Bus

Mesmo após um longo banho, Clint não conseguia pregar os olhos para dormir. Angustiado, e sem lugar algum onde conseguisse tranquilizar sua mente, resolveu ir até a cabine, onde Melinda estava sentada na cadeira do piloto, os olhos escondidos sob as lentes dos óculos escuros sempre focados no horizonte.

– Posso apreciar a vista com você May? – perguntou Clint, após bater duas vezes na porta e enfiar a cabeça para dentro da cabine.

– Entre logo, Barton. – disse ela, sem olhar realmente para ele.

Ele andou até o assento do copiloto, sentindo seu ferimento ainda latejar.

– Quanto tempo até chegarmos ao Triskellion?

– Acredito que em menos de duas horas estaremos em Washington.

– Ótimo. – disse ele, encarando o as nuvens a sua frente, com o olhar perdido. Após alguns minutos May quebrou o silencio perturbador que se instalara.

– Vamos lá Barton, diga o que você tem que dizer.

– O quê?

– Clint, eu conheço você desde que entrei para a SHIELD. Quer realmente mentir para mim?

– É só que eu... Eu estou ficando sem saídas May. – ele disse, desconsertado.

– Fury perguntou se você vai mata-la, não é?

Ele respondeu apenas com um aceno com a cabeça.

– Você conhece os protocolos.

– E o que você vai fazer?

– O que faria se estivesse no meu lugar? – perguntou ele, direto - Se fosse Coulson no lugar de Natasha. O que você faria?

– É diferente Clint, você e Natasha...

– Na verdade, May, é exatamente a mesma situação. E não adianta negar para mim, todo mundo sabe o quanto você foi, e ainda é, apaixonada por ele. O que vocês dois tiveram...

– O que tivemos ficou no passado Clint, mas eu nunca o mataria se é isso que você quer saber. Nunca. Morreria se fosse preciso para não ter que fazer.

– Então já conhece a minha resposta. Você sabe o quanto eu amo aquela mulher.

– Eu sei, e ela sempre soube. Mas, será que isso vai ser suficiente para impedi-la de matar qualquer um de nós, Clint? De matar você?

– Eu não sei... Quebrar o controle cerebral da Hydra é difícil, mas nunca foi impossível.

– Confiaremos nessa possibilidade então. Se a situação se agravar... Veremos o que terá que ser feito.

– Eu entendo. – disse ele, em um movimento afirmativo com a cabeça. – Mas, voltando ao assunto... Como vocês estão? Eu digo, você e Coulson?

– Isso é confidencial Agente Barton.

– Sempre é, não é Melinda? Mas você sabe que pode me dizer. E então? Ainda é como nos velhos tempos? - Ele sorriu para ela, travesso.

– O tempo passa Clint, as coisas mudam, as pessoas mudam...

– E violoncelistas aparecem. – concluiu ele.

– Exatamente.

– May, vocês tiveram algo tão mais forte do que o que ele teve com a Audrey...

– Clint, por favor, não quero falar sobre isso.

– Eu acho que ele ainda te ama. Em minha opinião pelo menos.

– Okay, vou pensar se acredito.

– Quando a Nat souber sobre ele, ela... – ele cortou-se de repente, os momentos felizes do passado junto aos amigos voltando a sua mente. – Parece que sempre volto a ela, não é?

– Eu acho que você a ama. Em minha opinião pelo menos.

– Engraçada você hein, Mel. – ele riu, e surpreendentemente, ela o acompanhou.

– Vá descansar Barton. Precisaremos de você inteiro quando pousarmos.

Ele assentiu, percebendo que eles não continuariam aquela conversa nesse momento, e se levantou indo em direção à porta.

– Não pense que eu esquecerei esse assunto, May. Quando tudo isso acabar, eu e Natasha teremos uma conversa séria com você. – ele sorriu, saindo da cabine, e refletindo por um momento antes de colocar a cabeça para dentro novamente – E obrigado, May... Por me ouvir.

– É para isso que servem os amigos, tampinha.

– É, é sim... Baixinha.

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Alguma tempo depois de Coulson, May e Clint deixarem Ward sozinho, a porta da sala de interrogatório abriu-se e Skye entrou receosa encarando-o com os olhos levemente marejados.

– Skye... – ele sussurrou, tentando começar sua justificativa.

– Eu não quero ouvir suas desculpas, Ward. Eu só quero saber por quê. – ela o cortou, com a voz abalada.

Ele ficou cabisbaixo mais uma vez.

– Eu não tenho como me desculpar pelo que fiz. Mas você tem que entender que isso é muito maior do que eu. Meu passado não era um mar de rosas, Skye, assim como eu sei que o seu não foi. A Hydra me salvou; ela fez de mim o que sou hoje.

– Não venha com essa pra cima de mim Grant. A escolha sempre foi sua. Você nos traiu!

– Eu não escolhi isso! – ele gritou – Eu quis contar a verdade por várias vezes e fui um covarde em não fazer isso antes, porque eu estava com medo do que ela poderia causar. E olhe onde nós dois estamos agora!

– Eu só não consigo entender, porque se dar ao trabalho de toda aquela encenação de agente apaixonado? Que risco eu poderia significar para você querer me ter por perto?

– Não, não, não... – ele balançou a cabeça negativamente, encarando-a de novo - Eu não menti sobre isso Skye, nunca. Você tem que acreditar em mim, eu nunca quis te machucar.

– Mas você machucou Ward. E eu nunca vou esquecer o que você fez. – o tom frio dela atingiu-o como uma bala.

– Estou tentando reparar os meus erros agora, Skye. Eu prometi ajudar o Coulson, e vou fazê-lo. E, se quando tudo acabar, você nunca mais quiser olhar na minha cara, então eu irei embora. - ela o encarou silenciosamente, abrindo a porta mais uma vez para sair.

– Skye?! – ele chamou, fazendo-a voltar sua atenção para ele – Eu ainda amo você.

A morena viu a verdade nos olhos dele, e hesitante se aproximou com passos rápidos até a mesa, segurando o rosto dele firmemente e beijando-o.

– Eu também Grant. – ela sussurrou em seus lábios, sentindo as lágrimas contidas finalmente escorrerem por sua face, e em seguida saindo da sala apressada sem olhar para trás.

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Após algumas horas trabalhando nas atualizações das ICER’s junto com Fitz, Jemma resolver buscar café para ambos, e quando voltou ao laboratório encontrou o jovem engenheiro cedendo ao cansaço e dormindo sob a própria bancada do computador.

– Fitz? – ela o sacudiu pelo ombro – Fitz.

– Oi... – respondeu ele, sonolento, finalmente despertando, fazendo Simmons rir.

– Um pouco de café, Leo? – ofereceu Jemma, entregando-lhe o copo com o liquido escuro flamejante.

– Seria ótimo, Dra. Simmons. – ele sorriu de volta para ela, aceitando a bebida e se colocando de pé, encostado a bancada de frente para a bioquímica.

Ele tomou um gole, observando cada traço do rosto da mulher a sua frente, e colocou o copo de lado, cruzando os braços e voltando a olhar para ela.

– O que foi?

– Nada.

– O que você está olhando Leo?

– Nada.

– Vai querer mentir tão descaradamente, justo para mim Leopold?

– Estou olhando para você; quero gravar bem cada parte do seu rosto, por que... Se eu morrer, quero que minha última lembrança seja você, Jemma.

– Do que você está falando? – ela sussurrou, visivelmente despreparada para ouvir algo como aquilo, pondo seu copo também na banqueta, e aproximando-se dele.

– Você sempre foi minha melhor amiga Jemma, é tudo o que eu tenho, e sinceramente, não sei o que seria da minha vida sem você. E nós dois sabemos que cada metro mais próximos do Triskellion, significa um passo mais próximos de uma provável emboscada da Hydra. – ele disse em um só folego, rindo em seguida das próprias palavras - Dá para acreditar nisso? Tudo mudou Jemma.

– E o pior é que dá. Depois de tudo o que passamos Leo, não parece ser um problema tão grande. Não podemos ser tão negativos, vamos conseguir. Okay? – ela perguntou, com as mãos em seus ombros.

– Okay, Jemma. – respondeu, com um meio sorriso, ao que ela o puxou para um apertado abraço.

– Amo você, Fitz.

– Eu também Simmons. – disse beijando sua bochecha. – Eu também.

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Washington - Triskellion

As nuvens escuras encobriam o céu sobre Washington, quando o avião finalmente pousou na pista do Triskellion, e todos da equipe desembarcaram, seguindo até a ala hospitalar, onde receberam os cuidados de West, que ficou feliz por vê-los vivos.

A chuva já caia torrencialmente enquanto Hank terminava o último curativo na perna de Ward, quando todos os alarmes dispararam pelo prédio.

– São eles. – disse Coulson.

– Precisamos ir. – continuou Clint, ao que Ward se pôs de pé.

– Deixe-me ajudar. Por favor. – o agente suplicou, estendendo as mãos algemadas.

Clint encarou Coulson e May brevemente, que assentiram em concordância, antes de solta-lo e entregar-lhe uma arma.

– Faça a coisa certa dessa vez, Ward.

– Hank, proteja Skye e Fitz-Simmons. – pediu May preparando sua arma também, e saindo da enfermaria, seguida por Clint e Coulson.

– Skye... Por favor, tenha cuidado ok? – disse Ward, aproximando-se e encarando-a.

– Você também. – ela respondeu, trocando com ele um olhar significativo antes dele ir atrás dos outros.

Corriam com dificuldade para se protegerem, enquanto os aviões da HYDRA disparavam contra a estrutura do prédio, e seus agentes invadiam as instalações sendo apoiados pelos traidores infiltrados, travando diversas batalhas contra os verdadeiros agentes da SHIELD. O caos estava totalmente instalado na base quando Clint escutou uma voz conhecida chamando-o pelo comunicador.

Agente Barton!

– Carter? – ele respondeu, fazendo todos pararem escondidos atrás das colunas do edifício.

– Estamos perdendo o controle. Natasha está aqui, e está levando um pequeno esquadrão da Hydra até o escritório do Diretor. O que aconteceu com ela?!

– Estão controlando ela, Sharon. Sigam as ordens do Fury, eu vou subir e tentar para-la. Protejam o Triskellion, continuem lutando. Não podemos perder a base. – um minuto de silencio, até que ela continuou.

Clint, nós não deveríamos chama-los?

– Fury nunca autorizaria; eles ainda estão em missão. Mas não vejo como não fazer isso. Nós precisamos deles aqui. Chame-os, Carter.

Entendido, Gavião.

– Natasha está indo com Stan até Fury. – relatou Clint - Precisamos impedi-los. Eu não vou permitir que ele continue controlando-a por nem mais um segundo.

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O próprio Stan em pessoa seguia pelo Hall de entrada, protegido pelos seus agentes que cercavam a ele e Natasha, quem o guiava até a sala de Fury.

Os soldados da Hydra continham qualquer ameaça que se aproximava, e quando não eram páreos para os agentes da SHIELD, Natasha rapidamente neutralizava-os.

A resistência era mínima, à medida que seus infiltrados se voltavam contra a SHIELD, e eles seguiam sem muitos empecilhos pela instalação, até alcançarem o andar do diretor. Sob as ordens de Stan, os agentes explodiram a porta da sala de Fury, encontrando lá dentro apenas Hill e o próprio Nick.

– Hora, hora, hora... Quem é que temos aqui! Diretor Fury!

– Joseph Stan.

– Acredito que tenha recebido meu convite Fury. Mas no caso, como você fez a desfeita de não aparecer, resolvi busca-lo pessoalmente. Já conhece a convidada de honra não é? Natasha Romanoff?

– Ah, tão ingênuo... Acha mesmo que isso vai funcionar? Invadir a SHIELD, e viver para contar história? Não, Stan. Você é quem está na minha festa.

Neste momento, ele sacou sua arma escondida sob sua mesa, e disparou contra os soldados da Hydra cuja maioria não conseguiu se proteger a tempo. Enquanto Fury continuava disparando contra os soldados, Hill avançou contra Natasha que protegia Stan, iniciando uma dura briga contra ela, na qual ambas golpeavam com grande habilidade.

Quando o pente do diretor ficou vazio, ele lutou contra eles, tomando a atenção da Agente Hill, por tempo suficiente para abrir a brecha que Natasha precisava para acertá-la.

Com uma forte pancada no estomago, seguida de uma sequencia de socos, a comandantes caiu no chão, quase inconsciente.

– Romanoff, pegue sua arma e acabe com isso.

Natasha, cega pelo controle que tinham sobre ela, apanhou sua arma no coldre preso na lateral de sua perna, apontando diretamente para Nick.

– Natasha! – a voz de Clint se fez ouvir, quando ele, Coulson, May e Ward adentraram a sala, com armas em mãos, tomando toda a atenção da ruiva para eles. Coulson correu para ajudar Nick a abater os agentes da Hydra restantes, enquanto Clint, Ward e May tinham a missão de parar Natasha.

Tanto Ward como Clint, sofriam com os golpes de Natasha, uma vez que já se encontravam feridos, o que consequentemente, fazia-os ir ao chão com grande facilidade.

May lutava ferozmente contra a amiga, na esperança dela voltar ao normal. Ambas se conheciam muito bem, assim como os golpes da oponente. Após tantos anos de experiência, Melinda era tão capaz quanto Natasha, mas uma vez que o soro da Viúva Negra corria pelo sangue dela novamente a asiática ficava em desvantagem, e assim nem mesmo ela conseguia derrota-la.

Clint se levantava pela terceira vez, respirando com dificuldades, e observou de joelhos quando May foi arremessada contra a mesa de Fury, que não foi capaz de conter o impacto do corpo da chinesa, que atravessou a janela.

– May, não! – gritou Hill, desperta novamente, lançando-se sobre o parapeito a tempo de segurar a mão da agente, cortando-se no vidro estilhaçado sob ela, e fazendo força para subir Melinda.

Clint pôs se de pé, encarando profundamente os escuros olhos de Natasha.

– Ward, vai ajudar a May e a Hill. Deixe a Agente Romanoff comigo.