Out On The Town

Capítulo 20 - Klaus


14 de julho de 2022

Quando entrei no escritório de manhã, eu estava feliz porque só seriam mais dois dias de trabalho até eu sair de férias. Ao longo do dia, meu humor só melhorava porque eu estava cada vez mais próximo da liberdade. Fazia um bom tempo que eu não ficava animado assim para tirar férias. Ansioso, sim, mas não animado desse jeito.

Depois do 4 de julho, continuei dando aulas a Hope quase todos os dias e, mesmo quando não tinha como levá-la para dirigir, nós nos víamos ao menos para almoçar ou jantar. E aí, na sexta passada, Caroline oficializou o convite para eu viajar com elas.

Quase não consegui conter minha alegria, mas perguntei o que elas estavam pensando em fazer. Caroline respondeu que ainda não tinham muita certeza, mas que queriam praia e sol. Logo lembrei de Jackson, um amigo que era herdeiro de uma rede de resorts e, depois de uma chamada, consegui uma suíte de 2 quartos por uma semana na praia de Santa Mônica. Ele insistiu que a suíte era cortesia por causa da vez que eu paguei a fiança dele depois que foi pego dirigindo bêbado. Acho que nunca xinguei ninguém como o xinguei naquele dia, mas pelo menos ele aprendeu a lição.

Depois de uma semana no resort, ainda sobraria uma semana das minhas férias, que estava livre para ser preenchida como quer que elas quisessem. Hope então sugeriu uma viagem de carro para voltarmos para Mystic Falls. Tinha pelo menos uma empresa de aluguel de carro em que você podia alugar o carro em qualquer lugar do país e devolver em qualquer aeroporto, então foi isso que decidimos fazer.

Enfim, eu estava feliz por amanhã ser meu último dia de trabalho antes de passar duas semanas longe.

Percebi que devia ter algo errado quando meu telefone começou a vibrar como louco. Quando fui ver, quase todas as notificações eram do Instagram, mas eu não conseguia assimilar o que estava acontecendo.

E então começaram as ligações.

A cada ligação de número desconhecido que eu rejeitava, outra surgia. Esperei aparecer algum número conhecido e atendi quando vi o nome de Kol.

— Você sabe me dizer o que porra está acontecendo? - perguntei, antes mesmo de deixá-lo falar.

— Klaus, eu te disse que era errado e que se você ia fazer isso devia ser cuidadoso...

— Do que você está falando?

— O mysticblog publicou uma série de vídeos e fotos suas com uma adolescente. - Puta. Que. O. Pariu. Senti meu pulso se acelerar de raiva. Claro que a internet inteira estava caindo em cima de mim. Daqui a pouco os funcionários iam ver e ia ter gente batendo na minha porta e pedindo explicações. – O que você vai fazer?

— Falar a verdade. O que mais eu posso fazer?

— A verdade?

— Sim. A menina que está comigo nas fotos é minha filha.

— Ora, por favor. Se for mentir, invente algo melhor. Ninguém vai acreditar nisso.

— Não é mentira. Pode perguntar a Elijah.

— Você vai envolver o Elijah nisso? Ele não mente.

— Por que acha que eu pedi para perguntar a ele? Ele não vai mentir sobre isso e não vai me acobertar. - O interfone da minha sala começou a tocar. - Ótimo, vai começar. Eu falo com você mais tarde, Kol.

Desliguei a chamada e respirei fundo antes de atender o telefone. Se meu próprio irmão não acreditava em mim, por que o resto do mundo acreditaria? Assim que atendi o telefone, ouvi a voz de Hayley.

— Venha pro meu escritório agora, antes que o resto do prédio veja o vídeo.

Peguei só meu telefone e o carregador e estava para sair do escritório, mas lembrei que precisava falar com Hope e Caroline. Decidi que era mais urgente que Hope soubesse do que estava acontecendo. Eu estava sendo linchado na internet, mas do jeito que as coisas circulam rápido em cidade pequena, logo todos iam saber. Ela estava sozinha no hotel e iam começar a enchê-la de perguntas.

Fiz a ligação e, menos de 10 segundos depois, ela atendeu.

— Hope?

— Oi, pai. Aconteceu alguma coisa? - ela parecia preocupada. Afinal, eu nunca ligava. Ela tinha me dito que não gostava e que preferia mensagens de texto, então era assim que nos comunicávamos. Comecei a sair da sala e fui na direção do elevador.

— Na verdade, sim. Você está com sua mãe? - eu sabia que Caroline ia sair hoje de tarde, mas havia uma chance que Hope tivesse ido com ela.

— Não. Ela saiu com a Elena para comprar umas coisas de bebê e ainda não chegou.

— Certo. Você está na piscina? - entrei no elevador e apertei o 16, que era o andar da sala de Hayley.

— Sim. - ela estava definitivamente estranhando a conversa. - Por que o interrogatório?

— Eu preciso que você volte para o quarto. Um pseudojornalista daqui arranjou uns vídeos e fotos de vezes que saímos juntos e agora está me acusando de... - era difícil para mim dizer aquilo em voz alta. - estar me aproveitando de você.

— É sério? - ela parecia estar se alterando. - Que mídia nojenta.

— Eu sei. Mas eles não estariam errados se fosse verdade. E, até onde todo mundo saiba, eu não tenho uma filha. Não vai demorar até que descubram quem você é e que você está no hotel. - saí do elevador e fui para a sala de Hayley, que já estava com a porta aberta. Ela a fechou assim que eu passei, fechando, também, as persianas da janela que dava para o corredor.

— Sim. - ouvi ela suspirando. - Vou voltar para o quarto.

— Está bem. Tome cuidado, ok?

— Certo.

— E me desculpe.

— Por?

— Toda essa situação. Você deveria estar tendo férias tranquilas e do nada descobre que está no meio de um escândalo.

— Relaxe. Isso não estava dentro do seu controle. Além do mais, agora eu tenho pelo menos duas histórias bem loucas para contar quando voltar às aulas. E ainda nem começamos a atravessar o país de carro.

Tive que sorrir. Realmente seriam férias para recordar, não importava se o que acontecesse fosse bom ou ruim.

— Preciso ir. Não vai demorar muito para que os funcionários vejam o vídeo e queiram tirar satisfação, então...

— Vá. E cuidado você também.

— Tchau.

— Tchau.

Desliguei a ligação e respirei fundo. Ainda precisava falar com Caroline, mas isso podia esperar mais uns dois minutos. Não estamos juntos (apesar de querermos) e as pessoas não sabem que ela é a mãe de Hope, então acho que não vão assediar ela na rua como provavelmente fariam com nossa filha.

Por um momento, eu e Hayley só nos encaramos, ambos sem saber bem o que dizer.

— Elijah disse que ele e Kol estão vindo. - ela disse por fim, já vindo em minha direção. - Sinto muito que isso esteja acontecendo, Klaus. - ela me abraçou.

— Está tudo bem. Quer dizer, não está, mas vai ficar.

— Você estava falando com ela, certo?

— Sim. - respondi, engolindo em seco. Só recapitulando a conversa foi que percebi que ela tinha me chamado de pai pela primeira vez, mas não me dei ao luxo de ficar sentimental, por mais que eu quisesse. Não tinha tempo para isso agora. - Mas ainda preciso falar com Caroline.

— Hope está sozinha?

— Sim. Ela estava na piscina, mas pedi que ela voltasse para o quarto. - peguei o telefone para ligar para Caroline, mas estava recebendo uma chamada dela na hora. - Com licença. - Hayley voltou para a sua mesa e ia fingir trabalhar enquanto prestava atenção na minha conversa, como uma boa amiga e cunhada. Atendi a ligação. - Care?

— Klaus, o que está acontecendo? - ela parecia apreensiva. - Eu estava numa loja com Elena quando ouvi duas funcionárias fofocando e dizendo que...

— Eu sei. - não ia deixar ela completar a frase. - Um blogueiro daqui que tem uma rixa com a família há anos pegou fotos e vídeos em que eu estava com Hope e está tentando me incriminar.

— O que? - eu podia ouvir a raiva crescendo na sua voz. - Eu não acredito! Ela é sua filha e qualquer um que olhe duas vezes pode ver isso. - ela respirou fundo. - Você está bem?

— Na medida do possível, sim. Eu sei que não é verdade e que as fotos e vídeos não tem nada de mais, sabendo-se o contexto, mas é difícil. Apesar disso, eu estou mais preocupado com Hope. Isso não faz parte do mundo dela.

— Eu sei. - ela respirou fundo. - Elena acabou de passar as compras e já vai me deixar no hotel. Você já tem alguma ideia do que vai fazer?

— Fora contar a verdade? - perguntei e, nesse momento, Elijah e Kol entraram pela porta. Elijah, assim como eu, estava falando com alguém pelo telefone.

— Não podemos contar a verdade toda. É absurda demais.

— Eu sei. - passei a mão pelo rosto. - Preciso ir. Te ligo de volta assim que decidirmos o que fazer.

— Ok. Eu sei que você vai fazer o melhor pela nossa família. De qualquer forma, me avise quando decidirem o que vão fazer que eu assino embaixo.

— Obrigado pela confiança, amor.

— Sempre confiei em você.

Sorri e desliguei o telefone, só para perceber os três me encarando.

— Deus do céu, como você é meloso. - Kol disse. - Sabe que estamos no meio de uma crise, né?

Usei todo o meu autocontrole para não dar um tapa nele.

— Elijah te convenceu que Hope é minha filha?

— Sim. E acho uma boa ideia avisar o resto da família, antes que algum jornal ou site peça para alguém comentar.

— Boa ideia. - Elijah disse. - Estava falando com o advogado e ele disse que precisamos de um teste de DNA para comprovar que ela é sua filha. Se nem mesmo Kol, que é nosso irmão, acreditou, por que as outras pessoas acreditariam?

Teste de DNA. Uau. Eu não era contra isso, até porque precisaríamos quando fôssemos registrá-la como minha filha, mas não gostava da ideia de fazer isso agora.

— E aí o que? Esperamos uma semana para nos pronunciar? - perguntei.

— Não podemos fazer isso, Elijah. - Hayley disse. - Vão dizer que o exame foi falsificado ou qualquer coisa do tipo.

— Alguém tem alguma outra ideia? - Elijah perguntou.

— Rebekah está perguntando se devemos defender Klaus na internet. - Kol disse, após checar seu telefone.

— Qual a opinião dela? - perguntei. Rebekah era a especialista da família em redes sociais. Quando quer que estivéssemos em crise, era ela que coordenava a resposta na internet.

— Ela disse que deveríamos ficar calados até que você faça um pronunciamento. E adicionou que se você der uma desculpa meia boca ela vai ser a primeira a te linchar.

— Acho que é melhor ficarmos calados mesmo. - Elijah disse. - E você ainda precisa contar para eles sobre Hope.

— Quer que eu lide com isso? - Kol perguntou, olhando para mim.

— Sim, por favor.

— O que eu digo?

— Que eu descobri há 2 semanas e que ela é filha da Caroline. - ele pareceu surpreso com essa última informação, mas logo se conformou. Deixei Kol redigir a mensagem, sabendo que ele não faria besteira. Ele já foi muito instável, mas sempre pudemos contar com ele em momentos de crise. - Falando em Caroline, acho que vou pedir a ela para falar comigo sobre isso em um vídeo.

— Acho que é uma boa ideia. - Hayley disse. - Não tem como dizer que ela não é mãe de Hope.

— Você sabe que não pode dizer tudo, certo? - Elijah perguntou.

— Sim, eu sei. Acho que vamos ter que combinar alguma coisa.

— Por que você não pode contar tudo? - Kol perguntou.

— Talvez porque envolva dizer que nosso pai ameaçou eu e Caroline de morte e que ele era a razão para eu não conhecer a minha filha?

— Melhor deixar essa parte de fora.

— É ruim para os negócios. - concluí.

— Além de inacreditável se você não tiver convivido com Mikael. - Elijah disse. - Ele era um santo para quem não convivesse com ele.

— Acha que Caroline vai concordar com a ideia de gravar um vídeo ou fazer uma live? - Hayley perguntou.

— Acho que sim. - respondi. - Ela me disse que confiava em mim para fazer o melhor para nossa família.

— Por isso que ele tava todo emocionado quando a gente entrou na sala. - Kol disse, ainda olhando concentrado para o telefone.

— Além disso, acho que ela prefere se expor um pouco do que expor Hope ainda mais. - ignorei o comentário de Kol.

— Sim. Você não faz ideia das coisas que estão dizendo. - Elijah disse.

— E também não quer saber. - Hayley completou. - Sério, não entre no Instagram. Ou Twitter. Ou Facebook.

— Tá. É pior do que a vez que... - olhei para Kol rapidamente, sem querer falar aquilo em voz alta.

— Sim. - ela cortou e nós três continuamos olhando disfarçadamente para Kol, que estava entretido com o telefone. Três anos atrás, vazaram fotos de uma vez que ele e Davina foram para uma praia de nudismo e ainda era um assunto delicado, para dizer o mínimo. - Como foi que isso aconteceu?

— Eu não sei. Não cheguei a ver as fotos ou os vídeos, então não sei nem o momento em que elas foram tiradas. Além disso, não pensei que alguém estaria tirando fotos.

— Vou te mostrar as fotos para você ter certeza do que está falando quando for se justificar. - Elijah disse, já me passando o telefone, abertos no email com as capturas de tela que ele tinha enviado ao advogado. - Ou seja, não contradiga nenhuma delas, por favor.

A primeira foto foi tirada no primeiro dia em que saímos para ela aprender a dirigir. Era do momento em que ela me deu um beijo na bochecha, já depois de terminarmos a aula. Depois, tinha um vídeo da festa do 4 de julho em Whitmore (sério, tinha alguém me perseguindo?), que era de quando estávamos na barraca de tiro. Tinha também uma do dia em que fomos para a piscina e ela pediu para eu simular que íamos participar de uma briga de galo e outras duas de um passeio que fizemos com Lupi. A última era de um dia em que fomos tomar sorvete depois da aula porque ela tinha conseguido fazer a baliza perfeita na primeira tentativa. Care também foi para a sorveteria, mas ela ainda não tinha chegado na hora que a foto foi tirada. Além disso, eu a beijei menos de 15 minutos depois do vídeo na barraca de tiro, e, apesar de estar escuro, dava para perceber que não era Hope, já que Caroline é alguns centímetros mais alta que ela. Então, se realmente tinha alguém me perseguindo, essa pessoa decidiu mentir. Isso só tornava a situação pior.

— Ok. Eu vou tomar cuidado para não contradizer essas fotos.

Peguei o telefone para falar com Caroline e vi a imensidão de mensagens, uma boa parte me xingando, mas uma se destacou.

"Rebekah: Klaus, o que Kol disse é verdade?"

De todas as pessoas intrometidas, só minha irmã merecia uma resposta.

"Klaus: Sim, eu tenho uma filha.

Rebekah: MEU DEUS

Rebekah: Por que você não nos contou?

Klaus: Eu pensei em levá-la para sua festa de 4 de julho, mas queria desenvolver uma relação com ela antes de apresentá-la para vocês.

Klaus: Não queria dividi-la enquanto não a conhecesse bem.

Rebekah: Justo.

Rebekah: Uma pena que tudo fugiu do seu controle.

Klaus: Eu sabia que Carl era um nojento, só não imaginava que ele ia publicar algo do tipo sem tentar contato antes.

Rebekah: Eu sempre quis detonar ele, mas nunca tive uma razão plausível.

Rebekah: Sempre foi óbvio que ele nos perseguia, mas desta vez ele passou todos os limites.

Rebekah: Assim que você fizer seu pronunciamento, eu estarei preparada.

Klaus: Obrigado."

Agora tudo o que falta é falar com Caroline e torcer que ela aceite minha ideia.