Palavras de Heagle

Direto de Londres!


Já em Londres...

- O que temos pra comer? – choramingou Synyster, caído ao lado de uma garrafa de cerveja, em plena sala de estar. Zacky, empanturrado de biscoito (por acaso, o último pacote do armário), lamentava a dor de barriga que estava vindo. Tentaria segurar, já que se esquecera de comprar papel higiênico há três dias.

E Matthew, que chegara a casa com um bom humor estranho e suspeito, cantarolava “Scream” na cozinha, apenas de cueca. E olha que fazia um frio infernal naquela época.

- MATT, QUE PORRA ESTÁ FAZENDO AÍ? – acabou berrando o Porpeta, sem poder se mexer.

- Estou vendo o que compraremos no mercado. – gritou em resposta, batendo as portas do armário.

- Resumo, fio: compre tudo, porque não tem mais porra nenhuma. Não sobrou nada desde que as meninas foram pro Brasil. – suspirou Syn, tentando encontrar um último pingo de bebida em sua garrafa. – Que falta elas fazem...

- Elas fazem falta, eu sei, mas não podemos deixar de viver. Partiremos para EUA semana que vem, então temos que arranjar alguma forma de se virar até lá. – continuou, batucando em uma panela com duas colheres. – E hoje vou pra casa de Anne.

- Por isso esse bom humor. Vai meter a noite toda. – gargalhou Zacky, na última tentativa de ficar inerte no sofá. Não conseguiria por muito tempo, a barriga já começava doer. – E... caralho, o que será que elas devem estar fazendo lá? Será que a Marietta desencalhou e tirou as teias de aranha da “restrita”?

É, Zacky nomeava as partes íntimas das meninas de “restrita” (mesmo que a de Mel não fosse tanto assim, enfim).

Matthew, tentando levar tudo na esportiva, tentou disfarçar sua reação, ao cogitarem a hipótese de Marietta e outro homem estarem fazendo ‘coisas’.

Em sua mente, era difícil imaginar a amiguinha na cama, com outro homem, sendo usada apenas como objeto sexual. Não merecia isso, afinal... era tão bonita e tão inteligente...

- Aff, que visão do inferno. – murmurou, balançando a cabeça. – Marietta não pode ser mulher igual às outras.

- Engano seu, meu caro Ogro Engibizado. – murmuraram às suas costas. – Ela é uma mulher, e você deseja fazer de tudo e um pouco mais com ela. A vida toda.

- Ah, vai se fuder... Jimmy? – resmungou, virando-se para socar quem quer que estivesse falando aquilo. Sentiu o coração e as pernas gelarem quando deu de cara com Jimmy, segurando um pote de sorvete nas mãos. Sorria, despreocupado, como se o medo do amigo fosse divertido e saboroso.

- E aí filho da puta, quer sorvete?

- Que porra está acontecendo? Virei médium, foi? – murmurou, tentando não ser ouvido pelos rapazes na sala. Na certa, seria taxado como louco, o que não seria nenhuma surpresa.

- Só estou te visitando, caro amigo. – disse com deboche, enfiando na boca uma grande quantidade de sorvete. – E aí, não vai querer mesmo?

- Só quero saber o que você está fazendo aqui. Quase bati o carro por sua culpa, e ainda conheci aquela menina que infelizmente morreu. O que quer fazer, me levar junto pro inferno?

- Não seria má ideia, mas quem vai cuidar da Marietta quando ela voltar?

- Aff, Marietta, Marietta, você não cansa de falar nela? Quer que eu siga minha vida, mas vive me lembrando daquela criaturinha que... inferniza as ideias. – suspirou com impaciência, largando as louças sobre a pia.

Subiu com pressa para o quarto, e acenou para que Jimmy o seguisse. Na cozinha, não teria privacidade de falar o que pensava. Syn e Zacky não estavam prontos para saber da verdade.

- Pronto. Agora, diz, o que quer de mim, cara? – começou, fechando a porta com força.

- Eu já te disse um porre de vezes, você que é surdo e não ouve. Devia limpar as orelhas, caro filho da puta.

- Você me deixou na mão nesse mundo, praticamente sozinho, sem ter a esperança de encontrar alguém que me fizesse bem além dos Avengers. Agora você aparece pra opinar sobre minha vida... que você ao menos pensou quando decidiu se matar.

- EPAAA, aí já está apelando, ein corno manso? – resmungou, largando o pote no chão. – Não me matei... apenas... exagerei. É bem diferente.

- Oh, super diferente. – ironizou, abanando as mãos. – Vai, vaza, quero tomar banho, e não vou me sentir a vontade de ficar nu perto de você.

- Uau, é que eu nunca tive chance de admirar sua bengala de um metro. – sorriu, dando uma piscadela. É... podemos dizer que Matt não era um homem de poucos atributos, se querem mesmo saber, mas... chega, chega, terceira pessoa pornográfica não vale. – O fato é, Matthew, que vim me despedir, é isso.

- Se despedir? Como um morto se despede de um vivo?

- Se despedindo. O “chefe” tá pegando no meu pé, falando que ando muito rueiro, vivo no mundo dos humanos pra dar sermão e essas bostas. Então, lançou a ameaça: ou eu, definitivamente, largava mão de opinar na vida de vocês... ou teria que aprender pandeiro e fazer parte de um grupo de pagode. Tive que obedecer, né, fazer o que?

- Você não vai aparecer pra mim, nunca mais?

- Nunca mais. Mas... antes de ir, queria te falar uma coisa. Nem tudo que você sonha... é apenas um sonho.

- Não entendi.

- Não entenda, você sempre foi um burro mesmo. Adeus, grande fodão MotherFucker. – gargalhou, mostrando o dedo do meio para o amigo.

E Matthew caiu no chão, batendo a cabeça na guarda da cama.

- QUE CARALHO, FILHO DA PUTA! – berrou, massageando a testa com rapidez. – AI, DOR, DOR, DOR, PORRA, PORRA, PORRA... POR QUE SEMPRE CAIO DA CAMA QUANDO SONHO COM O JIMMY, INFERNOOOOO!

Já era dia. A neve começava cair lá fora.

Matthew concluiu que sonhou tudo que aconteceu. Nunca existiu Jimmy, nem conselho, muito menos previsões. Era fruto de sua mente cansada e estressada, dominada pelas saudades do velho companheiro, fortificada pela ausência de suas amigas brasileiras, Mel e Marie.

Ao se levantar, percebeu que estava nu. Olhara para cama, e deitada nela, trajada de um babydoll vermelho e transparente, dormia Anne. Envolvida por um sono pesado, nem percebera a agitação no quarto.

O rapaz riu, lembrando-se da noite anterior. Divertira-se muito, expondo suas fantasias para a companheira, além de torná-las algumas delas reais.

Mas uma, exatamente uma, não era possível acontecer.

Voava longe, bem longe, pairando em Barra Bonita, no Brasil. E, além da distância geográfica, havia a barreira emocional.

A fantasia de ter Marietta em seus braços nunca se realizaria novamente, afinal... a jovenzinha não era mulher para um homem como ele. Merecia muito mais do que uma transa casual.

Merecia um companheiro... coisa que, talvez, ele nunca pudesse se tornar.