PEV - Pokémon Estilo de Vida

Capítulo 10 – Despertar do pokémon guia


Pokémon Estilo de Vida
Saga 01 - Estilo de Profissões
Etapa 03 – Roger



Todos nós moramos numa casa de fogo,
sem bombeiros para chamar e sem saída.
Apenas a janela do andar de cima para olhar pra fora
enquanto o fogo queima toda a casa
com nós presos, trancados dentro dela!”

(Tenesse Willians)



Capítulo 10 – Despertar do pokémon guia



Roger estava parado no meio de uma estrada coberta de árvores. Era a saída de uma floresta e poucos metros depois, se seguisse em frente, estaria em um precipício. A noite estava começando a dar lugar ao dia , com o sol nascendo no mar, que ficava após o precipício. Estava a pelo menos quatro horas naquela estrada e não via a hora de alguém aparecer para acabar logo com tudo aquilo.

Estava exausto, nunca havia treinado e aprendido tanto sem que houvesse levado ao menos um soco para que se esforçasse mais. Seu pai provavelmente haveria lhe feito desmaiar umas dez vezes antes de lhe dizer que se virasse sozinho e desse a vez aos seus primos. Misty por outro lado fazia todo o treinamento junto a ele sem se estressar ou ameaçar agredi-lo e quando via que ele estava nas últimas forças dizia que ele poderia desistir e deixar sua família e os pokémon dominarem sua vida patética.

Ele sabia que era manipulação, mas aceitava porque queria ver até onde aquilo ia, queria ver até onde a ruiva fatal pretendia ir com ele naquele trato em que ela nada ganharia se ele não quisesse. Mas, admitia que a filosofia de Misty quanto aos pokémon mexia com ele.

“Todos os seres vivos tem personalidade e sentimentos. Não importa se são opostos, conecte-se a eles com respeito e honestidade e eles viraram uma extensão sua para qualquer vontade.” Era nisso que Misty acreditava e dizia que Roger estava sendo saco de pancadas por ele pensar em pokémon como seres irracionais e usá-los como armas. Usá-los exatamente como a família o usava.

Roger jamais escutaria Misty, ainda mais ao ser comparado a um pokémon. Teria matado-a se de alguma forma as palavras dela não o fizessem pensar. Existia uma lenda nos Países Livres que dizia que seu pokémon guardião, aquele nascido do ovo adquirido no desafio familiar, seria a extensão de seu corpo e vontade. Vulpix parecia a extensão de seu desgosto e amputação de seu corpo, mas via como outros faziam aquilo parecer verdade.

Havia dias que não acreditava que aquela praga de fogo, como costumava chamá-lo, era realmente seu pokémon guardião. Mas, a irmã um dia chegou com ele nos braços e disse que ele nascera do ovo que ela estava escondendo para que os primos não roubassem. Era engraçado que a última esperança de Roger fosse aquele Vulpix.

Talvez por isso ele aceitasse a ajuda de Misty, contra todas as chances. Quantas pessoas realmente haviam lhe estendido a mão até aquele momento? Principalmente depois de ter feito mal a ela! Tinha que ver até onde aquilo ia!



Para que servem as batalhas pokémon? Uma criatura idiota se atracando com outra mais idiota ainda é até uma visão interessante, falar que seres vivos não podem lutar uns contra os outros sem outra supervisionando é algo terrível. Uma plateia torcendo para um dos lados até pode empolgar e é perfeitamente aceitável, afinal quem não gosta de presenciar habilidades mortíferas sendo aplicadas. Sim! Batalhas são um entretenimento a parte para quem luta e quem assiste. Adoro bater nas pessoas, porque geralmente se eu não bato eu apanho.

Mas, para que servem as batalhas pokémon? Os pokémon parecem muito poderosos quando seguem seus instintos predatórios, pelo menos aqueles que os possuem. Eles ficam completamente fracos e retardados quando esperam que humanos digam a eles o que fazer. Humanos fracos, sem a menor chance de serem respeitados por si só arrumam criaturas fortes e escondem-se atrás delas dizendo que são poderosos. E outras pessoas aplaudem o fraco manipulador que posa de forte.

Tenho acreditado que as batalhas pokémon são apenas uma mostra do quanto a humanidade vive de aparências e são essas aparências que tornam-me ainda mais fraco. Sempre me senti como em uma casa em chamas. Trancado sem a possibilidade de conseguir escapar. Vendo o fogo consumir as coisas ao meu redor sabendo que logo serei o próximo. Tudo porque meus primos são mais velhos e mais fortes, mas acima de tudo mais habilidosos do que eu quando o assunto é pokémon. As habilidades que possuem deixam-me ainda mais rebaixado diante deles.

É revoltante, mas deixo de lado, que a humanidade dobre-se diante aos pokémon e seja tão facilmente iludidas por pessoas que dizem-se treinadores, ou qualquer outro ridículo nome dado, por pessoas que manipulam os pokémon fracos. O insuportável é que minha família que prega a dominação total faça esse tipo de coisa!

Sou surrado constantemente pelos meus primos por vários motivos diferentes, mas o favorito é por não compreender a importância dos pokémon como mecanismo de dominação. Meu pai vive me castigando pelo mesmo motivo e exige que eu me torne seu “Vingador” usando os pokémon como um verdadeiro Neet. São um bando de manipuladores que querem me manipular também. Por que eles acham que batalha pokémon é importante?



– Se existe uma força superior, ela os odeia! -



Disse Roger vendo dois rapazes aproximando-se pela estrada e deixando de lado todos aqueles questionamentos. Seriam suas vitimas testes, o desafio final do treinamento de Misty. Após todo os ensinamentos acelerados ele foi instruído a desafiar o primeiro que aparecesse naquela estrada e enfrentá-lo com o que aprendeu. Não precisava vencer, principalmente por estar exausto, precisava apenas ver os resultados do que aprendeu.

Roger aceitou apenas por ter visto que suas técnicas, durante o treinamento, beiravam habilidades de seus primos. Se aquilo o fizesse rivalizar com eles com um dia, já imaginava o que faria com mais tempo.

Mas, não acreditava que o primeiro humano a aparecer estaria acompanhado de um segundo. Teria de enfrentar os dois, principalmente porque Choc e Cowboy jamais se entenderiam.



Esses dois estavam me seguindo? Não imaginava isso. Terei de matá-los se as coisas saírem do controle. Acho que farei eles voarem. Roger olhou para trás, observando o penhasco e deu um sorriso malicioso. Sacou uma pokebola e esticou para frente, assim como fora ensinado a fazer por Misty. Um desafio honrado na forma clássica.



Cowboy e Choc estavam com um sorriso de satisfação no rosto que Roger não conseguiu entender bem o motivo. Não sabia que eles já estavam desesperançosos de encontrá-lo, já que aproximavam-se do litoral e faziam dois dias desde que começaram a caçada. Na cabeça da dupla se estavam rumando em direção ao litoral, ele já teria pego um barco e não havia a menor possibilidade de rastreá-los em alto mar.

A surpresa da pokebola erguida foi evidente. Um psicopata como aquele querendo um desafio honrado? Os dois se olharam e desmontaram de seus Tauros, pokémon quadrupede de grande porte com chifres logos, e sacaram pokebolas para aceitarem o desafio. Por alguns instantes tentaram encarar como um desafio formal, mas pretendiam massacrar o menino até que ele dissesse onde estava Misty. Só teriam que levar a batalha de forma calma e justa até o fim e depois fazê-lo pagar.

Choc e Cowboy ainda se olhavam. Ambos queriam lutar contra Roger e não estavam dispostos a deixar a oportunidade passar. No entanto, Cowboy ergueu a mão enfaixada que quase foi destruída durante a tortura. Choc queria enfrentá-lo para vingar-se do roubo do ingresso e de ter atacado dua esposa. No entanto, Cowboy havia sido muito mais humilhado e sua vida ficou por um fio. Se a batalha envolveria vingança, Cowboy tinha muito mais motivos.



– Se perder, jamais deixarei você esquecer disso! - Choc sorriu sarcasticamente enquanto guardando sua pokebola e fez sinal para seu Tauros segui-lo para uma posição mais afastada do área onde aconteceria a batalha.



Cowboy ignorou a fala. Não iria precisar de ninguém para lembrá-lo da derrota para aquele nanico, caso isso viesse a acontecer. A mão doía e tinha quase certeza que iria levar meses de fisioterapia para conseguir fazê-la trabalhar de alguma forma aceitável. Aquele garoto jamais sairia vivo daquela batalha, iria ser honrado durante a batalha e assim que eles estivesse liquidado iria fazê-lo pagar.



Os dois se encararam e então as pokebolas ganharam o ar ao mesmo tempo e de repente os pokémon surgiram. Pelo de Cowboy estava Ursaring, um pokémon do tipo normal de quase dois metros de altura, coberto de pelos marrons que andava tanto sobre as duas patas quanto sobe as quatro patas tinha uma aparência feroz e fitou de imediato seu adversário como seu inimigo. Roger escolhera Poliwhirl um pokémon aquático que estava medindo um pouco menos de um metro e meio, com punhos e pés brancos, como se usa-se luvas e botas, corpo azulado e olhos grandes, em sua barriga existia uma grande espiral.



– Comece com uma Pancada de Corpo! - Comandou Cowboy.



Roger franziu o cenho. Ali estava um dos motivos de não conseguir acompanhar seus primos e que Misty o explicou, mas nada pode fazer por ele quanto aquilo. Quase metade dos treinadores no mundo usava os nomes dos movimentos em português, enquanto Roger que era Artoniano e descendente dos Países Livres usava em inglês. Era uma questão cultural que fazia uma diferença enorme para o treinador conseguir proteger-se ou não. Existiam países que usavam outras línguas em seus comandos, mas as duas que predominavam eram o português e inglês, sendo que dificilmente um treinador conhecia as duas línguas na hora de dar os comandos.

Naquele caso Pancada de Corpo era o Body Slam. O pokémon usuário favorecia-se de seu grande corpo e jogava-se contra seu adversário, deixando gravidade, velocidade, seu peso e tamanho juntarem-se em um golpe simples e poderoso.

Poliwhirll escapou sozinho da técnica, não era um pokémon bobo. Assim que saltou para o lado olhou para seu treinador e vendo que ele ainda não havia comandado algo usou Bolhas para acertar seu adversário e tentar retardar a próxima ação dele.

Isso era o que Roger esperava de Vulpix, se não recebesse comando faça o que achar melhor sem que isso signifique fazê-lo mudar completamente o raciocínio da luta. Desde que era apenas um pequeno Poliwag aquele pokémon de água já tinha essa consciência de não seja acertado, continue a luta até que receba um comando mais preciso. Talvez por esse pokémon ser um dos iniciais de Arton e tenha sido preparado justamente para ajudar seu treinador que normalmente seria um iniciante e estaria precisando de toda a ajuda possível.



– Ele ainda está perto o suficiente, Ataque fúria! - O comando de Cowboy surpreendeu ainda mais Roger.



Roger poderia não saber os nomes em português dos ataques, mas entendeu assim que Ursaring começou a usar o movimento que seu pokémon seria acertado por um pokémon altamente agressivo diversas vezes em uma velocidade bem grande. A surpresa ficou por ter escutado diversas vezes que aquele golpe era idiota demais para um treinador. Ao final o pokémon estaria cansado e com a guarda bem aberta para levar um bom golpe.

Roger esperou vendo as garras de Ursaring atingir seu pokémon como se fosse retalhá-lo e finalmente viu o momento em que parou.



– Agora use Brick Breack! -



Roger comandou, mas Poliwhirl estava muito surrado para realizar o movimento tão rapidamente. Viu o corpo dele tremer e o corpo tentar endireitar-se. Estava de pé, mas ainda não havia como atacar. E então começou a aproximar de seu adversário posicionando o braço direito de forma a aplicar o golpe.



– Use o Força e segure o golpe. - Disse Cowboy sorrindo vendo que seu pokémon poderia dar conta daquela velocidade nula, mesmo cansado.



As patas de Ursaring direcionaram-se e seguraram o golpe dado pelo pokémon adversário. Foi um movimento rápido e limpo. Enquanto Brick Break, um movimento lutador que consistia em um golpe forte contra o seu alvo, como se ele fosse quebrar algo com os punhos, era aplicado, o pokémon do tipo normal usou a técnica Força, que era usada para empurrar as coisas normalmente, e segurou o golpe que estava sendo-lhe aplicado.



– Você não é treinador seu invasorzinho de uma figa. Escolhe golpes fortes apenas para serem usados como se fosse uma arma. - Cowboy estava confiante. - Aproveite que está segurando-o e faça Tacada Sísmica. -



Roger viu as patas de Ursaring se reposicionarem no braço de seu pokémon e de repente ele foi içado no ar, fazendo um arco e jogado no chão do outro lado, com extrema força.



Ele viu o que Misty falou. Não luto como treinador, por melhor que sejam meus comandos ou combinações, se eu enfrentar alguém com um pouco de experiência eles verão que são meus pokémon que lutam. Só os uso como armas, não os conheço ou não sigo estratégias para o combate. Roger fechou os punhos irritado. Respirava fundo e pesadamente mostrando toda a irritação.



– Então quer que eu lute a sério? - Debochou Roger. - Vamos ver se gosta disso! -



Roger não tinha escolhas a não ser usar o que aprendeu com Misty. A mulher havia lhe dito para usar as habilidades naturais dos pokémon a seu favor junto com os comandos que desse. Não importava o quão experiente o seu adversário fosse, mesmo mestres não podiam anular completamente as habilidades naturais de um pokémon, e enquanto ele lidava com as habilidades naturais o alvo estaria livre para bons golpes que aumentassem sua vantagem e não que tentassem finalizar a luta.

Brick Break foi uma tentativa de finalizar a luta com um único movimento. Foi como usar Poliwhirl como uma espécie de taco de beisebol para dar fim ao seu adversário. Roger entendia o conceito, mas a pergunta ainda permaneceria na sua cabeça, para que enrolar se poderia derrubá-lo de uma vez? Por que uma batalha pokémon se o objetivo era destruir?



– Rain Dance! -



Poliwhirl olhou surpreso para seu treinador. Era a primeira vez que um comando como aquele era dado em meio a uma batalha. Até imaginava o que viria a seguir, mas nunca imaginou que chegaria o momento em que usaria algo como aquilo. Fechou os punhos cheio de confiança saltando para trás e iniciou o movimento pedido, que nada mais era do que a Dança da Chuva. Um movimento muito simples, ainda mais por haver nuvens carregadas não muito longe dali.

Ursaring até tentou atrapalhar, mas seu treinador preferiu aguardar. Aquilo seria interessante. Estava claro que Roger não era treinador e que a batalha já tinha seu vencedor, mas estava curioso quanto ao que ele faria para lutar a sério. Desde o momento em que bateu os olhos nele enquanto estava de ponta cabeça e sendo torturado, viu que ele não tinha cara de treinador e quando fugiu sem levar nenhum pokémon ficou claro que não entendia nada de pokémon. Neste momento estava para usar algum recurso interessante e que acreditava ser o suficiente para derrotá-lo, talvez aquele fosse o único movimento que conhecesse para casos extremos como aquele.

Uma leve chuva começou e o pokémon aquático sorriu abertamente. Escutou o comando Water Gun e o fez de imediato. Ursaring desviou com um paço para o lado e sentiu que seus movimentos ficaram lentos. Olhou para o chão, bem como Cowboy e pode ver lama já se formando naquele solo de terra batida.



– A chuva esta caindo forte acima de nós, a copa das arvores neste final de floresta está retendo bem a água, mas quando ela escorre vai se acumulando no solo. - Gritou Choc. - Os pokémon se locomoverão com dificuldades na lama. -



– Cale a boca! - Gritou Cowboy que logo após deu uma risada.



O movimento era realmente eficiente para o momento. Ursaring era muito de movimentos físicos enquanto Poliwhirl poderia atacar com uma variedade de golpes a media e longa distancia com os movimentos contidos pela lama, fosse uma lentidão ou uma possibilidade de escorregar, a vantagem começava a mudar de lado. Seriam poucos os pokémon que não perderiam mobilidade na lama, se não estivessem já treinados para o mesmo.



– Water Pulse! - Comandou Roger.



Aquele sim era uma jogada de treinador e Cowboy admitiu que aquilo era uma boa estratégia. Com a chuva caindo o golpe Water Pulse, que reunia a água em volta para fazer um forte ataque fazendo as águas pulsarem contra o adversário, ganhava uma força bem maior. Ursaring tentou defender-se, mas foi jogado contra uma arvore e sentiu-se zonzo por alguns instantes.

Havia mais, Cowboy percebia que a água que molhava o adversário parecia estar o reabilitando. Então o pokémon tinha uma habilidade natural para absorver a água e assim recuperar-se.

Aquila era a habilidade natural que Misty ensinara-o a usá-lo. Roger nunca soube que era preciso ativá-la ou sequer sabia que existia. Mas, a maioria das pessoas acha que o pokémon o fará por conta própria. Desta vez Poliwhirl havia sido induzido a ativar sua habilidade.

A chuva que caia o ajudaria a recuperar-se, apesar dos mais céticos acharem que aquilo precisava de outro tipo de habilidade. Era uma discussão que mesmo com estudos práticos nem sempre eram tão conclusivos. Mas, para Misty bastava que o pokémon entrasse em contato com água que começaria a se recuperar de tempos em tempos. O Ponto fraco de todo aquele esquema era se o adversário fosse mais rápido do que a capacidade de recuperação do pokémon na água.



– Acho que vou mostrar para você como se faz um golpe definitivo.- Cowboy Sorriu. - Hiper Raio! -



Ursaring que estava apoiado na arvore rugiu como se sua vida dependesse daquilo e posicionou-se abrindo sua boca e disparando um raio de coloração amarela e laranja na direção de Poliwhirl que jogou-se para o lado e viu o raio começou a passar a centímetros de onde estava, mas, de repente Ursaring re posicionou a cabeça e o raio foi contra ele.

Roger viu o pokémon desmaiar e entendeu o que Misty queria dizer com que as chances de vencer seriam minimas. Aquela batalha era para testar suas habilidades na batalha, mas foi advertido que certamente não venceria. Que sua última tarefa era aprender com a derrota.



Não existe nada para se aprender com a derrota! Os olhos de Roger foram ficando cheio de ódio recolheu seu pokémon aquático ao mesmo tempo que a chuva ia parando e logo sacou outra pokebola liberando Vulpix.



Vulpix surgiu e Cowboy o reconheceu no mesmo instante. Aquele pokémon de pelugem marrom avermelhada com cicatriz que invadiu sua casa e derrubou o Tauros de Choc. Deveria ser o mais forte dele. Poliwhirl havia ido bem na opinião de Cowboy e Choc e isso significava redobrar a atenção.



Se for realmente o mais forte e esse olhar irritado for genuinamente dele, vai por fogo na floresta. Mesmo em uma batalha honrosa que ele mesmo pediu, seja lá qual for o motivo, ele poderia colocar fogo na floresta. Não posso permitir! Cowboy estava atento a todos os movimentos, levando a batalha muito a sério. Não entendia os motivos de uma batalha honrosa, mas não importava muito. A única pergunta que queria fazer era sobre o paradeiro de Misty.



Cowboy recolheu seu pokémon e fez sinal para que Tauros fosse a frente. Se Vulpix era o mais forte de Roger usaria seu mais forte também. Os pokémon se encararam bem como seus treinadores. A tensão ficou no ar e Choc sentiu que esse seria o fim.



– Estouro da Manada! -



Roger assustou-se ao ver Tauros e uma grande quantidade de pokémon investir contra Vulpix e ele. A Lama que deveria reduzir sua velocidade parecia nem estar ali e percebeu que aquele pokémon era muito bem treinado. Tentou fingir não temer, afinal deveriam ser apenas copias, mas sentiu o chão tremer e por um instante duvidou. Viu Vulpix ser pisoteado e os pokémon seguirem em sua direção. Deu dois passos para trás, mas viu o pokemon parar a centímetros dele.



– Acabou, projeto de psicopata! - Disse Cowboy olhando-o nos olhos assustados de seu adversário. - Onde está a mulher que sequestrou? -



Roger estava parado sem se mexer. Tauros estava tão perto que sentia a respiração do pokémon. Enquanto o seu estava gemendo no chão sem conseguir mexer-se após ter sido pisoteado. Não fosse o perigo de Tauros tão próximo, iria caminhar até Vulpix para ensiná-lo a lutar. Era seu pokémon mais antigo, seu pokémon guia, e ainda assim não tinha a capacidade de defender-se.



– Tauros! -



Um comando e Tauros abaixou a cabeça em claro movimento de ataque. Choc arregalou os olhos. Tinha certeza que o cunhado não estava blefando. Não precisaria de muito para que o garoto fosse lançado do desfiladeiro. Ia dizer algo quando escutou um barulho vindo da mochila. Reconheceu seu celular que já deveria estar sem bateria.



– Onde está a mulher? - Questionou Cowboy fortemente fazendo Tauros agitar-se e preparar-se para atacar, especialmente ao ver dois passos temerosos de Roger sendo dados.



– Espere! - Choc gritou com o celular em mãos. - Dalia disse que Misty chegou lá dizendo que foi libertada após a chuva e que decidiu voltar para a fazenda. - Choc pareceu incerto. - Misty era quem te visitava? -



Cowboy estava surpreso, mas não tirou os olhos de Roger que não esboçou nada quanto aquilo. Misty resolveu voltar com o carro roubado para a fazenda para tentar evitar ter seu nome estampado nos jornais. Roger deixou-a ir e naquele momento desconfiava que não deveria ter deixado.



– Vamos amarrá-lo e levá-lo conosco. - Disse Choc e viu que Tauros pareceu atender seu pedido antes mesmo que seu treinador.



Por alguns instantes apenas os cascos de Tauros caminhando na lama podiam ser escutados. Choc guardava o celular aliviado por não ter presenciado o assassinato do jovem. Vulpix ainda gemia baixinho, caído no chão, mas era quase inaudível, ele próprio sabia que quanto mais alto gemesse, mais apanharia posteriormente. Roger ainda parecia perplexo com o ocorrido. Sua vida ficou nas mãos de outra pessoa que parecia tão habilidoso quanto seus primos, mas aparentemente não tão cruel.



– Bem... - Cowboy quebrou o silêncio quando viu seu pokémon passar pelo ferido Vulpix. - Minha mão não tem capacidade de perdoar! Estouro da Manada! -



– Não! - Choc tentou reagir, mas era tarde para fazer algo.



O Tauro de Cowboy girou rapidamente em torno de si e abaixou o chifre e logo levantando-o em um movimento forte jogando Vulpix para o alto em direção a Roger que nem olhou para onde o pokémon cairia, apenas conseguia observar a trajetória que o pokémon vinha. Pretendia escapar. Mas, o golpe tratava-se de inúmeros pokémon atacando juntos e não havia para onde correr. Vulpix caiu do desfiladeiro e logo em seguida Roger era acertado pelos Tauros que o lançavam com força para trás fazendo-o também cair do desfiladeiro.



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– Já vai! Já vai! -



A porta estava sendo esmurrada e não eram nem oito da manhã. Maya odiava aquilo, já tinha falado várias vezes para os empregados que domingo não precisavam chamá-la para o café da manhã que ela não iria levantar antes das nove. Ainda mais depois de ficar vendo filme com o irmão e Riley até tarde.

Maya abriu a porta o suficiente para vem quem era, pronta para praguejar com um dos serviçais quando viu um garoto mirrado com um roxeado em mais da metade da face. Ficou perplexa, o irmão vivia sendo espancado, mas nenhum dos primos estava ali havia meses. Não poderiam ter voltado no meio da madrugada e simplesmente atacado-o.



– Eu dormi por quantos dias? - Maya perguntou um pouco incerta. - Meu irmão gêmeo, não idêntico, aparece com o rosto deformado. - Maya parou por alguns instantes. - Está tentando ficar mais diferente, acha mesmo que precisa? -



Maya ficou parada a porta observando surpresa para seu irmão gêmeo não idêntico. Ninguém dizia que eles eram gêmeos. Chegavam a ser maldosos dizendo que um deles era adotado, sendo que não precisava de muito para entender que Roger era o suposto adotado. Mas, eram irmãos Neet. Nascidos da mesma mãe, no mesmo dia. Enquanto Roger puxara o pai, com olhos escuros bem como o cabelo, puxando apenas a altura baixa da mãe. Maya puxara completamente a mãe, com cabelos loiros, olhos esverdeados e a altura baixa, mas que chegava ser maior que o irmão. Gêmeos não idênticos em tudo.



– Engraçadinha! - Disse Roger em tom debochoso.



Desde que havia perdido o desafio familiar as coisas haviam melhorado para Roger. Curou-se em companhia da irmã, Maya, e da prima Riley. Estudaram e brincaram juntos por mais de um ano. Roger treinou nesse meio tempo, quase que obrigado pelo pai. Além de ter apanhado bastante em eventuais visita de um dos primos. Mas, considerava-se feliz até a noite passada.



– O que aconteceu com você? - Maya questionou. - Já é difícil as pessoas acreditarem que somos gêmeos e você ainda se deforma desse jeito. -



– Você! - Disse ele segurando a irritação. - Você é culpada disso! Papai chegou hoje cedo e eu fui todo animado mostrar para ele o pokémon que saíra do ovo. Ele olhou o pokémon e me deu um soco que eu voei quase dez metros. - Ele pausou evitando que a irmã tocasse em sua face ao perceber que ela ficara assustada. - Disse que se eu tornar a mentir irá me trancar na masmorra até aprender a diferenciar um ovo de fogo de um ovo voador. - Ele encarou a irmã. - Por que mentiu pra mim? -



Levou um ano para o famoso ovo do desafio familiar que correspondia a Roger Neet chocar. No entanto, ele não viu isso acontecer. A irmã havia escondido o ovo enquanto Roger se recuperava para que ninguém fizesse mal a ele. Mas, não podiam esconder o ovo próximo de onde estavam então ela enviou para um criador pokémon. Após os ovos dos primos chocarem, Maya apresentou a ele Vulpix, dizendo que ovo havia chocado.

Roger não se sentiu apegado a Vulpix, mas estava feliz por ter um pokémon de fogo, já que era um dos tipos poderosos e que tinha vantagem contra o dos primos. Mas, quando o pai voltou de viagem e ele mostrou parecia não ter acreditado que Vulpix saíra realmente daquele ovo.



– Não confia em mim? - Perguntou Maya um pouco desapontada. - Sabe que eu gastei toda minha mesada todo aquele tempo mantendo seu ovo de pokémon guia num criador pokémon secreto para você ter uma chance. Por que eu entregaria um pokémon guia falso? -



Roger se calou. Adorava a irmã e ela era a única que a ajudava-o. Não podia acusá-la de traí-lo ou enganá-lo. Mesmo que ela fizesse tal coisa sabia que era para ajudá-lo. O jovem Roger suspirou fundo batendo com a cabeça na parede de forma lenta e leve. Tentando pensar um pouco em tudo aquilo.

Sua irmã tinha esperanças de que ele pudesse reverter o destino que estava traçado para ele. Ele havia perdido o desafio familiar, mas podia pedir uma revanche. Bastava roubar os pokémon guia de todos de sua geração que participaram do desafio do líder. Não era comum isso ocorrer, mas havia essa chance. Maya sabia disso e protegera o pokémon guia do irmão o quanto pode.

Pela cabeça de Roger passou a ideia de que a irmã ainda estava com seu pokémon guia, mas acabou deixando aquela ideia de lado. Seria caro demais mantê-lo com um criador e ainda assim ele não tinha habilidade nenhuma com pokémon. Seria sim uma artimanha digna de aplausos, Os primos veriam um Vulpix e lidariam com o vulpix enquanto o guia verdadeiro era preparado. A irmã não poderia pensar em algo como aquilo.

Os ovos pokémon não tinham ciência exata. Os ovos eram classificados pelo tipo de pokémon e não quanto a espécie que seus pais eram. De um ovo voador tendia-se a sair um pokémon voador da espécie de seus país, mas poderia, assim era a estatística. Mas, sair um pokémon de fogo de um ovo voador era impossível. No entanto, quem realmente conhecia os ovos apenas de vê-lo? Ele sequer viu o seu e seu pai poderia tê-lo não visto também, já que foi entregue a Maya ao final do desafio. Teria o pai se enganado?



– Desculpe-me! - Disse ele. - Não era minha intenção ser idiota... é só que... -



– Eu nunca faria nada para te ferir irmãozinho. - Disse Maya sorrindo para ele. - Papai bate nos dois. Então só temos um ao outro. Se levantarmos a mão um par o outro, quem nós teríamos? - Ela sorriu. - Somos nós dois contra o mundo, lembra? -



Roger sorriu para a irmã, logo depois fazendo uma careta de dor por causa da face roxeada pelo soco.



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Era estranho como estava meio que flutuando no ar. Sentia uma dor tão grande no corpo que se perguntava se era tão demorado assim cair para a morte. Já tinha até sonhado com o dia em que apanhou do pai por causa de seu pokémon guia estúpido. Abriu os olhos e então viu que estava sendo segurado. Pelas garras da pata direita de um estranho e gigante pokémon. Não o conhecia, mas não temeu. Sentia-se seguro ali.

Arriscou uma olhada para o lado e viu Vulpix sendo carregado na pata esquerda e quando olhou para trás viu o desfiladeiro afastando-se com Cowboy e choc olhando, talvez absortos, Roger afastando-se sendo levado por um estranho pokémon que o salvara após ele e Vulpix serem jogados do desfiladeiro.

Roger fechou os olhos. Não tinha medo. De alguma forma ele sabia que não precisava ter medo. Quando voltou a abri-los, estava em cima de corais. Ainda via terra firme, bem ao longe. Deitado nas pedras ele sentou-se e viu Vulpix adormecido próximo dele e o gigante pokémon voador que os salvou fazendo-lhes sombra. Pela posição do sol não deveria ser nem oito horas ainda, mas não importava quanto tempo havia ficado desacordado importava quem era aquele pokémon.

Levantou-se e o encarou por alguns instantes. O pokémon parecia fazer o mesmo. O mesmo olhar intenso vinha dos dois, o mesmo olhar duvidoso vinha dos dois. No entanto, não parecia que nenhum dos dois tinha medo um do outro. Parecia que esperava que algo fosse dito ou sinalizado para que confirmassem algo, mas nenhum dos dois parecia saber o que.



– Noivern? A evolução do Noibat? - Perguntou Roger, mais para si mesmo, com uma expressão de quem parecia tentar assimilar o que estava acontecendo.



Era um pokémon com mais de um metro e meio de altura, pelos escuros por quase todo o corpo. Asas junto aos braços e nelas garras vermelhas como nos pés. As asas eram roxas, bem como o peitoral. Havia uma pelugem branca em volta do pescoço, bem abundante. Havia um protuberância em forma de V na cabeça, de cor vermelha. Grandes orelhas, bem juntas no topo da cabeça e um rabo alongado que parecia possuir espinhas em sua ponta. Era um pokémon voador com traços draconianos.



– Meu guia! - Disse Roger abrindo um sorriso de prazer e confirmação que logo foi seguido pelo pokémon.



Roger tinha certeza que aquele era seu pokémon guia. Certamente a irmã havia escondido-o para que os primos no o encontrassem. Onde ela o escondeu, não importava. Por que ele já estava tão evoluído e forte, não importava. Apenas que ele estava ali, havia salvo sua vida e agora tinha o conhecimento para usá-lo como um treinador e não uma arma.

Sentia a lenda acontecendo diante de seus olhos. Seu pokémon guardião iria protegê-lo não importa o quão longe estivesse e não importava do quê. Mesmo que estivesse morrendo. Ele veio a seu socorro quando tudo estava perdido.

Misty estava certa. Havia conhecimento na derrota. Não tivesse sido derrotado nunca teria visto que Vulpix não era seu pokémon guardião. Mesmo o pai dizendo que era para nascer algo voador daquele ovo e que o conhecimento de um treinador faria diferença real em sua vida se quisesse cumprir seus objetivos.



– Juntos vamos mudar nosso destino, Noiver! Enfrentaremos meus primos, roubaremos seus pokémon guias e mataremos o campeão! -



Roger disse aquilo e pela primeira vez escutou uma resposta de um pokémon que ele tinha certeza ter entendido. Noiver guinchou alto quase que em uníssono com suas falas. Sentia a vibração vir do pokémon e pegou a pokebola para oficializar a parceria, mas então percebeu. Tinha pokebolas sobrando, mas não espaços.

Para não correr riscos andava sempre com quatro pokémon. Quando encontrasse os primos precisava pegar um pokémon de cada um e de posse dos dois invocar, imediatamente o desafio familiar. Mas, tinha que estar com eles consigo, não podia estar escondido ou guardo em algum lugar. Se vencesse e ele fosse teleportado por algum lugar, provavelmente para sua casa. Os primos chegariam primeiro em casa e recuperariam seus guias e o esforço teria sido inútil. Tinha que andar com quatro pokémon para poder roubar e levar consigo os pokémon roubados.

Ficou pensativo por alguns instantes. Duvidava que iria encontrar um dos dois nos próximos dias, então não parecia haver problema ter apenas um espaço sobrando por hora. Preparou-se para fazer a captura de Noivern e então sentiu uma lambida em sua perna. Olhou para baixo e viu Vulpix surrado tentando ficar de pé.

Ficou olhando para ele durante algum tempo. Ainda tinha o sorrido que surgiu em seu rosto pela constatação de Noivern ser seu pokémon guia. Sentia a ligação com o pokémon recém-chegado, o que nunca sentiu com Vulpix.

Guardou a pokebola por alguns instantes. Abaixou-se pegando Vulpix no colo, como nunca havia feito antes e acariciou sua cabeça enquanto o pokémon raposa parecendo surpreso aninhava-se no colo do rapaz.



– Vamos fazer tudo o que falei... - Abraçou o pokémon um pouco mais firme com o braço esquerdo, enquanto o direito ainda acariciava a cabeça. - Mas, sem você! - Um movimento rápido com a mão direita foi feito e o som de algo quebrando foi escutado.



Roger abriu os braços e Vulpix caiu nos corais, sem se mexer ou esboçar nenhuma reação. Imóvel o pokémon permaneceu ali até ser chutado para dentro do mar, onde o corpo boiou por alguns instantes antes de começar a afundar até desaparecer em meio ao oceano.