Aproveitar o domingo é algo que você e com certeza a maioria das pessoas do mundo gostam de fazer. É um dia que deve-se esquecer os problemas e realinhar a cabeça antes de iniciar mais uma semana de compromissos.

Ir à praia, shopping, fazer um passeio ou uma visita à um amigo, enfim, qualquer coisa que possa ser feita pra se obter um pouco de paz antes das tempestades da semana. Até mesmo em casa dá pra fazer isso, dependendo da criatividade de alguém. Mas, hoje isso é algo impossível de acontecer onde você mora. A tempestade não esperaria a semana começar pra agir, pois ela já se formava aos poucos bem ao seu redor.

⌚️ 02:15 p.m.

Você e Lívia estão na cozinha se preparando para saírem dentro de alguns minutos.

O balcão de mármore no meio do cômodo está repleto das mais variadas guloseimas e gordices espalhadas por todo os lados, todas elas sendo devoradas pela sua irmã.

É o dia de reunião de condomínio, e esse é um dos eventos que mais estressa Lívia. Já não aguentava ter que ouvir as falas de dona Tessália — a síndica do prédio — sempre usando os mesmos argumentos em todas as reuniões e os comentários dos outros moradores durante a reunião.

Com a personalidade que Lívia tem, não era difícil dela interromper as falas dos outros moradores quando não concordava com algo ou dar a sua humilde opinião nos casos que lhe convinham. Nisso, muitas vezes acabava que aos outros condôminos não gostavam ou concordavam com as posições que sua irmã tomava durante os debates e, acabava resultando, na maioria das vezes, em pequenas confusões.

A última foi a maior de todas.

Por isso, toda vez que estava pra ter uma reunião no prédio, momentos antes Lívia comia desgovernadamente todos os alimentos que encontrasse pela frente. Essa era a sua válvula de escape para todas as situações que lhe afetavam e causavam emoções como medo, angústia, irritação ou nervosismo.

⌚ Alguns minutos depois...

— Já tá na hora. São quase três horas — você avisa.

— Ai, não fala isso que já fico nervosa — Lívia fala.

— Você já tá nervosa. Não tá percebendo o tanto de coisa que já comeu?

— Eu sei — ela diz fazendo uma expressão tristonha.

— Só vai durar meia hora como sempre. Você vai sobreviver.

— Onde você disse que vai mesmo? — ela pergunta.

— Na praça Valerie. Vou dar uma volta por lá enquanto isso tudo acaba.

— Que tentação. Daria qualquer coisa pra não ir encontrar aquele pessoal.

— Tá, vamo' logo. Não quero perder o sol que tá fazendo e você não vai querer perder o seu compromisso, senão vai ter que aguentar as falas da dona Tessália e...

— Ai, tá bom. Já que não tem outro jeito, né?

— Não, não tem. Agora vê se guarda logo essas comidas aí porque senão se passar mais dois minutos não vai nem conseguir chegar no elevador — você fala, apressando-a.

— Ai, falando desse jeito parece até que isso pode acontecer mesmo.

— Anda, Lívia. A gente não tem o dia todo — você reclama já começando a guardar os alimentos.

Sua irmã apenas fica lhe olhando fazer o serviço sentada com os braços apoiados em cima da mesa fazendo bico. Você dá umas risadas devido ao comportamento dela parecendo uma criança mimada triste por não ter conseguido algo depois de ter feito muita birra e aberto um berreiro daqueles.

⌚ 02:49 p.m.

Minutos depois vocês saem do apartamento.

Lívia havia subido para a cobertura do prédio onde fica o salão que é utilizado para realizar as reuniões enquanto você já se prepara para a caminhada na Praça Valerie. Por sorte, o dia está radiante, com o sol não tão forte e também sem aquelas ventanias de ultimamente. É um ótimo dia para realizar atividades e aproveitar o ar de liberdade do fim de semana.

Para passar o tempo, decide levar seu celular para se distrair enquanto caminha ou até mesmo para os momentos de pausa.

⌚ Um tempo depois...

Ficou mais ou menos uma hora e alguns minutos pela praça. A movimentação estava fraca e isso lhe causou um certo desânimo.

Depois que bebeu água em um dos bebedouros disponíveis no local, decidiu que seria a hora de voltar para casa.

Chegando em seu prédio, nota que León não está na portaria. Por sorte, tinha levado a chave como sempre faz pra não passar por situações de dependência da disponibilidade do porteiro para entrar em seu apartamento.

Sendo assim, logo usa o objeto e finalmente atravessa o portão.

Já em frente ao elevador, você aperta o botão e espera seu transporte chegar. O indicador Acima da porta mostra que ele está posicionado no último andar, onde acontece a reunião de condomínio.

Enquanto espera, olha para os lados como forma de distração, até que avista algo que desperta sua atenção no mesmo instante.

Próximo à porta do elevador há uma parede de cor matte verde um pouco mal acabada, pois há algumas deformações que não foram muito bem disfarçadas. Tentaram esconder com algumas decorações, mas os inchaços ainda podem se notar.

Ao lado da parede existe uma pequena área quadricular de tamanho médio quase próxima ao chão que sempre fica fechada com uma portinha que desliza para a esquerda revestida de vidro fumê.

Dona Tessalia, a síndica, já havia falado sobre essa área alguma vez, onde alguns moradores do prédio, curiosos, vez ou outra perguntavam o que ela iria fazer com aquele espaço. Ela apenas dizia que ainda não tinha certeza do que iria fazer, mas que pensava em construir um local para pôr algumas esculturas ou imagens de anjos ou coisa assim, mas que no momento certo todos iriam ver o que lá iria se tornar.

O curioso é que, diferente das outras vezes que você vê essa entrada sempre fechada, desta vez elas encontram-se abertas. Sem querer nada, você, por conta própria se aproxima da pequena porta e decide fechá-la.

Porém, quando põe as mãos na maçaneta, nota que não de trata apenas de uma simples área sólida em que Tessália planeja fazer uma espécie de altar, pois não há nada em seu interior estando completamente escuro. Pra completar, uma fraca corrente de ar começa a percorrer dali, na qual você pode sentir batendo em seu rosto.

Fica um tempo analisando o espaço tentando descobrir de onde vem o vento, mas não faz ideia de qual seria origem devido ao breu que está. Além da curiosidade também há o medo que sente, pelo receio de que alguém chegasse e lhe visse nessa situação bisbilhotando uma área de caráter "privado" até então. Nisso, pensa em desistir de saber a verdade e apenas ir embora dali o mais rápido possível, mas a curiosidade cresce cada vez mais e então acaba não resistindo. Quando foi ver, já estava com o corpo dentro do espaço.

Após entrar por completo no local, percebe que está dentro de uma espécie de um pequeno corredor em formato de tubo. De imediato pensa em fechar a porta, mas, como o lugar é bem apertado, não seria possível usar as suas mãos. Então, com um pequeno esforço, usa os seus pés. Fechou apenas um pouco, pois pensou que se alguém visse aquele espaço aberto provavelmente tentaria fechá-lo, na qual, consequentemente, você acabaria ficando presx no local. Além disso, não queria passar por um vexame e depois ficar sendo conhecidx como o/a bisbilhoteirx do prédio, né?

Sendo assim, entretanto, enquanto engatinha naquele corredor escuro, percebe que já está quase no fim quando uma luz arroxeada se aproxima. Só precisou dar algumas avançadas para chegar no fim do trajeto. Então para de imediato ao ver que não tem mais para onde ir. Olhando para baixo percebe que tem alguns degraus bem finos na escuridão. Depois olha para o lado direito e conclui que é de lá que vêm as luzes brancas e roxas, porém não dá para ver ao certo qual é esse lugar por conta de uma curva que a antecede.

Todavia no lado esquerdo não há nada, apenas um paredão feito de tijolos escuros aparentemente molhado. Também nota que uma trilha de trem inicia a partir do paredão percorrendo por todo o local levando até seja lá onde quer que seja.

O medo começa a tomar conta de si por não saber onde pode estar se metendo, mas ao mesmo tempo, pela curiosidade, anseia em saber onde aquele caminho subterrâneo iria dar. Então, com todo o cuidado e com uma certa dificuldade, consegue virar-se para frente e pôr os pés em cima de uma base sólida. Sem perder tempo, começa a descer os degraus bem devagar.

Já com os pés no chão enfim percebe a dimensão do território e vê que o local é bem largo parecendo ser bem extenso. Por conta da curva, o lado esquerdo é majoritariamente escuro, então passa imediatamente para lá.

Seus pés vão lhe levando vagarosamente até chegar na parte em que o lado escuro acaba já quase para dobrar a curva. Não sabendo o que poderia vir a seguir, para um pouco, dá uma profunda respirada, prosseguindo em sigilo.

Tudo ainda está em completo silêncio e ainda não há nenhum sinal de vida de qualquer animal ou de pessoa. Então continua andando até escutar um eco de algo metálico que faz um breve ruído.

No mesmo momento volta rapidamente para antes da curva ficando na parte da sombra para se esconder. Sua respiração começa a ficar ofegante e o nervosismo começa a crescer. Repentinamente, começa a ouvir vozes e até umas risadas ao longe. Elas parecem ser masculinas, mas logo elas cessam e o silêncio estranhamente domina novamente.

Segundos depois, as vozes voltam, e junto à elas barulhos de batidas e de coisas que parecem caírem no chão.

Após mais uma vez tudo ficar em silêncio por um breve tempo, você espera ouvir novamente a conversa e os ruídos para tentar descobrir de vez o que está acontecendo ao redor. Mas como já está ficando impaciente, continua a caminhar.

Chegando em um certo ponto, eis que as vozes voltam, mas dessa vez muito mais altas e próximas à você, chegando a lhe assustar um pouco. Seu coração dá uma leve disparada e nesse momento pensou em duas possibilidades que poderia fazer no momento: ignorar as vozes e tentar espiar quem está por ali ou correr o mais depressa e evitar que pudesse ser descobertx cometendo alguma imprudência ou algo do tipo.

Em meio ao nervosismo, pensa um pouco e chega a conclusão de que o melhor a se fazer é fugir depressa.

Sem querer arriscar, opta por sair dali o mais depressa possível pondo-se a correr velozmente. As vozes e barulhos ainda ecoam ao longe e sua preocupação em saber se quem está no local possa te alcançar ou não só aumenta. Em sua cabeça, sente-se em uma fuga policial ou como se um gato fugisse do cachorro. Uma sensação de adrenalina pura parecendo que a qualquer momento seu coração vai sair pela boca.

Em meio à corrida, passa por algumas poças de água que estranhamente não as tinha visto antes em meio à isso começa a sentir um pouco de frio também. Fica assim por alguns segundos até que finalmente chega de volta aos degraus por onde descera inicialmente.

Chegando lá sobe as escadas com cuidado e logo depois passa pelo corredor apertado e escuro novamente.

Já de volta ao prédio, antes de sair do pequeno espaço verifica se tem alguém passando no momento e se León poderia estar olhando. Felizmente ele está com a cabeça virada para a direção oposta, então, assim pode sair sem preocupações.

Deixando a passagem com a porta aberta, chama o elevador e fica aguardando-o chegar como se nada tivesse acontecido.