PARADOXO - Seson 3

Capitulo 25 - Escrito Nas Estrelas - Parte I


WALLY

Para um velocista o mundo inteiro pode ser do tamanho de um simples bairro. Nós podemos literalmente estar em dois lugares ao mesmo tempo, por vezes nos dividir em mais de um. Somos basicamente o Jutsu de multiplicação do Naruto versão velocidade da luz. Mas minhas pernas não são a única parte do meu corpo que possuem velocidade aprimorada, o que na maior parte do tempo é uma grande merda.

Ao acordar ao lado da minha esposa, vejo minha filha brincando no berço pairando a cinco centímetros do colchão, envolta a uma luz laranja, meu cérebro começa a calcular quanto tempo até Sara acordar antes de mim um dia e ter um súbito ataque de maternidade exigindo que lhe conte o que sei sobre nossa garota, o que com meus poderes não é só uma mera estimativa, antes que pudesse me conter já tinha a quantidade exata de tempo. A cada dia o prazo se aperta um pouco mais.

—Oi princesa – murmuro me levantando da cama, os olhos completamente laranjas se apagam ao me ver, voltando ao chocolate tão semelhantes aos de Sara.

—Papai – sorri me estendendo os braços para que a tire de onde está.

—Pode flutuar para fora sem minha ajuda – comento a levantando e vou em direção ao banheiro. Nina apenas sacode a cabeça de forma fofa, se recusando. – O colo do papai é mais legal?

—O da mamãe, do papai, dá tia Lu... – dispara cantarolando, seguindo o nome dos meus amigos na ordem de preferência diária dela, dependendo de quanto Constantine a permita o fazer de boneca pessoal, ele pode competir até mesmo com Connor.

Os três primeiros sempre se mantêm, o que é um alívio por que não sou maduro o bastante para perder para o Tio Dam dela. Pego nossas escovas de dentes, coloco a minha na boca e ajudo com a dela, deixando fazer mais bagunça do que Sara aprovaria, mas a garota merece um pouco de diversão, e o único brinquedo que tem nessa casa é um mago ocultista que estranhamente curte crianças. Lavo seu rostinho com muito esforço, a essa altura ela já está impaciente, querendo descer e tocar o terror nessa casa irritante. Em seguida sofro o martírio de pentear seus cabelos com minha linda garotinha me manipulando descaradamente ao fazer caretas fingidas de dor, a parte triste é que sei que era drama e ainda assim fiquei à beira das lágrimas.

—Precisa terminar de se vestir para sair do quarto, mocinha! – a pego no meio do caminho enquanto corria a todo vapor em direção a porta só de calcinha, com um braço enfiado na blusa que tentava vestir nela.

—Não quero esse! – aponta para o shortinho em minha mão. – Aperta!

Aperta, é o mesmo de “não vou vestir, não insista”, começo a mostrar uma por uma das opções que ela tinha, o que me faz imaginar como os pais sem super velocidade se viram nessas horas. Finalmente ela escolhe uma sainha amarela de bolinhas brancas, o que me faria passar pela tortura de a colocar dentro de uma meia calça. Quase cinco minutos depois consigo sair do quarto com Nina nos braços e nós dois socialmente apresentáveis.

—Você, coloca o Bananão no chinelo, quando o assunto é me dar trabalho, sabia? – brinco a pendurando em meus ombros e escuto seu riso infantil em resposta.

Damian já estava no corredor nos esperando e entrego a criança para ele antes mesmo que um dos dois possa pensar em fazer isso. Aquela carranca pela manhã não me desce, e antes de chegarmos à porta do quarto de Lunna, ele já ria com Nina imitando um caminhão, o que fazia voar baba para todos os lados, mas ele não parece se importar com esse fato. Bom, considerando que meu bebê é uma versão potencializada da Isis, posso entender que não se importe com nada que a criança faça.

—Bom dia! – Connor saia de seu quarto com a paz matinal que faz todos nessa casa desejarem bater sua cabeça loura na parede. Faço careta em resposta e Dam o ignora sem se dar ao trabalho de responder.

Lunna vem atrás com sua arma flutuando ao seu lado. Ela resolveu chamar essa coisa de Totó, o que faz sentido ao ver os bastões conectados por linhas de eletricidade a seguindo como se fossem seu pet. Lu não faz mais do que simular um sorriso, como qualquer pessoa normal pela manhã, e ainda lança um olhar de repreensão ao Connor quando ele começa a assoviar feliz demais para o horário. Mas Nina se atrai por toda aquela alegria irritante e passa para os braços do padrinho, cantarolando enquanto ele assoviava.

—Só falta a Isis com pompons para completar o trio da alegria – Damian faz careta, olhando de lado para o cunhado e minha filha, que nos ignoravam como se fossemos baratas. – Minha sorte é que ela não é tão animada ao acordar.

—Isis tem todos os instintos assassinos do pai pela manhã, com o mesmo humor de Felicity ao abrir os olhos – murmuro esfregando o rosto. – Connor é que... Nem sei como descrever!

—Irritante – Lu responde prontamente enquanto entravamos na sala de treino. – Pensei em desenvolver algo que pode nos ajudar nas missões – ao mesmo tempo que ela falava Totó começa a mostrar hologramas e gráficos ao seu lado, ilustrando suas palavras. – Temos esses colares e sei que ajudam, mas se conseguisse colocar um banco de dados alimentado por algum computador eficiente em uma lente de contatos, vai...

—Isso pode ser como ter você ou Felicity nos fornecendo informações em campo – Dam se anima.

—Exato, mas vou precisar de ajuda – agora Totó mostra a planta do protótipo. – Talvez vocês dois possam trabalhar comigo nisso após o treino – sugere. – Isso pode ser útil quando formos finalmente enfrentar Abnegazar, Rath e Garth. Pensei também em colocar algo que nos permita ter acesso ao que o outro está vendo, isso seria perfeito tanto como uma arma tática, como para nos dar um pouco de paz de espírito em meio a todas essas missões separadas.

Era brilhante. Os gráficos estavam completamente detalhados, meu trabalho seria apenas montar as peças, com Damian seguindo as programações perfeitamente complicadas e únicas que Lunna havia feito. Não tenho ideia de como conseguiu criar algo assim tão rápido, Felicity entraria em combustão de tanto orgulho da aprendiz, como se ela precisasse de mais para se gabar da Lu.

—Por falar nisso, quando acha que Constantine vai enviar vocês dois para suas missões? – Damian nos olha apreensivo.

—Ele parece estar esperando algo de alguém para nos dizer o que vamos fazer – Lunna dá de ombros. – A parte boa, é que ganho tempo para melhorar meu controle com essa velocidade.

Ano 2048

A primeira vez que entrei em uma brecha temporal dentro da Força da Aceleração, estava apavorado. Em menos de vinte e quatro horas havia perdido meus pais e o mundo perdeu o Flash. Mas encontrei ajuda com as mesmas pessoas que me ampararam naquele tempo. Não posso virar as costas para um moleque que está enfrentando o mesmo que eu.

Viajar para o futuro é um pouco mais sufocante do que voltar no tempo costuma ser. O sentimento estranho de estar sendo puxado para outra frequência temporal enquanto meu corpo se move automaticamente em uma velocidade que chega a ser rápida até mesmo para mim, é como viver uma ressaca de tequila na velocidade da luz. Nada do que eu queira reviver tão cedo. Passei a ignorar as imagens temporais, isso não pode ser promissor de forma alguma, mas Bart tem dificuldade para se concentrar, ou simplesmente ceder a sua memória muscular, deixando seu corpo assumir o controle. A última barreira se rompe, nós havíamos chegado. O uniforme de Bart se retrai, a armadura externa se comprime até se tornar o emblema de raio em seu peito. Agora estava com o uniforme simples do Kid Flash.

—Qual é dessa armadura?

—Nem todos geram a própria velocidade, viajar no tempo é mais fácil para o senhor e o vô Barry – murmura como se estivesse sem fôlego. – O resto de nós não pode se quer abrir a Speed Force sem ajuda.

O garoto em uniforme amarelo e vermelho ao meu lado descansa suas mãos nos joelhos, exalando exaustão. Seus olhos perderam o foco e meio que espero que ele coloque a cabeça entre os joelhos em algum momento. Amparo seu corpo quando me sinto firme sobre minhas pernas e ele leva alguns minutos para se recuperar, gradativamente a cor volta para seu rosto e sinto que é seguro o soltar.

—Isso é sempre horrível! – reclama dando tapas na cabeça como se quisesse tirar água dos ouvidos. – Imagina fazer um portal? – solta uma risada seca.

Ele parece que vai ficar bem, então olho em volta pela primeira vez. Isso é como se Keystone estivesse tentando fazer um cosplay de Gotham, e com sucesso. Minha cidade está um lixão, o sol está avermelhado e não vejo uma alma viva nas ruas. O que diabos aconteceu aqui?

—Bart, o que é isso? – minha voz soa esganiçada pela falta de ar momentânea.

—Isso é o que restou – suspira chutando uma pedrinha a sua frente. – Superman e os dele estão completamente inutilizados – aponta para o céu vermelho. – Não temos mais lanternas e as Amazonas se fecharam em Themyssera, ordem dos deuses ou coisa assim. Depois que o senhor se foi, bem, papai e tio Dawn não puderam fazer muito antes de serem eliminados também – algo em seu rosto mudou, faz sentido que não esteja mais tão relaxado, mas Bart olha para os lados como se esperasse por alguém.

—Eles atuavam como velocistas? – as coisas parecem começar a girar em minha volta. – Don e Dawn?

—Gêmeos Tornado! – diz com um sorriso tenso me fazendo arregalar os olhos.

—Nome horrível!

—É, não é mesmo o melhor de todos – dá de ombros, seu humor havia transmutado de brilhante a depressivo, no instante em que rompemos a barreira temporal. – Vamos para um lugar seguro – diz isso prendendo os lábios em uma linha fina, com cara de quem está sofrendo tortura.

Quis dizer que aqui parecia ser bom o bastante, visto que não existia nada nem ninguém a nossa volta, mas quando ele recomeçou a correr só o que fiz foi acompanhar. Impulso parece um nome apropriado, visto que ele consegue largar em uma velocidade invejável para alguém da sua idade, por mais que perca gradativamente o ritmo enquanto avança, mas isso poderia ser treinado, deveria ter sido treinado. Ele cresceu com dois Flashs e uma dupla de nome ruim formada por seu pai e tio mais novo, esse pequeno problema não seria algo que qualquer West Allen, conhecidos pela manina de perfeição, deixaria passar.

Um milésimo de segundo, olhei para o lado, uma banca de jornal que parece ter sido largada às pressas, mas levando em conta que não foi saqueada isso significa que não tem muito tempo. Uma data 2048, eu não estava a mais do que dez anos no futuro, Don não pode ter sido um pai assim que sai do meu tempo, o moleque não tem nem dez anos ainda.

Por algum motivo o rosto contrariado de Lunna vem com toda força a minha mente. Detestei deixar meus dois melhores amigos daquela forma, mas Bart é família, não é? Isso não era exatamente uma escolha que passaria horas tomando. Mas por que meu corpo parece desejar correr na direção contrária agora?

Não tive tempo de reagir, nem mesmo o homem mais rápido do mundo é invulnerável a velocidade. Entramos em uma Star Labs desativada e só tive tempo de ver que não estava exatamente desativada, antes de ser atingido por uma rajada de energia vermelha. Thawne, o inesquecível Bananão. Esse desgraçado é feito uma maldita barata, deve ser capaz de sair ileso a um ataque nuclear.

Meu corpo parece estar sendo esticado de formas que não deveriam ser possíveis, para direções que não são naturais. Mas a dor física não é nada perto da revolta crescente em meu peito. Uma luz azulada me faz pensar em filmes ruins de terror que Sara e eu assistimos com os Hawke’s a alguns dias. Merda, prometo que se sair dessa eu nunca mais vou contrariar a Delphine.

—Acho que ele acordou – ah o som da insanidade, não pensei que escutaria ele novamente tão cedo. – Oi amigo!

— Thawne – respondo com minha voz mais firme do que esperado, o que o surpreende, mas travo o maxilar com a nova onda de dor, não gritaria, ele não teria esse prazer.

—Isso é tão nostálgico! – suspira como se estivesse emocionado. – Barry escolheu bem seu sucessor, vamos confessar que Tico e Teco não são grandes coisas.

Me forço a olhar em volta, estava em um laboratório, preso a uma mesa em formato de x. Meu corpo não estava realmente sendo esticado, mas essas algemas me prendendo devem reverter polaridade, por isso sinto tanta dor. A minha volta haviam celas de vidro, mas a dor não me permite focar a visão para entender o que estava dentro, e o que estava ao meu lado me impediu de qualquer outra coisa.

O garoto, estava em uma mesa como a minha. Mas seu rosto estava arruinado, a máscara rasgada e ensanguentada, revelando partes onde sua pele morena havia adquirido tons preocupantes de cinza. Todo o uniforme em trapos, partes de cabelos acobreados saiam por buracos em sua máscara, mesclados com sangue seco. Ele parece estar ali a meses e não minutos. Quando me viro novamente para Thawne percebo que ele não está só, ao seu lado um outro garoto idêntico ao que estava preso a mesa de tortura, usando um uniforme verde e preto, do mesmo modelo do Impulso.

—Claro, me perdi por um momento – Thawne percebe minha confusão e murmura com sua animação insana. – Entendo que pode ser complicado, mas vou apresentar seu sobrinho, Bart Allen – aponta para o garoto inconsciente na mesa. – Esse aqui é meu – gesticula em direção ao menino de verde, que desvia seus olhos quando o encaro. – Eu mesmo quem fiz!

—Quanto tempo eu estou aqui? – me obrigo a dizer, a voz novamente não transparecendo a dor sufocante que sentia. Ele olha para um canto acima, fora do meu alcance visual.

—Quinze minutos, sua recuperação é impressionante! – outro suspiro admirado, cara louco. – Mas entendo a confusão, como disse aquele é seu garoto, esse aqui é o meu – coloca a mão no ombro do menino que se encolhe de leve. – Em alguns anos Don vai se apaixonar por uma descendente minha, acredita nisso? – gargalha. – É como se o destino insistisse em nos manter unidos, Thawne e Allen, juntar as duas partes que foram separadas a tantos anos atrás.

—Ele não vai demorar - o garoto diz ao louco varrido, depois de tocar um comunicador em sua orelha. – O Flash deve ser preparado.

—Meu tempo com Wally foi o preço que cobrei! – vocifera Thawne. – Aquele maldito mago que aguarde!

O menino assente e desaparece por um corredor escuro. Me volto novamente para a mesa ao meu lado e fico imóvel esperando algum sinal de que o garoto preso estava vivo, meu corpo relaxa ao ver seu peito subir com dificuldade em um espaço de tempo preocupante. Preciso tirá-lo dali.

—Deixa eu ver se entendi, Thawne – começo transparecendo todo meu desprezo ao dizer seu nome. – Quem me buscou foi o seu garoto, visto que o meu não parece pronto para correr uma maratona, estou certo?

—Nunca me decepciona, West! – sorri mostrando toda a fileira de dentes alinhados, um pouco grandes demais para sua boca pequena comportar. – Barry não costuma fazer ligações tão rápidas...

—Então, quem é ele? – fecho os olhos, tentando me desligar da Speed Force, a fim de diminuir a dor, não é fácil, mas posso usar minha variável dela, é menos resistente a gravidade, mais densa e muito mais fácil de me perder, o que é preocupante pois não sinto minha âncora, o que me obrigo a não pensar a respeito, mas não tenho tantas opções no momento.

—Tad Thawne, o chamo de Inércia – o escuto responder, mas continuo a me concentrar. – Seu sobrinho veio do futuro em uma tentativa desesperada de impedir que você viesse para esse tempo, bom, não você que já está aqui – o desgraçado está se divertindo. – Isso não é tão importante, vamos focar no principal. Bart queria salvar o futuro, um mal que vocês Allen’s tem, a mania irritante de pensar que tudo é problema de vocês. Eu sabia disso e o interceptei ainda na Speed Force, uma coisa engraçada é que tirando a sua variável, qualquer outra é muito vulnerável a força negativa. Infelizmente ele já havia escondido Tico e Teco, então tive que ir procurar por mais um velocista disponível.

—Ele precisa ser solto, Thawne – suspiro. – Acho que até você entende o quanto torturar uma criança até a morte pode ser errado.

—Acha que o quero preso? – grita, quase soando ofendido, conto mentalmente até dez. -Sua filha, aquela pirralha irritante me obrigou a fazer isso! – um arrepio toma todo meu corpo. Filha? – Ela não tem seu sangue, mas herdou a mania irritante de vocês heroizinhos!

Ótimo, por isso não se meche com o tempo Wally, muita informação que não devemos receber. O garoto, preciso me focar no Bart, ele não vai sobreviver nesse estado. Mas não tenho tempo de dizer nada, Inercia ou sei lá o que volta com o homem mais feio que já vi. Era magro, magrelo a ponto de aparentar fragilidade, de um jeito que só vi pessoas doentes até então ficarem. Usava roupas de ninja verdes e com cabelos e barbas escuros e cumpridos demais pro meu gosto.

—Não tenho tempo para seus dramas, Thawne – esbraveja, e por algum motivo os dois velocistas se encolhem, aquele esqueleto ninja era ameaçador? – Preciso começar o ritual, consegue tirá-los daqui ou vou precisar usar magia pra isso também?

—Magia não é uma boa combinação para velocistas – Thawne murmura, nem sei por que o idiota está ensinando isso para alguém que claramente o amedronta. Bananão estupido!

—Que seja, não temos tempo!

O palitão acena com a mão e as coisas a nossa volta giram. Sinto a Speed Force me permitindo sair, o idiota acabou de me ajudar. As coisas perdem o foco, como uma TV com recepção ruim, quase como quando somos teleportados, mas muito mais desagradável. De repente estou no topo de um vulcão? Que merda, só falta um deles soltar uma risada maléfica e todo o quadro vai estar completo.

Congelo ao ver uma versão minha e do meu tio Barry cadavéricos e ressecados, amarrados a uma das paredes do vulcão. Como se toda a água de seus corpos tivesse sido drenada, mas os olhos verdes de meu tio ainda se prendem aos meus e consigo ver o desespero cortante neles. Bart flutuava para outro lado do vulcão, assim como eu, seriamos presos como eles. Grande D, em que merda colossal eu me meti dessa vez?

—Finalmente, nós poderemos unir vocês! – o palitão exclama feliz, olhando para o fundo do vulcão que agora começava a borbulhar, como se o respondesse.

—Pai – chamo, tio Barry era o que estava mais próximo. – Pai! – sua cabeça desidratada e cadavérica se ergue com esforço.

—Wally, precisa sair... – a voz é apenas um sopro, sem força ou vida. – Halo, ela...

—Espero que ela não venha – minha outra versão diz, com uma firmeza que não pertencia a aquele corpo beirando a morte. Barry suspira e se esforça para assentir.

As chamas começam a incomodar a esse ponto e sinto parte da minha máscara se desfazer com o calor. O uniforme do Bart também se derretia, prendendo a pele que começava a criar bolhas. O Palitão inicia um cântico macabro, e a lava parece dançar ao ritmo ruim que ele ditava.

A esse ponto já estava esperando pelo tal filme que se passa antes de morrer, acho que meu ingresso está praticamente pago quando uma luz primeiro vermelha, depois amarela, lança o Palitão para longe, só vejo Inercia aparecer por um segundo e me encarar com um desespero velado. Aquilo não parecia certo, aquele não é o rosto que se espera de um vilão, parece muito mais uma criança amedrontada.

Sem tempo para epifanias, aproveito a brecha que a Speed Force me cedeu e a distração enviada pelo Grande D e começo a vibrar, ao mesmo tempo que a luz amarela se intensificava. O outro Wally percebe meu movimento, mas seus olhos encaravam a movimentação acima cheio de preocupação. Assim que me solto, começo a correr pelas paredes e vibro nas amarras metálicas que prendiam Bart. Seus olhos tremulam, e vejo parte de uma pupila muito verde me encarar com o que só me parece ser esperança, sorrio e ele suspira antes de perder a consciência outra vez.

—Vai ficar seguro, garoto – murmuro correndo com ele nos braços. – Prometo que vai.

Assim que alcanço o topo do vulcão percebo a guerra que acontecia ali. A luz amarela vinha de uma garota em um uniforme branco com partes em preto e cinza. Ela atacava o Palitão de igual para igual. Atrás dela um Robin? Sério?

Esse Robin tinha suas costas coladas a da Batwoman, que não parece ser a Kate. Os dois enfrentavam Thawne, mas não vejo o Inercia por perto. Deixo Bart próximo a uma área que parece ser relativamente segura. E começo a voltar, quando me deparo com o Batman, com minha outra versão esquelética nos braços.

—Disse que não era uma boa ideia, West – sorrio ao reconhecer a voz grave e naturalmente arrogante. – Delphine disse que não era uma boa ideia! – respira fundo, deixando o outro Wally ao lado de Bart.

—Posso escutar o sermão em dois segundos? – ele assente, então volto e pego Barry, ele estava tão leve que quase tropeço ao correr de volta.

—Não, ele não perguntou de você – Dam murmurava com a mão no comunicador, o Batwing muito mais moderno do que o atual paira sobre nossas cabeças e somos aparentemente abduzidos feito vacas, flutuando para cima, deixando o Palitão e um Flash Reverso presos por cordas de luzes vermelhas. O futuro é mesmo estranho!

ISIS

Presente...

—Alguém viu o meu namorado? – passo pela cozinha onde encontro Sara sentada na banqueta com Nina brincado, enquanto Connor fritava alguma coisa no fogão.

—Está trancado com minha mulher e o marido da Sara na sala de treino – meu irmão não parecia muito feliz. – Achei melhor sair antes de me ver tentado a interromper aquela brutalidade que estão chamando de treino avançado I— não sabia se ria da cara de Con ou se prestava condolências.

—E você? – me sento ao lado de Sara brincando com as perninhas de Nina que ria como uma criança feliz deve sorrir.

—Cenas muito violentas para menores de idade – dá de ombros.

—Eles estão pegando pesado com Lu, não estão? - tento não pensar no porquê daquilo, Katoptris ainda não me mostrou nada do lugar que Wally esteve no futuro, não sei ainda o que fazer com essa sua ausência programada de informações, mas quero acreditar que quando necessário ela não vai me faltar como vem fazendo nesses últimos tempos.

‘Obrigada pelo voto de confiança.’ Seu tom era sarcástico, mas quem sou eu para falar do sarcasmo alheio, mesmo o sarcasmo sendo provavelmente uma parte minha que ela introduziu ao seu estilo.

—Qualquer dia desses vamos ter que colocar o braço dela de volta por cirurgia. Não sei quem está sendo mais linha dura, se o meu marido ou o Damian – Sara faz careta, apreciando aquilo tanto quanto meu irmão, e é o que faz minha espinha gelar. A Diggle é conhecida por ser prática e pouco sentimental, para um treino chegar a deixa-la chocada, significa algo absurdo.

—Hey família feliz, ou parte dela de qualquer forma –Dick passa pela porta da cozinha acompanhado de dois pestinhas adoráveis. Al solta da mão do pai e vem correndo pulando no meu colo.

—Oi Al! - o sobrinho do Dam estava um pouco mais pesado, talvez estivesse uns cinco centímetros mais alto também.

—A gente conheceu o Bisavó Alfred, ele é estranho e eu adorei! – Chloe passa por mim e para ao lado de Con olhando com interesse o que ele estava preparando no fogão. – Ele não cozinha muito bem.

—Acho que o Tim quebrou um dente com o cookie que ele fez ontem. –Dick dá rizada, Nina olha admirada para ele levantando os bracinhos pedindo colo.

—Sério filha?

—Sou irresistível – Grayson faz graça pegando Nina no colo e a rodopiando com ele, a garotinha sorria como se tivesse ganhado um brinquedo muito legal. –Mas baby, eu já sou comprometido, não quero iludir seu coraçãozinho. –Chloe faz um gesto de quem vai vomitar.

—Você não era melhor com Connor – Sara implica com ela a fazendo corar, e meu irmão se vira lhe dando uma piscadela, que só piora o rubor em seu rosto. – Uma hora isso passa. – Sara volta o olhar para filha. – Espero que sim.

—Está faltando algumas pessoas nesse grupinho – Grayson para ao meu lado apoiando Nina sobre o balcão.

—Estão em treinamento – mecho no cabelo de Al.

—Estão em um projeto de me fazer um jovem viúvo, isso sim – Connor coloca uma pilha enorme de waffles na nossa frente.

—Wally resolveu treinar a super velocidade da Lu? – Dick se interessa, o que é natural, ele é quase um mentor compulsivo.

—A velocidade dela é diferente da dele, parece ser ativada como uma defesa, um reflexo – começa a contar, focado na comida. – Wally disse que isso é por que ela não se foca direito.

—West é bem rígido – Dick dá um meio sorriso. – Nunca pensei que seria um treinador assim.

—Lu já está acostumada a isso – Sara murmura desanimada e Connor suspira com pesar.

Por mais carrancudo que Con estivesse era incrível como não deixava se levar por isso, diferente de mim que sempre fui um livro aberto. Meu irmão está focando toda sua frustração na comida que prepara, e por mais que odeie o que estão fazendo não vai impedir, no fundo todos nós tentamos não fazer a ligação do motivo real de tudo aquilo. Mas ele simplesmente resolveu dar apoio máximo aos treinamentos da esposa, mesmo quando não suporta se quer presenciá-los.

—Comida! – Wally grita da porta e o prato não estava mais a minha frente, na verdade até estava o que não se encontravam mais lá eram os waffles mesmos.

—Também queria, Wally. Precisa começar a considerar os outros, pelo amor de Deus, se quer deixou para sua filha! – e pela primeira vez vejo Lunna realmente irritada com algo, era assustador, uma veia pulsava em seu pescoço.

—Sinistro – Sara olha boquiaberta.

Os dois passaram pela porta como dois borrões seguidos por raios vermelhos e amarelos e agora o tom prateado de Lunna. Dick encara minha cunhada como sempre, sem ligar nem um pouco com o humor nada convidativo dela. Sua sorte era ter Nina em seus braços quando se curvou para cumprimenta-la. O semblante da Lu se amenizou imediatamente, se tornando gentil como de costume enquanto recebia um abraço dos dois.

—Vai ter que ser mais rápida, se quiser disputar comida com o Wally – Dam passa pela porta segundos depois, seus braços tinham tons estranhos de roxo em vários lugares. Expostos pela camiseta sem mangas, cavada um pouco mais que o necessário que ele estava usando. Se virasse de lado eu poderia ver seu abdômen trincado, não que isso seja importante agora, é só uma observação.

—Acho que esse treinamento está sendo muito perigoso – lhe dou um selinho leve com medo de machuca-lo ainda mais. –Esses dois tem o fator de cura acelerado, você sabe, não é?

— Eu ficaria bem com um pouco desse fator de cura – Sara aperta a costela onde Antíope a havia deixado uma lembrança. Percebo Nina desviar a atenção da madrinha e encarar a mãe com real interesse e um olhar nada infantil, antes de ter sua atenção desviada para Grayson e Lunna outra vez.

—Estou começando a pensar que tem mesmo – Connor diz a amiga. – Nunca vi costelas regenerarem tão rapidamente, e olha que já quebrei quase todas as minhas, mesmo com o soro da Cait, não conseguia burlar no mínimo quatro dias de molho. Você já está de pé!

—Lunna é uma boa enfermeira – Sara responde ao meu irmão que abre um sorriso sacana que atrai de imediata a atenção do meu cunhado presente, fazendo ele e Connor se encararem com um divertimento doentio. Homens!

—Já apaguei Connor por dois dias uma vez que errei a dosagem da anestesia – Lunna conta distraída, enquanto analisava um holograma mostrado por sua arma.

—Sorte a sua, ele era um porre quando precisava ficar de molho – Sara solta em tom de deboche, mas Con não parece nada ofendido. Me desprendo da conversa problemática dos três amigos e me volto para meu namorado.

— Está tudo bem – Dam sorri um sorriso estilo Dick Grayson, e tenho que segurar um suspiro na garganta, e ele uma careta de dor ao tentar rir da minha cara. – Você trouxe os pestinhas Gordon-Grayson, até que enfim! – se vira para o irmão que o cumprimenta com um aperto de mão e uma batia de ombro, que se meu namorado não fosse tão durão, teriam escorrido lagrimas dos seus olhos.

—Precisei convencer a Barbara, não é fácil com você trazendo cópia malvada do Tio Damian, demônios, é verdade que vocês trouxeram o diabo aqui? - Grayson parece ligeiramente espantado.

—Não estamos de férias – Sara solta do seu jeito único e radiante.

—Tem sido dias estranhos – Connor coloca outra rodada de waffles no balcão, mas dessa vez Lunna foi mais rápida, e mais educada, deixou três para as crianças.

—Lá fora não está melhor – Grayson dá de ombros. – Até a Babs tem que concordar que enquanto estivermos em excursão com os outros, aqui é o lugar mais seguro para as crianças. Estamos seguindo pistas frias do Fausto e metade dos Titãs estão se juntando a nós, não tem como mantê-los lá, por no mínimo alguns dias – suspira passando a mão livre pelos cabelos. – Tim vai vir busca-los quando Babs e eu estivermos de volta.

—Não tem problema, Dick – meu irmão o tranquiliza. – Nossas missões estão fragmentadas em duplas, e mesmo ocupados, os garotos sempre serão bem vindos – garante, fazendo Grayson o lançar um sorriso agradecido.

—Mas me contem algo que não me faça querer arrancar meus próprios olhos, por favor.

—O diabo por pouco não se tornou um rival do Wally – implico, quando ele tenta roubar a comida dos meus sobrinhos, lhe mostrando a língua ao salvar o prato no ar, graças a um vislumbre do ato que Katoptris havia me mostrado.

—Sara curtiu mais o irmão dele, pelo visto ela curte os bons moços— Connor corrige e preciso segurar o riso ao ver o brilho no semblante de Dick em contraste com a carranca do West.

—Sério? – empurra o amigo com os ombros. – Vermelho é mesmo sua cor, Sarinha!

—Não sei não, Connor – Sara começa enquanto colocava pedaços de comida na boca da filha, que brincava com os cabelos do Grayson completamente encantada. – Ele comparou sua esposa com a própria Afrodite!

—Errado ele não está – meu irmão se vira e beija o alto da cabeça de Lunna, que por sua vez estava fazendo cosplay de Wally, completamente imersa na comida. – Minha Lunna é perfeita!

—O diabo é sensato – Grayson murmura confuso. – Tempos bizarros, realmente.

—Tia! – Nina chama por Lunna se esticando em sua direção e só assim para ela largar a comida.

—Eu tenho um quarto! – Chloe aparece feliz por entre Dam e o pai. – Ele é enorme! – Sorri. – A gente podia fazer um igual em casa pai – então o arrasta para fora, já pronta para vender sua ideia.

—Só se compramos o apartamento da dona Abigail do lado – posso ouvir o riso já longe.

—A casa da dona Abigail fede a xixi de gato – Al faz cara de nojo e não posso evitar de dar risada enquanto Dam suspira de dor.

—Vem vamos tomar alguma coisa enviada por Cait – o arrasto para fora, já estava suspeitando de hemorragia interna. Do jeito que as coisas estavam andando não era Connor que iria ficar viúvo, era eu quem iria perder o namorado.

WALLY

Ano 2048

Descemos por dois elevadores diferentes e agora um lance inteiro de escadas. Já esperava encontrar o centro da terra quando Batwoman abriu caminho por um corredor escuro revelando um salão espaçoso. Isso definitivamente não é a Batcaverna, muito menos o Bunker. Está muito mais para a versão do Bunker que encontrei ao viajar para o passado e conhecer as versões mais jovens dos meus mentores. Um porão poeirento, com ligações precárias para as redes de computadores e uma área hospitalar improvisada no centro.

Deixo Bart sobre uma maca de metal e mais três iguais sobem do chão, BatDam coloca minha versão sobre uma e o Robin coloca Tio Barry em outra e Damian começa a trabalhar neles, os ligando a soro e outros equipamentos médicos, um domo os envolve e ele passa a operar computadores ao lado. Uma mulher loura com olhos verdes marcantes desce as escadas praticamente correndo, e prende em seus braços a garotinha das luzes de mais cedo, só então percebo que ela é muito pequena, uma criança, adolescente no máximo. Era tão poderosa lutando contra o palitão como se ele nem mesmo tivesse muita chance, que não cheguei a processar o fato de se tratar de uma criança.

—É bom que não tenham nem um arranhão! – ameaça e reconheço a voz imediatamente. Apesar de estar preocupantemente magra, aquela era com certeza Mia Lance. – Ni...

—Halo – Damian a interrompe, corrigindo o que estava prestes a dizer. Mia parece confusa até se dar conta da minha presença, mas não estava entre suas prioridades no momento.

Ela segura o rosto da garota a olhando com atenção. Depois de volta para Batwoman e Robin, repetindo o mesmo gesto. Eu consigo os reconhecer no momento em que Mia retira suas máscaras. Vejo os cabelos castanhos avermelhados e os olhos cinzas esverdeados de Chloe Grayson, ao lado de Al que estava mais parecido do que nunca com o pai. Olhos cinzas e os cabelos escuros do Dick, mas existia algo em sua forma de olhar que o fazia lembrar Babs. Eles devem ter vinte e dezessete anos agora. Será que todos nossos filhos estarão presos no mesmo destino que escolhemos?

Então mais pessoas descem as escadas, o primeiro ampara a segunda que provavelmente não conseguiria enxergar os próprios pés com aquela barriga, são seguidos por uma criança que não deve ter nem dez anos de idade, um garotinho de cabelos estilo tijelinha cacheados e castanhos. A mulher imensamente gravida me olha no instante em que chega aos pés da escada, os olhos de um azul intenso, brilhando de emoção e então, sou atacado pelo tsunami Isis!

—Ai meu Deus – ela sussurra me sufocando em seu abraço. – Wally!

—Não consigo respirar – murmuro e o homem que a ajudou a descer as escadas desprende seus braços de mim.

—Não o mate sufocado, rainha da beleza – a voz rouca de Phillippe ganha minha atenção, seus olhos violetas estavam lacrimejando quando se fixaram em meu rosto. – E aí, Wally?

Phill ainda parece com um superstar. Está um tanto mais forte, os traços mais duros, mas isso de uma forma irônica o deixava ainda mais bonito, o cabelo nunca vai ser cortado mesmo, estava solto caindo sobre os ombros de um jeito que o deixava um tanto ameaçador. Por algum motivo ele me lembra muito mais Connor do que Lunna agora.

—Phill – sorrio para ele, que me devolve um sorriso triste. – Você poderia ser um pouquinho menos bonito – implico por habito, mas nem isso faz a tristeza deixar seu sorriso. – Onde estão seus irmãos e Sara?

Não tenho a esperança de que os Queens estejam vivos, Dam estar nesse manto significa que tanto os Grayson quanto o restante da Batfamília morreram. Provavelmente todos os heróis que cresci venerando estão mortos, como meus padrinhos, meu sogro e tantos outros que admirei desde a infância. Mas meu time deveria estar aqui, isso não é o correto.

A garota de uniforme branco que Mia mantinha por perto se solta dos braços dela e se aproxima depois de um olhar de Isis. Ela retira a máscara e seus olhos escuros me fazem pensar imediatamente em minha Sara. Sua pele é morena como a da minha esposa, com traços tão lindos quanto os dela, me encara com uma adoração que me faz entender nossa ligação de imediato. A filha que Thawne citou mais cedo. Mas ela não é nem mesmo uma adolescente ainda, que tipo de pai eu sou?

—Eles se foram – sua voz é linda, tranquilizadora e quase divina. Uma luz roxa a envolve enquanto me encara com olhos que agora estavam completamente violetas, me encarando tristes. – Minha madrinha morreu tentando me manter viva, o que é irônico se pensar que eu praticamente não posso morrer – a culpa em seu tom de voz me assusta, Phill coloca a mão em seu braço e a puxa para perto como Mia estava fazendo antes. – Mamãe e meu padrinho não teriam morrido se a Tia Lu não se sacrificasse por mim.

—Não princesa – Phill acaricia seus cabelos cacheados como eu deveria estar fazendo, de um jeito paternal e extremamente protetor. – Sua mãe e meus irmãos fizeram o que precisava ser feito, não pense que é sua culpa.

—Verdade, meu amor, eles a amavam mais do que qualquer coisa – Isis reforça, ela para a mão na barriga enorme e me olha com tristeza.

—Não posso morrer, Isis – Halo encara os próprios pés.

—Só por não terem encontrado um jeito, não significa que ele não exista – Mia se pronuncia, sendo ladeada por Al e Chloe que a observavam preocupados.

—Ela está certa – Phill volta a dizer, depositando um beijo no alto da cabeleira cacheada da garotinha. – Nenhum dos dois estaria disposto a arriscar, posso garantir isso.

- Deveria ter apoiado meu irmão quando ele decidiu votar contra – A pequena, não tão mais pequena, Queen diz, cheia de pesar em sua voz.

—Eu teria vindo de qualquer forma – murmuro me sentindo sufocado.

—Dam, como eles estão? – se volta para o Batman que trabalhava as nossas costas, completamente focado nos velocistas.

—Vamos torcer para que esse regenerador funcione no metabolismo deles, apliquei uma dose tão grande que uma pessoa normal teria morrido de overdose – suspira. – Wally, você também precisa de cuidados – aponta para a maca que estava vazia, mas não sinto vontade nenhuma de subir nela. – Não sei se está percebendo, mas sofreu queimaduras graves, por mais que já esteja se curando, precisa de ajuda.

—Preciso de respostas antes – ele estranhamente não rebate, passa seus olhos pela garota que é minha filha, depois eles param na criança que estava tão quieta ao lado de Chloe que mal pude notar sua presença.

—Gab, quer vir me ajudar? – chama com a voz muito mais amena, de um jeito que reconheço que usava com Al ou Chloe quando mais novos.

O garotinho assente, e à medida que se aproxima percebo seus traços, fazendo o ar me faltar mais uma vez. Ele possuía heterocromia, seu olho direito era de um verde azulado, enquanto o esquerdo era completamente violeta, mas isso nem era o mais impressionante, seus traços lembravam Phillippe, não, eram como os de Lunna, só que sem toda a feminilidade que os dela possuíam, mas suas expressões e a forma que se movia, calmo e ponderado, era exatamente como Connor. Se anjos fossem reais, esse garoto seria o retrato de um deles.

—Gabriel – Isis diz ao me ver seguindo o garoto com os olhos. – Bom, Joseph Gabriel, mas nos recusamos a chama-lo pelo primeiro nome.

—Queen, era o nome do meu pai – Phill revira os olhos, mas Isis nem se importa. – Joe tem oito anos agora, pode ver que herdou a beleza da família – o sorriso de orgulho em seu rosto é o mesmo que Lunna tinha por ele. – Dam e Isis ficaram com ele agora, também cuidam dos Grayson – conta. – Mia e eu moramos com a sua filha, mas estamos a apenas uma porta de distância.

—Por que eu não moro com ela? – questiono, meus olhos presos na garota que não deve ter mais do que doze anos.

—Não é como se não quisesse, papai – diz como se estivesse me consolando. – Apesar de até agora nada ser capaz de me matar realmente, me manter viva é um trabalho sem folga - algo cutuca minha perna e vejo o filho de Lunna me encarando com o mesmo ar contrariado da mãe, aquilo de alguma forma e devastador e reconfortante ao mesmo tempo.

—Tio Dam me disse para te buscar – sussurra com sua vozinha infantil, estendendo a mãozinha para mim.

—Não paramos o que eles queriam fazer, só impedimos suas mortes – Damian diz retirando a máscara de morcego, seu rosto é muito mais parecido com o de Bruce agora, chega a ser meio esquisito serem tão semelhantes. Mas os traços de Damian são mais rígidos do que os do pai eram. – Nós somos a caça agora, se não entendeu ainda pelo cenário a sua volta.

—Baby, ele não é o nosso Wally – Isis o lembra de forma gentil e Damian suspira parecendo exausto. – Depois da queda dos nossos mentores, o sol vermelho e a derrota dos Lanternas – ela engole em seco antes de continuar. – Todos os nossos vilões ascenderam, e passaram a nos caçar como esporte. Poucos de nós conseguiram manter a identidade secreta, e por isso ainda estão vivos, mas...

—Ninguém mais está livre – Phill sintetiza. – Quem não foi escravizado, está vivendo como nós.

—Você no momento é nossa melhor arma, eles não podem lutar – aponta para os outros velocistas.

—Halo, acha que consegue fazer algo por ele? – Isis se vira para minha filha que assente e aponta para a maca vazia.

Subo nela e Damian arruma um banquinho para Halo que sobe ficando em uma altura boa o bastante para fazer o que pretendia. – Quanto anos você tem? – pergunto encarando seu rosto que ainda possui traços infantis, ela abre um sorriso que faz meu coração saltar uma batida ao me encarar de volta, perfeita.

—Doze – conta com os olhos brilhantes, cheios de um carinho que chegava a transbordar dela.

—Sinto muito, acho que com essa idade deveria estar brigando para dormir depois das nove, não enfrentando magos malignos – não consigo sorrir para confortá-la, aquela vida que coloquei minha própria filha é uma merda.

—Já fez esse discurso essa semana, papai – solta um risinho lindo. – Combinamos que não seria mais do que uma vez a cada sete dias.

—Vim do passado, minha linda – digo com um sorriso triste. – Não usei minha vez.

Halo acaricia meu rosto, o toque mais leve que já senti na vida, mas parece relaxar meus músculos tensos. Uma luz roxa a envolve e ela diz coisas estranhas em uma voz duplicada. Que ironia, minha filha é mágica. Sara deve ter achado isso muito divertido, quando ainda estava viva... Só então pareço processar a imensidão de informações que recebi. Minha Sara se foi, ela se foi! Minha ancora, a mulher que amo, ela simplesmente não respira mais.

—Ele está sofrendo muito – Halo diz com voz de choro, mas só consigo pensar que Sara não existe mais. Lunna e Connor se foram, eles deixaram um filho que não vão poder ver crescer, esse era o pior pesadelo da Lu. Perdi o amor da minha vida e meus melhores amigos ao mesmo tempo. Tudo por ser impulsivo. Suas mortes eram minha culpa, eu de uma forma indireta matei três das pessoas mais importantes da minha vida, entre elas a minha própria âncora. Minha maior razão para desacelerar, minha Sara. – Tio Dam, precisa sedar ele, é muita dor! – então não vejo mais nada.