Ours Blood

Capítulo XV - Você é minha, anjo.


Depois de muito esforço para me fazer levantar do chão do banheiro, Patch me carregou nos braços até o carro. Eu devia estar em estado de choque, pois eu não conseguia nem abrir a boca para responder as perguntas de Patch ou as gracinhas de Eric que, infelizmente, estavam de volta.

Os dois estavam se dando bem, pelo menos não tinham discutido e nem tentado bater um no outro desde que saímos da casa da fazenda, o que era bom.

Enquanto nós passávamos velozes pelas arvoras que seguiam até o bar de Eric, eu só conseguia pensar em minha mãe. Quero dizer, o que eu faria agora? Meus pais estavam mortos, a única família que me restara era Patch, se eu o perdesse, perderia tudo.

Hora ou outra, Eric se virava para me olhar – ou encarar -, eu me sentia desconfortável e até envergonhada, podia ser pela minha blusa rasgada, meu cabelo parecendo uma juba de leão ou pelo meu rosto pálido. Minha vontade era de encolher até sumir.

Segundo Eric, Fantagsia era um lugar seguro, em que poderíamos conversar, mas depois do que eu tinha visto hoje, não tinha tanta certeza assim. Os minutos que eu passei no carro pareceram mais horas quando finalmente Patch estacionou em frente ao bar.

Pam nos aguardava na porta da frente, ela estava...Extravagante, mais do que estava na primeira vez que a vi. Agora ela usava um corpete roxo, uma saia preta e grudada ao estilo Marcie Millar e um salto alto maior do que os de Vee. Sua expressão indiferente como sempre, mas ela era realmente bonita.

- Acho bom ser importante, a casa estava cheia. – Ela resmungou quando passamos pela porta.

Eric ignorou e entrou no bar me puxando pela mão, vi que Pam me fuzilou com os olhos, mas fechou a porta atrás de si e cruzou os braços.

- Quem é esse? – Pam fez um gesto com a cabeça para indicar Patch, ela estava com um estranho olhar de “sedução”.

Patch respondeu normalmente e ignorou tudo que ela estava tentando insinuar com aqueles olhos penetrantes.

- Patch, namorado da Nora.

- E a nossa querida Nora tem namorado. – Ela disse com sarcasmo.

Eric tinha parado mais ou menos no meio do bar e tinha me levado com ele, já tinha soltado minha mão da dele, mas quase pude sentir uma faísca de raiva passar pelo seu corpo quando Pam disse aquilo.

- Agora não, Pam. – Ele grunhiu, e inclinou a cabeça levemente em direção aos banheiros. – Quem mais está aqui?

- Só um minuto. – Anunciou sua “filha”, ela seguiu para os banheiros e segundos depois ela voltou segurando um garoto pelo pescoço e uma menina pelo braço, eles deviam ter no máximo uns 16 anos.

Aquilo parecia ter irritado Eric mais que o normal, ele puxou o garoto pela camisa.

- Só não te mato, porque o batimento do seu coração é horrível.

O garoto riu como se alguém tivesse contado uma piada, isso parou quando Eric abriu a boca e suas presas aumentaram de tamanho, ele continuou sua fala:

- E o cheiro do seu sangue é pior ainda. – Dessa vez os dois gritaram e tentaram fugir do aperto de Pam.

Eu fui para o lado de Patch e apertei a mão dele, já tinha visto muito sangue por um dia.

- Eric, para. – Fiz uma pausa para ver se ele ia me escutar, depois prossegui. - Deixe-os ir.

O vampiro bufou, mas soltou o garoto. Pam fez o mesmo com a garota, ela ainda me olhava feio.

- Sumam da minha frente. – E como vultos, os dois adolescentes deixaram o bar correndo. Eric continuou na mesma posição, com a cabeça um pouco baixa, ele só olhou de canto de olho para mim e depois se voltou para Pam.

- Dê uma de suas blusas para Nora.

Aquilo pareceu ser o fim da paciência que ela não tinha.

- O quê?! Nem pensar! – Ela estourou e bateu o pé no chão como uma criança mimada. – Eu pareço o que? Talvez seja porque eu sorrio demais, ai todos pensam que eu...

- Agora, Pam! – Eric se controlou para não gritar. E sem dizer nada, Pam deu as costas e seguiu para escritório do bar.

Lancei um olhar á Patch, ele beijou minha testa antes de soltar sua mão da minha. Fui atrás de Pam, ela estava encostada na única mesa do cômodo.

- Não sei se minhas roupas vão servir em você, mas enfim... Fique aqui. – Disse com uma voz enojada e sumiu por alguns segundos. Quando reapareceu estava segurando uma blusa preta, com renda, tomara que caia e só tinha um minúsculo zíper do lado direito.

- Experimente. – Ela jogou a blusa – ou pedaço de pano – para mim.

- Com você aqui? – Perguntei um pouco indignada, eu não trocava de roupa nem na frente de Vee.

- Qual é o problema? – Parei por uns segundos olhando para ela. – Vai!

Dei as costas à Pam e tirei minha própria blusa, joguei num canto da sala e a empurrei mais um pouco com o pé. Foi trabalhoso entrar dentro da roupa de Pam, aquilo mal me deixava respirar e metade da minha barriga estava de fora.

Ótimo, de mendiga á puta.

Parei em frente ao único espelho que o escritório tinha, parecia bem antigo e a moldura era de uma madeira bem gasta, mas ainda assim deu para ver meu reflexo. Eu estava acabada, eu parecia frágil e indefesa como se uma brisa qualquer pudesse me derrubar. Meu rosto estava pálido e sem vida, os olhos inchados e eu tinha olheiras horríveis. O cabelo estava do jeito que eu tinha pensado estar, um emaranhado de nós e cachos que pulavam para fora. Tentei arrumar, mas em vão, continuou uma zona, por sorte tinha um elástico rosa em meu pulso, prendi num rabo de cavalo alto, o que só deixou meu busto mais exposto ainda.

E eu ia de mal á pior. Pensei. Virei-me para Pam, ela já estava parada na soleira da porta gesticulando para o bar.

- Quando você quiser, Majestade. – Disse numa voz sarcástica e fingida.

- Me poupe.

Falar aquilo para uma vampira como ela era praticamente implorar para morrer, mas eu passei por ela com calma, a esse ponto tinha que aprender a superar meus medos. Quando entrei na sala Patch e Eric olharam para mim, Patch estava com os olhos tristes de antes e Eric... Bem, ele estava com aquele sorrisinho pervertido de sempre, olhava diretamente para a blusa nova, ou era no que eu preferia pensar que ele estava encarando.

- Boa escolha, Pam.

- Quieto, Eric. – Patch finalmente falou, sua voz forte e confiante. – Não vou aturar suas gracinhas.

Eles estavam sentados numa das mesas redondas que ficavam mais para o meio do bar, um de frente para o outro, agora eles se fitavam com indiferença. Puxei uma cadeira e fui para o lado de Patch, que quase imediatamente tomou minha mão.

Um silêncio se seguiu, até que eu disse numa voz que saiu mais fraca do que eu pretendia.

- Então, aquela Sookie tem cara de ser uma vaca mesmo.

- Conheceu a Sookie? – Eric surpreendeu-se e levantou uma sobrancelha.

- Foi ela que fez aquilo com minha mãe, tenho certeza. Tive uma... Discussão com ela em Portland.

- O que ela disse para você? – O vampiro perguntou ao mesmo tempo em que o anjo ao meu lado disse:

- Droga, Nora. Por que você nunca me diz as coisas?

- Desculpe. – Falei baixinho com a intenção de que só Patch ouviria, mas como dois vampiros na sala, claro que não era possível. Virei-me para Eric. – Bom, talvez eu tenha xingado...Mas ela mexeu comigo primeiro! Começou a falar de como você comia na mão dela, eu não agüentei!

- Essa é minha garota. – Eric disse com uma voz... Orgulhosa? Talvez. Não queria pensar em mim mesma como um animalzinho de estimação dele.

- Sua garota? – A voz de Patch saiu incrédula. Ele não sabia que o sangue de Eric estava no meu corpo e vice-versa, essa história já tinha me rendido muita dor de cabeça.

- Nora é minha agora. – Ele viu a reação de Patch e continuou com diversão. – Ora, anjo, você sabe o que isso significa.

Como resposta, o silêncio. Aquilo era pior do que levar um tapa na cara.

Eric riu e eu interrompi.

- Sookie disse que não tinha contado para os outros o que tinha visto em sua mente. – Tinha conseguido a atenção dos dois, isso era bom. – Mas que depois de tudo o que eu disse ia contar e coisas “ruins” iam acontecer. Por isso queria ir para casa.

- Por que não os matamos? – Patch agora nem olhava para mim, mas para Eric com um olhar cheio de ódio.

- Podemos muito bem matar esses dois que estão em Portland, sou quase mais velhos que os dois juntos. Mas se matarmos esses, vamos ter que lidar com todo o resto da irmandade, seita, ou sei lá o que eles tem. E isso ia ser travar uma guerra, nós três – Ele incluiu Pam ao mesmo tempo em que dava uma olhadinha para trás – Contra quase todos os vampiros da terra.

- Bem, adoro desafios. – Patch deu os ombros e relaxou se encostando-se à cadeira.

- Nem pensar! – Pam finalmente incluiu-se á conversa e parou de braços cruzados ao lado de Eric, a expressão de nojo estava de volta. – Não vou arriscar minha vida, e nem você deixar que arrisque a sua. E tudo isso por ela, Eric? O que você tem?

Senti-me incomodada com o olhar que Eric me lançava agora. Virei o rosto e concentrei-me em Patch.

- Você vai se eu quiser. – Ele respondeu sem ao menos olhar para ela.

- Cadê aquele seu lado mal? Se arriscar por uma humana? Pensei que tivesse aprendido á lição com a Sookie. – E foi a gota d’ água. Eric se levantou na velocidade “vampiresca” e empurrou Pam contra uma parede, disse algumas coisas numa língua que eu não consegui entender e finalmente a soltou.

- Eu vou ligar para a policia. – Todos olharam para mim. – Para falar sobre minha mãe e... – Minha voz falhou e até esqueci de terminar a frase quando Patch me deu um beijo na testa, como ele podia sequer tocar em mim depois de tudo o que eu tinha feito com ele?

- Eu faço isso. – Um ato de bondade pura vinda de Eric? Estranhei, mas não discuti. – Posso colocar algumas coisas nas cabeças dos policias. E você – O vampiro apontou para mim – Passe á noite, ou o que sobrou dela, aqui.

Meu relógio marcava 23:00, só de olhar meus olhos pareciam pesados.

- Ela vai ficar na minha casa. – Se meu olhos estavam se fechando, agora eles estavam praticamente pulando para fora das órbitas. Eu nunca tinha ido á casa de Patch, e é claro que eu adoraria a idéia mais que agora, se fosse em uma ocasião diferente.

Mais uns 10 minutos se passaram até Patch e eu nos levantarmos e irmos até o carro. Tudo estava planejado, eu passaria a noite na casa de Patch enquanto Eric falava com os policias e limpava a casa. Pareceu-me uma ótima idéia, eu estava cansada demais para pensar, mas a imagem de Eric “conversando” com os policias, como ele disse, não parecia muito boa.

Patch estacionou na frente do parque de diversões da cidade, Delphic Parque. O lugar ficava perto da praia, e o cheiro da água salgada foi bom para mim, me despertou um pouco.

Descemos e eu segui Patch até os portões fechados. O parque só teve movimento no dia em que abriu, porque depois as pessoas pareciam ter esquecido dele, de manhã as crianças tomavam conta dos brinquedos e á noite, viciados e afins.

Ele tirou o cadeado rapidamente e fiquei imaginando se ele teria a chave.

- Patch, o que estamos fazendo...? – O anjo só colocou o dedo indicador em minha boca para me silenciar. Eu obedeci e fui puxada para dentro, ele tornou a trancar o portão e logo em seguida puxou-me para de baixo da montanha russa velha e toda remendada, o Arcanjo.

Tinha uma portinha numa das estruturas do brinquedo, fomos para lá e Patch abriu a porta, um corredor longo e estreito, seguimos para dentro, o túnel parecia descer cada vez mais. Dei graças a Deus que não tinha claustrofobia. Logo dei de cara em uma espécie de quartinho com azulejos pretos, entramos em outra porta e deparei-me com uma sala completamente preta.

O sofá parecia macio e confortável, era negro e tinha um certo brilho, quadros de anjos caindo e uma mesa de centro. Os azulejos pretos continuavam e eu me dei conta que era uma casa inteira, a cozinha tinha tudo, contando com geladeira e uma torradeira que não aparentava ter sido usada em uma só vez. Tudo preto, também.

- Nossa. Você mora aqui? – Perguntei e andei um pouquinho pela sala. Boquiaberta, observei os quadros que estavam por toda a sala.

Ele limitou-se á abrir a única porta que estava fechada. Um quarto. Paredes pretas, chão preto, uma cama enorme no centro com o lençol e travesseiros pretos e um closet cheio de roupas, nunca teria imaginado que Patch tivesse todas essas roupas, ele parecia um cara simples que não ligava para aparência, mas mesmo assim sempre parecia divino.

Desabei na cama, minha única vontade era de ficar ali dormindo e no dia seguinte acordar e que tudo fosse um sonho. Cai na real naquela hora, toda a realidade bateu com o que pareceu um pedaço de pau na minha cabeça. Quando me dei conta eu estava chorando, meu rosto todo já estava molhado. Me encolhi e abracei minhas próprias pernas, estava tentando parar de soluçar, não queria parecer mais fraca e idiota ainda na frente Patch, mas quando me vi, já estava falando entre soluços.

- Ah, meu Deus, me desculpe Patch. – Minha visão estava toda embaçada, mas o vi encostado na soleira da porta de costas para mim. Ele não virou.

- Eu fui tão burra, eu sou tão idiota. Meu Deus. – Eu não conseguia mais conter o choro, eu parecia uma criança. – Eu estou perdendo todas as pessoas com quem eu me importo... E tudo por minha causa. – Balancei a cabeça com negação, mas tudo aquilo era verdade, tudo por causa de idiotices e coisas que eu poderia ter evitado.

Senti a cama afundar um pouquinho e quando levantei a cabeça dei de cara com Patch, ele me puxou para trás e eu apoiei a cabeça em seu ombro para, mais uma vez, encharcar sua camisa.

- Me desculpe, me desculpa. – Eu choraminguei. – Por favor. Eu não quero te perder.

Agarrei seu pescoço e puxei seu rosto para perto do meu, ele beijou minha testa e apertou seus braços em minha cintura.

- Você é minha, anjo. E eu sou seu. Nada nunca vai mudar isso, eu prometo.