Fred estava fora de controle, e logo eu perderia o meu também.

Como se não bastasse os olhares desconfortáveis durante as refeições (durante as quais ele fazia questão de sentar diretamente na minha frente), Fred estava se tornando cada vez mais... Inevitável.

Levantei da cama decidida a tentar ao máximo me afastar. Sucumbir às tentações iria colocá-lo em extremo perigo. Todos nós temos pontos fracos, e quanto mais tempo eu conseguisse fazer parecer como se não tivesse nenhum, mais tempo Fred ficaria a salvo.

Já que Fred estava levantando muito mais cedo do que o habitual para pegar seu lugar em minha frente, decidi demorar o máximo que conseguisse, para quem sabe pegar algum lugar de sobra que não fosse logo em frente ao menino de cabelos ruivos que insistia em infestar meus pensamentos e agora minha vida.

- Mione? Que deu em você? Mamãe já colocou o café na mesa! – Gina escancarou a porta do quarto, esbaforida. – Desce logo, dorminhoca!

Acenei com a cabeça, suspirando. Desci as escadas atrás da impetuosa menina, e vi de longe que haviam dois lugares sobrando à mesa: um em frente a Fred e outro a Ron. Gina estava prestes a sentar perto de Ron, quando resolvi interrompê-la logo que vi um sorrisinho brotar nos cantos dos lábios de Fred.

- Gina, posso sentar aqui? Tenho que falar com Ron. – A primeira desculpa que surgiu em minha cabeça saiu de meus lábios, que esboçaram um sorriso aliviado e quase triunfante quando a garota concordou. Meu amigo me perguntou qual era o tal assunto, mas o dispensei discretamente com a mão, dizendo que era melhor falar outra hora.

- Mione? – Minha espinha gelou quando ouvi aquela voz dizendo meu nome. Me virei e vi que Fred dava seu melhor sorriso para mim, e tive que agarrar a borda da cadeira para não derreter ou cair. – Pode me passar a manteiga por favor?

- Dá pra parar de ser preguiçoso? Tá na sua cara! – Ron falou, e me surpreendi que ele realmente engoliu a comida antes de falar.

Silenciosamente, passei o que ele queria, olhando para a mesa e evitando os olhos que algum dia seriam minha perdição. Se não tivesse sentido aquele toque, não teria levantado os olhos. E Merlin, eu conhecia o olhar que ele me lançava.

Fred estava com um plano, e seus orbes incrivelmente verdes diziam que já estava em ação.

Felizmente, o café correu sem maiores eventos. Quando terminei, comecei a ajudar Molly a retirar a mesa, quando vi com o canto do olho que Fred pulou de sua cadeira.

- Deixa que eu te ajudo, Mione. – Ele sussurrou em meu ouvido enquanto pegava os pratos delicadamente de minhas mãos, correndo rapidamente seus dedos nas costas de minhas mãos. Por que ele tornava algo difícil em impossível?

- Já que... Já que você diz. – Consegui dizer, ainda sem olhar diretamente para ele. Subi as escadas tão rápido que qualquer um pensaria que havia um incêndio. Me deitei na cama e decidi dormir ou pelo menos fingir dormir. Obviamente, depois do que pareceram horas e se provaram minutos, vi que seria uma tarefa difícil. Decidi adiantar o conteúdo que teríamos, já que manteria a cabeça mais ocupada do que alguma outra leitura mais leve.

Puxei minha pena, um livro qualquer do meu malão e vários pergaminhos. Logo, já tinha anotações tão adiantadas que quando me dei conta, já estava quase no fim do livro. Estava me levantando para começar uma outra matéria quando a porta do meu quarto se abriu.

- Mione. – Fred se apoiou no batente da porta. – Eu estive pensando, realmente preciso de ajuda em algumas matérias. – Sua voz estava mais rouca e grave, e ele falava com seu rosto próximo do meu. Meu Merlin, se eu começasse a dar aulas para ele, aí sim ele se tornaria inevitável. – Você pode me ajudar?

- Eu acho que você consegue dar conta sozinho. Tenha fé no seu potencial! – Ri, nervosamente, enquanto soltava aquela frase motivacional barata.

- Meu potencial aumenta com você, não acha? Duas cabeças pensam melhor do que uma... – Ele sorriu, brincalhão e extremamente sedutor ao mesmo tempo. Como? Não entendo. – Ou será que você tem medo de ficar perto demais e perder as estribeiras?

Não esperava que ele fosse tão direto em expor exatamente o meu motivo para ficar longe dele. O menino é rápido.

- Não, Fred! Céus, eu tenho mais pessoas que precisam de minha ajuda também!

De repente, ele estava muito perto. Muito, muito perto. Conseguia sentir o calor emanando dele, e não consegui desviar o olhar dessa vez.

- Tem certeza? – Ele sussurrou, sem quebrar o contato entre nossos olhos. Não estávamos encostando um no outro, e ainda assim parecíamos ímãs. Não queria me afastar.

Mas precisava.

Fechei os olhos e suspirei.

- Tenho.

Ele se virou com um sorriso maroto, e murmurou risonho para si mesmo enquanto saía:

- Ninguém disse que seria fácil...

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Sempre fui a primeira a tomar banho, e o fazia antes do jantar. Dessa vez, no entando, alguém estava lá antes.

Mal meus dedos tinham roçado a maçaneta, a visão do céu se projetou em minha frente, saindo de uma névoa de vapor.

Fred.

Coberto apenas por uma toalha no quadril, que parecia prestes a cair se não fosse por sua mão segurando-a. Seus cabelos formavam uma cortina molhada sobre suas sobrancelhas, e gotículas de água pairavam em seu abdome.

Quadribol era, afinal, um esporte bem benéfico, pelo visto. Ele ainda mantinha uma forma esguia, mas de certa forma consideravelmente musculosa. Meu Merlin, como ele era bonito. E Fred tinha plena consciência de seu corpo.

- Oh, Hermione... Não esperava que você viesse tomar banho tão cedo. – Ele sorriu, malicioso. Nós dois sabíamos muito bem que ele tinha noção que eu era a primeira a tomar banho. – Esqueci minhas roupas no quarto. O banheiro é todo seu.

Fiquei parada, levemente boquiaberta e totalmente corada. Não sabia nem para onde olhar. Ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou:

- Sabe, se gostou tanto do que viu, a porta do meu quarto tá sempre aberta.

Como se não bastasse, acrescentou enquanto se afastava, sorridente:

- George dorme como uma pedra.

Nem o banheiro era seguro.

Deixei minhas roupas na patente e entrei no banho, como se a água quente pudesse lavar qualquer coisa que se passasse pela minha mente. Quem dera se pudesse. Eu queria Fred, mas o desejo de mantê-lo seguro era grande demais. Merlin sabe que ele se mete em encrenca muito bem sozinho, mas nunca algo que o mataria.

Fui para o quarto de Ron, onde ele e Gina jogavam uma partida de Snap Explosivo.

- Ronald, só porque você não é competente o suficiente para ganhar, não quer dizer que você possa trapacear. Não é uma desculpa válida. – Gina riu. – Ainda assim, ganhei.

- Eu não gosto dessa porcaria mesmo, joguei porque você pediu. – O ruivo resmungou, sentando em sua cama e notando minha presença. – Oi, Mione. – Grunhiu, mal-humorado pela derrota.

- Roniquito! Agora você tem plateia para sua derrota! – Gina exclamou, gargalhando.

- Roniquito, você tem que se esforçar mais se realmente quer quebrar o recorde de maior histórico de derrotas em um único jogo. – Fred e George aparataram, fazendo com que todos pulassem de susto.

- Vocês dois têm que parar com isso! – Protestei.

- O que foi, Mione? Não gosta de surpresas? – Fred levantou uma sobrancelha, sorrindo.

- Ou será que você está só com inveja? – George completou.

- Que ela teria a invejar de vocês? Se Mione não fosse tão certinha, já estaria aparatando quando entrou em Hogwarts. – Gina provocou.

- É mesmo? – Fred tinha uma expressão que eu conhecia muito bem: ele estava com algo em mente. Ele olhou para George e mal tive tempo de reagir: Fred agarrara meu pulso e senti meu corpo ser pressionado em todos os lados, e eu não conseguia respirar. Meus ouvidos pareciam prestes a explodir, quando do nada, tudo parou. Eu estava no quarto de Fred, e ele sorria abertamente em minha frente.

- Muito divertido, Fred. Muito, muito divertido. – Resmunguei, enquanto me virava para sair dali o mais rápido possível. Estava quase na porta quando senti o toque familiar de seus dedos se entrelaçando nos meus.

- Mione, para que tanta resistência? – Senti seu sorriso na voz em meu ouvido. – Você me quer tanto quanto eu te quero.

- Fred, não torne isso mais difícil do que já é.... Por favor. – Consegui murmurar, e os toques em meu braço pararam. Fred recuou, respeitoso, enquanto eu abaixava o olhar para evitar o dele.

- Por quê?

- Eu estou tentando te proteger, Fred, por favor me deixe fazer isso. Se algo acontecer a você por ser associado a mim, eu jamais me perdoaria. Por favor.

- Mione, pensa comigo. Digamos que nosso amigão das trevas entre aqui e nos mate sem mais nem menos. Você não acha que, se estamos correndo perigo de qualquer jeito, é melhor só aproveitar o tempo que temos? – Seu olhar era suplicante, ainda que seu tom era todo cheio de humor. – Eu sou irmão do famoso Roniquito, não acha que isso por si só já coloca um alvo bem grande nas minhas costas saradinhas?

Não pude deixar de rir, principalmente sabendo que as costas dele realmente eram saradinhas.