POV: Lisa

Já faz quase dois anos desde aquele momento...

Ainda me lembro do som do tiro, do vento, do modo como eu fiquei paralisada quando você caiu no chão sem vida...

Eu não soube como reagir, Twelve.

Ouvi os gritos desesperados de Nine e foi só naquele momento que eu percebi o que havia acontecido com você. Sequer consegui dizer alguma coisa. Eu queria ter gritado seu nome ou abraçado seu corpo uma última vez, mas não consegui. Fiquei ali, estática, apenas assistindo aquele momento tão trágico.

Ainda me lembro do seu último sorriso. Quando aquele detetive apareceu para prendê-los eu fiquei tão assustada. Mas você disse que eu era uma refém e pediu pra ele me proteger. Naquele momento você estava sorrindo para me tranquilizar e meu coração se acalmou um pouco.

Seu sorriso era como o sol. Lembro que essa foi à primeira coisa que pensei quando você pulou na piscina naquele dia, enquanto eu era obrigada a pular. Nunca poderia imaginar que as coisas terminariam como terminaram.

Naquela época eu não fazia ideia de como minha vida solitária iria mudar. E tudo foi graças a você.

Eu me tornei cúmplice de um crime pouco tempo depois. Me tornei cumplice do crime de vocês, Twelve. Eu tive tanto medo de morrer que não pude recusar. Mas não foi só isso. Pensei que se eu aceitasse a proposta de ser cúmplice, vocês poderiam me tirar daquele mundo obscuro e cruel em que eu vivia todos os dias.

Aquele mundo não me importava. Ele só me fazia sofrer. Por isso eu tentei me aproximar de vocês dois, mesmo que você dissesse que eu nunca seria uma de vocês. Naquele momento, mesmo com medo do que aconteceria, eu me senti disposta, tinha esperança, por isso fugi de casa.

Nunca me arrependi de ter feito isso. Se eu não tivesse fugido jamais teria subido naquela moto com você, Twelve. Naquela hora, quando os policiais apareceram, eu não soube o que fazer, mas você apareceu de moto e sorriu. Seu sorriso igual ao sol iluminou meu mundo escuro e naquele instante eu soube que jamais queria me afastar de você de novo.

Mesmo com a recusa de Nine, você insistiu para mim viver com vocês e eu estava disposta a ajudar. Nunca soube exatamente qual era o plano de vocês desde o início, mas eu estava disposta a colaborar porque queria ser útil de alguma forma...Mas acabei atrapalhando mais do que ajudando. Primeiro porque sempre que eu tentava cozinhar eu quase colocava fogo no esconderijo, eu também quase detonei as bombas acidentalmente....Eu era um fracasso.

Mas estava disposta a mudar, por isso, quando vocês foram enfrentar a Five no aeroporto eu quis ir. Queria me tornar oficialmente uma de vocês. Mesmo que por dentro eu estivesse morrendo de medo do que poderia acontecer. Eu nunca levei muito jeito pra armar bombas e explodir coisas, por isso me atrapalhei um pouco pra criar tanta confusão no banheiro do aeroporto, mas no final eu consegui. Bom, eu acabei sendo capturada depois, mas você fez de tudo pra me salvar e, quando eu finalmente pulei daquele avião e você me segurou, pela primeira vez eu me senti extremamente segura.

Mesmo assim, Five era muito insistente e eu era muito ingênua. Eu acabei sendo capturada mais uma vez e quando me colocaram na roda gigante com aquele colete de bombas e me algemaram eu perdi as esperanças. Só rezava para que vocês dois estivessem bem.

Naquele dia eu estava com tanto medo e então você veio. Eu me senti tão feliz quando você apareceu naquela roda gigante pra me salvar, Twelve. Mas o meu medo daquelas bombas detonar era enorme e você viu isso. Enquanto tentava desesperadamente desarmar todas para me salvar, você ao mesmo tempo me tranquilizava e dizia coisas que me deixaram realmente feliz. Quando você se desculpou por me meter naquilo, eu o agradeci. Aceitei que não haveria tempo de desfazer aquelas bombas e temi por sua vida. Mas quando você segurou meu rosto e disse que tudo terminaria bem eu só consegui chorar.

Acho que naquele momento meu coração teve a certeza de que eu o amava. Sim, Twelve eu te amava. Mesmo que o tempo que nós passamos juntos tenha sido tão curto. Eu não vou esquecer.

Para me salvar você traiu Nine e eu me senti triste por você, mas ao mesmo tempo estava feliz por saber que você se importava tanto comigo. Por isso fiquei calada e não saí de seu lado.

Depois de um tempo, antes da bomba atômica explodir dos céus de Tóquio você me disse àquelas palavras que me fizeram sorrir.

- Eu... estou feliz por ter te encontrado, Lisa. – Você disse com seu sorriso quente como o sol.

Quando a bomba explodiu nós demos as mãos pela primeira vez. Eu não tive medo. Sua mão era quente e acolhedora. Enquanto a bomba brilhava nos céus você me puxou devagar e eu me deixei ser abraçada com cuidado. Não pensei em mais nada. Escondi o rosto em seu pescoço e fiquei ali sem me importar com mais nada. Ergui a cabeça e vi que você observava atentamente a bomba queimar no céu sobre nós. Quando percebeu que eu o olhava, sorriu radiante.

- É bonito, não é Lisa? – Disse Twelve sem tirar os olhos da explosão.

Ainda com os braços em volta dele eu olhei para o céu, agora estava completamente alaranjado, entrando em contraste com a noite. Era realmente algo belo de se ver. Fiquei apenas observando sem me dar conta que Twelve agora olhava pra mim, observando minhas reações com um olhar divertido.

O céu estava em plena combustão, eu não conseguia parar de olhar. Só saí do meu transe quando senti dedos delicados tocando meu rosto, devagar. Meu coração palpitou e eu tornei a olhar para o rosto que me analisava. Nunca havia reparado em como seus olhos eram lindos. Eram profundos e brilhantes, era quente assim como seu sorriso. Ele voltou a pegar meu rosto com as mãos, exatamente como havia feito na roda gigante. Não pude evitar tremer ao seu toque. Suas mãos não eram frias, mas eu me arrepiei. Estávamos tão próximos...

- O que achou da explosão? – Perguntou ele, ainda segurando meu rosto que estava tão próximo do seu. Eu não conseguia manter uma respiração calma, meu coração estava agitado demais com tudo o que estava acontecendo.

- A-Achei...linda. – Respondi finalmente. Fechei os olhos para sentir melhor seu toque.

- Lisa...- Ele chamou meu nome como sempre fazia, mas senti algo mais naquela voz. Havia carinho. Voltei a fita-lo, a proximidade entre nós me fez corar. - ...Eu quero beijá-la.

Eu não precisei responder, apenas fechei os olhos, dando a permissão que ele queria. Não havia o que ser dito. Eu realmente queria que ele me beijasse também.

Nenhum de nós teve pressa. Não sabia exatamente como fazer tudo aquilo e aposto que ele também não sabia. Mas nenhum de nós recuou. O pequeno espaço que havia entre mim e ele se desfez quando nossos lábios se roçaram antes de selarem o beijo.

Não havia mais bomba, nem polícia, nem Sphinx... Só havia ele.

Meus lábios respondiam aos dele e ambos se moldavam perfeitamente. Seus lábios também eram quentes e macios, assim como suas mãos. A única coisa que eu conseguia escutar naquele momento era meu próprio coração frenético. Quando o beijo se aprofundou e as línguas se encontraram, senti o ar deixar meus pulmões. O beijo permaneceu até ambos perdermos o fôlego. Quando nossos lábios se separam e os olhos se abriram não havia mais fogo no céu, só a escuridão que agora invadia toda a cidade, apagando tudo ao nosso redor.

- Obrigado Lisa. – sussurrou Twelve.

- Pelo que? – Perguntei, confusa. Ele ainda segurava meu rosto com a mesma expressão divertida.

- Por ter subido na moto naquele dia.

Depois desse dia, eu sentia mais esperança de que tudo terminaria bem pra nós dois. Twelve me levou a um local importante pra ele. Era o Purgatório, o laboratório onde ele e Nine haviam passado tanto tempo de suas vidas. Quando chegamos, encontramos a última pessoa que esperaríamos ver, Nine estava lá no local onde agora é o túmulo de Five. Quando Twelve e Nine finalmente fizeram as pazes, eu sorri e vi que havia esperança.

Não fazia ideia de que aquele era o último dia de sorrisos.

Quando o detetive apareceu eu soube que aquilo não teria fim.

Quando os americanos apareceram naqueles helicópteros eu tive medo.

Mas, quando vi a bala atravessar o peito de Twelve e o sangue jorrar eu só consegui perder todas as esperanças de que aquilo acabaria e nós três continuaríamos juntos como uma equipe.

Hoje, quase dois anos depois de tudo, ainda sonho com aquele momento. Você sequer teve a oportunidade de dizer alguma coisa depois do disparo. A última coisa que você disse foi:

- Por favor, proteja-a.

Mesmo sabendo que seria preso, você só conseguiu pensar em como me fazer continuar inocente, mesmo sendo cúmplice.

Eu precisei seguir minha vida depois disso. Não voltei pra casa. Depois que seu sorriso iluminou o meu mundo, eu não estava disposta a voltar para aquele lugar. Foi difícil, mas consegui me virar e acabei arranjando um emprego, voltei a estudar também.

Eu achei que nunca conseguiria falar de novo, mas não podia continuar sofrendo tanto. Sei que não ia querer que eu continuasse assim. Por isso segui em frente e jurei que não iria esquecer de vocês dois jamais.

Já faz um ano que entrei na faculdade de medicina. Precisei estudar muito para conseguir um vaga tão importante. Eu pretendo construir um local para ajudar crianças, uma clínica, naquele mesmo local onde vocês passaram seus últimos momentos. As memórias das 26 crianças que sofreram naquele lugar jamais seriam apagadas. Mesmo estudando tanto e trabalhando, eu nunca deixava de visita-los.

Toda semana eu ia deixar flores para todas as crianças do Purgatório. Eu rezava por todas elas. Mas sempre que terminava eu conversava com Twelve, mesmo que não pudesse escutar resposta alguma eu sempre sentia que meu coração se acalmava ao fazer aquilo. Talvez ele estivesse ali me escutando com aquele sorriso que tanto aprendi a amar. Eu sempre contava a ele sobre como minha vida estava seguindo. Contei sobre minha faculdade e meus planos de ajudar crianças que sofrem com algum problema. Às vezes eu não conseguia segurar a saudade e derramava algumas lágrimas.

- Eu nem disse que te amava...Acho que não tivemos tempo, né Twelve? – Disse limpando as lágrimas que escorriam em meu rosto. – Me desculpe.

Me levantei e observei os túmulos uma última vez antes de me virar.

Não pude evitar olhar pra o número 12.

O vento bateu em meu rosto e meu coração se acalmou ligeiramente, fazendo-me sorrir agradecida.

- Obrigado, Twelve. Até semana que vem. – Virei-me para onde deveria voltar, mas antes de começar a andar sorri e finalmente tive coragem de dizer o que meu coração tanto desejou, mas que o destino não nos deu a oportunidade de dizer. - .... Eu te amo, Twelve.