— O que está achando do banho, Ai–chan?

— Quer que eu lave suas costas, Ai–san?

Estas eram as perguntas que os gêmeos youkais lançavam para mim, enquanto tomávamos banho juntos na banheira; sim, nós três estávamos numa banheira, cheia de espuma e água quente, eu me encontrava no meio dos dois, sendo Armin–san a minha direita e Alexy–san a minha esquerda.

Isso está errado, isso está muito errado...!

Tudo o que eu podia fazer é corar, afinal, eles são hóspedes especiais e fazia parte do meu trabalho satisfazer qualquer necessidade do cliente, ainda mais sendo requisitada por ele.

As coisas aparentemente funcionam assim, se algum cliente te requisitar mais de cinco vezes, você é promovida a acompanhante especial deste hóspede, ou seja, todas as vezes que ele vier você exclusivamente atenderá as necessidades dele, praticamente se torna a esposa dele e, não me pergunte se já houve relações mais intimas coisas relacionadas a sexo, mas Alexy–san e Armin–san não pareciam ter essas intenções comigo, pelo menos, é o que parece e se as coisas tomarem um rumo diferente, eu vou preferir lavar pratos e esfregar o chão da cozinha com uma escova de dente do que ser abusada por esses youkais, não que eles sejam más pessoas, contudo, respeito é bom e todo mundo gosta.

Porém, tirando a parte do banho, os dois não faziam mais nada. E como eles vão embora, logo acabam minhas chances de ser promovida a acompanhante especial deles, pois eles precisam me requisitar mais duas vezes — sim, já me requisitaram três vezes, esta é a terceira e última, porque eles estão indo viajar — e eu volto para a cozinha. Se eu fosse requisitada mais duas vezes, eu não precisaria mais trabalhar e seria como uma “hóspede” na ausência deles. Por isso ser requisitado é um privilégio.

— Quer que eu lave seu cabelo, Ai–chan? — perguntou Alexy–san pegando em minhas madeixas castanhas claras.

— Sim, obrigada, Alexy–san. — e como sempre tinha que atendê-los com gentileza, mas isso não era necessário esforço nenhum, já que os dois deixavam qualquer um à vontade e te tratavam quase como um membro da família.

— Sabe uma coisa que desejo é que Ai–san nos chame sem sufixos antes de irmos embora. — pediu Armin–san com um sorriso que me fez ficar mais vermelha, como se fosse possível, enquanto Alexy–san me colocava entre as suas pernas e esfregava o meu cabelo.

— Impossível. Eu não consigo nem em pensamento. — é verdade.

Onegai, Ai–nee-chan! — Alexy–san me abraçou por trás e choramingou com o queixo apoiado em meu ombro. — Eu também quero ouvir Ai–nee-chan dizendo que nos ama.

Nee-chan...?

...

— Ai, tudo bem? — perguntou Armin me olhando.

— Sim, não é nada.

Daiki me chama assim... Ai–nee-chan... Eu sabia... Sinto falta dele.

— Não é o que parece. — comentou Alexy.

Antes que eu pudesse responder alguém bateu na porta do banheiro e Armin se levantou para atender, enquanto Alexy enxaguava meus cabelos. Já tinha me acostumado com a nudez dos gêmeos e também acabei descobrindo que eles têm rabo de gato também, não são apenas as orelhas, e bem, também posso me comunicar telepaticamente com eles quando estão na sua forma original.

— Quem é? — perguntou Armin.

— Eu. — respondeu Castiel–san azedo e Armin deu espaço para ele entrar. — Mas o que...? — ele soltou quando olhou para mim e Alexy.

— Quer se juntar a nós, Cassy–chan? ♥ — perguntou Alexy provocativo, olhando-o.

— Quantas vezes vou ter que lhe dizer para não me chamar assim, gato maldito! — esbravejou o ruivo.

Ele detestava, odiava, tinha uma raiva imensa daquele apelido “carinhoso” que Alexy dera a ele, ainda não sei por que ele o chama assim, talvez eu pergunte antes deles irem.

O ruivo já estava com sua katana em mãos e o azulado apenas ria nervoso, tendo certeza que sua morte estaria bem próxima se continuasse com essa “brincadeira”. Armin apenas ria de todas as reações que Castiel–san tinha diante das provocações de Alexy e também não pude evitar rir da pequena “discussão” que eles estavam tendo.

Com esta distração já sai da banheira, e como já estava com a toalha no corpo mesmo esta estando encharcada — sim, entrei com a toalha, nunca deixarei que eles me vejam nua assim tão facilmente, apesar de estar muito constrangida apenas com este fato, mas como disse anteriormente os dois deixavam qualquer um a vontade para ser ele mesmo —, eu fui para o quarto com ela, pegando uma toalha seca e me escondendo atrás do trocador, colocando minha roupa de maid, enquanto Armin acho que fazia o mesmo, pois ouvi um barulho de gaveta sendo aberta e como ainda dava para escutar as vozes de Castiel–san e Alexy no banheiro, por eliminação sobrara apenas Armin.

— Posso sair? — perguntei a Armin, não queria mais vê-lo pelado, já chega na hora do banho.

— Claro. — ele respondeu.

— Ok. — e sai.

Deveria ter ficado atrás do trocador, afinal, me surpreendi ao ver Armin usando roupas normais... Bem, normais para mim... Até porque eram parecidas com as roupas que os garotos usavam no meu mundo... Ainda soa estranho dizer “meu mundo”...

Ele usava um suéter bege sobre uma blusa caqui com um colete preto e calça jeans com grandes bolsos e botões dourados juntamente com um lenço azul marinho no pescoço e três pulseiras e, um par de sapatos cinza-escuros. Seus cabelos pretos semilongos estavam molhados e ele os secava com a toalha, enquanto me olhava.

— Ai, está tudo bem? — ele me perguntou, minhas bochechas arderam, pois eu o estava encarando demais.

— Sim, sim! É que você está... Tão...

— Bonito? — ele sorriu.

— Ia dizer “diferente”. Geralmente, você e o Alexy estão usando quimono como todo mundo por aqui. — falei.

— Ela me chamou de Alexy ♥! — dissera Alexy animado saindo enrolado na toalha com uma katana encostando-se às suas costas e um ruivo bufando pela animação do outro.

— Hm, é verdade, você o chamou primeiro sem o “san”. — Armin ficou um pouco pensativo, mas logo cruzou os braços e fitou-me irritado. — Não gostei disso, eu sou o mais velho e mesmo assim ele ganha as coisas da Ai antes de mim.

Gomenasai. — disse me curvando. — Armin. — então, o olhei e vi que sua face ficara um pouco ruborizada.

— Tudo bem. — ele disse ficando de costas para mim e jogando a toalha que estava no seu pescoço em cima da cama e, eu fiquei ereta novamente. — Venha comigo. — ele pegou meu punho depressa, mas antes que saíssemos Castiel–san protestou.

— Ei, ela foi requisitada pelo Oujisama! — ele gritou, mas Armin nem deu bola e continuou me arrastando apressadamente pelos corredores até descermos na recepção, indo para um caminho que eu conhecia bem: a cozinha.

— Chiba–dono? — soltou Charli–san olhando-nos agora de mãos dadas; quando tínhamos ficado assim? — Armin–sama. — ele se curvou para Armin e depois voltou para perto do fogão a lenha. — Em que posso ajudá-los?

— Nós três vamos fazer aquilo. — disse Armin de supetão.

— Aquilo? — Charli–san olhava meio nervoso para os lados, como se estivessem vendo se tinha alguém os ouvindo, mesmo eles estando conversando num tom mais baixo que o normal e eu tentava entender o que eles queriam dizer com “aquilo”...

Realmente não quero maliciar a situação, mas acho que minha face deveria estar vermelha denunciando meus pensamentos impuros e impróprios, ainda bem que nenhum deles realmente prestava atenção em mim.

— Sim, vamos logo. — falou Armin meio irritado e apressado.

— Está bem, mas não aqui. — disse Charli–san dando uma última olhada em volta e fazendo sinal para segui-los.

Onde eles estão me levando?!

Ainda bem que também era um lugar que conhecia: a dispensa enorme, senão ficaria brava e aos poucos tudo foi sendo explicado entre um diálogo e outro.

— Aqui está anotado tudo que é necessário para o bolo de três andares e com os sabores favoritos do Nathaniel–sama. — disse Charli–san entregando um papel dobrado para Armin que guardo no seu bolso da calça.

Um bolo para Nathaniel–san...? Poderia ser...

— Hoje é aniversário do Nathaniel–san? — questionei e eles me olharam assentindo. — Ah, preciso comprar-lhe um presente.

— Quem se encarrega de comprar os presentes é a Melody–san junto com as outras meninas. — disse Charli–san. — Sempre foi assim em todos os séculos.

Séculos...? Isso quer dizer que preciso falar com ela.

— E nós ficaremos com a compra dos ingredientes para o bolo. — falou Armin me olhando. — Para depois trazer ao Charli que colocara sua magia como sempre faz nas comidas que sempre ficam maravilhosas. — Charli–san corou um pouco constrangido pelo elogio repentino, eu suponho.

— Muitíssimo obrigado, Armin–sama.

— É apenas a verdade.

Eu acabei sorrindo.

— Vamos, Ai. — falou Armin me pegando pelo punho e saímos de lá as presas.

Passamos milagrosamente despercebidos pelos funcionários do Hotel e acabamos saindo, era a primeira vez desde que conheci o Oujisama, que saio do Hotel, pois era estritamente proíba a minha saída sem a autorização de Nathaniel e a vigilância de Castiel. Pergunto-me os quão irritados eles irão ficar ao descobrirem que Armin me levou escondida para fora daquelas paredes.

As ruas continuavam os mesmos desde a última vez, logicamente o fluxo de pessoas era bem menor e também havia menos seres não humanos perambulando por aí.

Estávamos agora de mãos dadas e Armin distraidamente olhava a lista de compras, enquanto eu corava com a ideia dele segurando a minha mão, fazia tempo que não andava de mãos dadas com um garoto que não fosse meu irmãozinho. Eu o olhava na esperança que ele me retribuísse o olhar e me dissesse por que a minha presença era necessária para algo tão simples, também gostaria de saber por que ele não mandou outra pessoa fazer isso no lugar dele, afinal, Nathaniel é como um funcionário qualquer, mesmo que tenha uma grande autoridade e influência no Hotel, mas, como dizem as regras, digamos que ele não passa de um servo para um hóspede especial que Armin é.

Sei que eles se conhecem há algum tempo, mas mesmo assim ainda não entendo completamente como as coisas funcionam por aqui, porque se a dona do Hotel descobrir que Armin está infligindo uma das regras do Hotel, quem vai se dar mal é Nathaniel e já vi a senhora Shermansky, dona do Hotel, demitindo alguém e nem mesmo Oujisama pode interceder até porque ele ainda não é dono do país. E, aparentemente, o Rei e a Rainha estão ocupados com as guerras que vem ocorrendo ao redor deste mundo, então, jamais poderia parar uma guerra por causa de uma funcionária qualquer.

Aprendi muito, ainda não tudo, contudo, o suficiente para poder dizer que este é um lugar rígido com pessoas que levam uma vida difícil e que conhecem os outros mundos, especialmente conhecem os youkais. E sim, as aulas com Nathaniel e as outras crianças estão sendo razoavelmente divertidas, se não fosse o fato de ser Nathaniel nosso professor.

— É bom sair de casa de vez em quando, não é? — soltou Armin me despertando dos pensamentos aleatórios e senti que fora uma pergunta retórica. — Seria divertido se o Oujisama estivesse conosco, mas ele não pode sair e nem ser visto, pelo menos, não agora.

— Armin. — chamei e parei de andar, ele também parou um pouco mais a frente e se virou me olhando. — Por que Lysandre não pode sair? — questionei temerosa pela resposta.

— O sensei não te contou? — balancei a cabeça em negativa. — Ele não pode sair por causa do irmão dele. — contou fazendo uma expressão de tristeza e encarou o chão, fiquei mais curiosa ainda, mas não sei se deveria perguntar... — Isso é algo que qualquer um sabe, mas pouquíssimos ousam dizer, mesmo assim para sanar sua curiosidade, irei lhe contar a história. — ele entrelaçou a minha mão na dele novamente e deixei-me levar.

Paramos em um templo muito antigo e sentamos nas suas escadarias. Observei um pouco o lugar e acabei vendo que era um templo para uma kitsune, mas estava meio abandonado, se não fosse por pouquíssimos crentes ali.

— Quando Leigh–sama chegou à idade de se tornar o Rei, ele acabou recusando-se, pois não queria se casar com aquela que já havia sido prometida desde seu nascimento, ele amava uma costureira humana, mas sabe como é não é? Um amor impossível só pode ser possível através de sacrifícios e foi isso que ele fez. Preferiu tornar-se humano e morrer de velhice ao lado dela.

— Que lindo.

— Nem tanto. Quando o Oujisama nasceu, o Rei acabou decretando uma lei para que ele jamais fosse visto por alguém e nem que ele visse alguém que não fosse seus empregados, amigos mais chegados da família e seu pai, evitando a possibilidade de ele se apaixonar e também evitando o que ocorreu com Leigh–sama aconteça outra vez.

Pobre Oujisama...

— Mas acho que isso não deu muito certo, não é?

— Como assim?

— Lembra quando Alexy disse que a telepatia também compartilha alguns sentimentos? — assenti. — Então, permita-me lhe explicar mais algumas coisas sobre os maneki nekos, quando somos tocados podemos nos comunicar com os humanos e também com os não humanos mentalmente e, às vezes, em raras situações sentimentos também são compartilhados, principalmente os fortes. Oujisama já me tocou e como sou o neko da boa sorte, sentimentos como amor são compartilhados comigo, posso dizer que ele tem fortes sentimentos por você, Ai. — disse-me.

Fortes sentimentos...? Como assim?

— Como você foi tocado pelo Lysandre e como assim fortes sentimentos?

— Eu não me lembro muito bem, mas acho que foi quando ele nos trouxe para cá e eu não estava acordado para poder vê-lo, infelizmente, e bem, acho que ele ama você. — Armin dizia balançando sua cauda negra e coçando atrás da sua orelha igualmente negra.

...

— Ele me ama?

— Sim. Acho.

...

— Ai?

...

— Ai–chan.

Eu o ouvia me chamando, mas sai correndo em direção ao Hotel, quando eu estava próxima o suficiente da entrada, uma mão grande e quente pegara meu punho, me levando para perto do seu corpo igualmente quente com o quimono típico seu (preto e vermelho), tendo sua katana também. Apenas encostei minha testa no seu peito e pude sentir seus batimentos cardíacos aumentando.

Seu coração batia rápido demais, isso não poderia estar certo. Meu coração batia no mesmo ritmo que o dele. Isso realmente não está certo.

— Ai. — ele sussurrou um pouco rouco e meus olhos se arregalaram.

ELE ME CHAMOU PELO PRIMEIRO NOME!

— Castiel–san! — me afastei bruscamente dele e olhei rapidamente ao redor.

Graças a Kami-sama não havia ninguém.

Oe, Ai, não precisa fazer um escândalo. — ele disse irritado, porém, estava um pouco corado. — Eu estava indo te buscar, ainda bem que Nathaniel não te viu saindo, senão eu teria problemas. É tudo culpa daquele gato maldito!

— Você não vai me culpar? — perguntei acanhada, esperando uma bronca, no mínimo.

— Por quê? Foi você que se arrastou para fora por um acaso? — balancei, hesitantemente, a cabeça em negativa. — Então, não é sua culpa. Não vou brigar com você, mas acho que deveria ter tomado alguma atitude ao invés de só “deixar-se levar” pelo momento. — o encarei confusa, será que ele está me dando um conselho? — Venha, vamos. — ele puxou-me pelo antebraço bruscamente.

Não sei se foi um conselho, mas ele ainda não era delicado.

~*~

— Podemos entrar, Oujisama? — pedira Castiel com uma educação que nunca imaginei que teria.

Estávamos parados em uma parte do Hotel que eu desconhecia, imagino que fora feita para o Oujisama em especial, afinal, era vazia e bem afastada de todos, mas assim que adentramos, quando a grande porta de mão dupla se abriu, o quarto era parecido com o que eu estava hospedada, porém, um pouco maior e com mais mobílias, eu diria.

— Ah, chegaram na hora certa. — disse o príncipe.

Ele usava um quimono azul celta e seu cabelo estava com um traça na parte mais longa, mas ele não havia concluído ela, pois os prendedores estavam na mesa de centro. A porta se fechou atrás de mim, e vi que era Castiel a fechando. Pergunto-me a necessidade disso, se ninguém parece vir para cá.

— Sou um desastre em arrumar meu próprio cabelo, quem dirá governar um país. — comentou um pouco manhoso e olhando Castiel como se pedisse ajuda.

— Eu também não sei fazer isso. — respondeu Castiel.

— Ai–chan. — ele sorriu para mim e estendeu os prendedores. — Ajude-me, por favor.

Hai. — falei, meio dando de ombros e arrumando a trança dele, pois estava um desastre.

Ele se sentou na ponta da cama e acabei ajoelhada no meio dela atrás dele, enquanto Castiel mais olhava pela varanda aberta, encostado na porta do mesmo e de braços cruzados com sua típica carranca na face.

Estranhamente, aquele silêncio me incomodava. Castiel disse que o Oujisama me requisitara, será que era apenas para lhe pentear o cabelo...? Então, novamente as palavras de Armin me ecoaram pela cabeça; corei e engoli seco.

— Por que requisitou a Chiba Ai–dono, Oujisama? — Castiel quebrou o silêncio e fitou o príncipe, o mesmo pareceu tão surpreso quanto eu.

Nem mesmo Castiel sabia o porquê ele me chamara.

— Ah, isso. — ele pareceu se lembrar de algo. — Quero que busquem alguém para mim. — sorriu.

— Quem? — perguntou o ruivo.

— Um animador de festas.

— Ah... — exclamou Castiel, mas logo ficara irritado e isso assustou a mim e ao Oujisama. — VOCÊ NÃO DEVE ESTAR SE REFERINDO A QUEM EU ESTOU PENSANDO, CERTO?!

— Ai–chan, me proteja. — disse o albino se escondendo apressadamente atrás de mim, o que era inútil porque ele era quase duas vezes o meu tamanho. — Acalme-se, Cast–kun, olhe sua pressão alta. — brincou.

Só faltava Castiel cuspir fogo, pois aparentava realmente querer matar o Oujisama tanto que ele quebrou a katana com as mãos, partindo-a no meio e depois ficara um pouco mais calmo... Ele partiu uma espada no meio com as mãos, como eu posso ficar calma com isso? Pelo menos, o Oujisama estava calmo. Com certeza, está mais acostumado do que eu.

— Tch. — estalou a língua e bufou. — Você vai ficar me devendo essa! — fuzilou o albino.

Hai. — falou o príncipe contente.

— Mas eu vou sozinho, não é seguro para a Chiba Ai–dono. Aquele cara é um pervertido, se ele chegar muito perto de mim, ou da Chiba Ai, ou do Nathaniel ou do Oujisama, vou cortá-lo ao meio. — ele dissera aquilo com uma cara de quem estava gostando da ideia de partir alguém no meio.

O sorriso dele me assusta. E muito.

— Só não contem isso ao Nathaniel, por favor. — pediu. — Ele não pode saber que eu me importo com ele.

— Você se importa com quem? — de repente o dito cujo aparece na porta e nós três levamos um susto; o loiro estreito o olhar para todos nós. — O que vocês estão aprontando? — questionou de braços cruzados.

Nós três suamos frio agora. Acho que ele não sabe sobre a festa, senão não teria feito este tipo de pergunta e o príncipe não pediria para Castiel buscar um animador de festas, até porque buscar as coisas que ele pede é trabalho do Nathaniel, e Castiel só cuida da segurança.

— Nós estamos... Pensando sobre... É... Sobre... — falava o príncipe encontrando uma desculpa qualquer. — Sobre... Bem, eu... — ele se levantou e andou até Nathaniel, posando cada mão em um ombro do loiro, que corou um pouco. — Quero me casar! — exclamou me fazendo cair da cama e Castiel ficara boquiaberto.

— S-se ca-casar? — gaguejou Nathaniel, fiquei de quarto no chão por um tempo, tentando não olhar a cena, será que ele (Lysandre) vai fazer o que penso. — C-com que-quem, Ouji...sama? — acredito que Nathaniel deveria estar vermelho, não poderia dizer com exatidão porque meus cabelos cobriam a cena.

— Não é exatamente com apenas uma pessoa.

O QUE ELE ESTÁ TENTANDO FAZER?!

Fiquei ajoelhada e agora olhava a cena, os dois estavam muito próximos, olhei de soslaio para Castiel que estava corado e com a mão cobrindo uma parte da boca e do nariz, ele fitava os dois.

— C-como assim? — Nathaniel estava vermelho e confuso.

— Eu quero me casar com você, com o Castiel e com a Ai–chan. — disse ele normalmente e naturalmente, o único que estava normal. — Porque eu amo vocês. — sorriu.

...

O quê?

...

Acho que perdi uma parte do diálogo.

...

Olhei para o meu lado, Castiel caiu morto no chão, acho que era possível ver a alma dele saindo pela boca. E Nathaniel, quando o olhei estava pálido como um papel e se ajoelhou na frente do príncipe, passando as mãos nas têmporas. E eu tentei me levantar, mas acabei caindo de novo, então fiquei sentada no chão.

Agora entendi o tipo de amor que Armin me disse que o príncipe sentia por mim. Era um amor inocente e de amigo, apenas.

Por que será que estou triste com isso?

...

Lysandre, seu idiota!

Mordi meu lábio inferior e fitei o chão.

— Basicamente, você quer se casar com nós três? — disse Nathaniel.

— Sim! — disse o idiota (príncipe, Lysandre, tanto faz, idiota!) animado.

— Você se dá conta do que fala? — soltou Castiel, o olhei e ele vinha na minha direção, ajudou-me a levantar e permaneceu com sua mão direita entrelaçada na minha esquerda, fiquei olhando-o; ele estava sério e um pouco triste também, olhava o idiota.

— Você faz ideia o quanto egoísta é isso? — falou Nathaniel, acabei o olhando se levantar e dando de costas, apenas saiu sem dizer mais nada.

Lysandre, o grande idiota, não poderia inventar outra desculpa?

— Eu não queria... — ele virou para nós, mas Castiel o interrompeu.

— Poderia ter dito qualquer coisa, menos isso. — repreendeu-o e Lysandre não estava mais feliz. — Você sabe dos nossos sentimentos por você. Não deveria dizer esse tipo de coisa nem brincando. — o albino ficou quieto e cabisbaixo. — Você pensa que o amor é uma brincadeira, mas nem sabe o que ele realmente significa se continuar assim, realmente será um péssimo governador. Apenas cresça um pouco! — exclamou por fim e me levou para fora dali, fechando as portas e deixando-o completamente só.

Por um momento fiquei com raiva dele, depois senti pena, mas também decidi não olhar para trás como Castiel fez.

Eu descobri neste instante algo que não tinha imaginado. Lysandre não sabia o que era amar, por isso dizia que amava todos nós de forma igual, mas, na verdade, ele não passa de uma criança que não sabe diferenciar as coisas. É por isso que eles, Nathaniel e Castiel, estão aqui. Para protegê-lo e ensiná-lo a ser o que ele precisa. Porém, tinha sido apenas uma brincadeirinha, só que de alguma forma havia um fundo de verdade nela. E isso doeu até em mim.

~*~

— Por que você está aqui? — Castiel perguntou-me pela milésima vez ainda me encarando de cara feia, porém, não parou de andar.

Já tínhamos no separado na recepção, mas decidi segui-lo. Como ele mesmo disse, tomei alguma atitude e não deixei me levar pelo momento, confesso que também estava curiosa para conhecer o “animador de festas” e saber que tipo de pessoa ele é.

— Porque não quero que você vá sozinho. — falei e também era verdade.

Como ele parecia triste queria animá-lo um pouco, mesmo não sendo bem a companhia que ele queria, mas não custava nada tentar. Senti sua mão quente bagunçando meu cabelo e também meu arco de maid. Dessa vez ele foi delicado e sorri um pouco ruborizada, e ele estranhamente me retribuiu o sorriso. Ainda não consigo entendê-lo.

— Você é uma boa garota, Chiba Ai. — ele voltou a olhar para frente. — Você pode me chamar só de Castiel, desde que esteja tudo bem eu te chamar de Ai, pode ser? — ele estava corado, e não pude me conter, tive que ri e parei de caminhar, ele me olhou ainda corada, mas emburrado e também parou de caminhar. — Qual é a graça?

— Você é simplesmente hilário. — ri, mas logo parei. — Eu nunca sei como agir perto de você. O mesmo acontece com o Nathaniel e o Lysandre, até mesmo com os gêmeos. Vocês agem tão naturalmente e realmente demonstram o que sentem, mesmo que não entendam o que aquilo pode significar. — sorri. — Vocês não parecem preocupados com o que os outros vão pensar.

— To pouco me fodendo para o que eles pensam. Nós somos loucos, admito que não sejamos os tipos mais comuns de youkais, mas isso é tudo culpa daquele maldito príncipe! — ele cruzou os braços.

— Está vendo? Você fala mal do príncipe, porque está zangado com ele agora, mas no dia em que nos conhecemos você parecia pronto para morrer por ele.

— E ainda estou. — sorriu de canto. — Você tem razão, nós somos sinceros com nossos sentimentos, mas isso é realmente culpa do Lysandre–sama.

— Como assim?

— Os poderes divinos dele nos fazem ser sinceros com nossos sentimentos, já que ele é o Deus da Terra e do Amor, acho que isso é perfeitamente normal. — falava voltando a andar.

Espera... DEUS?! Tipo... Kami-sama?!

Apressei meus passos para ficar ao lado de Castiel e logo chegamos numa casa tipicamente japonesa de madeira, ainda estilo Edo e o ruivo simplesmente foi entrando. Fazendo-me o sinal para esperar aqui, apenas obedeci e logo tive que desviar de um corpo. Sim, um corpo.

— Ca-Castiel! — gritei olhando-o na porta.

Ele carregava dois barris de saquê e fuzilava o individuo loiro, de pele bronzeada e cabelos bagunçados. Era um rapaz muito lindo. E ele logo se levantou, sua roupa sujara com o barro do chão e ele tentava limpar.

Oujisama precisa dos seus serviços, é o aniversário do Nathaniel, Dakota. — disse Castiel.

— É Dake. — falou, tinha uma voz igualmente sedutora e olhou para sua sombra. — Ainda não passou do meio-dia. — dizia preguiçosamente e estralava seu pescoço, ombros e punhos, depois olhou para mim e seguido de Castiel. — Quem é ela? — apontou para mim.

— Chiba Ai–dono para você, seu duende maldito! — rosnou o ruivo.

Quando pisquei meus olhos o tal de Dakota estava perto de mim, aliás, muito próximo. Até demais. E seu sorriso era muito malicioso e... NÃO ACREDITO QUE ELE COLOCOU AS MÃOS NOS MEUS SEIOS E OS ESTÁ APERTANDO!

— Seu pervertido maldito! — Castiel acertou um dos barris nele, o que o fez voar um pouco longe.

E depois o ruivo ficou na minha frente, pronto para matá-lo. E eu simplesmente corei tanto, que devo estar parecendo um tomate.

— Você bate muito forte, dragão. — falava se sentado no chão na posição de lótus, bom, acho que era ele, pois agora ele tinha um nariz comprido e asas negras nas costas, apenas os olhos mantinham-se verdes.

Na-nani...? — soltei.

— Dakota é um youkai, um tengu. — respondeu-me Castiel.

Hajimemashite, C-H-I-B-A–kun. — ele falou soletrando para mim.

Mais um youkai para lidar.