O despertador toca às seis e quinze da manhã. A quinta-feira te espera e é preciso levantar-se primeiro para encará-la.

Depois de uma noite animada e após ter conhecido novas pessoas, uma boa noite de sono era fundamental para que as energias pudessem ser recarregadas.

Então, sendo assim, você levanta-se da cama lentamente após espreguiçar-se e logo pensa em seguir em direção ao banheiro para tomar um bom banho para despertar, mas uma voz lhe chama, pedindo e até implorando para que voltasse e deitasse novamente. Quem é esse alguém? A cama.
Ela lhe olha parecendo que tem um semblante triste por você ter que deixá-la e vice-versa, mas não há nada que possa ser feito. Esse é o ciclo da vida.

— Líviaa, fez café? — você diz chegando na cozinha mas ao deparar-se vê que não tinha ninguém.

"Que estranho", você pensa. Lívia sempre acorda primeiro e faz logo um cafezinho assim que acorda. Será que ela ainda dormia ou tinha saído pra fazer alguma coisa?

— Só pode estar dormindo ainda — você fala consigo, direcionando-se ao quarto de sua irmã.

A porta está entreaberta, então decide abri-la mais ainda com cuidado para não fazer qualquer tipo de barulho.

— Lívia? — você diz quando a avista deitada na cama ainda dormindo.

Ela nada responde.

— Lívia, acorda. Eu já tô de pé, temos que sair daqui alguns minutos — você diz balançando levemente os braços dela.

— Que horas são agora? — ela pergunta com uma voz sonolenta.

— Seis e vinte e quatro.

— É, já tá na hora.

— É. Vamo'. Quero tomar café. Você sabe que não sei fazer igual ao seu.

— Vamos logo.

☕ Na cozinha...

— E aí, gostou da noite de ontem? — Lívia pergunta, bocejando.

— É, até que eu curti. Teria sido melhor se você e Enzo não tivessem ficado se alfinetando.

— Ai, não me fale daquele carinha. Que sujeito insuportável ele. Só de lembrar já fico nervosa.

— Você também não foi nada fácil. Lembrando que foi você quem começou tudo — você fala rindo.

— S/N, eu tive meus motivos. Você viu aquilo? Tinha crianças ali também. Elas não tinham a obrigação de presenciar uma cena daquelas. Total sem noção.

— Ah, desencana disso. Por outro lado apesar de tudo até que vocês conseguiram conversar numa boa.

— É, até que sim. Apesar de tudo ele parecia ser um cara mediano.

— Mediano? Essa é a sua avaliação pra ele? Bom, até que foi uma nota melhor do que eu imaginava.

— É, mas não fique tão alegre assim. Já tô penando em mudar essa nota.

Você nada diz apenas dando um sorrisinho.

— E quanto a você? — ela pergunta.

— O que tem eu?

— Cris. Não era esse o nome?

— Sim, o que tem? — você responde, desentendidx.

— Eu não sei. Você que tem que me dizer — sua irmã diz com um sorriso malicioso.

— Te dizer o quê? Juro que não "tô" te entendendo.

— Ah, S/N. Para de fingir que não tá entendendo. Pode dizer a verdade. Cris me pareceu bem apresentável, não é?

— Apresentável?

— Não me diga que não achou também? Me diz, Cris tem potencial?

— O Enzo também tem?

— Ai, caramba! Lá vem você falar desse "coisa" de novo. Troca a fita.

— Haha, sabia! Só assim pra você me deixar em paz — você diz, gargalhando.

— Isso não tem a menor graça, S/N.

— Hahaha. Mas você tá brava? Acho que você bem que queria dar uns beijinhos em Enzo. Isso se chama amor à primeira vista — você diz correndo rapidamente em direção ao banheiro, fazendo biquinho e mandando beijos no ar para sua irmã em tom de deboche.

— Ai, S/N eu te pego — diz sua irmã em alto tom ao mesmo tempo jogando duas luvas em sua direção, mas não consegue te acertar, pois logo fecha a porta do banheiro antes que as luvas te acertassem — Quando você sair daí você vai ver uma coisa — ela completa.

Um aroma de café percorre pelos ares da casa, então logo deduz que Lívia havia feito o café. Essa seria a oportunidade perfeita para sair do banheiro e ir para o seu quarto se arrumar para a escola, pois Lívia ainda está com uma expressão irritadiça com uma probabilidade enorme dela realmente estar falando sério quando lhe ameaçou na vez que saísse do banheiro.

Abrindo a porta vagarosamente, você dá uma rápida olhada e vê que ela estava sentada em um dos bancos da cozinha tomando café. Abrindo o restante da porta, você sai do banheiro sem falar nada e nem ao menos olha para Lívia para não iniciar a guerra novamente.

— Olha, S/N, a sua sorte é que agora estou tomando meu café. Então vê se não me irrita porque eu estou zen.

Você nada responde e a única que faz é mandar beijinhos no ar indo imediatamente para o quarto.

⌚ 07:18 a.m.

"Parece que hoje teremos um dia nublado pela frente. Os termômetros estão marcando uma máxima de vinte e cinco graus e mínima de vinte e um graus Celsius para essa quinta-feira em Nevinny."

— Hum, hoje à noite vai fazer aquele frio que eu adoro — Lívia fala.

— Espero que não caia mais nenhuma outra árvore dessa vez — você comenta.

— Chegamos.

— Valeu pela carona, irmã. Tenha um bom dia — você diz abrindo a porta do carro pondo os pés para fora.

— Vê se se cuida, hein? Se encontrar com Cris hoje, mande um abraço.

— OK. Pode deixar que eu mando — você fala.

— E não pense em fazer nenhuma gracinha envolvendo o nome daquela pessoa. Qualquer coisa diga que eu esqueci o nome dele.

— Tá bom, então. Se você quer assim...

— Até mais tarde — Lívia fala.

— Até.

Depois de entrar na escola sua única meta no momento é chegar na sala antes que o professor chegasse.

Faltam alguns minutos antes do início da aula de química no horário de sete e meia, mas você ainda tem um tempinho para fazer algo para se distrair até que a aula começasse. Talvez desse tempo de ouvir algumas músicas, ou usar as redes sociais pra ver as atualizações dos feeds de alguns amigos, ler trechos do seu livro favorito ou até mesmo comer. Qualquer coisa seria uma bem vinda para passar o tempo. Então, logo quando, depois de pensar por uns segundos decide fazer o que escolhera sente alguém sentando na cadeira que estava ao seu lado e lhe interrompe por um instante quando chama o seu nome.

— Oi.

— Ah, oi Cris. Como vai? — você pergunta.

— Eu vou bem. Principalmente por ontem à noite. Me diverti bastante.

— Eu gostei também. Mas se a Lívia e seu irmão não tivessem ficado se bicando nós teríamos ficado um pouco mais de tempo.

— Verdade. Mas me desculpe o que eu vou dizer, mas a sua irmã é um pouquinho "demais", né?

— Como assim "demais"?

— Parece que ela tem facilidade pra se irritar — Cris fala.

— É, é bem isso mesmo. Mas como eu já disse, seu irmão também facilita um pouco pra ela ficar assim — você diz, sorrindo.

— E sinto muito por isso. Enzo não é fácil de se lidar mesmo e tem muitas, mas muitas vezes que acaba me irritando também. Mas logo você se acostuma e, se ele permitir, te mostra que é uma pessoa bem diferente do que muitos pensam — Cris fala.

— Entendi. Então ele é daqueles tipos de pessoas que você acaba esperando por uma coisa e quando vai ver é uma outra diferente. Tipo uma caixa de surpresas?

— Tipo uma caixa de surpresas — Cris fala, sorrindo.

— Eu gosto disso. Mas hoje em dia não acabo muito criando expectativas nas pessoas. Esperar sempre o melhor delas às vezes pode ser frustrante. Já fiz isso várias vezes e, vai por mim, nem sempre é o melhor caminho.

— Uau! Não esperava que você fosse assim. Parece que alguém te machucou — Cris fala.

— É, digamos que sim. Mas não liga, não. Isso é algo que eu preciso superar. É estou conseguindo cada vez mais, só pra te informar.

— Entendo. Mas, sabe de uma coisa? Eu confesso que já fiz isso com você.

— Isso o quê? — você pergunta sem entender.

— Isso de esperar que você fosse uma coisa, mas na verdade é outra.

— Ah, é? Então, me diz o que você esperava que eu fosse.

— Eu esperava que você fosse uma pessoa que se sentisse superior às outras pelo fato de sempre preferir ficar só.

— Ah, isso? Não, nada a ver. Mas eu não faço por mal, eu apenas avalio as pessoas antes de decidir tentar me aproximar delas.

— Entendi — Cris fala.

— Mas não me leve a mal. Não pense que eu fico julgando alguém pela maneira de se vestir ou modo de falar, mas é algo como se fosse uma proteção de minha parte, entende?

— Te entendo sim. E agora você me falando que alguém possa ter te machucado eu entendo o porquê desse seu "mecanismo de defesa".

— É, que bom que você me entende — você diz forçando um sorriso.

— E sabe? Eu estou gostando do que estou vendo em você — Cris fala te olhando fixamente.

Por uns segundos você olha nos olhos de Cris e sente algo estranho que lhe fez ficar um pouco envergonhadx pelo o que tinha acabado de ouvir e como Cris olha de uma certa maneira.

Engolindo seco, você pensa numa resposta rápida para dar para que possa escapar da situação no momento, mas parece que sua língua simplesmente trava ou o ar subitamente foge de seus pulmões lhe impedindo falar.

No momento em que se olham, o professor de química finalmente entra na sala anunciando em bom e alto tom um breve "Bom dia, turma!", o que foi a salvação daquela cena digamos constrangedora (se você optar chamá-la assim) lhe fazendo dizer em seu pensamento a famosa frase "Salvo pelo gongo."

— Então nos falamos depois? — pergunta Cris lhe tirando dos pensamentos.

— Claro. Na hora que quiser pode falar comigo, desde que eu não esteja muito ocupadx.

— Ah, mas eu tenho certeza que pra mim você vai arranjar um tempinho, né? — Cris fala sorrindo e ao mesmo tempo piscando o olho enquanto se levanta da cadeira.

— Hum, gosto dessa confiança. Vejo que você possa ter puxado um pouco do seu irmão — você diz.

— Talvez. Mas também pode ser prática. De tanto vê-lo em ação a gente acaba copiando alguns movimentos — Cris fala se distanciando até sentar-se em sua cadeira.

No mesmo instante você não consegue tirar os olhos de Cris, pois até então, esse lado de pessoa conquistadora e com toda essa autoconfiança ainda não tinha sido revelado lhe fazendo ficar surpresx porém não de uma forma negativa.

De fato, Cris lembra um pouco de como Enzo agia quando estava com Lívia na noite passada com aquele jeito galanteador mas ao mesmo tempo atuando no papel de "morde e assopra", te dando elogios amigáveis mas com possíveis segundas intenções.

Absorvendo tudo o que tinha sido falado e o que tinha acontecido na conversa de vocês, sua mente começa a fazer algumas associações e comparações, nem sequer ouvindo alguém lhe chamando, até que repentinamente você desperta em mais um chamado.

— S/N, acorda! Estou falando com você — diz Lavínia balançando levemente seu braço e sorridente.

— Ah, oi. Você 'tava me chamando? — você diz um pouco assustadx.

— Na verdade era o professor. Ele perguntou se você tá bem.

Nesse mesmo instante você olha para frente e percebe o professor lhe olhando como uma expressão preocupada.

— Ah, eu tô bem professor. 'Tava pensando em algumas coisas mas já me organizei.

— Tudo bem, espero que esteja bem mesmo, pois o conteúdo de hoje é muito importante para a atividade valendo nota que teremos em breve — o professor Juaquin diz.

— Sim, senhor.

— Vem cá, o que houve que você parecia que estava nadando numa salada de galáxias? — Lavínia lhe pergunta em um tom baixo.

— Numa o quê? — você pergunta rindo.

— Nada, esquece. Mas diz aí o que te deixou assim, ou melhor, alguém — ela fala inclinando a cabeça em direção a Cris.

— Ah, não foi nada. Bobeira.

— Espera. Vou te mandar um bilhete — diz Lavínia rasgando uma folha de seu caderno logo pegando uma caneta começando a escrever algo.

Logo que ela termina, lhe passa a caneta e o papel no qual tinha escrito:

"Tem certeza? Cris é uma boa pessoa, nas não que eu goste de fofoca, mas preciso te dizer que Cris pode ser alguém que até vale a pena investir, mas os tiros acertam vários alvos."

"Como assim? Cris dá em cima de várias pessoas assim?"

"Sim, você não percebeu?"

"Não sei. Eu não vi nada."

"Mas relaxa. Cris atira para os lados mas é apenas charme. Não faz nada tão sério."

"Isso é um pouco duvidoso."

"Me explica."

"Se uma pessoa é assim, então ela não sente nada de verdade por ninguém, não é? Ela quer apenas se divertir."

"Isso eu não sei te dizer. Mas o que você acha de Cris?"

Eu ainda não sei. Preciso conhecer mais sobre elx.

"Bom, seja o que você decidir, eu apenas lhe digo pra ser feliz. Agora, vamos parar de conversar porque o professor já tá olhando pra gente. E rasga esse papel em mil pedaços!"

Após ler a mensagem de Lavínia, você amassa o papel e o coloca dentro da mochila. No mesmo instante começa a pensar sobre o que ela havia lhe falado sobre Cris, pois você não imaginava que Cris era do tipo de pessoa que jogava seu charme em cima das pessoas apenas para provocá-las ou por charme. Quer dizer, não imaginava até uns momentos atrás. Mas... será que isso também está acontecendo com você?