatamente. Por hoje, vão para casa descansar. Amanhã faremos os exames. Se alguém na família se oferecer, tragam para os exames também. É importante que não descuidem de Juan agora, mas também não descuidem de vocês mesmos. Leucemia tem cura, mas para isso vocês precisam ser fortes.

- Tudo bem. Obrigado, doutor. – Carlos Daniel disse. Ele guiou a esposa para fora. Paulina tinha um olhar distante, como se estivesse hipnotizada. Já não prestava atenção em nada ao seu redor. Na sala de espera, pegaram o filho com a enfermeira. Juan logo correu para o colo da mãe.

- Ah, meu bebê... – ela o pegou no colo, com os olhos marejados. – Tão pequeno...

- Porque tá chorando, mamãe? – Juan perguntou, inocente, passando a mãozinha pelo rosto da mãe.

- Porque eu te amo demais, meu filho. Demais. A mamãe não vai deixar nada te acontecer. Eu prometo. – ela disse e deu um beijo no filho. O casal deixou o hospital e pegou o carro no estacionamento, para ir para casa. O percurso foi uma tortura, silêncio total. Paulina chorou o tempo todo. Carlos Daniel tinha outra forma de demonstrar seu medo e preocupação. A sorte era que o trânsito estava bom, porque ele não conseguiu prestar atenção nas ruas. Seu filho o preocupava, e sua esposa também. Paulina era forte, mas tudo o que acontecia às crianças a abalava. Dessa vez, não era Paulina que iria ajudar a reerguer a família, mas sim o próprio Carlos Daniel.