Out On The Town

Capítulo 22 - Caroline


14 de julho de 2022

— Não. Eu preciso falar com você.

Meu coração acelerou um pouco quando ouvi ele falando isso. Essas cinco palavras nunca levavam a conversas agradáveis.

— Dentro do banheiro? - eu estava estranhando tudo aquilo. O que ele queria me dizer?

— Sim. - ele disse, já entrando pela porta e a fechando. - Primeiramente, queria me desculpar com você por tudo isso.

— Klaus, isso não estava dentro do seu controle.

— Eu sei que não, mas eu devia ter pensado na possibilidade disso acontecer. O dono do blog realmente odeia minha família e não é de hoje. Eu devia ter tentado ser mais discreto ou pedido para vocês dizerem que eu sou o pai dela em algumas ocasiões aleatórias.

— Está tudo bem. - eu disse, já o abraçando. - Você não pensou que um porco imundo fosse manipular situações inocentes para parecerem inapropriadas. Além disso, se você fosse mais discreto, daria a entender que o que estava sendo feito era mesmo errado.

— Você está certa. Como sempre. - ele sorriu e eu tive que dar um meio sorriso. E então sua expressão ficou séria. - E tem uma segunda coisa sobre a qual eu preciso falar com você.

Liguei a torneira da pia antes que ele continuasse. Klaus apenas me encarou por um momento.

— Achei que talvez fosse necessário.

— Talvez seja. - ele limpou a garganta. - Então, o advogado da empresa recomendou processarmos o blog.

— Sim. Definitivamente deveríamos processar. Ou quando você disse processarmos queria dizer você e seus irmãos?

— Era eu e você mesmo. Mas não se preocupe. Seremos eu e você porque não faz sentido a empresa processar o blog por danos a um funcionário, não importa o quanto impacte negativamente na imagem, mas vamos usar toda a estrutura jurídica da empresa.

— Ótimo. Menos uma dor de cabeça.

— Sim. Enfim, de volta ao ponto, o advogado disse para coletarmos a maior quantidade de provas contrárias ao mysticblog. E aí vão coisas desde prints e relatos até...

— Testes de paternidade. - cortei. Eu entendia de onde aquilo saía e por que precisávamos fazer isso.

— Sim. - ele soltou um suspiro. - Que fique bem claro, eu não tenho dúvidas, mas...

— É necessário para o processo. - respirei fundo. - Tudo bem. Além disso, já teria que ser feito para você reconhecer ela, então qual o problema?

— Eu esperava conhecê-la por mais do que duas semanas antes de ter que fazer isso.

— Eu sei, mas vai ficar tudo bem. - desliguei a torneira.

— Sim. Eu confio em você.

Ele simplesmente me abraçou e ficamos assim por um tempo. Senti ele virar a cabeça um pouco para o lado e respirar fundo pelo que pareceu uma eternidade.

— Seu cabelo é tão cheiroso que eu me distraí completamente e agora não lembro mais o que ia dizer. - ele disse, quase que sussurrando no meu ouvido.

Senti um arrepio percorrer minha espinha, mas me forcei a voltar ao foco. Não era o melhor momento para isso.

— Você já disse para Hope?

— Na verdade, sim. Eu comentei enquanto conversávamos na garagem. Acho que ela não levou tão bem quanto você, mas entendeu que é necessário. Além disso, ela ficou bem mais reconfortada quando eu disse que se ela ou você ficassem muito desconfortáveis com isso, eu falaria com o advogado e tentaria rever a necessidade disso.

— Mas se você não apresentar provas sobre isso, o tribunal pode considerar o maluco do blog menos culpado e começar uma investigação real contra você e...

— Calma, Care. - ele disse, colocando as mãos nos meus ombros e olhando nos meus olhos. - Nada disso vai acontecer. Vamos fazer o teste amanhã de manhã e o resultado vai sair enquanto estivermos de férias.

— Ok. - respirei fundo. Tinha que ter pensamentos positivos. - Acho que devíamos sair daqui.

— Concordo.

●●●

Pouco mais de 2 horas depois, já tínhamos preparado uma espécie de roteiro para a live, divulgado que aconteceria e comido pizza, e agora estávamos nos preparando para entrar ao vivo. Hope estava montando todo um setup com um tripé que tinha encontrado enquanto Lupi estava deitada perto de seus pés. Estávamos todos tensos e eu só queria acabar logo com isso.

— Prontos? - Hope perguntou, sentada no chão da sala de estar com Lupi no colo.

— Sim. - Klaus respondeu e apertou minha mão. Eu nem tinha percebido que estávamos de mãos dadas. - Estamos prontos, certo?

— Sim. - apertei a mão dele de volta e respirei fundo. - Já são oito horas, está na hora.

Soltei a mão de Klaus e ficamos nos encarando, tentando não surtar.

— Tá bem, vamos entrar ao vivo em 5, 4, 3, 2 e 1. - ela fez um sinal indicando que deveríamos seguir em frente.

— Olá, boa noite. - Klaus disse. - Vim aqui para me pronunciar sobre a publicação desta tarde. Primeiramente, gostaria de dizer que esta live vai ficar salva como um igtv, então se você perder o começo ou algum detalhe ou quiser rever, fique à vontade, pois o vídeo vai ficar disponível por mais de 24 horas. De volta ao ponto, hoje por volta das 15:30 o mysticblog fez uma publicação com fotos e vídeos em que eu aparecia com uma adolescente. A legenda sugeria que eu estava... - percebi ele engolir em seco e lutei contra o impulso de colocar a mão na coxa dele. A revolta dele quanto ao assunto era mais que perceptível. - que eu estava me aproveitando dela. Achei necessário vir esclarecer a história. Sim, as fotos são reais. Sei que muita gente vai sair daqui agora e dizer que eu acabei de confirmar a informação, mas existe uma justificativa. E, sim, tentar me justificar está entre as piores coisas que eu poderia fazer, mas eu não fiz o que estão me acusando de ter feito.

"Primeiramente, pedofilia é crime. Não é uma forma de orientação sexual, só é abuso de menores. Deixo aqui claro o meu repúdio a esse tipo de comportamento. Em segundo lugar, a menina das fotos é a minha filha. E agora é o momento que vão sair daqui dizendo que eu estou mentindo ou que inventei isso para não ser incriminado, porque eu não tenho uma filha e, se tivesse, todos da cidade saberiam. O problema é que nem eu sabia da existência dela até duas semanas atrás, então como alguém mais saberia? Enfim, achei por bem chamar a mãe dela aqui para explicarmos. As pessoas com um pouco mais de idade - ele olhou para mim com um olhar divertido no rosto e eu tive que me esforçar para não começar a rir - talvez lembrem dela como a filha da Xerife Forbes. - Ainda pensei em adicionar ou a garota do acidente na ponte ou aquela menina que todo mundo achou que morreu, mas achei melhor não.

— Olá, boa noite. - eu disse. - Meu nome é Caroline Forbes e, antes de qualquer coisa, eu gostaria de pedir que parem de espalhar as fotos da minha filha e também de mandar mensagens para o Instagram dela - e de tentar invadir nosso quarto de hotel. - Ela tem direito à privacidade e não tem culpa do pai ser uma pessoa conhecida na cidade - e de vocês serem um bando de fofoqueiros desocupados. Estava tendo que controlar minha língua. - Vamos começar do começo. Eu e Klaus ficamos juntos por 2 anos e meio antes do meu acidente e voltamos de onde tínhamos parado depois que eu voltei. Já na minha última semana aqui, descobrimos que eu estava grávida.

— E foi um dos melhores momentos da minha vida. - ele disse, olhando para mim e não para o telefone. Estranhei porque isso não estava no "roteiro", mas seus olhos brilhavam e eu soube que ele estava falando a verdade. As lágrimas começaram a se acumular nos meus olhos, mas não deixaria que elas rolassem, pelo menos não por enquanto. - Nós éramos muito jovens, mas tudo que eu queria era uma família com ela.

— E aí tudo foi por água a baixo. No dia seguinte, eu tive um sangramento. Não cheguei a ir para o hospital, mas tive certeza de que tinha perdido o bebê. E depois tivemos uma briga séria. Do tipo que na época parecia bem maior do que realmente era. - pude ver os cantos da boca de Klaus levantando. Não sei se podia chegar a classificar como um sorriso, mas estava lá. A maior parte das nossas brigas tinha sido assim. - Nós terminamos e eu decidi seguir um sonho antigo de ir morar em Oxford, na Inglaterra. Então, pouco depois de chegar lá, eu comecei a me sentir mal e resolvi ir no médico, onde descobri que, no começo, estava grávida de gêmeos. O que tinha acontecido duas semanas antes realmente tinha sido um aborto espontâneo, mas eu tinha perdido apenas um dos bebês e o outro tinha sobrevivido, o que era basicamente um milagre.

"Eu ainda estava com raiva de Klaus e resolvi que não contaria sobre o bebê. Acabei perdendo o número dele e depois, quando a internet se tornou o fenômeno que é hoje, não o procurei por receio do que poderia acontecer. Cerca de um mês atrás, todas as minhas opiniões quanto a isso mudaram depois de ver o jornal falar sobre a morte de Mikael. E foi aí que eu percebi que a vida é curta demais. Eu não iria mais privar minha filha de conhecer seu pai por causa de uma briga que aconteceu há 17 anos. Ela merece mais do que isso e, francamente, Klaus também. Eles merecem a chance de construir um relacionamento em paz e de não serem importunados na rua por isso.

— Então é isso. As fotos e vídeos publicados hoje são de vezes em que eu saí com a minha filha. E gostaria de deixá-los avisados que não vou deixar de fazer isso. Não vou deixar de sair com ela, nem de tentar conhecê-la melhor. Eu já perdi 16 anos da vida dela e eu sei que 16 dias não são o suficiente para compensar por isso, mas eu estou tentando. E vou continuar tentando enquanto eu viver. Não vai ser um escândalo de imagem que vai me fazer desistir de ser parte da vida da minha filha.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvi-lo falar isso e pude ver que os dele também tinham algumas lágrimas não derramadas, assim como os de Hope, que estava por trás do celular.

— Vamos encerrar por aqui. - ele falou, claramente tentando cortar o momento. - Tudo está esclarecido e já estamos tomando as ações legais cabíveis. Quer falar mais alguma coisa, Care? - ele perguntou, olhando para mim.

— Na verdade, não. Só tirem as fotos de circulação e parem de importunar nossa filha.

— Exatamente. Deixem minha família em paz e vão viver suas vidas. Boa noite.

— Boa noite. - respondi.

Esperamos alguns segundos enquanto Hope parava a transmissão.

— E saímos do ar. - Hope disse, deixando escapar um suspiro. Depois veio para perto de onde estávamos e abraçou nós dois ao mesmo tempo. - De todos os jeitos que eu imaginei a noite antes da viagem acontecendo, esse não passou nem perto.

Tive que sorrir.

— Pelo menos agora esse pesadelo acabou. - eu disse, passando a mão pelo cabelo dela.

Klaus olhou para mim levantando uma sobrancelha discretamente, como se dizendo "sério mesmo? Você sabe que está longe de acabar", ao que eu respondi com uma encarada seguida de uma olhada discreta na direção de Hope, que queria dizer "eu sei que não, mas vamos fingir que sim, pelo menos por hoje". Ele por fim suspirou e eu soube que ele tinha concordado.

— Por hoje, acabou. - Klaus disse. - E ainda bem que vamos embora amanhã, porque eu nunca precisei tanto de férias.

— Nem eu. - Hope disse. - E eu estou de férias. Que loucura.

Nós três rimos. Claro, aquilo estava longe de estar terminado, mas fingir que estava tudo bem pelo resto da noite não mataria ninguém.