Previsível: adj.: Que se pode prever.

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Sempre certinho, organizado, o número um, o mais inteligente, Near se tornara um modelo para muitas das outras crianças do orfanato. Pena que Mello nunca o enxergaria assim, já que vivia dizendo que o odiava, que ele seria o número um, sucessor de L. E mal ele sabia que cada vez que dizia todas essas palavras pesadas, o albino gostava mais ainda dele.

Certo dia, estava em uma das salas montando um quebra-cabeça sozinho. Ouviu a porta ser aberta com um grande estrondo e uma figura loira surgir por trás dele e chutar o quebra-cabeças, desfazendo-o por completo.

– Oi Mello. – Disse, sem se virar, com sua voz sempre fria.

– Qual é, você não tem nada melhor pra fazer do que ficar aí montando essa porcaria inútil?! – Ele sentou-se de frente para o mais novo, irritado.

– Na verdade não. – Recomeçou a montar o jogo, sempre pelo centro da figura.

– Seu autista anti-social! – Mello agarrou o outro pela camisa e aproximou-o de si. – Você se acha muito bom, não é?! Acha que é o exemplo ideal para os outros aqui, não é Near??!

– É você quem está dizendo isso, Mello. – Near sentiu seus batimentos acelerarem com a proximidade dos dois, mas manteve o tom da voz. – Eu não me considero um exemplo pra ninguém.

– Idiota convencido. – Mello soltou o albino no chão de qualquer jeito, espalhando o jogo novamente.

Alguns segundos silenciosos. Near havia começado a montar uma torre com dados. Mello olhava de cima para o albino, sentindo toda aquela raiva que sentia por ele momentaneamente se esvair. Suspirou bem fundo e sentou-se do outro lado da torre.

– Vai fazer isso pelo resto da tarde? – Perguntou, sua voz arrastada.

– Não, só até você tomar alguma atitude impulsiva.

– Quê?! – O chocólatra enrubesceu, pensando em outro sentido daquela frase.

– Você vai derrubá-la de qualquer jeito, não vai? – Ele se permitiu levantar o olhar para o loiro.

– Ah... – Mello normalizou sua respiração, virando a cara irritada e menos vermelha. – Você acha que sou tão previsível assim?!

– Você sempre faz isso, Mello. Dá pra prever o que fará em seguida por você fazer sempre as mesmas coisas.

– Olha aqui seu projeto de nerd. – O loiro puxou com força o outro para perto, o que derrubou os dados. – Eu vou te mostrar o ‘previsível’!

Near, que estava esperando por um soco, se surpreendeu e arregalou os olhos ao sentir um gosto de chocolate amargo em sua boca. Seus batimentos e sua respiração se aceleraram, junto com os de Mello, ao perceber os lábios do chocólatra contra os seus. Depois de, talvez, dois minutos se soltaram, Near já com o rosto não tão pálido como de costume.

– Aposto que você não previa isso, hein? – Mello sussurrou, um sorrisinho de escárnio nos lábios. Pousou Near no chão e fez menção de sair do quarto. – Vê se faz alguma coisa útil e joga esses brinquedos idiotas fora.

– Mello. – Antes que o loiro saísse, ele agarrou na blusa dele, seu rosto vermelho como um pimentão.

– Quê, pirralho?

– Eu... Gosto de você.

– Humph. – Mello girou os olhos, sem desfazer o sorriso, e se aproximou do albino. – Você me lembra um Galak. – Ele riu, e saiu do quarto, deixando um Near confuso sentado no chão.

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– Matt. – Near chamou pelo amigo, que estava jogando Pokémon em seu DSi.

– Quê, Near? – Ele sequer tirou os olhos da pequena tela.

– O que é um Galak? – Near levou uma das mãos a uma mecha do cabelo e começou a enrolá-la.

– É um chocolate branco que o Mello gosta bastante. – Continuou prestando atenção no jogo. – Capturei um Zorua shiny!! – O ruivo começou a pular de alegria, nem lembrando mais do albino.

Near sentiu suas bochechas esquentarem e seu coração bater mais rápido. Foi invadido por uma felicidade e permitiu-se sorrir. Não fora com palavras exatas, mas Mello havia dito que gostava dele e, mesmo que através de uma comparação com um chocolate – mais uma vez, previsível como só o Mello – aquilo fazia o pequeno albino se sentir muito bem.