Beeeeep Beeeeep Beeeeep

Eu sempre odiei o despertador. O estúpido som, que me tira do meu mundo, das minhas ideias, do meu sono, para me trazer para uma realidade que eu não quero ter que suportar.

Fiquei observando o teto como se pudesse inventar algum tipo de coisa que me impedisse de ter que enfrentar o primeiro dia de aula. Infelizmente eu era boa com histórias, não com mentiras.

Então saio da cama relutante e lentamente, tentando aproveitar mais alguns segundos com o meu travesseiro e a minha amada cama. Suspiro desistindo, e caminho até o banheiro para fazer minha higiene pessoal.

Caminhar pelo meu quarto é, em geral, um desafio para outras pessoas. Elas olham para a bagunça de páginas e montes de livros pelo chão de madeira escura e pelo tapete azul e já preferem permanecer no batente da porta. Meu quarto é realmente desorganizado vendo de fora, apesar de eu saber onde está cada molécula. Desde meu cantinho perto da janela com o banco embutido que uso para ler, desde a minha estante gigante e maravilhosa lotada de livros incríveis e diferentes. De Anna e o beijo Francês de Stephanie Perkins até The Great Gatsby do Fitzgerald.

Conheço a escrivaninha pequena e branca em que passo a maior parte do tempo escrevendo, e tenho o maior caso de amor com a minha cama de casal maravilhosa no centro do quarto.

Tudo evidencia alguma coisa da minha identidade, sejam as fotos nos murais, os quadros de paisagens de minha mãe na parede, ou os livros pelo chão. Eu amo tudo a respeito desse lugar.

Quando desço a escada, sou imediatamente invadida pelo cheiro de panquecas – meu pai deve estar cozinhando então, minha mãe prefere não perder tempo com isso – e saltito até a cozinha repentinamente de bom humor. Ele devia fazer panquecas todos os dias, eu com certeza não reclamaria.

Chego rápido a cozinha e sento ao lado do meu irmão na ilha – é muito raro que usemos a sala de jantar, ela só é usada quando tem algum convidado em casa. Ele me olha e sorri enquanto belisca minhas bochechas. Jonathan adora fazer isso, argh.

— Animada para o primeiro dia irmãzinha? – pergunta em tom de deboche, mas sei que está falando sério.

Sinceramente? Não. Eu ficaria em casa escrevendo minha mais nova criação “ Moving On “ se pudesse. Mas olho para eu pai e sei que ele vai começar o discurso de sair para fora do quarto se eu desse a minha resposta sincera.

Então sorrio, tão debochada quanto e respondo:

— Muito animada irmãozinho – e ele sabe que não estou sendo sincera. Mas papai sorri e coloca algumas panquecas no meu prato.

— Fico feliz em saber Clary – meu pai responde por Jonathan.

Eu só tenho olhos para as panquecas agora, então não noto de imediato quando meu irmão começa a falar.

— Só espero que ela não arrume nenhuma encrenca com essa animação. Ainda me lembro quando Clary avançou na Camille no primeiro dia de aula do ano passado.

Maldito.

— Você sabe muito bem Jonathan, que ela provocou, e não sou obrigada a aceitar as provocações de uma – olhei para papai – pessoa com tão mal caráter como ela.

Ele riu.

— Vamos baixinha, não quero me atrasar para o primeiro dia – rápido como um relâmpago antes que eu deseje o que Jonathan aprontou no primeiro dia do ano passado.

Terminei as panquecas rápido, peguei minha mochila que deixei pronta no dia seguinte, e corri atrás de Jonathan mandando um beijo para meu pai que murmurava algo sobre nós nem pararmos para conversar hoje em dia.

Passei por minha mãe pintando na sala e sorri para ela enquanto ia até a porta da frente atrás de meu irmão.

Eu não estava preparada para o primeiro dia, muito menos estava animada. Mas entrei no carro e coloquei no celular “Highway to hell” do AC/DC. Jonathan só riu e acelerou.

Talvez nem fosse tão ruim assim.