Paixão Coibida

Capítulo 3: Insciência


Mabel estava deitada na grama quando acordou, já no pôr-do-sol, com a visão ainda turva. Coçou os olhos para espantar o resquício de sono e reestabelecer sua função. Percebeu que estava sozinha e se questionou se aquele dia tinha sido apenas uma alucinação da sua cabeça. Ela suspirou, nitidamente frustrada, e apoiou as mãos na grama para levantar-se. Notou uma movimentação estranha na água e observando direito percebeu que haviam roupas jogadas no chão à beira do lago. Ela se ajoelhou ao lado do pequeno monte e cautelosamente puxou uma peça amarela que reconheceu imediatamente como o colete de Bill. Vasculhou um pouco mais as roupas e encontrou um par de calças que, ao serem retiradas do lugar, derrubaram uma indumentária íntima masculina na cor branca. Seu rosto ruborizou imediatamente e ela soltou todas as roupas, caindo para trás envergonhada.

Um borbulhar se iniciou na água e Bill emergiu logo em seguida, jogando as madeixas molhados para trás com um semblante sério e muito sedutor para qualquer garota — ou garoto. O belo rapaz percebeu que sua companhia despertara e acenou com um enorme sorriso estampado em seu rosto. Nadou em direção à borda, expondo cada vez mais seu corpo que parecia esculpido pelas mãos de artistas renascentistas de tão perfeito que era. Mabel permaneceu em estase, sentindo apenas a pulsação descontrolada em seu peito. Quando a água batia na porção final do abdômen do loiro, já próximo à virilha, a garota o fez parar com um grito agudo.

— N-NÃO!

— O que foi?

— E-ESPERA UM POUCO - Ela recobrou o controle do seu corpo e levantou, dando alguns passos para longe do lago e virando de costas para Bill - A-agora você pode sair. Inclusive por que você estava nadando no lago?!

— Essa era uma das sensações que eu nunca tinha tido. "Nadar" - Ele saiu do lago e pegou suas vestes, colocando peça por peça - As vezes que possuí corpos humanos nunca foram para lazer, sempre trabalho, trabalho, trabalho. Nunca tive a chance de experimentar um banho ou coisas do tipo.

Mabel permaneceu em silêncio enquanto o ouvia, ainda vermelha como um tomate.

— Você tá agindo de um jeito meio estranho às vezes, tá tudo bem com você?

— Não tem como ninguém agir normal em uma situação assim!! Você não pode sair pelado por aí mostrando sua barriga definida, linda e perfeita reluzindo no sol poente com as gotas de água escorrendo de cima até embaixo. ATÉ BEEEM EMBAIXO.

— Ahn? - Bill terminou de se vestir e foi até o encontro da garota, parando em frente à ela.

— Espera aí... Como você está seco se acabou de sair do lago e nem tinha uma toalha?!

— Eu perdi meus poderes mas acho que ainda existem propriedades mágicas envolvidas comigo - Ele a olhou com um sorriso propositalmente sexy - Mas então... Você se sente atraída por mim?

— E QUEM NÃO SENTIRIA? Até o Dipper se sentiria, você é absurdamente lindo!

Mabel respondia aceleradamente e gesticulando bastante, demonstrando nervosismo mesmo com tanta sinceridade incluída. Bill interrompeu as ações desajeitadas dela segurando sua mão e puxando-a para perto dele. Quando seus corpos ficaram muito próximos ela perdeu a fala, surpreendida pela ação. Ele colocou a mão da garota por baixo do colete e da camisa branca que cobriam seu corpo, fazendo as pontas dos dedos dela deslizarem gentilmente sobre os músculos do seu abdômen.

— Eu também acho que você é muito bonita, Estrela Cadente. Não sei quanto tempo se passou desde que nos conhecemos mas você mudou muito - Ele tocou o lábio inferior dela com o polegar, deslizando de forma sutil do canto esquerdo ao direito.

— O que você...

Antes que pudesse terminar a frase o rapaz aproximou seu rosto, encostando seus lábios aos dela. Mabel sentiu a força em sua perna esvair e, alguns segundos depois do choque, se deixou levar pelo momento fechando os olhos e entregando-se àquele beijo. Os dois separaram um pouco seus lábios, de forma que ainda conseguiam sentir a respiração um do outro.

— Essa era outra sensação humana que eu ainda não conhecia... Uma troca com outra pessoa. Um beijo. Tão simples, mas tão... Interessante. Olha - Ele reposicionou a mão dela, que ainda segurava em sua barriga, levando-a até seu peito - É uma reação diferente e que eu ainda não tinha sentido.

Mabel puxou sua mão e afastou-se.

— Você não deveria me usar para conseguir descobrir sensações humanas, isso é errado.

— Hm? Mas eu achei que você se sentia atraída por mim, eu fiz algo errado por te beijar nessa condição?

— Você está descobrindo as sensações mas ainda não sabe NADA sobre sentimentos humanos. Menos ainda os sentimentos de uma mulher - Ela pegou sua cesta próxima à arvore onde adormeceram e suspirou, adentrando novamente a floresta - Eu vou voltar para a Cabana do Mistério.

— M-Mabel espera!

— O que foi?

— Eu realmente não sei e não estou entendendo nada do que está acontecendo agora. Mas... Será que você poderia me ensinar e me explicar?

Mabel sentiu um aperto em seu peito. Ela tocou os próprios lábios com as pontas dos dedos, lembrando da sensação do toque da boca do garoto, que ainda permanecia ali. Claro que sentia atração física por Bill,como ela mesma disse não tinha como não sentir, mas temia que essa atração se tornasse uma paixão. Existiam tantas variáveis nessa suposição que ela não conseguia se quer pensar em todas. Bill tentou destruir o mundo, ele era uma criatura cruel que só pensava em si, ele não era confiável, Dipper nunca aceitaria, ela nunca poderia falar para ninguém e, principalmente, voltaria para a Califórnia em breve e já estava cansada de romances curtos com paixões intensas. Seria mais uma história com final já prescrito. Durante o verão de 2012 em Gravity Falls ela fez um registro dos seus romances de verão e realizou que foram todos um fracasso. Se questionava se nesse verão a história de repetiria mais uma vez. Bill não sabia o que era paixão ou amor, aquele beijo era algo simples para ele, apenas uma experiência, enquanto para ela tinha um significado maior. Não naquele momento especificamente mas ela sabia que poderia ganhar um significado com o passar do tempo. Se ela topasse ensiná-lo sobre sentimentos humanos poderia acabar se aproximando demais e esquecendo quem ele realmente era.

— Mabel...?

A voz dele era forte sobre a garota e enfraquecia sua certeza de que manter distância era o ideal. No fundo ela sabia o que isso significava: já estava muito interessada nele.

— Tudo bem, eu vou te ensinar sobre sentimentos e relações humanas. MAS... "Isso pode ser um grande erro, mas é um risco que quero tomar" — Pensou. Ela virou e o encarou de baixo para cima - Você vai precisar de outra roupa. Eu sei que suas roupas são mágicas e blá blá blá, mas elas não são exatamente... Comuns. Acabariam chamando muita atenção.

— De quem?

— Das pessoas que você vai tentar entender e se relacionar amanhã! Eu tenho um plano, você vai precisar confiar em mim e seguir tudo o que digo.

Bill retirou seu chapéu e fez uma reverência, concordando com os termos impostos a ele.

— Amanhã te encontro no final da manhã no mesmo lugar de sempre.

Ela se distanciou até sumir da vista de Bill. Ele colocou a mão sobre o coração, apertando suas vestes, e sorriu com o canto dos lábios. "Até amanhã, Estrela Cadente".

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.