Quando entrei no consultório com Rosalie, a médica me olhou com um sorriso, enquanto Rose se trocava – colocando aquelas batas horríveis – e me cumprimentou, perguntando o de sempre, me deixando no posto de vigiar o que Rosalie fazia e como ela se portava.

Mas eu não consegui lhe responder muito, porque Victor em meu colo estava se mostrando bem impaciente para esperar, e nós riamos quando ele foi para o chão e seguiu com seus passinhos rápidos, indo atrás de Rosalie, procurando-a na primeira porta. Ele empurrou a porta, e voltou para o meu lado frustrado ao ver que não tinha ninguém ali, maneei a cabeça sussurrando em seu ouvido onde ele deveria ir, e com os olhinhos bem abertos e passinhos mais ligeiros, Victor seguiu até um biombo, onde Rosalie terminava de se trocar.

- Meu amor – ouvimos ela falar dando um beijo estralado na bochecha de Victor.

- Bebê – era a palavra preferida dele quando estava perto de Rosalie, e mesmo sem vê-los eu soube que ele estava fazendo carinho na barriga dela.

- Vem – ela murmurou vindo de mãos dadas com ele, Victor vinha sorridente mostrando seus pequenos dentes de leite, e ia conversando com Rosalie com sua voz infantil.

Então eu o peguei no colo novamente, enquanto a médica se dedicava a cuidar e examinar Rosalie, nós ficamos só ali no canto, eu tentando distrair Victor com qualquer coisa. Mas tenho de dizer que não era fácil.

- Seus dedos estão inchados – disse a médica olhando o pé de Rosalie, realmente, ela havia reclamado disso o dia todo. – Se persistir me deixe saber.

Rosalie assentiu, e eu também, porque era impossível eu não deixar a médica a par de tudo. Na verdade cada mínima dorzinha que Rose dizia sentir, já me fazia querer correr atrás da médica, mas Rose sempre me proibia. Não é minha culpa querida, eu só queria cuidar de você e ter certeza de que estava tudo bem.

E eu não pensava que havia tanto com que se cuidar, digo, quando eu a acompanhei na gravidez de Victor parecia mais fácil, até porque ela havia engordado menos e não inchava. Mas agora a médica estava atentada a cada mínimo detalhe e a inspecionava com muita mais minúcia do que eu já havia visto em qualquer outra consulta.

- Só tente se manter relaxada, descanse com os pés mais elevados e vai ficar tudo bem – a médica disse com um sorriso, que visivelmente deixava Rosalie mais tranquila. Ela algumas vezes já havia me dito que o rosto da médica demonstrava tudo, que quando havia algum problema a doutora ficava rígida e falava pouco, detalhes assim que só as mulheres percebem, mas que por ter sido avisado eu havia me mantido atento.

- Vem meu amor – Rosalie disse quando já estava sentada na maca em que a médica a havia examinado. Ela estendeu os braços pegando Victor, para deixá-lo sentado ao seu lado.

Não que eu gostasse, ou concordasse com ela pegando-o no colo o tempo inteiro, porque Victor já não era mais um bebê levinho, mas havia certas situações em que era impossível não passá-lo para os braços de Rose, como naquele instante, porque em meu colo ele ficava se debatendo, sempre muito ativo e curioso ele queria ver tudo, tocar em tudo e ficar dando voltinhas pela sala. Mas com Rosalie e a adoração que ele tinha por ela, a situação era diferente, bastou ela colocá-lo ao seu lado, para Victor ficar de pé, seus olhinhos bem abertos observavam tudo, enquanto suas pequenas mãos gorduchas estavam sobre a barriga de Rosalie, sentindo o bebê se mexer ali dentro.

- É só continuarmos assim e você vai estar perfeitamente bem para quando chegar a hora – a médica disse acariciando o cabelo claro de Victor, e logo estendeu a mão para nos cumprimentar.

Estava tudo bem com Rose e com o bebê, era tudo que queríamos saber. Agarrei Victor, sentindo ele passar os braços por meu pescoço, querendo se pendurar ali, e ri abraçando Rose pela cintura enquanto caminhávamos pela rua pouco movimentava. Na verdade nenhuma rua em Rochester poderia ser considerada com movimento, e várias vezes isso era ótimo, porque nos permitia dar algumas voltas pela cidade sem ficar esbarrando em ninguém, e não havia muito barulho nas ruas, apenas crianças correndo atrás de bolas e soltando pipas.

E eu tinha de confessar que não via a hora de Victor começar a querer essas coisas, algumas vezes eu já havia “jogado” bola com ele, mas não se comparava as crianças crescidas.

- Você quer almoçar aonde hoje? – eu perguntei porque sabia que Rose não estava com vontade de cozinhar, e eu não me arriscaria na cozinha. – Faz alguns dias que não vemos a minha mãe – eu disse e ela assentiu, porque Rose se dava realmente bem com minha mãe, assim como eu me dava com a dela. Nada dessa história de sogras megeras e que não dão certo. O único problema era o sogro dela, mas quanto a isso eu já havia desistido, meu pai não tinha mais jeito realmente. E só sugeri a casa de minha mãe por ter certeza de que ele não estaria lá, porque com tudo isso da Guerra Civil, e tantas investidas e recuadas ele havia tido de ir até a capital do estado resolver alguns assuntos.

E algo me dizia que um desses assuntos seria incluir os recrutas de Rochester, do estado de Indiana, para ajudarem a fazer frente contra o pessoal do sul que quisesse fazer o próximo ataque.

Também não adiantava negar, eu sabia que meu pai só estaria sossegado a hora que pudesse demonstrar aos habitantes do estado de Indiana que mesmo uma cidade pequena como Rochester podia ter um bom treinamento, e que ele podia ser um bom treinador.

O sonho da vida dele era treinar um grande grupo, e com essa Guerra ele certamente estava vendo essa oportunidade chegar, e interiormente eu só desejava que ele conseguisse e partisse, assim eu poderia seguir em paz com a minha família. Só lamentava pela minha mãe, porque se isso acontecesse certamente não seria fácil para ela decidir entre acompanhá-lo e ficar por perto de mim e dos netos dela.

O que só me fazia ter certeza de que não importava quão ruim meu pai fosse, nem quão grosso ou rude, ela realmente o amava. E como dizem, o amor é cego.

- Vamos lá – eu disse segurando a mão dela, dando a volta para irmos até o carro e partimos para lá.

Por isso eu adorava meus dias de folga. Apesar de que aquele seria o último até Rose ter o bebê, e pensar que cada vez estava chegando mais perto da data me aterrorizava.