Depois daquilo, preferimos agir como se nada houvesse acontecido, eu não tocava no assunto, nem ela, e se algo relacionado a beijos surgia, nós imediatamente mudávamos de assunto. E suas bochechas coravam só de ouvir a palavra namoradinho.
Isso só me dava a certeza de que eu não era, nem seria, seu namoradinho. Mas eu podia conviver com isso.
Na tarde seguinte ao “ocorrido” nós fizemos como sempre, eu a acompanhei até em casa e depois do almoço nos encontramos no lugar não habitado que chamávamos de nosso. Já devidamente agasalhados e sem o uniforme escolar, eu sorri cobrindo meu pescoço com o cachecol e ela riu entendendo que hoje eu não a deixaria me acertar.
Ela se jogou na neve, por falta do que fazer, e começou a mexer os braços, eu apenas sorri, ela estava fazendo outro anjo, porque com a neve que havia caído durante a noite a “anja” dela havia sido coberta pela neve novamente. Era assim todos os dias.
- Vem – eu estiquei uma mão para que ela levantasse depois de ter se arrastado o suficiente na neve para que a anjinha ficasse bem marcada.
Ela me deu a mão e levantou num impulso me empurrando um pouco para trás, mas, pelo menos, meu objetivo obtivera sucesso. Sorri apontando para o anjinho que agora não possuía marcas – além das imperfeições da neve.
- Ah – ela quase berrou me abraçando forte e eu ri a abraçando de volta.
Naquela tarde nada demais aconteceu...

Os dias iam passando e a cidade ganhava cada vez mais cor, as fitas verdes e vermelhas e figuras barbudas dominavam todas as vitrines e casas, e o cheiro de biscoitos natalinos dominava as cozinhas. Cada vez que eu chegava a casa de Rosalie junto dela, depois da aula, sua mãe nos recebia com biscoitos e chocolate quente.
E cada vez mais o inverno me encantava. E cada vez com mais motivos...
Havia sido à espera do inverno que nós havíamos nos tornado amigos, e que havíamos trocado nosso primeiro selinho, e que nos tornávamos cada vez mais próximos.
Eu possuía motivos de sobras.