Os anos tinham se passado desde que Natasha havia sido julgada pelo Conselho, e muito aconteceu na vida dela e na de Clint desde então.

Natasha dedicou-se exclusivamente a tornar-se parte da organização de segurança norte-americana, treinando incansavelmente junto a Coulson, Clint e May, que lhe ensinaram tudo o que precisaria saber.

Com o tempo, ela finalmente deu a Fury a prova de confiança que ele tanto queria, depois de salvar a vida do diretor e a de Hill, colocando a sua própria em risco durante uma missão. A partir desse dia, a relação entre os dois se tornou mais concreta, baseada na confiança que passaram a ter um pelo outro, e ela passou a vê-lo como uma representação da figura paterna que sempre se manteve ausente em sua vida, e Hill a respeita-la ainda mais, e as duas tornaram-se boas amigas.

Nas missões de campo, ela e Clint tornaram-se parceiros; os dois melhores agentes da SHIELD juntos, formando uma dupla que trabalhava em uma sincronia indiscutível e concluía suas missões com perfeição, obviamente, na maioria das vezes.

Os dois especialistas passaram por maus bocados cumprindo com seus deveres ao redor do mundo. Itália, Alemanha, Afeganistão, Inglaterra, Grécia, Egito, Índia, Peru... Ambos possuíam um grande repertório de “viagens” e cicatrizes que sempre ficariam marcados em suas lembranças.

É certo que uma invasão alienígena e a literal existência de outros “Reinos” para além da Terra, com certeza marcara-os de forma incorrigível, diferente de tudo que viveram. Principalmente Clint, uma vez que ele tivera que suportar o Deus da Trapaça tomando o controle sobre suas ações e decisões, dentro de sua própria mente por um longo tempo.

Mas, em contrapartida, graças a tais acontecimentos, a Iniciativa Vingadores havia sido ativada e eles puderam desfrutar do apoio de outras pessoas, que como eles, tinham seus próprios fardos para carregar enquanto ainda precisavam salvar o mundo.

O lado bom em meio a tanto caos? Os dois possuíam um ao outro ao seu lado sempre que se viam desamparados física e emocionalmente, e isso já era mais que suficiente para eles.

Havia três anos desde que iniciaram um relacionamento realmente sério. É claro que nunca haviam perdido a intimidade entre eles desde Budapeste, mas como Clint vivia repetindo, só é oficial depois que se faz o pedido, e Natasha permanecera irredutível em relação à aceita-lo por um bom tempo.

Obviamente, tal atitude ia diretamente contra o protocolo, mas isso já não tinha mais tanta importância; não depois que o único homem que teria alguma verdadeira influência sobre eles acerca de protocolos, estava morto.

A perda de Phill Coulson fora uma lástima para todos, em especial para Clint e Natasha, que se sentiam mais vazios sem a presença do amigo e O.S.

Naquela manhã, Natasha encontrava-se em seu apartamento em Manhattan, sentada no sofá, tentando inutilmente concentrar-se na leitura de um livro, enquanto esperava por alguma noticia de Clint que ainda não tinha voltado de sua missão na Holanda.

Ela desejava estar com ele, dando-lhe cobertura como de costume, mas o Conselho decidira que a missão necessitaria de apenas um único especialista na equipe, e que, inconvenientemente, tinha que ter sido Clint, que não havia reportado seu status nas últimas 12 horas, deixando-a angustiada com sua ausência.

É claro que confiaria sua vida a ele sem hesitar, e sempre soubera de sua competência em ação, mas duvidava que ele realmente tivesse se recuperado totalmente dos efeitos que seja lá o que Loki havia feito, teriam provocado nele.

Uma leve batida na porta fez com que ela se sobressaltasse, levantando de seu assento e correndo para abri-la, encontrando o rosto sujo de fuligem de Clint, escorado na parede.

- Привет, любовь. (Oi, amor) – sorriu ele, fraco.

- Está atrasado, Clint.

- É eu sei. – disse ele mancando pela sala. – Mas admito que esperava uma recepção mais calorosa da sua parte, Nat.

- Você está bem? – perguntou ela, aproximando-se para analisa-lo, ignorando seu último comentário.

- Estou. – disse simplesmente, soltando um suspiro cansado.

- Por favor, diga-me que pelo menos foi à enfermaria da base. – Ela perguntou, observando atentamente o estado do homem, que quando a encarou, ela soube que ele não o fizera. Suspirou. – Por Deus Clint, você está ferido, por que não procurou pelo West?

- Não é nada sério, eu estou bem, de verdade.

- Não é o que parece. Vamos, tire a camisa, e deixe-me ver o que aconteceu.

Com dificuldades ele tirou a camiseta rasgada da SHIELD que usava, roubando a atenção de Natasha por um segundo para seu dorso musculoso, antes que ela chegasse mais perto se concentrando em uma analise minuciosa.

Ao mínimo toque dela, ele retraiu-se com a dor, enquanto ela subia suas mãos para seus ombros, e o contornava olhando suas costas, onde havia um corte visivelmente profundo.

- Ah Clint... – disse tocando-o. – Espera, está... O que você fez? Atravessou uma janela?

- Relativamente... Não é tão ruim assim.

- Pelo menos uma costela quebrada, séria luxação do ombro esquerdo deslocado, um pedaço de vidro alojado nas suas costas, e uma fratura na perna direita perceptível apenas pelo modo que você está andando. E você ainda me diz que está bem?

- Já estive pior antes, você sabe.

- Sente-se, vou buscar o estojo.

Ela voltou do quarto, trazendo consigo o estojo onde guardava os vários itens médicos que mantinham em casa, para quando fosse necessário trata-los em situações como esta.

Com ele sentado no braço do sofá, ela limpou seus arranhões, e arrancou o pedaço de vidro das costas de Clint com uma pinça, estancando o sangue em seguida antes de dar os pontos. Depois, enrolou suas costelas com uma faixa grossa, para amenizar a dor, e por fim voltou o ombro e a perna do arqueiro para a posição correta, contando sempre com as queixas dele devido ao incomodo que sentia.

- Tome, é um relaxante muscular para aliviar a dor. - disse entregando a ele o comprimido e um pequeno copo de água, os quais ele tomou, inicialmente relutante. Quando ela pretendia se afastar, ele usou seu braço bom para segurar o pulso dela, e puxá-la para si, deixando seus rostos a milímetros de distância, enquanto ela posicionava suas mãos em seu peito.

- Obrigado, doutora Romanoff. – disse segurando sua cintura, impedindo-a de sair de seu abraço.

- Seu idiota, estava preocupada com você... Não faça mais isso.

- Desculpe.

- Por que não reportou seu status da missão? Por que não foi a enfermaria quando voltou se estava tão machucado? Clint, porque você tem que ser tão cabeça dura?!

- Natasha... Eu sei que você me acha cabeça dura, e que eu tinha que ter procurado pelo West, mas a única coisa que eu precisava para ficar bem era vir para casa. Desculpe... Desculpe não ter mandado notícias, mas acabei perdendo a porcaria do comunicador... E me desculpe por não ter ido à enfermaria antes de vir para casa, e obrigar você a cuidar de mim e...

Ela finalmente acabou com a distância entre seus lábios, o beijando simultaneamente de forma carinhosa e intensa, buscando expressar ali tudo o que queria dizer a ele.

- Sempre vou cuidar de você Clint, não importa o que aconteça. – disse ela afagando seu rosto. – Se esqueceu?

Ele sorriu, antes de ficar cabisbaixo, ainda a abraçando. Natasha estava estranhando o comportamento do namorado, que jamais havia exposto tão claramente seus sentimentos como acabara de fazer. Algo estava errado, e ela precisava descobrir o que tanto o afligia.

- Clint, o que está acontecendo? Você tem agido de um jeito tão estranho, tão distante de tudo e de todos, até mesmo de mim. Ainda é pelo que aconteceu em Nova York, não é? - Clint a encarou, e sabia que nada poderia esconder daqueles olhos verdes que o conheciam tão bem. - Me diga Clint, eu quero poder estar com você de verdade, quero te ajudar. Seja lá qual for o problema, você sabe que ficarei ao seu lado.

- É só que... Eu sinto falta de você quando não está por perto, Nat, e hoje, a última coisa que eu pensava eram cuidados médicos. – ele desabafou - Quando eu estava em missão, tudo o que eu conseguia ter em mente, era você. E eu só... Precisava chegar aqui, para saber que você estava bem.

- Por que eu não estaria Clint?

- Eu... Eu não sei, é só que... Ah, esquece, não é importante.

- Clint? Anda, eu te conheço. Desembucha: o que aconteceu?

- Eu... Eu assisti aos vídeos de segurança do aero porta-aviões.

Ela revirou os olhos, inconformada.

- Eu disse a Hill para que ela não mostrasse a você, eu sabia o que ia pensar.

- Não foi ela, fui eu que pedi ao Tony que invadisse o sistema e acessasse as câmeras; eu vi o que eu fiz. Vi como te expus de maneira tão pessoal para Loki, e como ele usou tudo isso para atingir você. Vi como eu poderia ter te matado, e qualquer um que aparecesse na minha frente se não tivesse me parado. E isso tudo só me corrói ainda mais por dentro, porque eu sei que não consegui manter o controle sobre eu mesmo.

- Eu já te disse Clint, não era você, era o Loki. Que chance nós teríamos contra um cetro mágico alienígena Clint? Você não teve culpa.

- Que diferença isso faz? Eu fui fraco, Nat, de novo, e coloquei a sua vida em jogo por isso... Se eu tivesse matado você, se eu tivesse te perdido, eu... Eu não sei o que eu faria sem você. – sussurrou cabisbaixo.

- Clint, você está aqui agora, eu estou aqui. Você lutou contra os Chitauri, contra Loki, contra aqueles que tentaram te dominar, e fazer de você algo que eu sei que não é. Retomou o controle e fez o certo. E é isso que faz toda a diferença, que faz de você um homem melhor, um homem mais forte. Faz de você o homem que eu amo. - Ele elevou seu rosto, voltando a encará-la com um novo brilho brotando em seu olhar - Esqueça tudo o que aconteceu, e coloque de uma vez por todas na sua cabeça: era Loki, não você.

- Disse que me ama? – perguntou com um sorriso no canto de seus lábios.

- Qual é, estamos juntos há tanto tempo, pensei que você já soubesse disso. – disse ela sorrindo.

- Sempre falou que o amor é para crianças.

- Mas é. Entretanto, o que eu sinto por você vai muito além do que uma única palavra de quatro letras pode descrever. Você já se tornou parte de mim.

Com aquilo, Clint capturou seus lábios novamente em beijo inegavelmente apaixonado, ao qual Natasha retribuiu com a mesma intensidade.

- Tem razão, tudo eu sinto por você era tão improvável quando nos conhecemos, e ainda assim... Tornou-se mais forte do que qualquer coisa Nat. – ele sorriu, colando sua testa a dela. – Obrigado pela recalibração cognitiva. – brincou ele, conseguindo uma risada verdadeira dela.

- Você é impossível Clint, mas nunca conseguiria me vencer de qualquer forma.

- Convencida. – ele riu, antes de coloca-la ainda mais perto, só para poder sentir seu beijo mais uma vez, antes de serem interrompidos pelo celular de Natasha.

Clint suspirou, afastando-se, e deitou-se no sofá, enquanto Natasha atendia ao chamado.

- Romanoff.

- Olá Natasha.

- Oi Maria.

- Já fez o check up do Clint?

- Como...

- Ah, vamos lá Natasha, nós duas sabemos que se ele não foi para a enfermaria e muito menos para o apartamento dele, é óbvio que ele está com você.

- Ok, Maria. Ele está bem, tirando algumas... Contusões. – disse ela, recebendo um olhar irônico de Clint. - O que você quer?

- Apenas diga a ele, que quando estiver recuperado, precisaremos do relatório da missão aqui na Central.

- Pode deixar.

- Até mais, Natasha.

- Até. – ela disse e desligou o telefone.

- Deixa eu adivinhar... Relatório? – disse ele, arqueando uma sobrancelha.

- Sim, mas por enquanto você deve descansar.

- Eu quero sair, preciso de um pouco de ar.

- Mas a sua perna, suas costelas...

- Eu estou bem, não se preocupe. – ele respondeu se levantando e indo até ela. - Vou tomar um banho e me trocar, e então nós iremos ao Central Park dar uma volta. Que tal?

- Se é o que você quer.

- É por essa e outras razões que eu gosto de você, Natalia.